Empresa de político entra na Lista Suja do trabalho escravo
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
O Complexo Agroindustrial Pindobas entrou na Lista Suja do trabalho escravo, atualizada hoje pelo Ministério do Trabalho e Emprego. A empresa pertence à família do político capixaba Camilo Cola (PMDB-ES), deputado federal na legislatura anterior, hoje suplente.
A lista é atualizada semestralmente. Dono da Viação Itapemirim, Cola declarou a empresa em 2006: 2.002.339 cotas do capital social, por R$ 2,78 milhões. Naquele ano ele também registrou a propriedade das fazendas Pindobas I, II, III e Pindobas IV, por R$ 555 mil, R$ 500 mil, R$ 50 mil e R$ 1,44 milhão.
Ele tinha uma fortuna de R$ 259 milhões. Na declaração de 2010 ele transferiu a maior parte dos bens para o filho, Camilinho. Segundo a filha Ana Maria, para prejudicá-la – o empresário tem 89 anos. Com isso, a fortuna foi reduzida 166 vezes, para R$ 1,56 milhão.
Com isso, as fazendas e as cotas na empresa sumiram do documento entregue à Justiça Eleitoral. Mas a maior parte desse valor restante é composta de créditos na própria empresa: R$ 1,2 milhão.
A fazenda Pindobas IV tem 528 alqueires. Segundo Ana Maria, ela foi subavaliada na declaração do pai – como está no capítulo “Quanto valem as terras?”, do livro Partido da Terra (Editora Contexto, 2012).
Leiam aqui notícia do ano passado sobre o flagrante, com a versão da empresa.
jornalismo, geografia, literatura, cinema. Utopia, resistência. 'Indignem-se!' (Stéphane Hessel). 'Nem tudo é sórdido' (Ernesto Sabato - 1911-2011)
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Os alienados pisam nos astros, distraídos. (A hipertrofia do "fim do mundo")
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Já deu essa história de fim de mundo. Que troquem os bilhões de linhas sobre esse assunto pelos problemas reais: violência sistemática contra camponeses, indígenas, mulheres, crianças, negros, pobres, homossexuais, países inteiros. O horror das armas, o horror das guerras, o horror das proibições que alimentam as armas e as guerras. Desigualdade brutal na cidade e no campo (com o escárnio dessa corrida de cavalos dos bilionários que querem ser os mais ricos do mundo), as centenas de milhões que passam fome, analfabetismo, exploração sexual de crianças e adolescentes.
O problema está no meio do mundo. Diante dos olhos de todos. Mas pisamos nos astros, distraídos. Escarnecemos. Brincamos de vítimas de um acontecimento que não ocorrerá. Estamos a um passo do fim das indignações, do fim da revolta, do fim da solidariedade mínima. E os verdadeiros algozes agradecem por essa monumental alienação coletiva. Os exploradores canalhas, os piratas boçais de nosso sistema econômico dormirão tranquilos - em meio aos nossos sorrisinhos. Que neste dia 21 de dezembro cada cidadão do mundo se envergonhe pelo que temos feito contra o planeta e contra a humanidade.
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por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Já deu essa história de fim de mundo. Que troquem os bilhões de linhas sobre esse assunto pelos problemas reais: violência sistemática contra camponeses, indígenas, mulheres, crianças, negros, pobres, homossexuais, países inteiros. O horror das armas, o horror das guerras, o horror das proibições que alimentam as armas e as guerras. Desigualdade brutal na cidade e no campo (com o escárnio dessa corrida de cavalos dos bilionários que querem ser os mais ricos do mundo), as centenas de milhões que passam fome, analfabetismo, exploração sexual de crianças e adolescentes.
O problema está no meio do mundo. Diante dos olhos de todos. Mas pisamos nos astros, distraídos. Escarnecemos. Brincamos de vítimas de um acontecimento que não ocorrerá. Estamos a um passo do fim das indignações, do fim da revolta, do fim da solidariedade mínima. E os verdadeiros algozes agradecem por essa monumental alienação coletiva. Os exploradores canalhas, os piratas boçais de nosso sistema econômico dormirão tranquilos - em meio aos nossos sorrisinhos. Que neste dia 21 de dezembro cada cidadão do mundo se envergonhe pelo que temos feito contra o planeta e contra a humanidade.
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domingo, 9 de dezembro de 2012
Fogo no ônibus. Duas pessoas morrem. Mas leitores indiferentes
só falam em PT e PSDB
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Criminosos ateiam fogo em um ônibus, em São Paulo, e matam duas pessoas. Elas não conseguiram sair a tempo. Mas nos comentários dos leitores só se fala em PT e PSDB. Culpa de um, culpa de outro - até os piores limites da falta de bom senso.
Diz um leitor que é uma piada “esse governador e seu partido que quer governar o Brasil”. “Diga não aos tucanos”, defende. Outro responde: “Graças ao PT, hoje o Brasil é o 20º país mais violento do mundo”.
Um terceiro leitor faz um comentário um pouco mais extenso. Mas igualmente reducionista: “Que PSDB e PCC andam juntos, todo mundo sabe. Uma mão lava a outra. O problema é que houve uma dissidência aí que provocou a guerra. Enquanto não resolver o problema, que certamente é a distribuição de renda, a matança não terá fim”. Esse leitor ganha uma resposta: “Não adianta tentar cobrir o sol com uma peneira. Todo mundo sabe que o PCC é o braço armado do PT”.
Fico pensando nos familiares das pessoas assassinadas. Na dor adicional de ver seus parentes sendo utilizados por oportunistas, incapazes de discutir mais amplamente um problema que não começou nem com o PT, nem com o PSDB. Que vem de bem mais longe, de tempos em que esses partidos nem existiam.
A capacidade de análise desse pessoal chafurda no binarismo. E na falta de perspectiva histórica. O ônibus queimado não é apenas um ônibus queimado. São séculos de história (do Brasil e da humanidade) que desembocam em uma tragédia como essa. Centenas de pesquisadores analisam em detalhes a segurança pública, o crime organizado, o papel do Estado. Sociólogos, historiadores, psicólogos – e muito mais gente.
Os supostos politizados da internet, porém, apressam-se em decidir o que aconteceu a partir de uma fotografia político-partidária atual, na qual só aparecem as cabecinhas do PT e do PSDB. Sem nuances, sem mais personagens, sem ao menos se colocar a perspectiva de algumas décadas (de urbanismo caótico, de uma democracia ainda incipiente) para se pensar melhor o problema. Com mais fôlego.
À tragédia que resultou em dois brasileiros mortos em São Paulo soma-se, portanto, o drama do analfabetismo político. Com um detalhe terrível: esses analfabetos são comentadores compulsivos, espaçosos, incansáveis. Estão pouco se lixando para a precariedade de seus argumentos. Mas nem ficam ruborizados. Todos são autoritários – mas também insensíveis e desumanos.
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Criminosos ateiam fogo em um ônibus, em São Paulo, e matam duas pessoas. Elas não conseguiram sair a tempo. Mas nos comentários dos leitores só se fala em PT e PSDB. Culpa de um, culpa de outro - até os piores limites da falta de bom senso.
Diz um leitor que é uma piada “esse governador e seu partido que quer governar o Brasil”. “Diga não aos tucanos”, defende. Outro responde: “Graças ao PT, hoje o Brasil é o 20º país mais violento do mundo”.
Um terceiro leitor faz um comentário um pouco mais extenso. Mas igualmente reducionista: “Que PSDB e PCC andam juntos, todo mundo sabe. Uma mão lava a outra. O problema é que houve uma dissidência aí que provocou a guerra. Enquanto não resolver o problema, que certamente é a distribuição de renda, a matança não terá fim”. Esse leitor ganha uma resposta: “Não adianta tentar cobrir o sol com uma peneira. Todo mundo sabe que o PCC é o braço armado do PT”.
Fico pensando nos familiares das pessoas assassinadas. Na dor adicional de ver seus parentes sendo utilizados por oportunistas, incapazes de discutir mais amplamente um problema que não começou nem com o PT, nem com o PSDB. Que vem de bem mais longe, de tempos em que esses partidos nem existiam.
A capacidade de análise desse pessoal chafurda no binarismo. E na falta de perspectiva histórica. O ônibus queimado não é apenas um ônibus queimado. São séculos de história (do Brasil e da humanidade) que desembocam em uma tragédia como essa. Centenas de pesquisadores analisam em detalhes a segurança pública, o crime organizado, o papel do Estado. Sociólogos, historiadores, psicólogos – e muito mais gente.
Os supostos politizados da internet, porém, apressam-se em decidir o que aconteceu a partir de uma fotografia político-partidária atual, na qual só aparecem as cabecinhas do PT e do PSDB. Sem nuances, sem mais personagens, sem ao menos se colocar a perspectiva de algumas décadas (de urbanismo caótico, de uma democracia ainda incipiente) para se pensar melhor o problema. Com mais fôlego.
À tragédia que resultou em dois brasileiros mortos em São Paulo soma-se, portanto, o drama do analfabetismo político. Com um detalhe terrível: esses analfabetos são comentadores compulsivos, espaçosos, incansáveis. Estão pouco se lixando para a precariedade de seus argumentos. Mas nem ficam ruborizados. Todos são autoritários – mas também insensíveis e desumanos.
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