sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Com Aguinaldo, Dilma escarnece dos sem-teto e dos sem-terra
 

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
O ano de 2012 começou em temperatura alta no que se refere a conflitos por terra no Brasil. Ao despejo violento na Ocupação Pinheirinho, em janeiro, somam-se este mês duas reintegrações de posse: uma delas, pela Polícia Federal, em terras ocupadas por famílias Tupinambá, em Olivença (BA); outra, em São Paulo, em um prédio na região central. No Mato Grosso do Sul há outro despejo anunciado, em Rio Brilhante: 170 indígenas Guarani Kaiowá precisam sair da Fazenda Santo Antônio, conforme decisão judicial.
 
É em um contexto como esse que Dilma Rousseff opta pelo deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) como novo Ministro das Cidades – substituindo um colega de partido sob suspeita. Dono de mais de 30 terrenos em João Pessoa, Ribeiro é neto de um dos maiores coronéis que a Paraíba já teve, Aguinaldo Veloso Borges.
 
Francisco de Assis Lemos, ex-militante das Ligas Camponesas e deputado estadual na Paraíba cassado pelo regime militar, expõe, em seu livro sobre as Ligas (“O Vietnã que Não Houve – Ligas Camponesas e o Golpe de 64”), quem foi Veloso Borges:
 
- No dia 2 de abril de 1962, João Pedro Teixeira, Vice-Presidente da Liga Camponesa de Sapé, foi assassinado com tiros de fuzil, na estrada, entre Café do Vento e Sapé. Os mandantes do crime foram: Aguinaldo Veloso Borges, Pedro Ramos Coutinho e Antônio José Tavares, conforme concluiu a pronúncia do Juiz Walter Rabelo em 27 de março de 1963.
 
João Pedro Teixeira é o "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho, o maior documentário brasileiro de todos os tempos. Foi o soldado Chiquinho, primeiro a ser preso pela polícia paraibana, que denunciou o trio. Veloso Borges, então suplente de deputado, assistiu a uma série de renúncias na Assembleia até obter a imunidade parlamentar – e escapar do julgamento. Um ano depois viria o golpe militar.
 
O ministro Aguinaldo Ribeiro não se torna um assassino pela biografia do avô. Assim como o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) não matou ninguém no Senado, como fez seu pai Arnon de Mello, em 1963 – atirando no colega Silvestre Péricles e vitimando o colega José Kairale.
 
Mas é evidente que esses senhores representam interesses muito distintos daqueles dos sem-teto e dos sem-terra. Não será deles que sairão iniciativas efetivas para garantir o direito constitucional à moradia. Os que sabem o caminho das pedras para a garantia desse direito seguem não sendo cogitados para o Ministério das Cidades.
 
Em outras palavras, a nomeação de Aguinaldo Ribeiro é um escárnio. Dilma Rousseff repete, com isso, a política de Lula em relação ao Ministério das Cidades, de entregar a pasta de bandeja para um dos partidos mais nefastos do país, o PP. Em meio ao loteamento político, um ministério de importância central para a questão social tem sido reservado para os filhos da Arena – os netos de Aguinaldo Ribeiro e Arnon de Mello, dos usineiros e latifundiários.

Curioso observar, em relação ao caso Pinheirinho, que muito lulista e governista quer nos fazer crer que o despejo violento em São José dos Campos é uma obra de responsabilidade do PSDB, do governo estadual e do prefeito Eduardo Cury. E é evidente que não se trata disso. Direito à moradia e a reforma agrária não são prioridade de governo nenhum – inclusive do governo federal, comandado pelo PT.
 
O próximo despejo anunciado, o dos Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul, tem contornos surreais – no Estado onde há mais homicídios de indígenas no Brasil. Os 170 membros da Terra Indígena Laranjeira Nhanderu estavam na beira da rodovia, na região de Rio Brilhante. Incomodavam: o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) entrou com ação para que ali não permanecessem. Aí eles foram para a fazenda. Incomodavam: com a recente decisão judicial, terão de voltar para a beira da estrada.
 
Brasileiros com pouca informação em relação às leis da física gostariam que esses seres humanos não ocupassem lugar nenhum. Como isso não é possível, e a moradia, antes de ser um direito, é uma necessidade elementar, esses indígenas – e outros sem-teto e sem-terra pelo país – seguirão ocupando alguma fatia de nosso território. Como não é dada a terra que lhes é de direito, seguirão sendo despejados – enquanto o novo ministro especula com seus terrenos em João Pessoa.
 
NO TWITTER:
@blogOutroBrasil

NO FACEBOOK:

Nenhum comentário: