sábado, 7 de julho de 2012

Cachorro faz xixi na foto do Kassab. Mas a imagem não representa a realidade
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
A foto de J. Duran Machfee mostra um cachorro fazendo xixi em uma foto gigante do prefeito Gilberto Kassab, em pleno Minhocão, em si um símbolo da degradação paulistana. Por que ela não representa a realidade?
 
Sim, o cachorro lá esteve, no insinuante Elevado Costa e Silva, e por ali batizou o cartaz com a imagem do prefeito. A foto está sendo reproduzida com júbilo nas redes sociais. Todos comemoram o gesto involuntário do cão como um grande feito.
 
E, no entanto, o prefeito dorme diariamente o sono tranquilo dos injustos. O higienista Kassab, um prefeito que já chamou (aos berros) um cidadão de “vagabundo”, não enfrenta reação popular. De gênero nenhum – nem violenta, nem humorística, nem desorganizada. A indignação não se manifesta.


Ou seja: essa imagem da agência Futura Press esconde uma passividade geral. Está varrendo a política municipal de exclusões sistemáticas para debaixo do tapete. Quando vemos a foto, rimos o nosso riso distante e achamos (não racionalmente, mas achamos) que algo está sendo feito contra esse político retrógrado, autoritário, esse soldado das elites. Como diria René Magritte*, "isto não é um protesto".
 

(*O pintor surrealista belga questionou a fronteira entre realidade e representação ao pintar um cachimbo e legendá-lo: "Isto não é um cachimbo".)

Uma das decisões recentes dessa triste prefeitura foi a de proibir a distribuição de sopa no centro da cidade. Antes tinha, agora não tem. Alguém teve uma ideia genial: fazer, nesta quinta-feira, um sopão em frente da “casa do Kassab”, ou seja, diante da própria prefeitura, ao lado do Viaduto do Chá. Ótimo! Uma excelente oportunidade da massa ir lá e dar seu recado, seu grito!

Segundo os próprios organizadores, compareceram cerca de 200 pessoas. Em 10 milhões de paulistanos, 200 heróis se dispuseram a fazer o Sopão do Prefeito Diferenciado, ele que está fechando saraus nas periferias, ele que promoveu de modo sórdido a limpeza da cracolândia (ou seja, a violência sistemática contra humanos que moram na rua), ele que faz uma gestão pública às avessas – contra o cidadão.

Duzentas pessoas. Duzentos paulistanos corajosos e criativos. Indignadíssimos, exercendo corretamente sua cidadania no Largo do Patriarca. Eles são um exemplo. De resto, se não há aplausos em relação a esse político lamentável (e sua política do escárnio), há, sim, muita distração, muita timidez. Muita indignação ligada no automático. E a imagem do cachorro revolucionário esconde esse silêncio.
 

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