Morte de Wendel mostra
tolerância brasileira ao trabalho infantil no futebol
Wendel Junior Venâncio
da Silva, de 14 anos, tornou-se há uma semana vítima do trabalho
infantil à brasileira. Explorado desde os 10 anos, morreu no Centro
de Treinamento do Vasco, no Rio, enquanto fazia um teste. Não havia
médicos no CT. O pai Antônio Carlos está desorientado, informou
ontem o Extra. Mas ninguém do clube entrou em contato com ele.
Usaram Wendel e
jogaram fora. O que queriam dele – e dos demais garotos que treinam
desde cedo, em idade escolar – era somente ganhar dinheiro. Alguns
viram craques e geram muito dinheiro: para a família também, mas
principalmente para “empresários” e para o clube.
O futebol brasileiro
gerou uma modalidade aceita de trabalho infantil. E é aceita apenas
porque, em alguns casos, dá muito dinheiro. Vira uma espécie de
loteria para pais com pouco dinheiro, e que veem no talento dos
filhos a oportunidade deles mudarem de vida.
Mas a exploração é
inadmissível. Culpados também os pais? Sim, mas que se registre a
proporção. Culpado é o sistema, toda a rede de oportunistas, de
aliciadores, de espertalhões que projetam esses sonhos nas crianças,
sem ao menos oferecer condições de trabalho – pois é disto que
se trata.
O vice-presidente jurídico do Vasco, Aníbal Rouxinol, foi particularmente indiferente em sua declaração ao Extra:
- O menino não era atleta do Vasco. Se você tem um filho que vai fazer
teste no clube que for, ele faz e volta para casa. Qual a
responsabilidade do clube? A responsabilidade é do pai, que tem que
saber se o garoto podia jogar, se tem saúde. Foi uma fatalidade. O garoto era atleta desde cedo, desde os
10 anos de idade. Era campeão, artilheiro em tudo que é lugar.
PAPEL DA IMPRENSA
Culpada também é a imprensa esportiva. Que, aliás, pouco tem falado do caso, divulgado na semana passada e já quase esquecido. Ou de casos semelhantes, ou do quanto isso acontece e pode acontecer com outras crianças brasileiras.
Não somente por isso é culpada: ela é responsável por um grau exagerado de glamourização, como se as peças utilizadas pelos capitalistas do futebol não fossem destinadas, primeiramente, a gerar lucros para esses senhores. As condições de trabalho de quem faz o espetáculo não importam para editores de jornais esportivos.
A morte de Wendel foi apenas um desvio de rota na lógica dessa exploração, apresentada apenas como “entretenimento”. Como escreveu Luis Fernando Verissimo no Estadão em relação ao despejo no Pinheirinho, em São José dos Campos, de vez em quando é bom dar uma espiada na Constituição. Pois, no Brasil, trabalhar antes dos 16 anos é ilegal – inclusive de chuteiras.
Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
Culpada também é a imprensa esportiva. Que, aliás, pouco tem falado do caso, divulgado na semana passada e já quase esquecido. Ou de casos semelhantes, ou do quanto isso acontece e pode acontecer com outras crianças brasileiras.
Não somente por isso é culpada: ela é responsável por um grau exagerado de glamourização, como se as peças utilizadas pelos capitalistas do futebol não fossem destinadas, primeiramente, a gerar lucros para esses senhores. As condições de trabalho de quem faz o espetáculo não importam para editores de jornais esportivos.
A morte de Wendel foi apenas um desvio de rota na lógica dessa exploração, apresentada apenas como “entretenimento”. Como escreveu Luis Fernando Verissimo no Estadão em relação ao despejo no Pinheirinho, em São José dos Campos, de vez em quando é bom dar uma espiada na Constituição. Pois, no Brasil, trabalhar antes dos 16 anos é ilegal – inclusive de chuteiras.
Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
NO TWITTER: