“Transmissão solidária” sugere novo modelo de comunicação popular
Os moradores da Ocupação Pinheirinho, em São José dos Campos, organizaram nos últimos dias um blog (o Solidariedade Pinheirinho) e um perfil no Twitter chamados de “cobertura solidária”. Na manhã desta terça-feira, diante da decisão da Justiça Federal que suspendeu a reintegração de posse, as principais informações sobre a festa dos moradores foram transmitidas por rádio.
A “transmissão solidária” registrou a comemoração dos moradores, que tomaram faixas de uma avenida região. As pessoas dançavam forró, subiam em árvores e agitavam bandeiras. “Hoje é feriado no Pinheirinho, é feriado em São José dos Campos”, disse o locutor. “Aqueles que jogavam panfleto contra a ocupação perderam”.
Ele se refere aos panfletos jogados por helicóptero, ontem, pela Polícia Militar. “Ao invés de uma desocupação truculenta, o que temos aqui é uma grande vitória”, afirmou o porta-voz. “Graças à decisão de uma juíza federal que leva em conta vidas humanas”.
O locutor agradeceu os emails e tweets de solidariedade “de todo o Brasil”. "O Twitter bombou durante a vigília", assinalou o líder sindical Mancha. Foram quase 800 seguidores em um dia. A transmissão em rádio chegou a ser definida na internet como "30 minutos de emoção".
Outro diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do município, Herbert Claros da Silva, rebateu as acusações de que os moradores do Pinheirinho tinham queimado um ônibus durante a noite. “Quem queimou o ônibus foi a polícia”, disse. “Pessoas que estavam no ônibus contaram que o cabelo de quem queimou era curtinho, cabelo de militar”.
Uma das informações passadas pela “transmissão solidária” foi a de que a gleba da Ocupação Pinheirinho estaria avaliada em R$ 200 milhões – e que a especulação imobiliária seria o motivo da decisão de desocupar o terreno, pertencente a uma empresa do investidor Naji Nahas.
Ao fundo da locução ouvem-se o rumor da festa dos moradores, cornetas. “O povo quer paz”, declarou o deputado estadual Adriano Diogo (PT). “Quer trabalhar, viver, criar seus filhos. Iam fazer um arregaço, uma carnificina, um banho de sangue. Para quê? Olha o povo aí, pacífico”.
Diante do silêncio da mídia tradicional, o que está surgindo no Brasil é um novo modelo de comunicação relativo às demandas populares. Ele passa hoje pela mobilização nas redes sociais, à margem do que sai na grande imprensa. A “transmissão solidária”, ligada aos moradores e ao Sindicato dos Metalúrgicos, com tempo real pelo Twitter, dá algumas pistas do que pode vir por aí.
Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
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