sábado, 2 de junho de 2012

Bebês morrem em creches clandestinas. Mas Kassab fecha o Sarau do Binho
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
O Diário de S. Paulo deste sábado noticia que Gabriel Santos da Silva, de 6 meses, morreu na quinta-feira em uma creche clandestina no bairro de Brasilândia, na zona norte de São Paulo.
 
A cidade tem 126,6 mil crianças crianças sem vagas em creche. Os pais precisam trabalhar e acabam deixando-as nesses "depósitos de crianças" - conforme a definição de Ariel de Castro Alves, vice-presidente da Comissão Nacional da Criança e Adolescente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
 
Mas o prefeito Gilberto Kassab (PSD) está preocupado com outras ações. Outras restrições. Outras punições.
 
Esta semana mesmo ele fechou o Sarau do Binho, na região do Campo Limpo, zona sul. Por conta de multas acumuladas pelo estabelecimento, que tenta há anos autorização para funcionar, sem sucesso.
 
E o que é o Sarau do Binho? Apenas mais um botecão, e a prefeitura estaria preocupada com altos índices de alcoolismo, brigas, assassinatos no bar? Não: o Sarau do Binho era um espaço cultural.
 
Binho é um poeta. Ele reúne amigos, escritores e moradores para atividades culturais. Como lembra o texto do coletivo Desentorpecendo a Razão, os saraus se tornaram, com a carência de pontos culturais nas periferias, “uma alternativa aos moradores dessas regiões”. “Normalmente os eventos ocorrem em bares, pois não há aparelhos públicos que deem conta da demanda de poetas e público, segundo os organizadores”.
 
A mesma cidade que não oferece creches é a mesma cidade que não oferece pontos de cultura. E o mesmo município que fecha uma alternativa cultural na periferia da zona sul é o que não fecha um depósito de crianças na zona norte.
 
Maniqueísmo? O leitor acha que os dois deveriam estar fechados? Não, leitor. A questão é que, antes de fechar qualquer coisa, a prefeitura tem de abrir – creches decentes, espaços para música, cinema, vídeo, literatura. Espaços de cultura. De empoderamento, de libertação.
 
Outra questão é o fechamento. Fechamento de saraus? Numa escala de prioridades, poderiam fechar antes as creches clandestinas. Ou todos os estabelecimentos que ofereçam risco de vida. Vale mencionar também pontos de jogo-de-bicho, prostíbulos. De luxo inclusive.
 
Se o prefeito é tão valente assim para fechar o Sarau do Binho, que feche antes os puteiros. E que faça seu dever – mantendo as crianças paulistanas vivas.
 
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