quarta-feira, 6 de junho de 2012

“Ônibus-camburão” da Unifesp leva 43 estudantes presos em reintegração de posse
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
Um micro-ônibus da Universidade Federal de São Paulo foi utilizado como camburão, na tarde desta quarta-feira. Ele levou 43 estudantes presos durante a reintegração de posse do campus da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Unifesp-Guarulhos. Nem a presença do ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, impediu o cumprimento da ordem judicial, em pleno governo Dilma Rousseff. A Polícia Federal acompanhou a operação, mas quem executou foi a Polícia Militar do Estado de São Paulo, que levou ao local cerca de 15 viaturas.
 
O micro-ônibus da Unifesp dirigido por um motorista terceirizado (e não por um policial habilitado, portanto) levou um delegado e os 43 estudantes de Guarulhos até a Lapa, na zona oeste de São Paulo, ao prédio da Polícia Federal. Nem todos ficaram sentados – pois o número de pessoas excedia a capacidade do veículo. Ou seja: foram espremidos – sem nenhuma segurança de trânsito – durante todo o trajeto. Fotos feitas por outros estudantes mostram os detidos com os braços para fora, no momento em que cantavam palavras de ordem contra a Polícia Militar.


Os estudantes ficaram no auditório da Superintendência da PF. Durante a noite, começariam a ser ouvidos pelo delegado plantonista, de seis em seis. O blog Outro Brasil esteve no local durante a noite. O micro-ônibus deixou o local por volta das 22 horas. Cerca de 50 pessoas concentravam-se no local, em frente do portão 2, entre amigos e parentes dos estudantes. O restante da imprensa (seja ela grande ou alternativa) não acompanhou essa movimentação.
 
Segundo um dos advogados dos estudantes, eles seriam liberados após todos os depoimentos – em princípio, apenas negativas para a acusação de crime de desobediência, por não terem desocupado o local. A PF decidiu lavrar apenas termos circunstanciados, que mantêm a primariedade dos acusados. Um delegado da Polícia Federal teria dito que não foi a PF a responsável pelo transporte dos acusados no micro-ônibus – cedido à PM pela reitoria da própria Unifesp.
 
Representantes do Comando de Greve dos estudantes contaram ao blog que esse micro-ônibus costuma ser utilizado para transportar alunos da região de Itaquera, em São Paulo, até o bairro dos Pimentas, em Guarulhos. E que, na semana passada, esse serviço não estava sendo realizado porque o ônibus estaria quebrado. Por isso consideram irônico o veículo aparecer bem no momento de uma reintegração de posse.
 
A presença do ministro Gilberto Carvalho no local seria no sentido de tentar impedir a reintegração de posse do local, ocupado desde o dia 22 de março pelos estudantes. Isto por conta dos possíveis desgastes políticos para o governo Dilma Rousseff e para a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad (PT) à prefeitura de São Paulo. Carvalho, como Luiz Dulci no governo Lula, é o responsável pela interlocução com movimentos sociais.
 
Mas, segundo os estudantes, o mesmo juiz que, na semana passada, indeferiu o pedido de desocupação, foi o que determinou a reintegração de posse, nesta quarta-feira. O oficial de justiça leu a decisão e deu 1 hora e 10 minutos para os ocupantes deixarem o local. À espera de sinais visíveis de uma reintegração (um camburão, membros paramentados da Tropa de Choque), eles acharam que ela não ocorreria tão cedo. Foi quando a polícia fechou todas as saídas e acionou a Tropa de Choque.

Diante da voz de prisão, os estudantes foram encaminhados para o micro-ônibus. Os oficiais de justiça registraram a existência de pichações no imóvel (que, segundo os advogados dos detidos, já estariam por lá), e disseram que os móveis tinham sido preservados. Às 22h30, do lado de fora do prédio da PF, outros estudantes apoiavam os detidos, com palavras-de-ordem. Como esta: “Ocupar, resistir, lutar para garantir”. Ou: “Lutar. Criar. Poder popular”.
 
Leia mais sobre a ocupação dos estudantes no blog Greve Unifesp.
 
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