Ernesto
Sabato mostra por que é impossível explicar conceitos avançados da
física
O escritor argentino Ernesto Sabato (1911-2011) foi um físico consagrado, antes de se dedicar à literatura. Em Paris, trabalhou no laboratório dos Irmãos Curie. Sua convivência com os surrealistas foi decisiva para abandonar a ciência – e se tornar um crítico ferrenho dela.
É a ciência um assunto recorrente em seus ensaios. Em “Nós e o Universo” (1945), ele escreveu algo sobre a teoria de Albert Einstein que se encaixa perfeitamente em discussões contemporâneas. Por exemplo, a “partícula de Deus”, recém-descoberta por cientistas, anunciada hoje em Genebra.
Segue o tópico do ensaio, intitulado “Divulgação”:
O escritor argentino Ernesto Sabato (1911-2011) foi um físico consagrado, antes de se dedicar à literatura. Em Paris, trabalhou no laboratório dos Irmãos Curie. Sua convivência com os surrealistas foi decisiva para abandonar a ciência – e se tornar um crítico ferrenho dela.
É a ciência um assunto recorrente em seus ensaios. Em “Nós e o Universo” (1945), ele escreveu algo sobre a teoria de Albert Einstein que se encaixa perfeitamente em discussões contemporâneas. Por exemplo, a “partícula de Deus”, recém-descoberta por cientistas, anunciada hoje em Genebra.
Segue o tópico do ensaio, intitulado “Divulgação”:
“Alguém
me pede uma explicação da teoria de Einstein. Com muito entusiasmo,
falo de tensores e geodésicas tetradimensionais.
- Não entendi uma única palavra – me diz, estupefato.
- Não entendi uma única palavra – me diz, estupefato.
Reflito
um instante e logo, com menos entusiasmo, dou uma explicação menos
técnica, conservando algumas geodésicas, mas fazendo intervir
aviadores e disparos de revólver.
- Já entendi quase tudo – diz meu
amigo, com bastante alegria. - Mas há algo que ainda não entendo:
essas geodésicas, essas coordenadas...
Deprimido,
mergulho em uma longa concentração mental e acabo por abandonar
para sempre as geodésicas e as coordenadas; com verdadeira
ferocidade, me dedico exclusivamente a aviadores que fumam enquanto
viajam à velocidade da luz, a chefes de estação que disparam um
revólver com a mão direita e verificam tempos com um cronômetro
que têm na mão esquerda, a trens, sinos e vermes de quatro
dimensões.
- Agora sim, agora entendi a
relatividade! - exclama meu amigo com alegria.
-
Sim – respondo amargamente -, mas agora não
é mais a relatividade”.
Alceu
Luís Castilho
(@alceucastilho)
LEIA MAIS:
Quem leria sobre a nova descoberta da física se ela não se chamasse "partícula de Deus"?
LEIA MAIS:
Quem leria sobre a nova descoberta da física se ela não se chamasse "partícula de Deus"?
NO TWITTER:
Nenhum comentário:
Postar um comentário