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domingo, 2 de novembro de 2014

O fascismo emergente não é apenas um espasmo exótico

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

A esquerda precisa admitir que é assustador o número de pessoas na rua nessas manifestações de extrema direita, a pedir intervenção militar e o impeachment de uma presidente reeleita há apenas uma semana. Assim como é assustador o número de pessoas que compartilham as fotos e as ideias desses fascistas. Não é apenas mais uma brincadeirinha de ignorantes, meus caros. Eles estão se levando a sério. E arrebatando incautos. A partir da soma das viúvas da ditadura com o sentimento antipetista mais radical, despolitizado e primário.

Os dilmistas mais empedernidos também precisam admitir que ajudaram a chocar esse ovo da serpente, ao radicalizarem contra Marina Silva, permitindo a ressurreição do tucanato - com o substrato de direita inerente à volta do Fla-Flu entre PT e PSDB. Isso significa fazer um mea culpa imediato, emergencial, e cobrar atitudes sensatas daqueles que foram eleitos. Vocês que se precipitaram tanto são também responsáveis por esse... por esse clima.

O Ricardo Mendonça, jornalista da Folha, observou no Twitter que o PSDB precisa ser rápido e se distanciar dessa corja de golpistas. Em respeito à sua história. Mas não é o que parece estar acontecendo. Em Brasília havia um carro de som de um deputado do PSDB, Izalci. Os tucanos começaram a abrigar a bancada da bala. E alimentam o pseudonoticiário de revistas inescrupulosas, como IstoÉ e Veja. Buliram com a credibilidade.

Onde estão os democratas? Por que estão tão calados? Em São Paulo, o deputado eleito Eduardo Bolsonaro (PSC), eleito com os votos de Marco Feliciano, discursou e falou que, caso seu pai fosse candidato, teria "fuzilado" Dilma Rousseff. Ora, é preciso haver reação imediata. Processo nele. E em qualquer liderança que coloque em risco a democracia. Em caso de incitação ao crime, mais do que isso.

SILÊNCIO E HISTÓRIA

Será mesmo o silêncio a a melhor estratégia? A história da humanidade é a história de ditaduras e teocracias, de democracias extremamente imperfeitas e apenas eventuais. Na América Latina, em história recente, tivemos golpe em Honduras, no Paraguai (apoiado por nossa mídia estúpida), quase tivemos na Venezuela (comemorado por essa mesma imprensa venal). E a história do Brasil não é a mais abonadora a respeito.

Por que, então, agirmos como avestruzes, como se não estivesse acontecendo nada? O que exatamente garantiria um estado permanente de democracia em nosso país, além de nossos vastos e bem intencionados desejos? Nossas "honradas e sólidas" instituições? Mas quais, exatamente? Essa Justiça e esse Congresso de decisões casuísticas, de indignações oportunistas, movidas pelas pautas da mencionada imprensa golpista?



Vale lembrar que, durante os protestos de 2013 em São Paulo, sindicalistas, sem-terra e outros manifestantes ficaram acuados em plena Avenida Paulista por uma horda de fascistas. Estes saíram quebrando bandeiras vermelhas, ou que não fossem do Brasil. Houve ameaças e agressões. Os manifestantes de esquerda ficaram isolados, fizeram um cordão. Por incrível que pareça, black blocs foram os responsáveis por não ter havido uma tragédia - ao protegerem os movimentos institucionalizados. Pouca gente percebeu os sinais. E as eleições acabaram colocando mais lenha na fogueira.

REPENSANDO A AGENDA

Sou crítico de políticas apenas reativas. Acho que a esquerda se moveu demais, nos últimos tempos, em torno de Felicianos e quetais, ajudando a promovê-los, e com dificuldades imensas de emplacar os próprios temas, as próprias reivindicações. Da mesma forma que considero um erro se mover apenas em função do que os ruralistas aprontam no Congresso, de forma a se conquistar apenas (quando muito) a retirada de bodes na sala. Correndo atrás do prejuízo.

Sim, acho que deveríamos estar promovendo as discussões de longo prazo (vítimas de sucessivas tentativas de assassinato durante esse último debate eleitoral emburrecedor). Como a questão agrária, o modelo de consumo, o modelo de mobilidade urbana, de ocupação do território, as causas primeiras da violência. A questão ambiental, mãe da crise hídrica. Não deveríamos esquecer dos indígenas, de todos os povos tradicionais que seguem sendo vítimas desse modelo econômico suicida.

Mas este é um momento de admitir que falhamos em tudo isso. Erramos. Fracassamos. (Lembro-me aqui da ideia do "pacto entre derrotados", do Ernesto Sabato.) E, portanto, precisamos, ainda que em paralelo com as discussões listadas acima, colocar de vez em pauta essa explosão de obscurantismo, esses lobões e lobófilos lombrosianos, esses discursos do ódio, essa defesa abjeta da tortura, do golpe, da morte, a morte do sistema, a morte como sistema.


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domingo, 9 de dezembro de 2012

Fogo no ônibus. Duas pessoas morrem. Mas leitores indiferentes só falam em PT e PSDB


por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

Criminosos ateiam fogo em um ônibus, em São Paulo, e
matam duas pessoas. Elas não conseguiram sair a tempo. Mas nos comentários dos leitores só se fala em PT e PSDB. Culpa de um, culpa de outro - até os piores limites da falta de bom senso.

Diz um leitor que é uma piada “esse governador e seu partido que quer governar o Brasil”. “Diga não aos tucanos”, defende. Outro responde: “Graças ao PT, hoje o Brasil é o 20º país mais violento do mundo”.

Um terceiro leitor faz um comentário um pouco mais extenso. Mas igualmente reducionista: “Que PSDB e PCC andam juntos, todo mundo sabe. Uma mão lava a outra. O problema é que houve uma dissidência aí que provocou a guerra. Enquanto não resolver o problema, que certamente é a distribuição de renda, a matança não terá fim”. Esse leitor ganha uma resposta: “Não adianta tentar cobrir o sol com uma peneira. Todo mundo sabe que o PCC é o braço armado do PT”.

Fico pensando nos familiares das pessoas assassinadas. Na dor adicional de ver seus parentes sendo utilizados por oportunistas, incapazes de discutir mais amplamente um problema que não começou nem com o PT, nem com o PSDB. Que vem de bem mais longe, de tempos em que esses partidos nem existiam.

A capacidade de análise desse pessoal chafurda no binarismo. E na falta de perspectiva histórica. O ônibus queimado não é apenas um ônibus queimado. São séculos de história (do Brasil e da humanidade) que desembocam em uma tragédia como essa. Centenas de pesquisadores analisam em detalhes a segurança pública, o crime organizado, o papel do Estado. Sociólogos, historiadores, psicólogos – e muito mais gente.

Os supostos politizados da internet, porém, apressam-se em decidir o que aconteceu a partir de uma fotografia político-partidária atual, na qual só aparecem as cabecinhas do PT e do PSDB. Sem nuances, sem mais personagens, sem ao menos se colocar a perspectiva de algumas décadas (de urbanismo caótico, de uma democracia ainda incipiente) para se pensar melhor o problema. Com mais fôlego.

À tragédia que resultou em dois brasileiros mortos em São Paulo soma-se, portanto, o drama do analfabetismo político. Com um detalhe terrível: esses analfabetos são comentadores compulsivos, espaçosos, incansáveis. Estão pouco se lixando para a precariedade de seus argumentos. Mas nem ficam ruborizados. Todos são autoritários – mas também insensíveis e desumanos.

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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011


Veja por que “Privataria Tucana” é também um livro sobre imprensa

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

A leitura de “Privataria Tucana” mostra um dos motivos do silêncio da grande imprensa a respeito do livro de Amaury Ribeiro Jr. É que ela mesma – a imprensa – é um dos fios condutores da obra. Jornais e jornalistas são mencionados diretamente como partes interessadas nas histórias, que vão muito além das privatizações feitas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Ribeiro Jr diz que jornais foram chantageados por uma peça-chave do governo FHC – alçado à condição de “editor” do que saía a seu respeito. Menciona diretamente o nome de um jornalista da Folha de S. Paulo que, segundo ele, publicou (com um lado muito bem definido) uma sequência de reportagens parciais, destinadas a prejudicar uma candidatura política – a de Dilma Rousseff.

Vale observar que não se trata apenas de uma obra anti-PSDB – em meio ao que o autor chama de uma “imprensa afinada com o tucanato”. Dois membros do alto escalão do PT, jornalistas, são mencionados como detentores de “métodos” muito particulares de fazer amigos. E de combater inimigos.

Em um dos momentos de temperatura máxima do livro, Ribeiro Jr aponta até o suposto hábito de um desses petistas de “ameaçar a vida de adversários”. A acusação – evidentemente gravíssima - passou ainda despercebida, em meio aos temas políticos e econômicos do livro.

A guerra entre tucanos também é explicitada no livro-reportagem: os jornais “Estadão” e “Estado de Minas” são mencionados como entusiastas de José Serra e Aécio Neves, respectivamente.

Segue aqui, portanto, um resumo de uma obra dentro da obra: a “Privataria Tucana” surge também como um clássico sobre imprensa – uma imprensa sórdida. O próprio Ribeiro Jr, como repórter, torna-se personagem de uma guerra política, acusado de quebrar sigilos fiscais e de articular dossiês com arapongas.

Os leitores do livro são convidados a relembrar que a imprensa brasileira – retratada de modo inapelável em livros como “Minha Razão de Viver”, de Samuel Wainer, ou “Notícias do Planalto”, de Mario Sergio Conti – é um dos personagens-chave de um quebra-cabeças político.

Esse livro dentro do livro – lançado este mês pela Geração Editorial - é a história de grupos seletos, de personagens mais ou menos carimbados que decidem o que você, leitor, ficará ou não sabendo.

A PAUTA

Amaury Ribeiro Jr começa a investigação com uma pauta: apurar, para “o Estado de Minas”, um esquema de arapongagem (espionagem, grampos) contra o pré-candidato Aécio Neves (PSDB), governador mineiro. Ele teria de descobrir quem eram os arapongas, supostamente a mando de José Serra (PSDB).

O jornalista conta que a pauta não nasceu de boatos, mas de informações transmitidas pela assessoria de imprensa do governo mineiro ao “Estado de Minas”, principal jornal mineiro – “que, aliás, nunca negou sua condição de aecista de corpo e alma” (p.24).

A partir daí, por iniciativa própria, Ribeiro Jr decide aprofundar um tema que já lhe era caro: as privatizações. Identifica um esquema de entrada de dinheiro no país, a partir de empresas em paraísos fiscais, e telefona para a assessoria de imprensa do governador paulista, para ouvir Serra sobre o caso.

- A resposta não tardou. Serra agiu para barrar a matéria ainda em fase de apuração.

Serra telefona (sempre seguindo o relato do livro) para um editor do “Correio Braziliense” e para a direção do “Estado de Minas”, do mesmo grupo.  Não dá certo. Liga para Aécio. Entendem-se. Mas faltava “acalmar a direção do jornal mineiro”. Ela estaria indignada com um artigo do jornalista Mauro Chaves (já falecido) no Estadão. O texto seria um “libelo antiaecista”:

- Sem nunca ter ocultado seu serrismo, o Estadão dispensou o protocolo e disparou um torpedo visando atingir a pré-candidatura de Aécio Neves abaixo da linha d’água. (p. 29)

Era uma insinuação que associava Aécio ao consumo de cocaína. O título: “Pó pará, governador”. Chaves também dizia que, em Minas, “imprensa e governo são irmãos xifópagos”.

OS CONTRAPONTOS

A história das privatizações no governo FHC ganhou um contraponto de peso, lembra Ribeiro Jr. Foi o livro “O Brasil Privatizado”, de Aloysio Biondi (1936-2000).
Biondi demonstrou que o Brasil “pagara para vender suas estatais”, lembra-nos “Privataria Tucana”: R$ 87,6 bilhões, ou R$ 2,4 bilhões a mais do que recebera.

Ribeiro Jr conta que o termo privataria foi cunhado pelo jornalista Elio Gaspari. Mas as coberturas contrárias à onda privatista eram exceções.

O repórter narra alguns trabalhos que ele mesmo fez sobre evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Um deles, em 2003, durante o governo Anthony Garotinho, na IstoÉ, em parceria com a jornalista Sônia Filgueiras. “A reportagem provocou a abertura de duas CPIs” – uma mista, no Congresso (a CPMI do Banestado), outra no Paraná.

Por conta de um processo movido contra Ribeiro Jr e a Editora Três, por danos morais, o jornalista teve acesso a documentos inéditos da CPMI do Banestado. É que a editora moveu uma ação “de exceção da verdade” – e o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) foi obrigado a entregar o relatório.

Em outro ponto do livro, na página 78, ficamos sabendo que a Justiça considerou improcedente essa ação por danos morais.

A MÍDIA E A TELEBRÁS

A privatização da Telebrás é mencionada na página 68. Escreve o autor:

- Na oportunidade, o negócio foi vendido pela imprensa hegemônica aos seus leitores como algo maravilhoso para o Brasil e os brasileiros.

A venda do sistema de telefonia ocorrera por R$ 22 bilhões – apenas R$ 1 bilhão a mais do que a União investira nos dois anos anteriores à privatização.

Ribeiro Jr lembra o leitor de um telefonema entre FHC e Luiz Carlos Mendonça de Barros, o ministro das Comunicações: “À vontade, os dois comentam o tom apologético adotado pela mídia para saudar as privatizações”. O diálogo é transcrito na página 73:

- A imprensa está muito favorável, com editoriais – comenta Mendonça de Barros.

- Está demais, né. – diz FHC. Estão exagerando até...

DANIEL DANTAS E A REVISTA DINHEIRO

Ao falar da sociedade entre Verônica Serra (filha do político) e Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, o jornalista Amaury Ribeiro Jr faz um comentário curioso, para quem projetou boa parte de sua carreira na revista IstoÉ.

Ele comenta que a sociedade entre as Verônicas veio a público não por inimigos de Serra ou Dantas, mas por uma notícia publicada na IstoÉ Dinheiro, da mesma editora. A revista é definida, então, como uma “aliada sem nenhum pudor - e não faz a mínima questão de dissimular isso – ao banqueiro Daniel Dantas” (p. 183).

O repórter pergunta: “Como explicar essa notícia? A revista brigou com Dantas?” “Ou o banqueiro ficou louco ao ponto de se autodenunciar?”

Ele mesmo responde: diante de uma briga do Opportunity com sócios estrangeiros e o fundo Previ, Dantas pressionava Serra a intervir no fundo de pensão. “Em outras palavras, por meio da publicação, Dantas usava a sociedade entre as duas Verônicas para chantagear Serra”.

Mais à frente, ao contar como Verônica relatou ganhos de capital no exterior, em entrevista à IstoÉ Dinheiro, Ribeiro Jr escreve significativamente, entre parênteses: “Sempre a mesma publicação”.

OS ARAPONGAS E A IMPRENSA

O capítulo de “Privataria Tucana” sobre os arapongas traz várias histórias de imprensa. Algumas, positivas. Muitas, negativas.

Ao falar do “ninho de arapongas” da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Amaury Ribeiro Jr diz que ele foi desativado pelo próprio José Serra, então ministro da Saúde, “após a imprensa denunciar que a vida privada de servidores do Ministério da Saúde e de desafetos do então ministro estaria sendo esquadrinhada” (p. 245).

Em um mecanismo de inversão das acusações, o próprio repórter passou a ser acusado de quebrar sigilos, em 2010. Ele diz que sabia que as quebras tinham ocorrido por decisão judicial.

A essa altura, ele conta que já tinha informações suficientes para serem publicadas. Só que se tratava de ano eleitoral.

- São revelações que, publicadas, causariam estragos nos planos eleitorais da campanha do PSDB. Obviamente, seriam todas ignoradas pela imprensa afinada com o tucanato. (p. 278)

O jornalista dá um exemplo concreto dessa omissão da imprensa:

- Tome-se, apenas para exemplificar, o indiciamento da filha do candidato presidencial do PSDB, a empresária Verônica Serra. Passou em brancas nuvens. Ninguém soube ou, se soube, não publicou. Está sendo informado aqui, em primeira mão.

Na página 280 o autor narra mais um fato “que transitou incólume pelos bigodes da vetusta mídia cabocla”: a quebra dos sigilos financeiro e fiscal de Alexandre Bourgeois, marido de Verônica Serra. Segundo Ribeiro Jr, Bourgeois chegou a ir para o exterior, fugindo dos oficiais de justiça.

O autor sustenta, em defesa própria, a inutilidade – para a produção do livro - das declarações de renda apresentadas por Serra e seus familiares. Alega que o período que investigou (1998 a 2003) é aquele mais próximo das privatizações – e que os sigilos acessados irregularmente são de 2007 e 2008.

Ele conta que passou a outros jornalistas essa informação. Um colega de “um dos jornalões” lhe disse o seguinte:

- Eu falo para os chefes do meu jornal que as datas não batem, que a história não bate, mas a verdade não lhes interessa. (p. 281)

EDUARDO JORGE X JORNALISTAS

Amaury Ribeiro Jr diz que, em toda a sua carreira, nunca fez uma reportagem contra o ex-tesoureiro de campanha dos tucanos, Eduardo Jorge. Por impaciência e por receio – diante dos processos que ele costuma mover contra jornalistas.

O jornalista diz que foi absolvido em todos os processos movidos contra ele, baseados na Lei de Imprensa. Mas que sempre teve “consciência da desorganização dos departamentos jurídicos” dos veículos onde trabalhou.

Eduardo Jorge, segundo ele, contrata os melhores advogados e “segue todos os passos dos processos que move contra órgãos de imprensa e até mesmo os caminhos dos jornalistas e procuradores que o denunciam”.

GARCIA, O ACUSADOR, E O REPÓRTER DA FOLHA

O despachante Daniel Garcia foi quem acusou Ribeiro Jr, em pleno Jornal Nacional, de encomendar quebras de sigilo.

O jornalista diz que não podia imaginar que Garcia fazia operações ilegais.

E que foi ficando claro que ele agia (ao fazer as acusações) sob orientação tucana.

A partir de um certo ponto, explica, os tucanos precisavam refutar a informação de que membros do clã Serra faziam movimentações financeiras em um paraíso fiscal.

É então, na página 299, que Ribeiro Jr acusa um colega, um repórter da Folha de S. Paulo:

- Mas para haver contrainformação o assunto teria de sair na imprensa, a fim de que toda a rede fictícia caísse num efeito dominó. Trazendo no currículo várias reportagens contra o PT e sua candidata, o repórter da Folha de S. Paulo Leonardo de Souza também foi escolhido a dedo. Além de não fazer questão de esconder sua ojeriza a Dilma e de atuar em um veículo alinhado à campanha tucana, o repórter possuía fontes oposicionistas na Receita Federal, que sempre o ajudavam a detonar a campanha petista.

O autor de “Privataria Tucana” diz no livro que Souza inverte leads (a abertura das notícias) para beneficiar os tucanos. Assim, em junho de 2010, ele publicou que o “núcleo de inteligência” da candidatura Dilma (que seria inexistente, segundo a própria revista Veja)  tivera acesso às cópias das declarações de IR de Eduardo Jorge.

Em outra ocasião, relata o autor, Souza descobriu que a farra dos cartões corporativos ocorrera também durante o governo FHC. “Em vez de denunciar os desmandos dos tucanos, arrumou uma forma de colocá-los como vítimas” – acusando a Casa Civil de usar seu aparato para vazar os dados sigilosos.

- Como se vê, o formato é o mesmo. Os bastidores do vazamento dos impostos para a Folha é assunto que cabe ao repórter e ao jornal explicarem.

DE NOVO EDUARDO JORGE

Um dia Amaury Ribeiro Jr foi abordado por policiais federais. Eles lhe disseram que a “casa tinha caído”, por conta dos depoimentos de Garcia. Na página 302, ele relata:

- Nos dias anteriores ouvira relato de jornalistas e mesmo de tucanos de que o “Sombra” (Eduardo Jorge) havia transformado a cobertura midiática da quebra do sigilo numa grande ópera bufa, em que ele era o mais divertido dos personagens. Com ironia, colegas de imprensa diziam que, de posse de informações privilegiadas do inquérito, o prócer do PSDB travestira-se de pauteiro e editor de veículos dos quais arrancara indenizações milionárias em ações de danos morais.

Segundo o jornalista, Eduardo Jorge “teria iniciado um verdadeiro leilão em troca de informações privilegiadas”.

- Não pedia dinheiro ou algum benefício pessoal. Apenas exigia determinado espaço, chegando a definir qual seria a linha editorial da matéria. Se determinado jornal não concordasse com suas exigências, simplesmente transferia o “furo” ao concorrente.

Ribeiro Jr diz que Jorge conseguiu a façanha de “levar a mídia ao papel ridículo que se propôs a assumir no pleito” (o de apoiar a candidatura Serra).

DE NOVO O REPÓRTER DA FOLHA

Ao avaliar que seu depoimento não surtiu o resultado esperado na mídia, o autor do livro diz que ela “preparou mais um golpe baixo” contra ele, “com o objetivo de atingir a candidatura Dilma”.

- Os principais veículos passaram a publicar a informação mentirosa de que eu havia confessado ter pedido a transgressão dos sigilos.

Uma exceção foi Rudolfo Lago, do site Congresso em Foco.

Mas Ribeiro Jr afirma não ser difícil descobrir a origem da notícia falsa:

- No dia 20 de outubro de 2010, Leonardo de Souza redigiu matéria na Folha de S. Paulo em que afirmava que eu havia encomendado ao despachante dados fiscais de dirigentes do PSDB.

A informação de que a solicitação fora feita à Junta Comercial do Estado de São Paulo (e não à Receita Federal) aparecia somente no terceiro parágrafo.

- A manobra acabou induzindo os editores da primeira página a manchetear que eu admitira ter pedido acesso legal às informações. Não sei se foram induzidos a erro pelo repórter ou gostaram de ser enganados para agradar aos donos do jornal.

OS PETISTAS

“Privataria Tucana” fala também do fogo amigo na campanha petista. A história é rocambolesca.

Na disputa pela assessoria de imprensa da campanha de Dilma, Valdemir Garreta (sempre segundo Amaury Ribeiro Jr) teria mandado “recados” para o grupo de Luiz Lanzetta, que assumira essa função. A este grupo estaria reservada apenas a função de falar com algumas redações.

- Caso não compusesse desta maneira ou saísse do caminho, os “métodos” de Garreta seriam exercitados.

Seriam métodos, conforme o autor, de “fazer amigos e influenciar pessoas”.

As informações nas reuniões eram vazadas. “Falava-se algo em uma reunião e, no outro dia, a informação estava estampada nas colunas dos jornais”.

Ribeiro Jr relata uma suposta perseguição de Garreta contra Lanzetta. E a reunião de Lanzetta e do próprio autor (a pedido do colega) com arapongas, com o objetivo de mover uma contraespionagem.

Mais à frente, no capítulo 17, Ribeiro Jr chega a dizer que informações de vários jornalistas “dão conta de que o ex-secretário cultiva o hábito desagradável de ameaçar a vida de seus adversários”.

(O autor não apresenta provas. A este blog, Valdemir Garreta disse sucintamente que não tem nada a falar sobre o livro.)

Nesse mesmo capítulo, o também jornalista Rui Falcão (hoje presidente nacional do PT) é acusado pelo autor de “pautar a Veja contra a campanha de Dilma”.

Tudo por meio de uma coluna de Diogo Mainardi. Centrando fogo contra Lanzetta. Este ouvira de Falcão as mesmas frases publicadas por Mainardi na Veja.

Diante da tomada do poder pelos paulistas (a versão segue sendo a de Ribeiro Jr), o repórter Alexandre Oltramari, da Veja, procura Lanzetta para dizer que soubera de uma “fábrica de dossiês contra adversários” e que um delegado e Amaury Ribeiro Jr “estavam engajados na arapongagem”. A matéria não saiu – por influência de Antonio Palocci, que tirou Lanzetta da campanha.

Ribeiro Jr acusa ainda Rui Falcão de ter copiado (e repassado à Veja) o próprio material que estava sendo escrito para o livro “Privataria Tucana”. A intenção final seria taxar “um jornalista maluco de Minas” (o próprio autor) como membro de “mais um grupo de aloprados do PT”.

Lanzetta acabou se acertando com Palocci. E disse ao coordenador da campanha, referindo-se ao grupo paulista e a Ribeiro Jr: “Segure os seus radicais, que eu seguro o meu”.

Segundo o próprio autor, Falcão o está processando por calúnia.

SOBRE O SILÊNCIO

Todas as histórias acima mostram possíveis motivos para tanto silêncio na grande imprensa sobre "Privataria Tucana". Uma das exceções foi a Record News.

Por um lado, os personagens (graúdos) são de interesse público. As histórias perpassam o centro do poder no Brasil, nos últimos 17 anos: políticas centrais de governo, as principais campanhas eleitorais.

Mas aos políticos somam-se, como protagonistas, donos e editores dos principais meios de comunicação do Brasil.

As histórias envolvendo o próprio Ribeiro Jr (arapongagem, compra de material) podem estar sendo utilizadas por seus opositores - e pela imprensa - para questionar a credibilidade do jornalista. Seriam um argumento para a sonegação de informações sobre o livro?

As versões dos demais envolvidos devem aparecer com o tempo. Por enquanto, silêncio. Mas o livro já é um sucesso editorial. E repercute imensamente nas redes sociais. O silêncio sobre o livro, em si, tornou-se uma notícia.

As histórias que Ribeiro Jr conta (em paralelo às histórias da tal “privataria”) são de um jornalismo muito pouco republicano. Estão aí para serem confirmadas, completadas – ou veementemente refutadas.

No mínimo um dos lados da história utilizou-se de recursos absolutamente excusos para veicular informações.