quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

“Viaturas passam em cima da perna das pessoas na Cracolândia”, conta advogado

Em entrevista nesta terça-feira ao site SpressoSP, o advogado Paulo Cesar Malvezzi Filho conta que policiais têm movido até as viaturas pra cima da população na Cracolândia, em São Paulo. As pessoas “são tocadas que nem gado”, diz ele à repórter Sâmia Gabriela Teixeira. “Eles passam com os carros por cima das pernas das pessoas e normalmente isso ocorre na madrugada. Muitos deles estão debilitados para fugir, se proteger”.

A Câmara Municipal e a Assembleia Legislativa realizam nesta terça-feira uma audiência conjunta, às 15 horas na Câmara, para discutir as operações policiais na região da Luz.

Malvezzi preside o Instituto Práxis de Direitos Humanos, que tem acompanhado de perto o trabalho da Defensoria Pública na região. Ele falou à repórter sobre o caso da adolescente de 17 anos obrigada a abrir a boca, para receber o disparo de uma bala de borracha.

O caso aconteceu no fim de semana e foi relatado na terça-feira pelo repórter Artur Rodrigues, da Agência Estado. O fotógrafo Nilton Fukuda registrou o ferimento na boca da jovem de Diadema, dependente de crack. A foto ganhou as redes sociais.

- Soubemos de atropelamentos, espancamentos e há quem faça denúncia para a Defensoria passando os nomes dos agressores – conta Malvezzi ao SpressoSP. - A verdade é que, só agora, com mais essa de denúncia, é que esses acontecimentos têm vindo à tona, mas, segundo os relatos, esse tratamento dado às pessoas em situação de rua acontece no cotidiano. Essa é uma prática rotineira.

É exatamente nesse ponto da entrevista que ele denuncia os atropelamentos como recurso sistemático de violência policial:

- As autoridades avançam com as viaturas pra cima da população, eles são tocados que nem gado, e muitos deles estão debilitados para fugir, se proteger. Eles passam com os carros por cima das pernas das pessoas e normalmente isso ocorre na madrugada.

O padre Julio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, confirma ter ouvido relatos de atropelamento. Em um dos casos ele acompanhou a recuperação da vítima no hospital. Nesta terça-feira ele relatou ter sido vítima de ameaças, junto com um cinegrafista da TVT e os próprios moradores de rua. Policiais apontaram as armas para eles e o cinegrafista foi agredido. Veja aqui o relato.

Malvezzi observa que esse tipo de agressão às pessoas em situação de rua sempre aconteceu, mas agora ganhou destaque a partir da operação policial no centro. Há uma dificuldade em obter registros das agressões, pois as vítimas não gostam:

- As pessoas na região ficam muito nervosas com a presença de câmeras e também da imprensa de modo geral.

O presidente do IPDH diz que quando há presença da Defensoria e dos membros da organização os policiais “chegam a ser educados com a população”. “Eles sabem que estamos lá para denunciar, então, de certa forma, conseguimos coibir a violência pela presença”, afirma.

A Folha informa nesta quarta-feira que o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, proibiu que a Polícia Militar utilize bala de borracha e bombas de efeito moral para dispersar os usuários na Cracolândia. O jornal divulgou na segunda-feira um vídeo que mostra policiais dispersando dessa forma cem pessoas descritas pelo jornal como usuários de crack.

A reunião extraordinária na Câmara, também nesta quarta-feira, é uma iniciativa da Comissão Extraordinária de Direitos Humanos, Cidadania, Segurança Pública e Relações Internacionais (Câmara Municipal) e da Comissão de Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação em Questões Sociais (Assembleia).

Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

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3 comentários:

Camila disse...

Lá vamos nós de novo, Alceu...

Continuo lendo, ativistamente. E pensando sobre o quanto não existe entre as pessoas um sentimento de que somos todos seres humanos e que "eu poderia ser essa pessoa, estar nessa situação".

Isso, claro, não é novidade na história da humanidade. Gostaria de ter a impressão de que estamos avançando nesse quesito, mas não.

E a pergunta que nunca se cala dentro de mim: o que fazer para que isso mude, de dentro pra fora?

Quero também expressar minha admiração por aqueles que se arriscam para tentar mudar as coisas de fora pra dentro (intimidação / denúncia). Você tem razão: ambas as coisas precisam acontecer ao mesmo tempo.

Um beijo,
Camila.

Da Marginal pra cá... disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Da Marginal pra cá... disse...

http://damarginalpraca.blogspot.com/2012/01/compromisso.html

Posso sugerir como resposta à sua pergunta, Camila?