Quem matou o índio macuxi Aldo Mota? No dia 17, o
julgamento de Chico Tripa
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
O Conselho Indigenista Missionário informa que
Aldo da Silva Mota – índio da etnia Macuxi - desapareceu no
dia 2 de janeiro de 2003, após receber um recado do capataz da
Fazenda Retiro. A fazenda ficava na Raposa Serra do Sol, terra indígena em
Roraima homologada em 2005 pelo governo federal.
As terras "pertenciam" ao ex-vereador Francisco
das Chagas de Oliveira, conhecido como Chico Tripa. O capataz pediu
que Aldo fosse buscar um bezerro de sua aldeia naquela fazenda. “Foi
e não voltou", resume o Cimi.
(Coloco entre aspas o "pertenciam" porque, como em boa parte da Amazônia, na Serra do Sol se tratavam de terras da União).
O julgamento de Chico Tripa e de mais dois acusados
será nesta quinta-feira, dia 17, às 9 horas, em Boa Vista.
Repercuto a notícia perguntando-me que veículo
de alcance nacional irá divulgar o julgamento. Nem cogito que alguém
mande um repórter para Boa Vista – o que seria muito
bem-vindo. Mas algum portal ou grande jornal se interessará pela
história de nosso Aldo?
(O italiano Aldo Moro foi morto em 1978 pelas
Brigadas Vermelhas. O crime repercute internacionalmente até hoje.)
O mais provável é que o julgamento de Aldo da
Silva Mota não tenha um centésimo (para não dizer um milésimo) da
repercussão dos julgamentos do seringueiro Chico Mendes - morto em 1988 - e da
missionária Dorothy Stang - executada em 2005.
Refiro-me a dois dos únicos nomes, entre centenas de pessoas assassinadas por fazendeiros nos últimos anos, que motivaram
alguma cobertura da grande imprensa – e nem acho que ela tenha sido
lá essas coisas.
Catorze pessoas já morreram em 2012 em
decorrência de conflitos no campo, informa a Comissão Pastoral da
Terra. Ou seja, os fazendeiros “solucionaram” os conflitos
assassinando os camponeses – ou suas lideranças.
No caso de Aldo da Silva Mota, o corpo foi
encontrado numa vala rasa, exposto aos urubus. O IML de Boa Vista
atestou inicialmente “morte natural”.
Um dos acusados pelo crime é esse ex-vereador, que
atende pela alcunha de Chico Tripa. Tivemos outro Chico em São
Paulo, o Chico Picadinho. Era um serial killer, um Maníaco do Parque
dos anos 70. Os crimes de ambos tiveram vasta cobertura da imprensa.
Os assassinatos em série no campo não motivam as
mesmas linhas nos jornais. Indígenas, quilombolas, posseiros,
sem-terra seguem sendo executados - pelos latifundiários e pelo silêncio da
mídia.
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