terça-feira, 20 de novembro de 2012

Os Guarani-Kaiowá, o articulista Luiz FP e a redução das polêmicas a um produto

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

Não adianta enviar cartas a Luiz Felipe Pondé e tentar convencê-lo em relação a alguma causa nobre. A sua causa não é nobre. E está a serviço da venda inescrupulosa de jornais. Seus textos são planejados para gerar indignação. Mais leitura para a Folha de S. Paulo. Que ganha dinheiro com a repercussão proporcionada por esse senhor. O mesmo vale para os anunciantes.

Luiz FP especializou-se em assinar artigos sem resquícios de ética. E morre de rir das reações pautadas em valores humanistas. Seu mercado é o da desumanização. Não se trata de promover polêmicas por algo nobre – mas de reduzi-las a um produto. Que se alimenta das justas exclamações, do próprio asco que suas palavras sórdidas geram na sociedade.

Chamo-o de Luiz FP para reduzi-lo ao que ele realmente é. Como uma resposta a sua suposta ironia (na verdade, um escárnio), neste dia 18 de novembro, em relação às pessoas que vêm assinando seus nomes, nas redes sociais, acompanhados do complemento Guarani Kaiowá: Ernesto Guarani-Kaiowá, Carlos Guarani-Kaiowá, Elizabeth Guarani-Kaiowá.

Luiz FP chega a dizer que quem faz isso está precisando de sexo. Entre outras barbaridades - todas calculadas. Ele tenta ridicularizar, com isso, quem busca homenagear a etnia, quem se solidariza com seres humanos oprimidos pela lógica do latifúndio e do capital. Luiz FP é indiferente, arrogante e se propõe a pairar acima de qualquer pessoa que tenha uma utopia. Considera-se pós-utopia. Mas é apenas um pré-filósofo.

Os textos abomináveis de Luiz FP não são apenas abomináveis. Eles são um produto jornalístico. Ele e seus chefes vivem desse ultraparasitismo. Luiz FP é um filho do cinismo e um promotor da desesperança – mas está se lixando para essas nossas classificações.

O que ele quer é audiência. Luiz FP, Otavio Frias Filho e cada sócio da empresa Folha da Manhã são beneficiados por essa mercadoriazinha publicada às segundas-feiras na Folha de S. Paulo. Esse texto-mercadoria escrito sempre abaixo da linha de cintura.

Não é só Luiz FP que não tem escrúpulos. E a sociedade precisa começar a enxergar que esses articulistas sem ética (e com o marketing da falta de ética) são apenas serviçais. Há pessoas e empresas acima dele que estão ganhando muito dinheiro sem precisar sujar as mãos.

Que a indignação seja dirigida às pessoas certas – as que ainda têm alguma imagem a zelar.

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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

TCU homenageia dona de empresa na lista suja do trabalho escravo

Yolanda Queiroz foi homenageada na quarta-feira, pelo Tribunal de Contas da União. Recebeu o Grande-Colar do Mérito de 2012, a condecoração mais alta oferecida pelo TCU. Entre os agraciados estavam também o ministro Carlos Ayres Britto, do STF, e o escritor Ariano Suassuna. Jorge Amado recebeu homenagem in memoriam.

Sogra do ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), Yolanda é a presidente do Grupo Edson Queiroz – a quem pertence o Diário do Nordeste e a TV Verdes Mares. Uma empresa do grupo cearense está na Lista Suja do Trabalho Escravo, do MInistério do Trabalho e Emprego, versão 2012. É a Esperança Agropecuária e Indústria Ltda. Dezesseis pessoas foram libertadas na fazenda Entre Rios, em Maracaçumé (MA), em março de 2012.

Relato da ONG Repórter Brasil, especializada no tema, mostra que a empresa esteve também na lista de 2010, após a libertação de dez trabalhadores em uma fazenda no município de Aroazes, no Piauí. E, em 1999, pela libertação de 86 trabalhadores na mesma fazenda Entre Rios, no Maranhão.

O site do grupo descreve a Esperança Agropecuária da seguinte forma:

- Os agronegócios do Grupo Edson Queiroz aliam a tecnologia de ponta ao mais absoluto respeito à natureza. São seis fazendas de alta produtividade: cajucultura orgânica, apicultura orgânica, reflorestamento, piscicultura, seleção de bovinos e ovinos, criação de caprinos, além de frigorífico. A atividade das empresas agropecuárias é totalmente informatizada, garantindo o controle rigoroso da reprodução de bovinos e ovinos. O Grupo Edson Queiroz investe na qualidade genética dos rebanhos e gera estirpes campeãs.

Vejamos agora a situação descrita em uma das fiscalizações do Ministério do Trabalho:

- Os trabalhadores estavam em um barraco feito com tábuas de madeiras podres, coberto de telhas de barro e zinco. As condições de higiene e limpeza eram péssimas e eles dividiam espaço com os galões de agrotóxicos, armazenados próximos aos alimentos. Bebiam água retirada de um poço e na frente de trabalho do roço de juquira, quando acabava a água levada do poço, se viam obrigados, por falta de opção, a tomar água retirada de grotas e nascentes que também eram utilizadas pelo gado da fazenda.


Alceu Luís Castilho (a partir de informações do advogado Antonio Rodrigo Machado, no Twitter)

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A Arena nunca morreu – e está instalada na presidência do Senado

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

A velha Arena tem um bigode farto, pintado de acaju. E exerce um dos cargos mais importantes da República, a presidência do Senado. Está muito longe de ter morrido – apenas metamorfoseou-se, invadiu outros partidos e segue exercendo seu poder político.

Essa é a notícia principal sobre o partido oficial do último regime militar. E não a criação de um partido sem representatividade por uma estudante gaúcha – aquela que é contra cotas e quaisquer privilégios, mas é bolsista do ProUni.

A velha Arena está instalada no Ministério das Minas e Energia. É uma extensão do poder daquele vasto bigode acaju: orbita em torno de José Sarney o poder do ministro Edison Lobão. Deputado federal pela Arena durante a ditadura, um dos que migraram para o PFL, seguindo o vice de Tancredo Neves. Hoje, como seu padrinho, está no PMDB.

Lobão e Sarney são poderosos. O poder do segundo é mais conhecido. O do primeiro, não. Mas ele foi ministro das Minas e Energia também durante o governo Lula, entre janeiro de 2008 e março de 2010. Entende do tema? Não, é um jornalista. Está lá para perpetuar os interesses de seu grupo político. Durante a Constituinte, não foi um deputado qualquer: foi decisivo, em comissão, para barrar uma verdadeira reforma agrária no Brasil.

Esqueçam de Cibele Baginski, portanto. A gaúcha da falsa Arena. A Arena verdadeira existe, está aí para quem quiser ver. Falemos do poder de Sarney, do poder de Lobão.

A Arena também esteve no palanque de Fernando Haddad, em São Paulo, na figura constrangedora do deputado Paulo Maluf (PP-SP). Mas ela não se perpetua somente parasitando o PT. Em São Paulo, faz isso também com os tucanos. A Arena é da base da petista Dilma Roussseff e da base do tucano Geraldo Alckmin.

A Arena não tem pudores. Ela apoiava um regime assassino e desastrado – fiador de um projeto monstruoso de colonização, por exemplo, que turbina até hoje os conflitos no campo no Brasil. A Arena, cinquentona, é hoje uma senhora experiente. Sabe que não precisa botar para quebrar para perpetuar os interesses das elites mais atrasadas do país.

A Arena é o cavalo de troia presente no PMDB, no PSB, no PDT, no PPS. Difícil não enxergar alguém da Arena escondidinho por aí, disfarçado de democrata, em quase todos os partidos do país. Ou pelo menos participando ativamente de governos desses partidos. A Arena tem um nível intelectual superior ao do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) – e nem sempre sua truculência explícita.

Ela está em dobradinha de irmãos no Senado e na Câmara, com Jayme e Julio Campos. Ambos ruralistas. O irmão de Jayme está sendo investigado desde o ano passado, no STF, sob a acusação de assassinato. Leiam matéria do site Congresso em Foco: “STF investiga deputado por duplo homicídio”.

Julio Campos é suspeito de ser o mandante das mortes do empresário Antônio Ribeiro Filho e do geólogo húngaro Nicolau Ladislau Ervin Haraly, em 2004, em São Paulo. Tudo para se apropriar de terras com pedras preciosas. Mas quem fala disso na imprensa brasileira? Melhor falar de uma estudante irrelevante, não é mesmo? Ou do mensalão.

Foi também Julio Campos também quem chamou o ministro Joaquim Barbosa de “aquele moreno escuro”. “Ah, o STF”, suspirará alguém. “O STF é uma prova de que aqueles tempos foram superados”. Mas será mesmo? Um dos colegas de Barbosa no STF, Marco Aurélio Mello, tem repetido que o golpe de 1964 foi um “mal necessário”. 


Vamos repetir: a Arena não é uma estudante gaúcha de 23 anos. É uma senhora cinquentona, representante de famílias que dominam o país há 500 anos. Possui muitos descendentes e muitos amigos – que, em muitos casos, acabam sendo convencidos de que as ideias dela estão certas.

A Arena – a original – não está para brincadeiras. Ela é uma amostra vigente das práticas políticas reinantes no país: ruralistas, patrimonialistas, cínicas, violentas.

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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Cabras marcadas para morrer

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

José Roberto Guzzo já foi descrito como um dos jornalistas mais importantes do país. Assim o definiu um profissional respeitável, como Paulo Nogueira. O sucessor de Guzzo no comando de Veja, porém, Mario Sergio Conti, caminhou no sentido contrário, no livro “Notícias do Planalto” (Companhia das Letras, 1999), ao fazer insinuações em relação a seu antecessor – por conta da publicação de reportagens favoráveis ao ex-ministro Iris Rezende.

Na última edição da revista, um artigo de Guzzo logo se desenhou como um dos mais constrangedores da história. O artigo é escancaradamente homofóbico. Mas conseguiu marcar mais pelo ridículo do que pelo próprio preconceito. Ele conseguiu comparar casamento entre gays a um casamento entre um homem e uma cabra: “Um homem também não pode se casar com uma cabra, por exemplo; pode até ter uma relação estável com ela, mas não pode se casar”.

Em pouco tempo as cabras passaram a ocupar um vasto espaço da internet. Vários “memes” estão sendo produzidos com os caprinos como personagens centrais. Um deles aborda o casamento entre cabras. A imagem de uma cabra com véu, como se estivesse vestida para casar, puxa a fila de imagens do animal.



Mas este não é apenas um artigo sobre homofobia. Ou sobre Guzzo. Sobre o consenso de que o articulista pisou feio na bola – e de que devemos rechaçar (ainda que com mais elegância) opiniões discriminatórias. É sobre comunicação. Sobre a internet. E sua capacidade de aplicar um zoom extraordinário numa única palavra dita por alguém, ou numa única ideia estapafúrdia.

Foi assim com a Baleia, nome de uma praia no litoral norte paulista. Sua utilização motivou uma das maiores crueldades coletivas dos últimos tempos na rede, contra uma criança que, ao musicar seu Bar Mitzvá (a passagem para a vida adulta, na simbologia judaica), fazia uma referência nonsense à praia. O menino foi virtualmente linchado. Sem piedade.

Os exemplos se multiplicam. E ilustram um comportamento que, se em alguns casos (como a reação a uma estúpida frase homofóbica) pode ser, inicialmente, considerado legítimo, em outros evidenciam perigosos comportamentos em onda, movimentos de massa tão intolerantes quanto aquilo que muitas vezes se critica. Um megabullying, um patrulhamento muito além de qualquer dose justificável.

Não se trata só de reação a uma ou outra frase descuidada. Mas também a fatos, acontecimentos. Sempre sou voz discordante quando falam jocosamente da “bolinha de papel” atirada em José Serra. Nenhuma simpatia por esse político, mas a histeria coletiva diante de sua teatralidade canastrona esconde o singelo fato de que nenhum candidato (por pior que seja) deveria receber bolinha nenhuma – de papel, fita crepe etc.

Do outro lado, os raivosos anti-direitos humanos, aqueles que tomam a redução da maioridade penal como panaceia, invadem agressivamente os espaços para leitores nas redes sociais. Suas opiniões são degradantes e, em muitos casos, paradoxais, pois não raro incorrem em apologia do crime – o que, em si, é crime, e, conforme a lógica de Talião que eles propõem, deveria ser severamente punida. Mas eles seguem lá: numerosos, impunes, incitando violências verbais e físicas.

E assim, de grão em grão, de meme em meme, de olho da serpente em olho da serpente, vão se impondo unanimidades na internet. Repete-se uma espécie de exercício instantâneo de auto-afirmação. “Massa e poder”, dizia há muito tempo o escritor Elias Canetti, de olho na lógica do fascismo.

Às vezes essas ondas têm origem pretensamente anárquica. Mas são inconsequentes demais para isso. Muitas vezes vêm disfarçadas de necessária vigilância política – contra homens públicos ridículos, jornalistas homofóbicos etc. Mas a compulsão por piadinhas revela-se infinitamente maior que o senso de responsabilidade.

Essa multidão da internet tem-se desenhado com problemas sérios de propensão à intolerância. E não somente à direita, mas também à esquerda do espectro político. As manifestações têm os mesmos germes de ódio e desprezo que caracterizam textos de José Roberto Guzzo e Danilo Gentili, Rafinha Bastos e Reinaldo Azevedo, as mesmas motivações torpes dos agressores de Geisy Arruda.

Eu deploro a revista Veja e o artigo de José Roberto Guzzo. Não sou eleitor de José Serra. Mas adoraria que o menino do Bar Mitzvá, Geisy Arruda, Jeremias (o bêbado que virou hit na internet), Ricardo Lewandowski e qualquer cidadão brasileiro tivessem suas imagens minimamente preservadas. Sem serem espezinhados, humilhados, achincalhados. Que a sociedade exercitasse, portanto, o reconhecimento do “outro”, do diferente.

Essa lógica intolerante não perdoa ninguém: como se viu, crianças. E não respeita nada: vídeos privados (com cenas íntimas, por exemplo), que canalhas colocam para circular ilegalmente. Tudo se torna material para essa multiplicação de perversidades. Sem que ninguém perceba a dimensão bumerangue de seu escracho diário.

Não estou falando só de internet. E sim definindo-a como ponto de encontro de uma vasta e violenta crise de valores – fruto de uma brutal desesperança coletiva.

Eduardo Coutinho consagrou o nome “Cabra marcado para morrer”, sobre um camponês assassinado na Paraíba, nos anos 60.

O risco maior desse festival de escrachos é termos uma Cidadania Marcada para Morrer.

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sábado, 10 de novembro de 2012

Otavio Frias Filho precisa contar ao Brasil que defende os ruralistas
 

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 

A Folha de S. Paulo deste sábado e a Veja desta semana repercutem uma pesquisa do Datafolha sobre hábitos indígenas. O título do jornal é absurdo, para quem tenha aprendido rudimentos de antropologia: “Índios estão integrados ao modo de vida urbano, afirma pesquisa”.
 

Ao lado, pelo menos, a Folha destaca uma frase do Conselho Indigenista Missionário (Cimi): “Isso não significa um conflito cultural. Não é o fato de adquirir uma TV ou portar um celular que fará alguém ser menos indígena”.

O jornal que se proclama democrático por ter aderido à campanha das Diretas Já, nos anos 80, precisa explicitar à sociedade brasileira que defende os ruralistas. Tanto quanto o Estadão ou a Veja. Sem posar de isento.

A pesquisa sobre indígenas foi encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Ela é presidida pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO), que tem uma coluna semanal no jornal. Com direito a artigos extras, em campanha sistemática contra os territórios indígenas.
 

Um desses artigos foi escrito um dia depois da prisão do pecuarista Assuero Veronez, seu vice na CNA, acusado de participar de uma rede de exploração sexual de adolescentes. Veronez foi libertado por um desembargador que, por sua vez, já foi acusado de se apropriar de terras do Incra. A imprensa, porém, não divulgou essa informação.


O JORNAL E A SENADORA
 

Mas a relação dos donos da Folha com os ruralistas não é apenas ideológica. Um jornal do Tocantins publicou este ano a seguinte notícia, sobre visita de Otavio Frias Filho, diretor editorial e diretor de redação da Folha, ao parque do Jalapão. Ele estava acompanhado da senadora:
 


A origem do império Folha (que também tem participação no UOL e no Valor Econômico) é ruralista. Octavio Frias de Oliveira, o pai, era granjeiro, antes de adquirir a empresa Folha da Manhã S.A. Vejamos o que escreveu a respeito o jornalista Paulo Nogueira, há dois anos:
 

- Na biografia semioficial de Octavio Frias de Oliveira, está publicado um episódio revelador. Nabantino, o antigo dono da Folha, estava desencantado (...) Decidiu vender o jornal. Um amigo comum de Nabantino e Frias sugeriu que ele comprasse. “Dinheiro você já tem da granja”, ele disse. “O jornal vai dar prestígio a você.”

Nenhuma notícia que contrarie os amigos pessoais de Frias é publicada na Folha. Quem trabalhou lá diz que Frias Filho, após a morte do pai, é mais realista que o rei nesse sentido – em homenagem à memória do fundador do jornal. O mesmo não valeria para pecuaristas?
 

O Senado realizou em 2011 duas sessões de homenagens ao grupo: à Folha de S. Paulo e a Octavio Frias de Oliveira. Doze senadores discursaram na segunda sessão, em março – sob a presidência do ruralista José Sarney (PMDB-AP). Um ministro do STF também participou: o ruralista Gilmar Mendes.

Um desses parlamentares era a senadora Kátia Abreu. Ela disse no plenário que a Folha “agita, incomoda, provoca”. Segue um trecho:


- Infelizmente, este meu depoimento corre o risco de ser arguido de suspeição. Na verdade, não tenho apenas admiração pela presença testemunhal da Folha na vida brasileira. Vou além. Devo confessar minha condição de leitora diária do jornal (...) Também sou eventual colaboradora da sua corajosa terceira página, onde debatem os que têm algo a dizer sobre os temas em discussão no País, e que é aberto até aos que discordam do próprio jornal e o acusam de parcialidade. Além disso, com frequência, sou citada por minhas opiniões, intervenções nos trabalhos do Congresso Nacional e posições em defesa dos produtores rurais (...) Pois bem, mesmo quando as posições críticas do noticiário que me envolvem são adversas – o que é natural e nem sempre agradável, pois, às vezes, injustas –, nunca me senti desrespeitada, nem me foi negado espaço na Folha para explicações ou versões que me pareceram indispensáveis.


A TERRA E OS LATIFUNDIÁRIOS
 

Após a CPI da Terra, em 2005, o deputado federal João Alfredo (PSOL-CE) publicou um relatório que deveria ser o oficial. Por uma manobra dos ruralistas, entre eles o presidente da CPI, Álvaro Dias (PSDB-PA), o documento tornou-se um relatório paralelo. Eles aprovaram um texto que classificava as ocupações de terra como “atividade terrorista”.
 

A professora Regina Bruno escreveu o posfácio desse relatório paralelo, que virou livro. Em certo momento ela pergunta quais as razões de tanto poder e apego dos grandes proprietários de terra. “A resposta dela é longa”, conto no livro Partido da Terra (Editora Contexto, 2012). Mas vale destacar um trecho em que ela identifica uma “infinidade de pessoas, grupos e categorias sociais de proprietários de terra”:
 

- São os banqueiros-proprietários de terra, os empresários-proprietários de terra; os homens do agronegócio-proprietários de terra; os donos dos meios de comunicação-proprietários de terra, os comerciantes-proprietários. E, mesmo os não-proprietários, em seu modo de ser, são grandes proprietários por “apoio aos meus”, como costumam declarar na mídia.
 

Esses donos dos meios de comunicação precisam dizer com todas as letras quais interesses defendem, em relação à reforma agrária, à questão indígena, aos impactos das decisões dos ruralistas no meio ambiente.
 

Otavio Frias Filho, defensor da democracia, poderia encabeçar esse movimento.
 

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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A redução da maioridade penal – e a redução da grandeza dos argumentos

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
Nove entre dez brasileiros, apontou este ano pesquisa do DataSenado, são favoráveis à redução da maioridade penal, de 18 anos para 16 anos.
 
O debate público, porém, ganha contornos menores. Os argumentos são pueris. A defesa da legalidade é paradoxal – pois acompanhada, em muitos casos, de apologia da violência. O desejo de vingança mostra uma sociedade imatura. E não disposta a reflexões sobre o Estado Democrático de Direito, condição humana, dimensões políticas e econômicas dessa problemática, rumos de nossa civilização.
 
Em outras palavras, a sociedade está brincando com fogo.
 

Publiquei recentemente no Facebook a seguinte charge de Angeli:



Até a data em que escrevo (08 de novembro), ela tinha quase 4 mil compartilhamentos. [Em abril de 2013, mais de 11 mil.] Um número e tanto. Mas a genialidade do cartunista - concorde-se ou não com ele - não é acompanhada de um exercício de reflexão, de ponderações. Muitos defensores da redução mostram-se açodados, como se estivessem decidindo que um membro do Big Brother vá para o paredão – e não falando sobre um destino sombrio para adolescentes brasileiros.
 

Uma sugestão de leitura é o seguinte artigo do procurador paranaense Olympio de Sá Sotto Maior Neto:  “Sim à garantia para a infância e juventude do exercício dos direitos elementares da pessoa humana”.
 

Outra sugestão é um texto do Instituto Recriando, sobre mitos e verdades relacionados ao tema.

Vamos engrandecer o assunto?
 

Sotto Maior faz algumas indagações em seu perfil no Facebook, “para enfrentar a manipulação ideológica que pretende transformar nossas crianças e adolescentes em inimigos da sociedade brasileira”. Elas merecem ser repercutidas:
 

- e quem for a favor de que o Estado cumpra com o seu dever de garantir a todas as crianças e adolescentes o exercício dos direitos elementares da cidadania e, dessa forma, afastá-los da delinquência, vota como?
 

- e quem for favorável a que sejam criadas as condições necessárias para a execução das medidas socioeducativas previstas na lei e que poderiam resgatar para a vida social um adolescente que praticou um ato infracional, ao invés de, na promiscuidade das penitenciárias (com violência física, psíquica e sexual), entregá-lo definitivamente à criminalidade, vota como?
 

- e quem for favorável que, ao invés dos adolescentes que se encontram em peculiar fase de desenvolvimento, para cadeia sejam encaminhados os políticos corruptos, os funcionários públicos peculatários e os grandes fraudadores dos fisco, que desviam os recursos públicos necessários à implementação de políticas para a infância e juventude, vota como?
 

Com a palavra, a sociedade brasileira – esta que se julga tão amadurecida.
 

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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Juiz acusado de invasão de terras solta ruralista preso por exploração sexual

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

O vice-presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Assuero Veronez, de 62 anos, foi libertado na noite de ontem. Ele é acusado de participar de uma rede que explora sexualmente adolescentes, no Acre – onde preside a Federação de Agricultura.

Quem libertou o pecuarista?

O jornalista Altino Machado informa: o desembargador Francisco Djalma.

Djalma também libertou o ruralista Adálio Cordeiro, igualmente preso na Operação Delivery, a pedido do Ministério Público do Acre.

Vejamos uma notícia que o próprio Altino Machado publicou em novembro de 2011: “Juiz do Acre acusado de invasão de terras públicas quer trancar processo”.

Quem era esse juiz? Francisco Djalma. Desde setembro, desembargador. Segue um trecho do texto de Altino:

- De acordo com a defesa do magistrado, o vice-presidente do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC) “indevidamente” admitiu o recurso interposto pelo Ministério Público do Estado do Acre que acusa o magistrado de invasão de terras públicas (Lei 4.947/66, artigo 20), formação de quadrilha (Código Penal, artigo 288) e falsidade ideológica em documento particular.

TERRAS DO INCRA

Em março de 2010 o site Consultor Jurídico também escreveu sobre o caso.  À época, o ministro Carlos Ayres Britto, hoje presidente do STF, acolheu o pedido relativo à formação de quadrilha. O caso seguiu para o ministro Ricardo Lewandowski.  Dizia o Consultor Jurídico:

- Segundo os autos, o juiz teria comprado a Fazenda Taquara, composta por 14 lotes de terra num total de 2.497 hectares, constantes de títulos e declarações de propriedade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, pelo valor de R$ 350 mil. Em fevereiro de 2000, ele teria iniciado a tentativa de “regularizar a compra da posse” da propriedade junto à Superintendência Regional do Incra em Rondônia.

Para o Ministério Público, informa o texto, o juiz e outros denunciados “teriam se associado em quadrilha para cometer os crimes de invasão de terras da União destinadas à Reforma Agrária, com a finalidade de ocupação ilícita e falsidade ideológica em documentos particulares perante autarquia federal”.
 

UMA CERTA VISÃO DE MUNDO
 

A decisão de Francisco Djalma beneficia diretamente um dos principais líderes ruralistas do país. Assuero Veronez foi um dos principais defensores do novo Código Florestal. “Sem falsa modéstia, acho que ninguém esteve nessa luta da reforma do Código por 15 anos como eu", afirmou, no dia 25 de setembro, em seu perfil no Twitter.

Nesse mesmo perfil o ruralista resume sua visão sobre a questão agrária. No dia 24 de outubro, ele escreveu que é preciso diferenciar os índios verdadeiros de "oportunistas vagabundos".

Mas são os ambientalistas o seu alvo preferido. Em 13 de agosto, o Greenpeace fora condenado por chamar a senadora Kátia Abreu de "Miss Desmatamento". Segue a ponderação de Veronez: "Ferro neles".
 

Em 30 de junho, diante de uma sugestão de Kátia Abreu para presidente 2014, ele brincou: "Quero ser ministro do Meio Ambiente". No dia 18/06 ele retweetara um comentário sobre os índios. Dizia o postante que eles "continuam trazendo medo e terror nas regiões em volta dos rios Nabileque e Naitaca".

Um dos termos utilizados por Veronez para os ambientalistas é “ecotalibans”. No dia 23 de maio ele chamou o cartunista Mauricio de Souza de “babaca ignorante”. O ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc foi definido no dia anterior como “falastrão e demagogo”. No dia 11, após o Fantástico veicular reportagem sobre navio do Greenpeace, ele não teve dúvidas ao definir a Globo: “Vendida”.
 

Uma semana antes, afirmava: "Seja coerente. Não gosta do agronegócio, faça greve de fome." (A maior parte dos alimentos que consumimos vem dos camponeses, da agricultura familiar, e não do agronegócio. São dois modelos diferentes da relação do homem com a terra e com o território.)

Um ambientalista foi chamado no dia 20 de março de “babaca oportunista”. É que ele reagira a um comentário seu ao seguinte post do @sou_agro:  "Você sabia que o estado do Mato Grosso sozinho responde por 8% da produção mundial de soja?"  Veronez fez o seguinte comentário: “Viva o desmatamento”.

No dia 14 de junho ele definia como prestigiada a posse do deputado Homero Pereira na presidência da Frente Parlamentar da Agricultura: “Mostra poder da bancada ruralista. Sem duvida a maior força política do Congresso”.

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A Folha de S. Paulo informou no dia 2 de novembro que, no dia 17 de outubro, seis pessoas já haviam sido presas na Operação Delivery . Pela suspeita, segundo o Ministério Público, de aliciarem jovens de 14 a 18 anos para prática de orgias em residências e motéis de Rio Branco.

O jornal explica que o nome da operação é uma referência ao serviço de entrega de produtos em domicílio. “As prisões desta sexta-feira estão ligadas a esse caso”, dizia o jornal.

A mesma Folha de S. Paulo publicou no domingo (04/11) reportagem sobre a violação de meninas indígenas, no Amazonas. A virgindade delas é vendida por R$ 20. Um dos acusados é ex-vereador do município de São Gabriel da Cachoeira.

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