segunda-feira, 28 de maio de 2012

O comercial da Nova Schin, o Nordeste e a matança de gays e travestis no Brasil
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
A Nova Schin colocou uma peça publicitária no ar. Com o roteiro consagrado pelo machismo brasileiro: um grupo de jovens toma cerveja e cobiça mulheres. Um deles aborda uma delas e descobre que se trata de um travesti. O locutor (em formato de cordel) troça do tamanho do gogó e do pé e o rapaz fica com cara de tacho. Seria apenas um comercial de mau gosto, inócuo, destinado a vender umas inocentes cervejinhas?
 
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) não pensa assim. Segundo o Estado de Minas, ela divulgou nesta segunda-feira um ofício enviado ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), no qual pede a “imediata retirada do ar do comercial 'Festa de São João'". A associação alega que o comercial discrimina travestis.
 
Agrego dois dados básicos para auxiliar nessa discussão:
 
1) a Nova Schin tem o Nordeste como sua menina-dos-olhos. É onde o grupo tem seu maior mercado. A empresa cresce entre 10% e 15% nessa região. Tem dificuldade para conseguir o mesmo desempenho em outras regiões do Brasil.
 
2) Em 2010, Bahia e Alagoas foram os estados com maior numero de homicídio de gays, travestis e lésbicas. Entre 260 assassinados, 29 eram da Bahia; 24, de Alagoas.
 
Alguém poderá dizer que esses humanos foram executados por outros motivos. Será? “Vários destes crimes revelam o ódio da homofobia, sendo praticados com requintes de crueldade, tortura e castração”, disse no ano passado Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia.
 
Do lado da Nova Schin, não é à toa que a cervejaria patrocine festas juninas, muito populares no Nordeste. E que o comercial sobre o travesti se passe numa dessas festas. Existe uma divisão regional dos mercados.
 
A pergunta é: se a Nova Schin promove a homofobia, ela não está sendo cúmplice em relação a essa cultura da violência? (Não estamos nem falando aqui dos gays e transexuais espancados, diariamente humilhados etc.)
 
É tema suficiente para uma larga reflexão. Que não deve se restringir à homofobia. O espancamento e morte de mulheres no Brasil não tem nenhum relação com o machismo perpetuado pelas propagandas de cerveja? (De todas as marcas?)
 
Os publicitários pensam nesse tipo de coisa quando promovem suas peças? Consideram-se geniais, engraçadíssimos? Enxergam-se numa espécie de Proibidão Televisivo, como os jovens da stand up comedy?
 
Infelizmente o que ocorre em certas ruas do Brasil está mais para CCC do que para CQC. Ou seja, mais para o Comando de Caça aos Comunistas do que para o Custe o que Custar, programa da Band. Mais precisamente, comandos de caça a gays. Em relação a 2005, o aumento do número de homicídios de gays, em 2010, tinha sido de 113% no Brasil.
 
Que o grupo japonês Kirin, novo responsável pelos lucros e eventuais desmandos da cervejaria, pense bem no que está patrocinando. E que pensemos bem no que estamos consumindo.

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Vocês estão rindo de quê, seus racistas? Da morte sistemática de negros e gays?
 

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Um comentário:

Julian Irusta disse...

Publicitários pensam em duas coisas:
1. Ganhar prêmios;
2. Atendido o item 1 - e se possível -, gerar vendas para seu cliente;

Fica a questão: Que tipo de mercado premia a discriminação e a humilhação? e, que tipo de cliente promove vendas em cima desses mesmos valores?