27 favoritos para o Senado possuem R$ 480 milhões
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho) *
Quase
meio bilhão de reais. Mais precisamente, R$ 480.936.788,76. Esse é o
total de bens declarados pelos 27 candidatos que lideram as pesquisas ao
Senado. Na média, R$ 17,8 milhões cada um. Dois terços deles são
milionários.
É bem verdade que um dos candidatos puxa a média
bem para cima. É o tucano Tasso Jereissati, empresário, ex-governador do
Ceará, que tenta voltar ao Senado. Ele declarou à Justiça Eleitoral,
sozinho, R$ 389 milhões. Sem ele, a média seria de R$ 3,37 milhões.
Vejamos o total de bens desses 27 políticos, conforme declarado por eles mesmos ao Tribunal Superior Eleitoral:
– Tasso Jereissati (PSDB-CE). R$ 389.019,698,60
– Fernando Collor (PTB-AL). R$ 20.308.319,48
– Acir Gurgacz (PDT-RO). R$ 10.913.706,83
– José Maranhão (PMDB-PB). R$ 8.830.629,26
– Wellington Fagundes (PR-MT). R$ 8.666.604,04
– Ronaldo Caiado (DEM-GO). R$ 7.232.461,92
– Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). R$ 5.971.124,61
– Kátia Abreu (PMDB-TO). R$ 4.131.891,79
– Wilson Martins (PSB-PI). R$ 3.093.163,14
– Álvaro Dias (PSDB-PR). R$ 2.912.001,70
– Reguffe (PDT-DF). R$ 2.793.650,22
– Maria do Carmo (DEM-SE). R$ 2.434.303,97
– Lasier Martins (PDT-RS). R$ 1.999.326,91
– Omar Aziz (PSD-AM). R$ 1.650.485,60
– Simone Tebet (PMDB-MT). R$ 1.575.566,39
– José Serra (PSDB-SP). R$ 1.553.822,22
– Romário (PSB-RJ). R$ 1.311.189,82
– Anchieta (PSDB-RR). R$ 1.157.437,41
– João Paulo (PT-PE). R$ 999.244,47
– Rose de Freitas (PMDB-ES). R$ 988.566,00
– Paulo Bornhausen (PSB-SC). R$ 677.972,59
– Antonio Anastasia (PSDB-MG). R$ 562.000,00
– Fátima Bezerra (PT-RN). R$ 558.000,00
– Gladson Cameli (PP-AC). R$ 514.392,07
– Gilvam Borges (PMDB-AP). R$ 408.400,00
– Gastão Vieira (PMDB-MA). R$ 405.037,96
– Paulo Rocha (PT-PA). R$ 267.791,76
A lista dos líderes nas pesquisas foi elaborada a partir de levantamento feito pelo jornalista Fernando Rodrigues, no UOL, que por sua vez se baseou nas últimas pesquisas eleitorais. Confira aqui a disputa para o Senado nos 26 Estados e no Distrito Federal, com a intenção de voto dos principais candidatos.
UM SENADO RURALISTA
A
lista tem empresários e donos de vastas extensões de terra. As ações de
Tasso Jereissati em uma só empresa, a Jereissati Participações, somam
quase R$ 73 milhões. A família é dona da rede de shoppings Iguatemi.
A
maior parte desses favoritos na corrida ao Senado é defensora do
agronegócio. Somente o senador Acir Gurgacz (PDT-RO), candidato à
reeleição, registrou a propriedade de mais de 31 mil hectares de terra. O
ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), quase 8 mil hectares. O líder
ruralista Ronaldo Caiado (DEM-GO) registrou 3.539 cabeças de gado. (A
pecuarista Kátia Abreu, do PMDB de Tocantins, nenhuma.)
Quatro
entre esses 27 políticos têm também concessão de meios de comunicação. O
senador Fernando Collor (PTB-AL) possui duas rádios e uma televisão. O
deputado federal Wellington Fagundes (PR-MT), uma televisão – com
empresa inativa. O ex-governadores José Maranhão (PMDB-PB) e Wilson
Martins (PSB-PI), uma rádio cada. Isso sem contar os parentes: o pai de
Acir Gurgacz, Assis, seu atual suplente (que tem um patrimônio de R$ 86
milhões e não concorre à reeleição porque foi considerado ficha-suja), é
dono de televisão.
Nem sempre os candidatos ostentam riqueza.
Gurgacz registrou um Rolex Daytona Herren-Chronograph no valor de R$ 22
mil. Ele e Maranhão declararam a propriedade de aeronaves, por R$ 520
mil e R$ 120 mil. Collor declarou mais de R$ 2 milhões em apenas seis
carros: R$ 133 mi (Kia Carnival), R$ 180 mil (Toyota Land Cruiser), R$
323 mil (Citroen), R$ 343 mil (Mercedes), R$ 556 mil (Ferrari
Scaglietti) e R$ 714 mil (BMW).
* autor do livro Partido da Terra – como os políticos conquistam o território brasileiro (Editora Contexto, 2012)
LEIA MAIS:
Os dez mandamentos de um debate eleitoral sórdido Kátia Abreu declara R$ 4 milhões; filho Irajá, R$ 5,7 milhões
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jornalismo, geografia, literatura, cinema. Utopia, resistência. 'Indignem-se!' (Stéphane Hessel). 'Nem tudo é sórdido' (Ernesto Sabato - 1911-2011)
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Execução de camelô é símbolo da institucionalização midiática da barbárie
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Estou impressionado com o silêncio em relação à execução de um camelô, ontem, durante mais uma ação tresloucada da polícia paulista. Ele se chamava Carlos Augusto Muniz Braga. Tinha 30 anos.
Os jornais paulistas deram o tema de forma discretíssima. Com chamadas telegráficas de capa. Muito aquém da importância do episódio, que gerou sucessivas barricadas em protestos de comerciantes contra a polícia.
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Estou impressionado com o silêncio em relação à execução de um camelô, ontem, durante mais uma ação tresloucada da polícia paulista. Ele se chamava Carlos Augusto Muniz Braga. Tinha 30 anos.
Os jornais paulistas deram o tema de forma discretíssima. Com chamadas telegráficas de capa. Muito aquém da importância do episódio, que gerou sucessivas barricadas em protestos de comerciantes contra a polícia.
E
que teve um homem morto. Sim, um homem que trabalhava no comércio
informal. E que não deveria levar o rótulo de "pirata". Piratas são os
grandes contrabandistas. Não aquele que vende algo para sobreviver. Não o
Carlos.
Evidente que, se a decisão do poder público (com prioridade questionável) é combater a pirataria, enfrentar camelôs constitui o método menos eficiente possível. Retirar mercadorias que serão repostas significa enxugar gelo. Com a violência contra trabalhadores como consequência.
Não fosse covarde, a polícia (a Secretaria de Segurança Pública, o governador) estaria investigando, no mínimo, os grandes depósitos de mercadorias. Antes deles, a rota do contrabando. E os contrabandistas de colarinho branco. Vários deles, bem conhecidos.
Somente uma sociedade muito ingênua - ou com má-fé - pode achar que esse tipo de operação pode acabar com o crime organizado. Se falamos de enxugar gelo podemos também falar do mito de Sísifo - aquele que tinha de empurrar uma pedra até o topo da montanha, de onde ela rolava de volta.
Jornalistas costumam ser bons propagandistas de tarefas de Sísifo - intermináveis. Ao não buscarem os problemas estruturais do país (e do mundo), ao vigiarem apenas erupções, consequências, e não os grandes temas geradores de desigualdade e violência.
Não por coincidência, dois jornalistas do SporTV foram particularmente cínicos e insensíveis com o goleiro Aranha, ontem, durante jogo do Santos com o Grêmio. Para não dizer coniventes com o racismo dos torcedores. Como se fosse ele o algoz, e não a vítima. (Olho para a foto de Carlos, por sinal, e vejo que ele era negro.)
No caso dos editores dos jornais, eternamente distraídos no que se refere aos direitos humanos, fico pensando no critério utilizado para minimizar a notícia da execução de um trabalhador, seguida de uma batalha urbana. Penso que alguns trabalharam comigo, com alguns eu já terei até compartilhado alguma mesa de bar.
Em que momento se naturaliza a barbárie? Mais especificamente, a barbárie institucionalizada, que depende do aval dos meios de comunicação? Em que momento um jornalista considera - no mínimo por sua passividade - que Carlos deveria ser morto?
Notem que não estou falando, aqui, da imprensa sensacionalista. Esta, por ironia da história, tem-se demonstrado mais atenta ao caso. Não tem cacoete de ir atrás da contextualização, de uma discussão mais elaborada, mas ao menos esboçou algum luto, alguma exclamação.
A grande imprensa parece estar sedada. Conformada. Um fotógrafo perdeu o olho por essa mesma polícia paulista, em 2013, e achamos que não é com a gente. Um vendedor de DVDs foi executado. E fazemos de conta que é ele o pirata.
Retirem as vendas, senhores. A injustiça somos nós.
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Evidente que, se a decisão do poder público (com prioridade questionável) é combater a pirataria, enfrentar camelôs constitui o método menos eficiente possível. Retirar mercadorias que serão repostas significa enxugar gelo. Com a violência contra trabalhadores como consequência.
Não fosse covarde, a polícia (a Secretaria de Segurança Pública, o governador) estaria investigando, no mínimo, os grandes depósitos de mercadorias. Antes deles, a rota do contrabando. E os contrabandistas de colarinho branco. Vários deles, bem conhecidos.
Somente uma sociedade muito ingênua - ou com má-fé - pode achar que esse tipo de operação pode acabar com o crime organizado. Se falamos de enxugar gelo podemos também falar do mito de Sísifo - aquele que tinha de empurrar uma pedra até o topo da montanha, de onde ela rolava de volta.
Jornalistas costumam ser bons propagandistas de tarefas de Sísifo - intermináveis. Ao não buscarem os problemas estruturais do país (e do mundo), ao vigiarem apenas erupções, consequências, e não os grandes temas geradores de desigualdade e violência.
Não por coincidência, dois jornalistas do SporTV foram particularmente cínicos e insensíveis com o goleiro Aranha, ontem, durante jogo do Santos com o Grêmio. Para não dizer coniventes com o racismo dos torcedores. Como se fosse ele o algoz, e não a vítima. (Olho para a foto de Carlos, por sinal, e vejo que ele era negro.)
No caso dos editores dos jornais, eternamente distraídos no que se refere aos direitos humanos, fico pensando no critério utilizado para minimizar a notícia da execução de um trabalhador, seguida de uma batalha urbana. Penso que alguns trabalharam comigo, com alguns eu já terei até compartilhado alguma mesa de bar.
Em que momento se naturaliza a barbárie? Mais especificamente, a barbárie institucionalizada, que depende do aval dos meios de comunicação? Em que momento um jornalista considera - no mínimo por sua passividade - que Carlos deveria ser morto?
Notem que não estou falando, aqui, da imprensa sensacionalista. Esta, por ironia da história, tem-se demonstrado mais atenta ao caso. Não tem cacoete de ir atrás da contextualização, de uma discussão mais elaborada, mas ao menos esboçou algum luto, alguma exclamação.
A grande imprensa parece estar sedada. Conformada. Um fotógrafo perdeu o olho por essa mesma polícia paulista, em 2013, e achamos que não é com a gente. Um vendedor de DVDs foi executado. E fazemos de conta que é ele o pirata.
Retirem as vendas, senhores. A injustiça somos nós.
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quarta-feira, 3 de setembro de 2014
PT, PSOL E PCdoB concentram 46% das candidaturas indígenas
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Entre as 84 candidaturas indígenas registradas no Tribunal Superior Eleitoral, conforme a declaração feita pelos próprios candidatos, 16 disputam pelo PT. Em seguida vêm o PSOL, com 12 candidatos, e o PC do B, com 11. Juntas, essas 39 candidaturas representam 46% do total.
Quase dois terços das candidaturas é para vagas nas Assembleias Legislativas (53) ou Câmara Distrital (2). Outros 25 indígenas disputam vagas na Câmara. Cinco deles visam o Senado, dois destes na suplência. A Bahia tem um candidato a vice-governador, Ronaldo Santos (PSOL).
A lista de candidaturas nas eleições de 2014 foi compilada por Ricardo Verdum e pode ser vista aqui: https://www.academia.edu/8170557/Candidatos_Indigenas_nas_Eleicoes_de_2014 (A lista tem um nome repetido. Sete candidaturas ainda são consideradas inaptas.)
A região Norte tem o maior número de candidatos: 30 entre os 84. Em seguida vem o Nordeste, com 20 candidaturas indígenas. Sudeste e Centro-Oeste empatam, com 15 candidatos. A região Sul tem apenas quatro.
Vejam o ranking por partido:
PT – 16
PSOL – 12
PCdoB – 11
PHS – 7
PSTU – 5
PPL – 4
PV , PSDB– 3
DEM, PP, PSC, PDT, PTdoB, PPS, PROS, PRP - 2
PR, PEN, PMDB, PSL, PTB, PRB, PRTB – 1
É possível notar a maior incidência em partidos de esquerda, como PSTU, PPL e o próprio PSOL, em relação à média nacional. Uma surpresa é o PHS – que, só no Piauí, está lançando três candidatos que se declararam indígenas.
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Entre as 84 candidaturas indígenas registradas no Tribunal Superior Eleitoral, conforme a declaração feita pelos próprios candidatos, 16 disputam pelo PT. Em seguida vêm o PSOL, com 12 candidatos, e o PC do B, com 11. Juntas, essas 39 candidaturas representam 46% do total.
Quase dois terços das candidaturas é para vagas nas Assembleias Legislativas (53) ou Câmara Distrital (2). Outros 25 indígenas disputam vagas na Câmara. Cinco deles visam o Senado, dois destes na suplência. A Bahia tem um candidato a vice-governador, Ronaldo Santos (PSOL).
A lista de candidaturas nas eleições de 2014 foi compilada por Ricardo Verdum e pode ser vista aqui: https://www.academia.edu/8170557/Candidatos_Indigenas_nas_Eleicoes_de_2014 (A lista tem um nome repetido. Sete candidaturas ainda são consideradas inaptas.)
A região Norte tem o maior número de candidatos: 30 entre os 84. Em seguida vem o Nordeste, com 20 candidaturas indígenas. Sudeste e Centro-Oeste empatam, com 15 candidatos. A região Sul tem apenas quatro.
Vejam o ranking por partido:
PT – 16
PSOL – 12
PCdoB – 11
PHS – 7
PSTU – 5
PPL – 4
PV , PSDB– 3
DEM, PP, PSC, PDT, PTdoB, PPS, PROS, PRP - 2
PR, PEN, PMDB, PSL, PTB, PRB, PRTB – 1
É possível notar a maior incidência em partidos de esquerda, como PSTU, PPL e o próprio PSOL, em relação à média nacional. Uma surpresa é o PHS – que, só no Piauí, está lançando três candidatos que se declararam indígenas.
Quatro Estados não apresentaram candidaturas indígenas: Sergipe, Paraíba, Maranhão e Santa Catarina. O Maranhão tem vários conflitos de terra envolvendo povos indígenas.
O Amazonas e a Bahia, sozinhos, apresentaram nove candidatos cada um. Em seguida vêm São Paulo, com oito, Mato Grosso do Sul, com sete, Roraima, com seis candidatos, e o Pará, com cinco.
O Mato Grosso do Sul concentra grande população indígena. Das sete candidaturas, seis são de partidos à esquerda. A mais conhecida delas é do Cacique Ládio Veron, para a Câmara, pelo PSOL. Roraima, outro estado com maior quantidade proporcional de população indígena, tem uma dobradinha do PCdoB para deputado estadual e federal.
Vejam o ranking por UF:
AM, BA- 9
SP – 8
MS – 7
PA, RR – 6
PI - 4
AC, AP, CE, ES, GO, MT, PE, PI, RJ – 3
DF, PR, RO, RS – 2
AL, TO, RN – 1
Oito entre os 84 candidatos apresentam-se, no próprio nome de campanha, como professores.
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O Amazonas e a Bahia, sozinhos, apresentaram nove candidatos cada um. Em seguida vêm São Paulo, com oito, Mato Grosso do Sul, com sete, Roraima, com seis candidatos, e o Pará, com cinco.
O Mato Grosso do Sul concentra grande população indígena. Das sete candidaturas, seis são de partidos à esquerda. A mais conhecida delas é do Cacique Ládio Veron, para a Câmara, pelo PSOL. Roraima, outro estado com maior quantidade proporcional de população indígena, tem uma dobradinha do PCdoB para deputado estadual e federal.
Vejam o ranking por UF:
AM, BA- 9
SP – 8
MS – 7
PA, RR – 6
PI - 4
AC, AP, CE, ES, GO, MT, PE, PI, RJ – 3
DF, PR, RO, RS – 2
AL, TO, RN – 1
Oito entre os 84 candidatos apresentam-se, no próprio nome de campanha, como professores.
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