domingo, 19 de fevereiro de 2012

Grávida está entre 12 estudantes presos na USP
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
Uma estudante grávida, Paula, está entre as seis mulheres e seis homens presos na manhã deste domingo, na Cidade Universitária, durante reintegração de posse de parte do bloco G, no Conjunto Residencial da USP (Crusp). O prédio estava ocupado pelos alunos desde maio de 2010. Sem assistência específica, ela foi carregada por membros da Tropa de Choque para o ônibus da polícia e, na delegacia, passou mal, diante da cela inundada por urina e fezes.
 
A estudante de cursinho vestibular está com seis meses e meio de gravidez. Ela já tinha sido retirada durante o despejo de ocupantes do antigo espaço do DCE-Livre, em janeiro. Na época os estudantes divulgaram uma foto de um portão sobre seus ombros, que ficaram machucados. Neste domingo, ela foi levada carregada - em uma cadeira, por quatro membros da Tropa de Choque - para o ônibus. Um vídeo mostrou esse momento - mas em apenas um dia saiu do ar, no YouTube.
 
O major Marcel Lacerda Soffner, porta-voz da Polícia Militar, disse inicialmente que “provavelmente” ela não era estudante da USP. Depois foi mais categórico: afirmou que ela não estuda na universidade. De fato, ela não estuda na graduação - é companheira de um ocupante da Moradia Retomada, estudante de Física.
 

Ao chegar na cela, inundada de água, urina e fezes, Paula começou a passar mal. Segue o relato da estudante Aline Camoles, que estava no local:
 

- Ela entrou na cela e começou a ter ânsia de vômito, que passou. Algum tempo depois começou a ficar com pressão baixa. Arrumamos um plástico (a sacola do lanche) para ela sentar no chão, sem se molhar, perto da porta. Era o único local que tinha entrada de algum ar fresco. Ela foi ficando pálida e mole, parecia que ia desmaiar.
 

Nesse momento as estudantes começaram a gritar:
 

- Não adiantou por algum tempo, gritamos mais e mais, batemos a garrafa de refrigerante contra o ferro da cela, para fazer barulho. Só depois de um tempo veio um tal César, dizendo que ali não era a casa da mãe joana, para a gente parar de gritar. Falamos que eles seriam responsabilizados caso acontecesse algo com a Paula. Ela pôde sair da cela para o hospital por conta da presença da advogada.
 

OCUPAÇÃO RETOMADA

Segundo Soffner, 3 entre os 12 estudantes detidos não são estudantes da USP. Uma jovem de 16 anos foi presa - sem que alguém percebesse que ela tinha direitos específicos. O blog também apurou que pelo menos uma das pessoas presas, do Sul, estava de passagem exatamente nestes dias, durante o carnaval, hospedada no apartamento do amigo – também preso.
 
Os estudantes foram levados ao 14º Distrito Policial, em Pinheiros. O porta-voz da PM definiu a desocupação, iniciada por volta das 6 horas, como “pacífica”. Desde as 4h50, pelo menos, os policiais estavam no local, bloqueando as entradas para o bloco. Soffner informou que 100 policiais militares participaram da operação.
 
A polícia cumpriu um mandado expedido na sexta-feira pela juíza Ana Paula Sampaio de Queiroz Bandeira Lins, da 4ª Vara de Fazenda Pública. O autor do pedido de reintegração de posse é a USP. Os reús, a Associação dos Moradores do Crusp “e outros”. Leia aqui o motivo de Ana Paula ter tomado a decisão logo antes do feriado.
 
Moradores do terceiro andar do bloco F mostraram balas de borracha que, contam, foram atiradas pelos policiais. Vídeos registram os estilhaços. Os estudantes protestavam contra a reintegração – mas estavam impedidos de acessar o bloco G. O porta-voz da PM não quis entrar em detalhes sobre o conflito. Disse que tudo foi registrado em vídeo e será apurado.
 
Os seis estudantes expulsos da USP, em dezembro, estão entre as pessoas que ocuparam o bloco G, em maio de 2010. O local era conhecido como Moradia Retomada. Uma das primeiras providências da USP, durante a manhã de hoje, enquanto as entradas para o local eram lacradas, foi a de apagar as inscrições feitas pelos estudantes, com o nome “Moradia Retomada”.
 
O porta-voz da PM disse, em rápida entrevista coletiva às 9 horas, que o prédio já foi entregue juridicamente à USP. E que os estudantes foram fazer exame de corpo de delito, “para comprovar que não houve violência”. “Houve resistência normal, legítima, resistência passiva”, afirmou.
 
Pouco depois ele informou ao repórter da Globo que os estudantes responderão por resistência e por dano ao patrimônio público. “A polícia vai se manter aqui para monitorar a reintegração”, afirmou. Leia mais aqui sobre a entrevista com o porta-voz.
 
O estudante William Santana Santos, morador do Crusp, falou em nome dos estudantes. Disse que os estudantes pediram diálogo com a Coseas (a coordenadoria de Assistência Social da USP) para que não houvesse a desocupação.
 
O delegado Noel Rodrigues, do 14º DP, não quis falar sobre o caso. Disse que só falaria depois do almoço.

ESTUDANTES X PM

A Cidade Universitária vive desde outubro conflitos diretos entre estudantes e Polícia Militar. Em outubro, alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) reagiram à detenção de três estudantes que portavam uma pequena quantidade de maconha no estacionamento da história.
 
Em seguida estudantes ocuparam um prédio da administração da FFLCH. Uma semana depois, a reitoria da USP. No início de novembro houve reintegração de posse da reitoria, com centenas de policiais e a prisão de 73 pessoas – a maior parte alunos da USP. Uma estudante conta ter sido torturada.
 
Diante da desocupação da reitoria, os estudantes decidiram entrar em greve, progressivamente esvaziada durante os dois últimos meses - mas oficialmente prevista até a próxima assembleia geral, no início de março. Entre as reivindicações dos alunos estão a saída do reitor João Grandino Rodas e o fim do convênio entre a USP e a própria PM.
 
Em janeiro, um vídeo mostrou o estudante Nicolas Menezes Barreto sendo agredido por um sargento da PM, durante a desocupação do antigo DCE-Livre. Ele acusou a polícia de racismo. “PM me escolheu porque eu era o único negro”, disse ele ao blog Outro Brasil.
 
NO TWITTER:
@blogOutroBrasil
 

NO FACEBOOK:

Nenhum comentário: