Bebês morrem em creches clandestinas. Mas Kassab
fecha o Sarau do Binho
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
O Diário de S. Paulo deste sábado noticia que
Gabriel Santos da Silva, de 6 meses, morreu na quinta-feira em uma creche clandestina no bairro de Brasilândia, na zona norte de São
Paulo.
A cidade tem 126,6 mil crianças crianças sem
vagas em creche. Os pais precisam trabalhar e acabam deixando-as
nesses "depósitos de crianças" - conforme a definição de Ariel de Castro Alves, vice-presidente da Comissão Nacional da Criança e Adolescente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Mas o prefeito Gilberto Kassab (PSD) está
preocupado com outras ações. Outras restrições. Outras punições.
Esta semana mesmo ele fechou o Sarau do Binho, na
região do Campo Limpo, zona sul. Por conta de multas acumuladas pelo
estabelecimento, que tenta há anos autorização para funcionar, sem
sucesso.
E o que é o Sarau do Binho? Apenas mais um
botecão, e a prefeitura estaria preocupada com altos índices de
alcoolismo, brigas, assassinatos no bar? Não: o Sarau do Binho era
um espaço cultural.
Binho é um poeta. Ele reúne amigos, escritores e
moradores para atividades culturais. Como lembra o texto do coletivo Desentorpecendo a Razão, os saraus se tornaram, com a carência de
pontos culturais nas periferias, “uma alternativa aos moradores
dessas regiões”. “Normalmente os eventos ocorrem em bares, pois
não há aparelhos públicos que deem conta da demanda de poetas e
público, segundo os organizadores”.
A mesma cidade que não oferece creches é a mesma
cidade que não oferece pontos de cultura. E o mesmo município que
fecha uma alternativa cultural na periferia da zona sul é o que não
fecha um depósito de crianças na zona norte.
Maniqueísmo? O leitor acha que os dois deveriam
estar fechados? Não, leitor. A questão é que, antes de fechar
qualquer coisa, a prefeitura tem de abrir – creches decentes, espaços
para música, cinema, vídeo, literatura. Espaços de cultura. De
empoderamento, de libertação.
Outra questão é o fechamento. Fechamento de
saraus? Numa escala de prioridades, poderiam fechar antes as creches
clandestinas. Ou todos os estabelecimentos que ofereçam risco de
vida. Vale mencionar também pontos de jogo-de-bicho, prostíbulos.
De luxo inclusive.
Se o prefeito é tão valente assim para fechar o
Sarau do Binho, que feche antes os puteiros. E que faça seu dever –
mantendo as crianças paulistanas vivas.
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