terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Em desocupação na USP, estudantes questionam livre acesso a área cercada pela polícia

O blog publicou na terça-feira que o estudante Celso Tadeu Borzani, nascido em 1962, transitava livremente, no domingo pela manhã, em área bloqueada pela Polícia Militar, durante a reintegração de posse da Moradia Retomada, na área do Conjunto Residencial da USP (Crusp). Nem a imprensa teve acesso ao local: em cada um dos lados membros da Tropa de Choque impediam a passagem. Vários estudantes disseram que Borzani estava lá.

Mas Borzani nega que tenha acessado a área reservada. Em entrevista ao blog, disse que conversou com policiais e com representantes da Coseas (a Coordenaria de Assistencia Social da USP, que pediu a reintegração de posse do local ocupado), como o professor Waldyr Jorge, mas fora do local. "Não sou policial", disse. "Devem ter me confundido com o professor Waldyr". O estudante declarou-se contra a presença ostensiva da polícia no câmpus, mas favorável às reintegrações. "Não fui eu que pus o pé na porta da reitoria e da Coseas".

Em dezembro, Borzani comemorou a expulsão de seis colegas da USP, conforme decisão da reitoria. Eles foram acusados, em processo administrativo, de comandar a ocupação do bloco lacrado no domingo pela polícia. Em e-mail enviado no dia 19 de dezembro a todos os membros do Departamento de Geografia (estudantes, professores e funcionários), ele escreveu o seguinte:
 

- Bom dia. Sugiro a todos que façam uma averiguacão no Crusp/Coseas de quem é quem. Não se iludam com a frase "PERSEGUIDOS POLÍTICOS". Muitos desta lista [de estudantes expulsos] TOCARAM O TERROR no crusp agredindo pessoas pelo simples fato de não concordarem com suas idéias. Para a maioria dos moradores do Crusp, isso é o mínimo que o Reitor deveria fazer. Ainda faltam alguns.

As frases estão reproduzidas (com maiúsculas e pequenos erros de digitação e português) exatamente da forma que Borzani publicou. Durante entrevista ao blog, ele foi comedido em relação à maioria dos estudantes "eliminados" pela reitoria. Apenas em um caso ele sustentou que uma delas tentou agredi-lo. Ele se disse favorável inicialmente à ocupação da Coseas, por conta da falta de vagas na moradia estudantil, mas contrário "momentos após", diante da política dos estudantes de aceitarem gente de fora - como alunos de cursinhos populares.

Borzani estuda Geografia na USP – ingressou em 2003 - e também vive na moradia estudantil. Até novembro, era um dos diretores da Associação dos Moradores do Crusp (Amorcrusp). Apresenta-se no LinkedIn como estagiário em Geoprocessamento na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e membro, desde outubro de 2010, da Comissão de Gestão da Política de Apoio à Permanência e Formação Estudantil da USP. A função, neste caso, seria a de “análise de orçamentos públicos e planejamento de gastos da universidade”.

O estágio remunerado na FAU já acabou. O estudante diz que sua prioridade, hoje, mais que acabar o curso (falta só o Trabalho de Graduação Individual), é arrumar um emprego. Borzani também prestou concurso, em 2011, para motorista do Centro de Computação Eletrônica – fez, em outubro, uma prova de múltipla escolha, prevista no edital do CCE. Mas não passou no concurso.

"MEU PAPEL"

Borzani conta que acordou às 5 horas, no domingo, e foi em direção ao bloco G. Ele mora no bloco B, um dos mais distantes do cenário da reintegração de posse. "Fui fazer meu papel", afirma. (Embora ele não faça mais parte da Amorcrusp). "Impedir que bloqueassem o Crusp, como fizeram durante a desocupação da reitoria". Durante sua gestão na Amorcrusp, ele adotou política conciliatória com a Coseas, rejeitada por outros estudantes. Mas diz que nunca falou com o reitor João Grandino Rodas e que, ao contrário do que dizem, nunca denunciou pessoas que moravam irregularmente no Crusp.

Estaria Borzani representando os estudantes, ao falar com Coseas? Ocorre que os moradores do Crusp não apoiaram as ações policiais no domingo e durante a reintegração de posse da reitoria, em novembro. Não porque necessariamente defendessem a Moradia Retomada ou a ocupação da reitoria – o que, em muitos casos, também ocorre. Mas porque foram atiradas bombas de gás (em novembro) e balas de borracha (no domingo), fora da área de reintegração de posse. No local vivem famílias inteiras – crianças, bebês.

No domingo, enquanto Borzani conversava com policiais, duas balas de borracha foram atiradas pela Tropa de Choque, de baixo para cima, na cozinha do terceiro andar do bloco F. Moradores do bloco G, da parte legalmente reservada à moradia estudantil (o setor lacrado também fica no bloco G), contam que a polícia entrou por lá, sem mandado judicial, à procura de objetos que neles pudessem ser atirados. Apontaram armas a estudantes comuns – que não participaram de nenhuma ocupação ou protesto político. Os moradores dessa ala, todos de pós-graduação, não podiam entrar ou sair do prédio.

Borzani sustenta que, após a desocupação da reitoria, prestou uma queixa à Corregedoria da Polícia, justamente para afirmar que "99%" dos moradores do Crusp são pessoas que estudam e trabalham, e não podem ser atingidos por ações policiais. Estas ele considera justas para aqueles que, conforme suas palavras, "tocam o terror" na Cidade Universitária. Ele fez cinco boletins de ocorrência (quatro deles, seguidos de representação) contra alguns estudantes, por tentativa de agressão, além de um depoimento no Ministério Público.

Curiosamente, a presença ostensiva de Borzani junto aos policiais não causou estranheza aos militantes mais à esquerda do movimento estudantil. Eles o acusam de defender os interesses da Coseas, a Coordenadoria de Assistência Social da USP, e, portanto, da própria reitoria – mas já se acostumaram com sua presença.

A Coseas tinha representantes na área reservada aos policiais. Entre eles, assistentes sociais – que foram hostilizados por estudantes. A USP deveria ter providenciado Conselheiro Tutelar, conforme as instruções da juíza que emitiu o mandado de reintegração de posse. Mas não providenciou – a ponto de ter sido presa, no domingo, junto com 11 adultos, uma adolescente de 16 anos, sem que nenhum policial militar ou representante da USP percebesse.

Celso Borzani falou por mais de duas horas com o blog. Além de um resumo do que falou, neste texto, publicarei nos próximos dias um perfil do estudante.

Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
 

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2 comentários:

Anônimo disse...

Só para atualizar esse artigo, o Celso ainda tomou posse do CEL-Centro de Estudo de Línguas, do CRUSP e pertence à AMORCRUSP, já que foi construído com o dinheiro dessa associação, alegando ser o "diretor" e exigindo uma sala do térreo do bloco F, sede da AMORCRUSP, para ele. DETALHE: isso nunca foi levado e muito menos votado em assembléia de moradores.

Chi Qo disse...

50 anos? Ingressante em 2003? Estagiário na FAU? E critica os outros estudantes? É um Boçal... Completo parasita!!! Vai trabalhar, V********!!!