Esquerda modista não está nem aí para novo Amarildo
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Quem
lamentará o destino do frentista João Paulo? Ele está desaparecido
desde o dia 30 de setembro. Câmeras registram o momento em que três
policiais militares de Fortaleza o colocam na viatura. Nunca mais foi
visto.
O caso é similar ao do pedreiro Amarildo, no Rio.
Amarildo Dias de Souza, morador da Rocinha, foi detido na porta de sua
casa, em julho de 2013, para ser levado à sede da Unidade de Polícia
Pacificadora. Sumiu.
João Paulo de Sousa Rodrigues possuía um
sobrenome – Sousa – idêntico ao de Amarildo. Este, Souza. Com “z”. Mas
sem que seu sequestro pelo próprio Estado tenha gerado alguma comoção.
Mesmo tendo sido noticiado pelo Jornal Nacional:
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/10/tres-policias-suspeitos-sao-presos-por-desaparecimento-de-frentista-no-ceara.html
Por anos pensamos e escrevemos que a falta de notícias nos
principais veículos de comunicação era um problema central na
perpetuação de nossa desigualdade. “Ah, se todo mundo soubesse...” Mas e
quando um caso importante vira notícia no principal jornal da Globo e
passa despercebido?
O título deste artigo se refere à
indiferença específica da esquerda modista. Essa Esquerda Amarildo
Guarani Kaiowá, com suas indignações sazonais, seu culto a ondas
meméticas de suposta conscientização e comiseração coletiva. Esquerda
movida a arroubos. Modinha. Engraçadinha.
Claro que o
desaparecimento de um cidadão sob as asas do Estado não deveria ser um
tema apenas daqueles que se consideram de esquerda. Qualquer um com um
mínimo de noção democrática deveria estar perplexo. (Imaginem se o filho
de um governador tivesse sido sequestrado.)
Longe disso: João
Paulo continua invisível. Se nem aqueles mais acostumados a denunciar a
violência policial, ou os mais cientes de que há um genocídio da
juventude pobre (e negra), dão a ele alguma atenção, o que esperar dos
demais? Apenas shows adicionais de despolitização.
A não ser que
a foto de João Paulo se torne um meme. Ou quando ela ganhe gradações
cromáticas, quando for veiculada sua foto como criança. Quando criarem
uma hashtag muito legal. #cadêJoãoPaulo #ondeestáJoãoPaulo
#somostodosfrentistas
Ou os manifestantes de 2013 apenas surfaram na imagem de Amarildo?
Outra
pergunta: o que o governador Camilo Santana (PT) tem a dizer sobre o
desaparecimento do frentista? (Desta vez não foi a polícia do Cabral.
Nem a do Pezão. Já tivemos Copa e o governador pertence ao Partido dos
Trabalhadores.)
Algo está muito invertido neste país. É mais
fácil vermos uma pichação racista no banheiro de uma universidade
paulistana ser replicada – divulgando a mensagem do racista – do que
indagações sobre o desaparecimento de um jovem. Que nem sabemos se ainda
está vivo.
João Paulo morreu de antemão. Simbolicamente.
Duplamente sequestrado, em plena democracia (essa espécie de democracia
do entretenimento), por policiais cearenses e por nossa insustentável
frivolidade.
LEIA MAIS:
Uma democracia com grupos de extermínio. Em Osasco somente? Não. Por todo o país
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jornalismo, geografia, literatura, cinema. Utopia, resistência. 'Indignem-se!' (Stéphane Hessel). 'Nem tudo é sórdido' (Ernesto Sabato - 1911-2011)
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
Publicado por
Alceu Castilho, jornalista.
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07:33
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quarta-feira, 19 de agosto de 2015
Como os jornalistas devem cobrir a política de extermínio?
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Acabo de ver o Profissão Repórter de ontem, sobre chacina em Osasco/Barueri. Após recomendações. Infelizmente, porém, constato que Caco Barcellos - um jornalista que respeitamos - desta vez errou na mão. Conseguiu uma boa notícia: houve outra chacina na região, uma semana antes dessa que teve repercussão nacional. Mas a reportagem resvala em um sensacionalismo que não é próprio do repórter. http://g1.globo.com/…/osasco-teve-serie-de-assassinatos-dia…
Os primeiros 25 minutos têm muito sangue, exploração excessiva da dor dos parentes. Há momentos que poderiam estar naqueles pseudojornais (Band, Record) do fim de tarde. Chega a ser constrangedor ver um dos melhores jornalistas do país permitir uma edição como essa, meio que na linha aqui-e-agora. Essa superficialidade é agravada pela característica do próprio programa, onde os repórteres também se tornam personagens. Não era o caso.
Há um problema metodológico na abordagem. Sim, jornalismo também tem método. Ou pelo menos deveria. E o problema é que a notícia não estava somente na exploração dos cenários do crime, onde nem sempre as pessoas se sentem à vontade para falar o que gostariam. Lembremos que estamos falando de grupos de extermínio. Quem nas periferias pode dizer tudo o que pensa?
A notícia está na perspectiva histórica. No fato de crimes como esse se sucederem ao longo do tempo, sem punição adequada. E sem comoção nacional. Está no fato de que teremos outros episódios similares. Está na cobrança do poder público pela falta de apuração, e pela participação central de policiais nos crimes. A dor dos parentes e a história dos mortos deveria compor uma história maior - se queremos mesmo respeitar essa dor e essas biografias.
A Câmara acabou de ter uma CPI do Extermínio da Juventude Negra. Com recomendações ao poder público. Por que não repercuti-la? Tempo para apuração, havia. Em 2006 tivemos uma CPI do Extermínio no Nordeste. Muito pouco, se pensarmos que os grupos de extermínio agem - como mostrei no sábado - em todas as Unidades da Federação: http://alceucastilho.blogspot.com.br/…/uma-democracia-com-g…. Cabe aos jornalistas amplificar e contextualizar esse tipo de informação.
A Globo tem estrutura para isso. E um jornalismo (apesar de tudo) melhor que o das concorrentes. Caco Barcellos é exatamente um dos caras mais indicados para a tarefa. Mas, desta vez, não fez jus à carreira brilhante. Parece acomodado. Não há coragem, Caco, em expor litros de sangue na calçada. Você sabe disso. E sim em colocar em evidência a participação de policiais civis e militares num pacote de crimes (não se trata apenas de vingança) que resultam nas execuções.
Faltou ouvir especialistas em segurança pública. E em execuções. Faltou ouvir o governo estadual. Faltou ouvir as Mães de Maio. Faltou convidar a turma da Ponte Jornalismo, que entende do assunto. A pena de morte instantânea está institucionalizada no Brasil. E convida os jornalistas brasileiros a uma cobertura mais sistemática, com a mencionada perspectiva histórica. Menos choro e menos vela, e mais jornalismo analítico, investigativo. Menos show, mais ousadia.
A escravidão foi supostamente abolida em 1888. Os tataranetos dos escravos continuam a ser regularmente executados. E precisamos de novas abolições: da tortura, do extermínio, da violência policial. Que é movida não só por desejos tresloucados de vingança, mas também por interesses econômicos. Pelo crime organizado - aquele com farda e distintivo. Sem a participação responsável e corajosa de jornalistas, nada feito. Seguiremos sendo cúmplices.
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por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Acabo de ver o Profissão Repórter de ontem, sobre chacina em Osasco/Barueri. Após recomendações. Infelizmente, porém, constato que Caco Barcellos - um jornalista que respeitamos - desta vez errou na mão. Conseguiu uma boa notícia: houve outra chacina na região, uma semana antes dessa que teve repercussão nacional. Mas a reportagem resvala em um sensacionalismo que não é próprio do repórter. http://g1.globo.com/…/osasco-teve-serie-de-assassinatos-dia…
Os primeiros 25 minutos têm muito sangue, exploração excessiva da dor dos parentes. Há momentos que poderiam estar naqueles pseudojornais (Band, Record) do fim de tarde. Chega a ser constrangedor ver um dos melhores jornalistas do país permitir uma edição como essa, meio que na linha aqui-e-agora. Essa superficialidade é agravada pela característica do próprio programa, onde os repórteres também se tornam personagens. Não era o caso.
Há um problema metodológico na abordagem. Sim, jornalismo também tem método. Ou pelo menos deveria. E o problema é que a notícia não estava somente na exploração dos cenários do crime, onde nem sempre as pessoas se sentem à vontade para falar o que gostariam. Lembremos que estamos falando de grupos de extermínio. Quem nas periferias pode dizer tudo o que pensa?
A notícia está na perspectiva histórica. No fato de crimes como esse se sucederem ao longo do tempo, sem punição adequada. E sem comoção nacional. Está no fato de que teremos outros episódios similares. Está na cobrança do poder público pela falta de apuração, e pela participação central de policiais nos crimes. A dor dos parentes e a história dos mortos deveria compor uma história maior - se queremos mesmo respeitar essa dor e essas biografias.
A Câmara acabou de ter uma CPI do Extermínio da Juventude Negra. Com recomendações ao poder público. Por que não repercuti-la? Tempo para apuração, havia. Em 2006 tivemos uma CPI do Extermínio no Nordeste. Muito pouco, se pensarmos que os grupos de extermínio agem - como mostrei no sábado - em todas as Unidades da Federação: http://alceucastilho.blogspot.com.br/…/uma-democracia-com-g…. Cabe aos jornalistas amplificar e contextualizar esse tipo de informação.
A Globo tem estrutura para isso. E um jornalismo (apesar de tudo) melhor que o das concorrentes. Caco Barcellos é exatamente um dos caras mais indicados para a tarefa. Mas, desta vez, não fez jus à carreira brilhante. Parece acomodado. Não há coragem, Caco, em expor litros de sangue na calçada. Você sabe disso. E sim em colocar em evidência a participação de policiais civis e militares num pacote de crimes (não se trata apenas de vingança) que resultam nas execuções.
Faltou ouvir especialistas em segurança pública. E em execuções. Faltou ouvir o governo estadual. Faltou ouvir as Mães de Maio. Faltou convidar a turma da Ponte Jornalismo, que entende do assunto. A pena de morte instantânea está institucionalizada no Brasil. E convida os jornalistas brasileiros a uma cobertura mais sistemática, com a mencionada perspectiva histórica. Menos choro e menos vela, e mais jornalismo analítico, investigativo. Menos show, mais ousadia.
A escravidão foi supostamente abolida em 1888. Os tataranetos dos escravos continuam a ser regularmente executados. E precisamos de novas abolições: da tortura, do extermínio, da violência policial. Que é movida não só por desejos tresloucados de vingança, mas também por interesses econômicos. Pelo crime organizado - aquele com farda e distintivo. Sem a participação responsável e corajosa de jornalistas, nada feito. Seguiremos sendo cúmplices.
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sábado, 15 de agosto de 2015
Uma democracia com grupos de extermínio. Em Osasco somente? Não. Por todo o país
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Segue um exemplo (entre muitos outros) por Unidade da Federação. Boa parte das notícias é de 2015.
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por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Segue um exemplo (entre muitos outros) por Unidade da Federação. Boa parte das notícias é de 2015.
ACRE. "Agentes penitenciários denunciam ação de grupo de extermínio". http://bit.ly/…/…/agentes-penitenciarios-denunciam-acao.html (2015)
ALAGOAS. "Integrante de grupo de extermínio chefiou Guarda Municipal". http://tnh1.ne10.uol.com.br/…/pilar-integrante-de-grupo-de-… (2015)
AMAPÁ. "Prisão de comerciantes revela existência de grupo de extermínio de assaltantes". http://g1.globo.com/…/prisao-de-comerciantes-revel…/2670032/ (2013)
AMAZONAS. "Grupo de extermínio liderado por policial militar reformado é preso". http://acritica.uol.com.br/…/Manaus-Amazonas-Amazonia-exter… (2015)
BAHIA. "Jovens negros na mira de grupos de extermínio". http://apublica.org/…/jovens-negros-na-mira-de-grupos-de-e…/ (2013)
CEARÁ. "Há grupo de extermínio dentro da PM do Ceará". http://blog.opovo.com.br/…/capitao-wagner-ha-grupo-de-exte…/ (2012)
DISTRITO FEDERAL. "Polícia do DF investiga participação de PMs em morte de três jovens". http://g1.globo.com/…/policia-do-df-investiga-participacao-… (2012)
ESPÍRITO SANTO. "Polícia investiga volta da Le Cocq". http://www.folhavitoria.com.br/…/policia-investiga-volta-d…/ (2015)
GOIÁS. "Rodrigo Janot vai acompanhar investigações de grupos de extermínio". http://www.correiobraziliense.com.br/…/rodrigo-janot-vai-ac… (2015)
MARANHÃO. "Quilombolas denunciam grupos de extermínio". http://www.palmares.gov.br/?p=12334 (2011)
MATO GROSSO. "Polícia também investiga grupo de extermínio em Sinop; Sete são baleados em menos de uma hora". http://www.hipernoticias.com.br/…/policia-tambem-inve…/47165 (11 de agosto de 2015)
MATO GROSSO DO SUL. "Coronel da PM suspeito de mortes é vereador". http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/8/24/cotidiano/30.html (1997)
MINAS GERAIS. "PM eleito vereador é preso suspeito de chefiar grupo de extermínio". http://g1.globo.com/…/pm-eleito-vereador-e-preso-suspeito-d… (2013)
PARÁ. "PMs são acusados de facilitar trabalho de grupo de extermínio no Pará". http://www1.folha.uol.com.br/…/1618241-pms-sao-acusados-de-… (2015)
PARAÍBA. "Grupo de extermínio intimida Júri na Paraíba". http://colunaesplanada.blogosfera.uol.com.br/…/caso-manoel…/ (2014)
PARANÁ. "PMs de Curitiba são presos suspeitos de formar grupo de extermínio". http://g1.globo.com/…/pms-de-curitiba-sao-presos-suspeitos-… (2014)
PERNAMBUCO. "Três PMs são presos por integrar grupo de extermínio no Sertão de PE". http://g1.globo.com/…/tres-pms-sao-presos-por-integrar-grup… (2015)
PIAUÍ. "Grupo de extermínio pode estar agindo em Teresina e envolvido na morte de Eduardo Oliveira". http://www.meionorte.com/…/grupo-de-exterminio-pode-estar-a… (2015)
RIO DE JANEIRO. "Grupo de extermínio era financiado por centrais de 'gatonet', diz PF". http://g1.globo.com/…/grupo-de-exterminio-era-financiado-po… (2010)
RIO GRANDE DO NORTE. "Dezessete policiais são presos suspeitos de grupo de extermínio no RN". http://noticias.r7.com/…/dezessete-policiais-sao-presos-sus… (2013)
RIO GRANDE DO SUL. "Júri de ex-PM acusado de integrar grupo de extermínio em Alvorada é cancelado". http://wp.clicrbs.com.br/casodepoli…/…/grupo-de-exterminio/… (2015)
RONDÔNIA. "Latifúndio contrata PMs para exterminar camponeses". http://www.anovademocracia.com.br/…/2726-rondonia-latifundi…
RORAIMA. "Grupo de extermínio pode ser autor das últimas mortes em Boa Vista". http://www.fatoreal.blog.br/…/assassinatos-em-rr-grupo-de-…/ (2013)
SANTA CATARINA. "Polícia prende grupo de extermínio que atuava em Chopinzinho". (No Paraná. Mas também em Santa Catarina.) http://www.diariodosudoeste.com.br/…/policia-prend…/1346548/ (2015)
SÃO PAULO. "Em cada batalhão da PM tem um grupo de extermínio". http://racismoambiental.net.br/…/em-cada-batalhao-da-pm-te…/ (2012)
SERGIPE. "PF prende 11 suspeitos de integrar grupos de extermínio". http://noticias.uol.com.br/…/pf-prende-11-suspeitos-de-inte… (2015)
TOCANTINS. "Delegado que investigou grupo de extermínio de Grurupi é exonerado". http://www.t1noticias.com.br/…/delegado-que-investig…/46803/ (2013)
***
Dica: abra os links e veja nas chamadas as motivações. As redes. Não seja ingênuo. Não estamos numa luta entre mocinhos e bandidos. O crime organizado também usa farda. Ou distintivo.
Pergunta: por que esse não é um tema prioritário da imprensa? Com cobertura sistemática, e não ocasional? Editoriais, artigos indignadíssimos, cobrança diária? Por que tamanha distração?
Consideração: se você pactua com tudo isso (de posts na internet a selfies ingênuas), meu amigo, saiba que essa gente mata qualquer um. Se liga. Osasco é aqui. Brasil.
ALAGOAS. "Integrante de grupo de extermínio chefiou Guarda Municipal". http://tnh1.ne10.uol.com.br/…/pilar-integrante-de-grupo-de-… (2015)
AMAPÁ. "Prisão de comerciantes revela existência de grupo de extermínio de assaltantes". http://g1.globo.com/…/prisao-de-comerciantes-revel…/2670032/ (2013)
AMAZONAS. "Grupo de extermínio liderado por policial militar reformado é preso". http://acritica.uol.com.br/…/Manaus-Amazonas-Amazonia-exter… (2015)
BAHIA. "Jovens negros na mira de grupos de extermínio". http://apublica.org/…/jovens-negros-na-mira-de-grupos-de-e…/ (2013)
CEARÁ. "Há grupo de extermínio dentro da PM do Ceará". http://blog.opovo.com.br/…/capitao-wagner-ha-grupo-de-exte…/ (2012)
DISTRITO FEDERAL. "Polícia do DF investiga participação de PMs em morte de três jovens". http://g1.globo.com/…/policia-do-df-investiga-participacao-… (2012)
ESPÍRITO SANTO. "Polícia investiga volta da Le Cocq". http://www.folhavitoria.com.br/…/policia-investiga-volta-d…/ (2015)
GOIÁS. "Rodrigo Janot vai acompanhar investigações de grupos de extermínio". http://www.correiobraziliense.com.br/…/rodrigo-janot-vai-ac… (2015)
MARANHÃO. "Quilombolas denunciam grupos de extermínio". http://www.palmares.gov.br/?p=12334 (2011)
MATO GROSSO. "Polícia também investiga grupo de extermínio em Sinop; Sete são baleados em menos de uma hora". http://www.hipernoticias.com.br/…/policia-tambem-inve…/47165 (11 de agosto de 2015)
MATO GROSSO DO SUL. "Coronel da PM suspeito de mortes é vereador". http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/8/24/cotidiano/30.html (1997)
MINAS GERAIS. "PM eleito vereador é preso suspeito de chefiar grupo de extermínio". http://g1.globo.com/…/pm-eleito-vereador-e-preso-suspeito-d… (2013)
PARÁ. "PMs são acusados de facilitar trabalho de grupo de extermínio no Pará". http://www1.folha.uol.com.br/…/1618241-pms-sao-acusados-de-… (2015)
PARAÍBA. "Grupo de extermínio intimida Júri na Paraíba". http://colunaesplanada.blogosfera.uol.com.br/…/caso-manoel…/ (2014)
PARANÁ. "PMs de Curitiba são presos suspeitos de formar grupo de extermínio". http://g1.globo.com/…/pms-de-curitiba-sao-presos-suspeitos-… (2014)
PERNAMBUCO. "Três PMs são presos por integrar grupo de extermínio no Sertão de PE". http://g1.globo.com/…/tres-pms-sao-presos-por-integrar-grup… (2015)
PIAUÍ. "Grupo de extermínio pode estar agindo em Teresina e envolvido na morte de Eduardo Oliveira". http://www.meionorte.com/…/grupo-de-exterminio-pode-estar-a… (2015)
RIO DE JANEIRO. "Grupo de extermínio era financiado por centrais de 'gatonet', diz PF". http://g1.globo.com/…/grupo-de-exterminio-era-financiado-po… (2010)
RIO GRANDE DO NORTE. "Dezessete policiais são presos suspeitos de grupo de extermínio no RN". http://noticias.r7.com/…/dezessete-policiais-sao-presos-sus… (2013)
RIO GRANDE DO SUL. "Júri de ex-PM acusado de integrar grupo de extermínio em Alvorada é cancelado". http://wp.clicrbs.com.br/casodepoli…/…/grupo-de-exterminio/… (2015)
RONDÔNIA. "Latifúndio contrata PMs para exterminar camponeses". http://www.anovademocracia.com.br/…/2726-rondonia-latifundi…
RORAIMA. "Grupo de extermínio pode ser autor das últimas mortes em Boa Vista". http://www.fatoreal.blog.br/…/assassinatos-em-rr-grupo-de-…/ (2013)
SANTA CATARINA. "Polícia prende grupo de extermínio que atuava em Chopinzinho". (No Paraná. Mas também em Santa Catarina.) http://www.diariodosudoeste.com.br/…/policia-prend…/1346548/ (2015)
SÃO PAULO. "Em cada batalhão da PM tem um grupo de extermínio". http://racismoambiental.net.br/…/em-cada-batalhao-da-pm-te…/ (2012)
SERGIPE. "PF prende 11 suspeitos de integrar grupos de extermínio". http://noticias.uol.com.br/…/pf-prende-11-suspeitos-de-inte… (2015)
TOCANTINS. "Delegado que investigou grupo de extermínio de Grurupi é exonerado". http://www.t1noticias.com.br/…/delegado-que-investig…/46803/ (2013)
***
Dica: abra os links e veja nas chamadas as motivações. As redes. Não seja ingênuo. Não estamos numa luta entre mocinhos e bandidos. O crime organizado também usa farda. Ou distintivo.
Pergunta: por que esse não é um tema prioritário da imprensa? Com cobertura sistemática, e não ocasional? Editoriais, artigos indignadíssimos, cobrança diária? Por que tamanha distração?
Consideração: se você pactua com tudo isso (de posts na internet a selfies ingênuas), meu amigo, saiba que essa gente mata qualquer um. Se liga. Osasco é aqui. Brasil.
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quinta-feira, 2 de julho de 2015
Carta para a minha filha de 15 anos. (Sobre um país que se reduz.)
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
No seu próximo aniversário você fará 16 anos. Ainda outro dia - ontem mesmo, informam meus olhos angustiados - era uma criança. Poderá votar. E que país receberá? Um país mais seguro? Onde possa caminhar nas ruas sem que seu pai fique intranquilo? Um país mais maduro? Que enfrente seus problemas sem simplismo, em patamares civilizatórios? Mais alegre? Não. Um país com... redução da maioridade penal. Sua geração poderá ser presa, mais do que já é. Eis o legado da minha geração. Um país muito pior do que aquele entrevisto na Constituição. Para trás. Reduzido.
Escrevo enquanto ouço Mike Oldfield, aquele trecho do "Tubular Bells" que foi parar na trilha do Exorcista. O disco é de 1973. Estávamos na ditadura e o presidente chamava-se Médici. Eu era uma criança. Os jornalistas, naquela época, costumavam ser comunistas. Sonhavam com um país melhor, sem Médicis. Alguns morreram por isso. Outros se venderam. Alguns escrevem (ou editam, tanto faz) textos que dão aval a essa sanha vingativa, a essa lógica do extermínio. Às favas os escrúpulos. Os escrúpulos de consciência, a mínima percepção de que algo diferente teria de passar pela educação.
Não exorcizamos os nossos males, Helena. O país onde choravam Marias e Clarices não puniu quem tinha de ser punido; anistiou quem não devia. E agora os filhos cegos ou cínicos daqueles senhores de óculos sinistros pregam abertamente a barbárie. Eu e meus amigos (em boa parte jornalistas entristecidos) ajudamos as coisas chegarem a esse ponto, esse ponto que quase parece um ponto do não retorno. Onde teremos de engolir em seco e assistir ao culto ecumênico das serpentes. Os ovos já tiveram tempo de esquentar novamente. E os torturadores não precisam mais da ligação direta dos porões.
Você que decidiu (aos 10 anos) ser uma psicóloga terá muito trabalho. Atenderá a gerações com camadas de traumas; camadas ditatoriais e democráticas, semi ditatoriais, semi democráticas. Com conquistas aqui e ali, uma ou outra defesa mais sistemática de minorias, em meio a uma guerra civil. Mas gerações herdeiras de um gigantesco marasmo, de um pacto pela mediocridade, um acordo conivente com as mencionadas forças sinistras. Em um país que não reconhece nem os indígenas, que não distribuiu suas terras. Um país, com otimismo, pela metade. Talvez um país reduzido a seu dízimo.
"E hoje eu canto e choro... num show..." Cantava o mutante Arnaldo Baptista (você sabe o quanto ele é importante para mim) em 1974. O enlouquecido Arnaldo, o visionário Arnaldo, o Arnaldo que se agarra a mundos paralelos para poder enfrentar a realidade. E ele completava, lá naquela obra-prima, o "Loki": "Seria o maior barato tocar seu coração". Sim, Arnaldo, cê tá certo. Mas diz aí, para onde você vai? "Vivo a pensar pra frente. Quando não mais houver... cidaaaaaade".
Com mil de anos de idade lamentaremos estes tempos sombrios, Helena. Com 16 anos você olhará para mim e ainda saberá - sempre saberá - que não desisto. Mas sim, está sendo difícil processar essa dor (entre outras dores, esta dor específica), a dor de ver um projeto de país fugir por entre os dedos. A paisagem será o grito de Munch. Tocaremos nossos corações, aqueles de uma minoria perplexa, apenas eles.
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Como é ter uma filha. Criá-la. Amá-la. E ouvir os disparates do resto da humanidade.
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
No seu próximo aniversário você fará 16 anos. Ainda outro dia - ontem mesmo, informam meus olhos angustiados - era uma criança. Poderá votar. E que país receberá? Um país mais seguro? Onde possa caminhar nas ruas sem que seu pai fique intranquilo? Um país mais maduro? Que enfrente seus problemas sem simplismo, em patamares civilizatórios? Mais alegre? Não. Um país com... redução da maioridade penal. Sua geração poderá ser presa, mais do que já é. Eis o legado da minha geração. Um país muito pior do que aquele entrevisto na Constituição. Para trás. Reduzido.
Escrevo enquanto ouço Mike Oldfield, aquele trecho do "Tubular Bells" que foi parar na trilha do Exorcista. O disco é de 1973. Estávamos na ditadura e o presidente chamava-se Médici. Eu era uma criança. Os jornalistas, naquela época, costumavam ser comunistas. Sonhavam com um país melhor, sem Médicis. Alguns morreram por isso. Outros se venderam. Alguns escrevem (ou editam, tanto faz) textos que dão aval a essa sanha vingativa, a essa lógica do extermínio. Às favas os escrúpulos. Os escrúpulos de consciência, a mínima percepção de que algo diferente teria de passar pela educação.
Não exorcizamos os nossos males, Helena. O país onde choravam Marias e Clarices não puniu quem tinha de ser punido; anistiou quem não devia. E agora os filhos cegos ou cínicos daqueles senhores de óculos sinistros pregam abertamente a barbárie. Eu e meus amigos (em boa parte jornalistas entristecidos) ajudamos as coisas chegarem a esse ponto, esse ponto que quase parece um ponto do não retorno. Onde teremos de engolir em seco e assistir ao culto ecumênico das serpentes. Os ovos já tiveram tempo de esquentar novamente. E os torturadores não precisam mais da ligação direta dos porões.
Você que decidiu (aos 10 anos) ser uma psicóloga terá muito trabalho. Atenderá a gerações com camadas de traumas; camadas ditatoriais e democráticas, semi ditatoriais, semi democráticas. Com conquistas aqui e ali, uma ou outra defesa mais sistemática de minorias, em meio a uma guerra civil. Mas gerações herdeiras de um gigantesco marasmo, de um pacto pela mediocridade, um acordo conivente com as mencionadas forças sinistras. Em um país que não reconhece nem os indígenas, que não distribuiu suas terras. Um país, com otimismo, pela metade. Talvez um país reduzido a seu dízimo.
"E hoje eu canto e choro... num show..." Cantava o mutante Arnaldo Baptista (você sabe o quanto ele é importante para mim) em 1974. O enlouquecido Arnaldo, o visionário Arnaldo, o Arnaldo que se agarra a mundos paralelos para poder enfrentar a realidade. E ele completava, lá naquela obra-prima, o "Loki": "Seria o maior barato tocar seu coração". Sim, Arnaldo, cê tá certo. Mas diz aí, para onde você vai? "Vivo a pensar pra frente. Quando não mais houver... cidaaaaaade".
Com mil de anos de idade lamentaremos estes tempos sombrios, Helena. Com 16 anos você olhará para mim e ainda saberá - sempre saberá - que não desisto. Mas sim, está sendo difícil processar essa dor (entre outras dores, esta dor específica), a dor de ver um projeto de país fugir por entre os dedos. A paisagem será o grito de Munch. Tocaremos nossos corações, aqueles de uma minoria perplexa, apenas eles.
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segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Kátia Abreu, ministra? "Ah, eu já sabia". Será mesmo?
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Uma das reações mais curiosas à virtual nomeação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) ao Ministério da Agricultura é a do "já sabia". "Eu já sabia", "todo mundo sabia", e por aí vamos. É um cacoete. Politicamente irrelevante. Ou até mesmo nocivo. Vale para outros temas também. Pode ser apenas um penduricalho, algo que se fala antes do que interessa. Mas também a expressão de derrotismo: já se sabia, todos sabiam, olhem que eu avisei, hem, agora não reclamem. Congela-se no passado (e na cognição) a possibilidade de indignação e mudança.
Que era uma vasta possibilidade, dissemos, escrevemos. Há anos. Só que agora é diferente. Kátia vazou (e Dilma não gosta disso, aliás) que será a ministra. Temos algo palpável. E de um simbolismo atroz. Em 1988, morria Chico Mendes. Foi de novo assassinado em 2012, com a aprovação do novo Código Florestal. Em 2014, enquanto Chico se dirige ao banheiro, em Xapuri, os policiais que deveriam protegê-lo jogando dominó na sala, ele é mais uma vez baleado e morto pela nomeação de Kátia Abreu. Que diz a ele: "Não adianta mais tentar reviver".
Chico Mendes não acredita, claro. Pois cresceu ouvindo que tudo era assim mesmo, que não adiantava lutar contra seringueiro, fazendeiro, pistoleiro. Que a polícia não ia fazer nada mesmo. Que política é assim mesmo. Que era loucura querer mudar tudo isso. Pretensão. Você tem filhos. E a cada convite ao embotamento ele dava aquele sorrisinho, como se dissesse: "Eu sei de tudo isso. Mas a questão é outra". (Ele e Martin Luther King e poucos tinham um sonho. E isso é tão bonito, deveria continuar sendo tomado como algo necessário.)
Leio também que se votou em Dilma já sabendo que o agronegócio (e seus tentáculos) era o calcanhar-de-Aquiles de um discurso à esquerda pela reeleição. Com esse fator, não colava. Neste caso eu discordo. Pois se sabia, mas não se sabia. A maior parte da esquerda enterrou sua cabeça de avestruz no pragmatismo e não quis (por medo do pior, nos melhores casos) reconhecer que se estava jogando a questão agrária para debaixo do tapete, a reforma agrária para o limbo, a vida de indígenas para o céu da indiferença.
O que exatamente já sabíamos? É uma questão filosófica. O que exatamente já sabíamos no momento de tomar uma decisão, ou de olhar para determinado fato? Que parte da realidade pinçamos, enfatizamos? Que aspecto iluminamos (ou não), com mais ou menos conveniência? Que pontos repetimos, que discursos sobre o que sabíamos nós expressamos, escrevemos, escanteamos?
Eu sei que 800 ministros da Agricultura patrocinaram um modelo insustentável de apropriação do território e dos recursos naturais. Sei quem manda. Sei quem domina. Sei e bem sei que com Kátia Abreu em um governo do PT teremos 800 ministros em quatro anos, teremos uma capitulação. E é por isso que não se pode sufocar o grito, asfixiar a revolta, naturalizar o escárnio, deslocar a percepção para um ponto político anterior.
E não, não serão o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Incra e a Funai (estes, diariamente humilhados) que serão contraponto a esse modelo. Soa-me como montar uma salinha de chá para madames no canto de um imenso saloon. Ou como aqueles jovens de Brasília (narrou uma vez Cristovam Buarque) que, em uma lanchonete, jogavam algumas batatinhas ao chão, para que aquelas criaturas famintas as pegassem: crianças.
Eu não sabia de nada. Embora já soubesse. Estou sabendo hoje, ressignificando hoje, pois as batalhas (inclusive as da informação) se vivem diariamente. A cada segundo. Um instante, o mundo. Um instante, a ética. Eu sei que aquele canalha vai atirar aquela batatinha para a criança e vou tentar impedir que ela chegue ao seu destino - ao menos da forma que o canalha escolheu para distribuir seus bens.
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por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Uma das reações mais curiosas à virtual nomeação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) ao Ministério da Agricultura é a do "já sabia". "Eu já sabia", "todo mundo sabia", e por aí vamos. É um cacoete. Politicamente irrelevante. Ou até mesmo nocivo. Vale para outros temas também. Pode ser apenas um penduricalho, algo que se fala antes do que interessa. Mas também a expressão de derrotismo: já se sabia, todos sabiam, olhem que eu avisei, hem, agora não reclamem. Congela-se no passado (e na cognição) a possibilidade de indignação e mudança.
Que era uma vasta possibilidade, dissemos, escrevemos. Há anos. Só que agora é diferente. Kátia vazou (e Dilma não gosta disso, aliás) que será a ministra. Temos algo palpável. E de um simbolismo atroz. Em 1988, morria Chico Mendes. Foi de novo assassinado em 2012, com a aprovação do novo Código Florestal. Em 2014, enquanto Chico se dirige ao banheiro, em Xapuri, os policiais que deveriam protegê-lo jogando dominó na sala, ele é mais uma vez baleado e morto pela nomeação de Kátia Abreu. Que diz a ele: "Não adianta mais tentar reviver".
Chico Mendes não acredita, claro. Pois cresceu ouvindo que tudo era assim mesmo, que não adiantava lutar contra seringueiro, fazendeiro, pistoleiro. Que a polícia não ia fazer nada mesmo. Que política é assim mesmo. Que era loucura querer mudar tudo isso. Pretensão. Você tem filhos. E a cada convite ao embotamento ele dava aquele sorrisinho, como se dissesse: "Eu sei de tudo isso. Mas a questão é outra". (Ele e Martin Luther King e poucos tinham um sonho. E isso é tão bonito, deveria continuar sendo tomado como algo necessário.)
Leio também que se votou em Dilma já sabendo que o agronegócio (e seus tentáculos) era o calcanhar-de-Aquiles de um discurso à esquerda pela reeleição. Com esse fator, não colava. Neste caso eu discordo. Pois se sabia, mas não se sabia. A maior parte da esquerda enterrou sua cabeça de avestruz no pragmatismo e não quis (por medo do pior, nos melhores casos) reconhecer que se estava jogando a questão agrária para debaixo do tapete, a reforma agrária para o limbo, a vida de indígenas para o céu da indiferença.
O que exatamente já sabíamos? É uma questão filosófica. O que exatamente já sabíamos no momento de tomar uma decisão, ou de olhar para determinado fato? Que parte da realidade pinçamos, enfatizamos? Que aspecto iluminamos (ou não), com mais ou menos conveniência? Que pontos repetimos, que discursos sobre o que sabíamos nós expressamos, escrevemos, escanteamos?
Eu sei que 800 ministros da Agricultura patrocinaram um modelo insustentável de apropriação do território e dos recursos naturais. Sei quem manda. Sei quem domina. Sei e bem sei que com Kátia Abreu em um governo do PT teremos 800 ministros em quatro anos, teremos uma capitulação. E é por isso que não se pode sufocar o grito, asfixiar a revolta, naturalizar o escárnio, deslocar a percepção para um ponto político anterior.
E não, não serão o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Incra e a Funai (estes, diariamente humilhados) que serão contraponto a esse modelo. Soa-me como montar uma salinha de chá para madames no canto de um imenso saloon. Ou como aqueles jovens de Brasília (narrou uma vez Cristovam Buarque) que, em uma lanchonete, jogavam algumas batatinhas ao chão, para que aquelas criaturas famintas as pegassem: crianças.
Eu não sabia de nada. Embora já soubesse. Estou sabendo hoje, ressignificando hoje, pois as batalhas (inclusive as da informação) se vivem diariamente. A cada segundo. Um instante, o mundo. Um instante, a ética. Eu sei que aquele canalha vai atirar aquela batatinha para a criança e vou tentar impedir que ela chegue ao seu destino - ao menos da forma que o canalha escolheu para distribuir seus bens.
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domingo, 2 de novembro de 2014
O fascismo emergente não é apenas um espasmo exótico
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
A esquerda precisa admitir que é assustador o número de pessoas na rua nessas manifestações de extrema direita, a pedir intervenção militar e o impeachment de uma presidente reeleita há apenas uma semana. Assim como é assustador o número de pessoas que compartilham as fotos e as ideias desses fascistas. Não é apenas mais uma brincadeirinha de ignorantes, meus caros. Eles estão se levando a sério. E arrebatando incautos. A partir da soma das viúvas da ditadura com o sentimento antipetista mais radical, despolitizado e primário.
Os dilmistas mais empedernidos também precisam admitir que ajudaram a chocar esse ovo da serpente, ao radicalizarem contra Marina Silva, permitindo a ressurreição do tucanato - com o substrato de direita inerente à volta do Fla-Flu entre PT e PSDB. Isso significa fazer um mea culpa imediato, emergencial, e cobrar atitudes sensatas daqueles que foram eleitos. Vocês que se precipitaram tanto são também responsáveis por esse... por esse clima.
O Ricardo Mendonça, jornalista da Folha, observou no Twitter que o PSDB precisa ser rápido e se distanciar dessa corja de golpistas. Em respeito à sua história. Mas não é o que parece estar acontecendo. Em Brasília havia um carro de som de um deputado do PSDB, Izalci. Os tucanos começaram a abrigar a bancada da bala. E alimentam o pseudonoticiário de revistas inescrupulosas, como IstoÉ e Veja. Buliram com a credibilidade.
Onde estão os democratas? Por que estão tão calados? Em São Paulo, o deputado eleito Eduardo Bolsonaro (PSC), eleito com os votos de Marco Feliciano, discursou e falou que, caso seu pai fosse candidato, teria "fuzilado" Dilma Rousseff. Ora, é preciso haver reação imediata. Processo nele. E em qualquer liderança que coloque em risco a democracia. Em caso de incitação ao crime, mais do que isso.
SILÊNCIO E HISTÓRIA
Será mesmo o silêncio a a melhor estratégia? A história da humanidade é a história de ditaduras e teocracias, de democracias extremamente imperfeitas e apenas eventuais. Na América Latina, em história recente, tivemos golpe em Honduras, no Paraguai (apoiado por nossa mídia estúpida), quase tivemos na Venezuela (comemorado por essa mesma imprensa venal). E a história do Brasil não é a mais abonadora a respeito.
Por que, então, agirmos como avestruzes, como se não estivesse acontecendo nada? O que exatamente garantiria um estado permanente de democracia em nosso país, além de nossos vastos e bem intencionados desejos? Nossas "honradas e sólidas" instituições? Mas quais, exatamente? Essa Justiça e esse Congresso de decisões casuísticas, de indignações oportunistas, movidas pelas pautas da mencionada imprensa golpista?
Vale lembrar que, durante os protestos de 2013 em São Paulo, sindicalistas, sem-terra e outros manifestantes ficaram acuados em plena Avenida Paulista por uma horda de fascistas. Estes saíram quebrando bandeiras vermelhas, ou que não fossem do Brasil. Houve ameaças e agressões. Os manifestantes de esquerda ficaram isolados, fizeram um cordão. Por incrível que pareça, black blocs foram os responsáveis por não ter havido uma tragédia - ao protegerem os movimentos institucionalizados. Pouca gente percebeu os sinais. E as eleições acabaram colocando mais lenha na fogueira.
REPENSANDO A AGENDA
Sou crítico de políticas apenas reativas. Acho que a esquerda se moveu demais, nos últimos tempos, em torno de Felicianos e quetais, ajudando a promovê-los, e com dificuldades imensas de emplacar os próprios temas, as próprias reivindicações. Da mesma forma que considero um erro se mover apenas em função do que os ruralistas aprontam no Congresso, de forma a se conquistar apenas (quando muito) a retirada de bodes na sala. Correndo atrás do prejuízo.
Sim, acho que deveríamos estar promovendo as discussões de longo prazo (vítimas de sucessivas tentativas de assassinato durante esse último debate eleitoral emburrecedor). Como a questão agrária, o modelo de consumo, o modelo de mobilidade urbana, de ocupação do território, as causas primeiras da violência. A questão ambiental, mãe da crise hídrica. Não deveríamos esquecer dos indígenas, de todos os povos tradicionais que seguem sendo vítimas desse modelo econômico suicida.
Mas este é um momento de admitir que falhamos em tudo isso. Erramos. Fracassamos. (Lembro-me aqui da ideia do "pacto entre derrotados", do Ernesto Sabato.) E, portanto, precisamos, ainda que em paralelo com as discussões listadas acima, colocar de vez em pauta essa explosão de obscurantismo, esses lobões e lobófilos lombrosianos, esses discursos do ódio, essa defesa abjeta da tortura, do golpe, da morte, a morte do sistema, a morte como sistema.
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por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
A esquerda precisa admitir que é assustador o número de pessoas na rua nessas manifestações de extrema direita, a pedir intervenção militar e o impeachment de uma presidente reeleita há apenas uma semana. Assim como é assustador o número de pessoas que compartilham as fotos e as ideias desses fascistas. Não é apenas mais uma brincadeirinha de ignorantes, meus caros. Eles estão se levando a sério. E arrebatando incautos. A partir da soma das viúvas da ditadura com o sentimento antipetista mais radical, despolitizado e primário.
Os dilmistas mais empedernidos também precisam admitir que ajudaram a chocar esse ovo da serpente, ao radicalizarem contra Marina Silva, permitindo a ressurreição do tucanato - com o substrato de direita inerente à volta do Fla-Flu entre PT e PSDB. Isso significa fazer um mea culpa imediato, emergencial, e cobrar atitudes sensatas daqueles que foram eleitos. Vocês que se precipitaram tanto são também responsáveis por esse... por esse clima.
O Ricardo Mendonça, jornalista da Folha, observou no Twitter que o PSDB precisa ser rápido e se distanciar dessa corja de golpistas. Em respeito à sua história. Mas não é o que parece estar acontecendo. Em Brasília havia um carro de som de um deputado do PSDB, Izalci. Os tucanos começaram a abrigar a bancada da bala. E alimentam o pseudonoticiário de revistas inescrupulosas, como IstoÉ e Veja. Buliram com a credibilidade.
Onde estão os democratas? Por que estão tão calados? Em São Paulo, o deputado eleito Eduardo Bolsonaro (PSC), eleito com os votos de Marco Feliciano, discursou e falou que, caso seu pai fosse candidato, teria "fuzilado" Dilma Rousseff. Ora, é preciso haver reação imediata. Processo nele. E em qualquer liderança que coloque em risco a democracia. Em caso de incitação ao crime, mais do que isso.
SILÊNCIO E HISTÓRIA
Será mesmo o silêncio a a melhor estratégia? A história da humanidade é a história de ditaduras e teocracias, de democracias extremamente imperfeitas e apenas eventuais. Na América Latina, em história recente, tivemos golpe em Honduras, no Paraguai (apoiado por nossa mídia estúpida), quase tivemos na Venezuela (comemorado por essa mesma imprensa venal). E a história do Brasil não é a mais abonadora a respeito.
Por que, então, agirmos como avestruzes, como se não estivesse acontecendo nada? O que exatamente garantiria um estado permanente de democracia em nosso país, além de nossos vastos e bem intencionados desejos? Nossas "honradas e sólidas" instituições? Mas quais, exatamente? Essa Justiça e esse Congresso de decisões casuísticas, de indignações oportunistas, movidas pelas pautas da mencionada imprensa golpista?
Vale lembrar que, durante os protestos de 2013 em São Paulo, sindicalistas, sem-terra e outros manifestantes ficaram acuados em plena Avenida Paulista por uma horda de fascistas. Estes saíram quebrando bandeiras vermelhas, ou que não fossem do Brasil. Houve ameaças e agressões. Os manifestantes de esquerda ficaram isolados, fizeram um cordão. Por incrível que pareça, black blocs foram os responsáveis por não ter havido uma tragédia - ao protegerem os movimentos institucionalizados. Pouca gente percebeu os sinais. E as eleições acabaram colocando mais lenha na fogueira.
REPENSANDO A AGENDA
Sou crítico de políticas apenas reativas. Acho que a esquerda se moveu demais, nos últimos tempos, em torno de Felicianos e quetais, ajudando a promovê-los, e com dificuldades imensas de emplacar os próprios temas, as próprias reivindicações. Da mesma forma que considero um erro se mover apenas em função do que os ruralistas aprontam no Congresso, de forma a se conquistar apenas (quando muito) a retirada de bodes na sala. Correndo atrás do prejuízo.
Sim, acho que deveríamos estar promovendo as discussões de longo prazo (vítimas de sucessivas tentativas de assassinato durante esse último debate eleitoral emburrecedor). Como a questão agrária, o modelo de consumo, o modelo de mobilidade urbana, de ocupação do território, as causas primeiras da violência. A questão ambiental, mãe da crise hídrica. Não deveríamos esquecer dos indígenas, de todos os povos tradicionais que seguem sendo vítimas desse modelo econômico suicida.
Mas este é um momento de admitir que falhamos em tudo isso. Erramos. Fracassamos. (Lembro-me aqui da ideia do "pacto entre derrotados", do Ernesto Sabato.) E, portanto, precisamos, ainda que em paralelo com as discussões listadas acima, colocar de vez em pauta essa explosão de obscurantismo, esses lobões e lobófilos lombrosianos, esses discursos do ódio, essa defesa abjeta da tortura, do golpe, da morte, a morte do sistema, a morte como sistema.
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Alceu Castilho, jornalista.
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terça-feira, 28 de outubro de 2014
Leilão da Resistência elege governador do MS e dez deputados
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho) *
Lembram-se do Leilão da Resistência, no Mato Grosso do Sul, no fim do ano passado? Destinado a arrecadar verbas para os ruralistas, contra a demarcação de terras indígenas.
O que aconteceu com os políticos que dele participaram?
Um deles foi eleito governador: Reinaldo Azambuja (PSDB).
Vejamos este texto: "Entre as personalidades que mais aparecem na mídia local que, possuem cargo público, e com certeza estarão disputando as urnas, estavam presentes Carlos Marun, Nelsinho Trad, Thereza Cristina Corrêa da Costa, Fábio Trad, Luiz Henrique Mandetta, Reinaldo Azambuja, Mara Caseiro, Márcio Fernandes, Jerson Domingos, Junior Mochi, Zé Teixeira, Márcio Monteiro". http://www.diariocg.com.br/noticias-ler/leilao-da-resistencia-teve-de-luxo-a-politico-interesseiro/21223
E agora vejamos os deputados federais eleitos no MS, com os votos de cada um:
Zeca (PT): 160.556
Carlos Marun (PMDB): 91.816
Geraldo Rezende (PMDB): 87.546
Tereza Cristina (PSB): 75.149
Vander Loubet (PT): 69.504
Luiz Henrique Mandetta (DEM): 57.374
Marcio Monteiro (PSDB): 56.441
Dagoberto Nogueira (PDT): 54.813
Marun, Thereza, Mandetta e Monteiro foram eleitos para a Câmara.
Junior Mochi (PMDB), Mara Caseiro (PTdoB), Márcio Fernandes (PSDB) e Zé Teixeira (DEM) foram eleitos para a Assembleia. A família Trad também elegeu Marquinhos Trad (PMDB) deputado estadual. Jerson Domingos não concorreu à reeleição. Mas elegeu aquele que gostará de ver como seu sucessor na presidência da AL-MS, Mauricio Picarelli (PMDB).
* autor do livro Partido da Terra – como os políticos conquistam o território brasileiro (Editora Contexto, 2012)
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por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho) *
Lembram-se do Leilão da Resistência, no Mato Grosso do Sul, no fim do ano passado? Destinado a arrecadar verbas para os ruralistas, contra a demarcação de terras indígenas.
O que aconteceu com os políticos que dele participaram?
Um deles foi eleito governador: Reinaldo Azambuja (PSDB).
Vejamos este texto: "Entre as personalidades que mais aparecem na mídia local que, possuem cargo público, e com certeza estarão disputando as urnas, estavam presentes Carlos Marun, Nelsinho Trad, Thereza Cristina Corrêa da Costa, Fábio Trad, Luiz Henrique Mandetta, Reinaldo Azambuja, Mara Caseiro, Márcio Fernandes, Jerson Domingos, Junior Mochi, Zé Teixeira, Márcio Monteiro". http://www.diariocg.com.br/noticias-ler/leilao-da-resistencia-teve-de-luxo-a-politico-interesseiro/21223
E agora vejamos os deputados federais eleitos no MS, com os votos de cada um:
Zeca (PT): 160.556
Carlos Marun (PMDB): 91.816
Geraldo Rezende (PMDB): 87.546
Tereza Cristina (PSB): 75.149
Vander Loubet (PT): 69.504
Luiz Henrique Mandetta (DEM): 57.374
Marcio Monteiro (PSDB): 56.441
Dagoberto Nogueira (PDT): 54.813
Marun, Thereza, Mandetta e Monteiro foram eleitos para a Câmara.
Junior Mochi (PMDB), Mara Caseiro (PTdoB), Márcio Fernandes (PSDB) e Zé Teixeira (DEM) foram eleitos para a Assembleia. A família Trad também elegeu Marquinhos Trad (PMDB) deputado estadual. Jerson Domingos não concorreu à reeleição. Mas elegeu aquele que gostará de ver como seu sucessor na presidência da AL-MS, Mauricio Picarelli (PMDB).
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