quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Indignados com Pinheirinho vão protestar contra despejo de indígenas na Bahia?
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
Quarenta famílias Tupinambá foram despejadas ontem em Olivença, na Bahia. O jornal Brasil de Fato relatou violência da Polícia Federal: 30 agentes, armados, forçaram a desocupação das casas. Assim como em São José dos Campos, os moradores não esperavam a reintegração de posse: baseavam-se em uma decisão do Superior Tribunal de Justiça. Embora os fatos sejam idênticos aos da Ocupação Pinheirinho, a esta altura destruída e queimada em São José dos Campos, não geram a mesma indignação e repercussão midiática. Por quê?
 
Uma parcela de indignados no Brasil é seletivamente partidária. Bufa, grita, espuma, se contorce – mas somente se as violações de direitos humanos forem protagonizadas por tucanos. Brutalidade policial em São Paulo? ONU neles! Brutalidade policial no Piauí, em Pernambuco ou Sergipe? Moita.
 
Agem da mesma forma  os indignados contra a corrupção. Hoje eles estão no campo da oposição ao governo federal. Bufam, gritam, espumam, se contorcem – mas somente se os desvios e bandalheiras forem protagonizados por petistas e seus aliados. Casos similares envolvendo membros do PSDB, do DEM? Moita.
 
Cada um desses grupos tem uma mídia específica, em uma espécie de concerto da indignação seletiva. De um lado, o que os governistas chamam de PIG – o Partido da Imprensa Golpista. Segundo eles, a grande imprensa faz qualquer coisa para atingir Dilma Rousseff ou Lula.
 
Do outro lado entrincheira-se boa parte da mídia alternativa: blogueiros “progressistas” cuja principal preocupação parece ser a de atingir os tucanos e seus aliados – e o PIG.
 
Cada vez acredito menos na existência do PIG. Acredito, sim, na existência de uma imprensa graúda que reverbera (como a polícia, como o Judiciário) os interesses dos poderosos. O despejo na Bahia mostra isso com clareza: não seria de interesse do PIG, por exemplo, divulgar enfaticamente um despejo de indígenas pelo governo Dilma?
 
Não divulga porque está imbuído do ensejo de defender com garras o direito à propriedade. Este, muito mais que o direito à vida e outros direitos humanos elementares, flutua acima de simpatias partidárias – que, sim, existem.
 
Por outro lado, cada vez acredito mais na existência do PAG. O Partido da Agenda Governista, o anti-PIG, uma imprensa chapa-branca, servil aos humores lulopetistas. Não de uma forma absoluta, como ele mesmo proclama em relação ao PIG, mas com uma capilaridade e uma força suficientes para gerar ondas de indignação – quando esta for conveniente.
 
É claro que há nuances em todo esse processo. Não é inexorável que a grande imprensa vá ser indigna em relação a violações de direitos. A cobertura sensível que a Record faz do Pinheirinho é um exemplo disso. Outro, a oposição, na própria Rede Globo, da abordagem humana do Bom Dia, Brasil em relação às famílias despejadas em São José dos Campos, em contraponto com a criminalização imposta pelo Jornal Nacional e Fantástico.
 
Da mesma forma há uma imprensa realmente alternativa. O Brasil de Fato divulgou atentamente o despejo na Bahia. Por ele ficamos sabendo que Vanderlei, um indígena de cerca de 50 anos, entoou o canto Tupinambá dentro de uma viatura da PF. Foi retirado do carro e colocado na chuva, de joelhos, com as mãos para trás. Soubemos também de agressões, contra os mesmos Tupinambá, em 2009 e em 2010.
 
O saldo desse problema é que o país está cindido. Salvo uma turma de fanáticos que ainda acredita no que lê na revista Veja, há poucos brasileiros instruídos que se pautam apenas pelo canto da grande imprensa. Por outro lado, a imprensa alternativa não é livre como deveria ser. A soma de seus esforços pulverizados aparece apenas aqui e ali, quando governistas e independentes participam do mesmo coro – como aconteceu no caso Pinheirinho.

Não se trata apenas da necessidade de garimpar jornalismo independente, dos dois lados da força. Trata-se, infelizmente, de garimpar indignação genuína – de preocupação sistemática e coerente com a vida e os direitos fundamentais de todos os brasileiros.
 
Alfabetizados em cidadania não podem ter apenas o PT ou o PSDB como “inimigo”. E sim a tortura, os abusos policiais, as agressões contra povos indígenas, camponeses, sem-teto, moradores de rua, dependentes químicos, estudantes. Parece elementar – mas não é o que está acontecendo no Brasil hoje, fevereiro de 2012.
 

LEIA MAIS:
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4 comentários:

Chi Qo disse...

Não sei não Alceu, mas acho que a tal da Imprensa Ideal que a gente aprende a fazer na faculdade, na prática não existe...

João da Silva disse...

http://miseriahq.blogspot.com/2012/02/tudo-fantoche-do-mesmo-monstro.html

João da Silva disse...

http://miseriahq.blogspot.com/2012/02/tudo-fantoche-do-mesmo-monstro.html

Cristian Korny disse...

"indígenas, camponeses, sem-teto, moradores de rua, dependentes químicos, estudantes." eu acrescentaria aí bandidos, loucos, traficantes e vagabundos