segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Expulsões na USP: Rodas fala à Folha em “sumiço de documentos”

Em entrevista publicada nesta segunda-feira na Folha de S. Paulo, respondida por escrito, o reitor João Grandino Rodas disse que a expulsão de seis estudantes da USP, decretada na sexta-feira, não foi excessiva por conta de “ações graves, como desaparecimento de milhares de prontuários”.

Esses documentos, diz ele, continham informações sigilosas da saúde e da família de alunos da universidade e da Escola de Aplicação da USP. Ele fala também de “desaparecimento e danos do patrimônio público”, sem entrar em detalhes.

Rodas afirma que o decreto de 1972 sobre disciplina, no qual a reitoria se baseou para as punições, foi incorporado ao estatuto da USP “porque os alunos preferiram fazê-lo do que [sic] redigir novo texto”.

“Os que imaginam que o fundamento legal não vale terão oportunidade de contestá-lo judicialmente e tentar a anulação das penas”, afirma o reitor. Segundo ele, a comissão que presidiu o processo administrativo se baseou em provas. “Se os referidos alunos têm certeza de que nada fizeram a não ser manifestações políticas, poderão recorrer ao Judiciário”.
 

O jornal publicou ainda uma nota sobre a versão apresentada pela estudante Jéssica Trinca. "Em vídeo, aluna punida diz que medida foi política", diz o título.

Nesta segunda-feira os estudantes realizaram ato em frente da reitoria, a partir das 13 horas, em protesto contra as expulsões.
 

A VERSÃO DOS ESTUDANTES
 

“É mentira”, disse ao blog nesta segunda-feira Jéssica Trinca, em relação ao sumiço dos prontuários. “Saíram matérias na mídia dizendo que devolvemos todos os documentos à Coseas” (A Coordenadoria de Assistência Social da USP).
 

Ela diz que a acusação de dano ao patrimônio é infundada, pois 40 estudantes moram no térreo do bloco G – o da Moradia retomada. “Se o patrimônio tivesse de fato sido danificado essa pessoas não teriam condições para morar”, afirma a estudante.

Jéssica diz que o reitor não assume que cortou a luz da moradia retomada, “que ficou 7 meses no escuro”.
 
ASSESSORIA DE IMPRENSA
 

O boletim da assessoria de imprensa da USP trouxe nesta segunda-feira mais detalhes sobre os processos movidos contra os 13 estudantes – seis expulsos, cinco absolvidos e dois que terão a punição anotada em seus prontuários. Segundo a reitoria, foram extraviados, durante a ocupação do bloco G, 4 mil prontuários, 300 documentos de trabalho, 10 pastas, 17 computadores, duas impressoras, nove aparelhos eletrodomésticos, dois televisores, 13 aparelhos telefônicos, 20 talões de tíquetes-refeição e 12 toneladas de alimentos.
 

Não há informações, porém, sobre acusações específicas de furto (na Justiça) contra os estudantes punidos.
 

"Mesmo se quiséssemos não conseguiríamos, cada um, carregar duas toneladas de alimentos", rebateu Amanda Freire, nesta terça-feira, a este blog. "Isso tudo é uma mentira, é só para trazer a opinião pública para o lado deles, todos os documentos e prontuários foram entregues pela ocupação, isso foi registrado e protocolado". Ela disse em entrevista à Folha que os estudantes que ocuparam o espaço entregaram tudo que encontraram no local, "em um ato público".
 

OUTRA POLÊMICA
 

A reitoria alega que a decisão por expulsão teve o respaldo de "quase todos" os diretores de unidade. O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) disse durante um ato nesta segunda-feira que os diretores de quatro unidades não estiveram presentes na reunião, que teria sido feita à margem da reunião do Conselho Universitário. Seriam os diretores da Escola de Comunicações e Artes, Faculdade de Educação, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e (a se confirmar) Faculdade de Direito - redutos de oposição a Rodas.


Ao blog vi o mundo, o professor Adrián Fanjul, da FFLCH, disse que participou da reunião do CO no dia 13 de dezembro e que o assunto das expulsões não foi discutido. "Nem por parte da reitoria nem de nenhum outro dirigente", afirma. A data consta do despacho sobre as "eliminações" publicado no Diário Oficial.
 

Durante o ato contra as expulsões, na segunda-feira,  professor Luiz Renato Martins, da ECA, fez um discurso mais exaltado do que os estudantes. Voltando-se contra a reitoria, chamou o reitor de "fascista", "franquista" e salazarista", em referência aos regimes autoritários do século XX na Europa.
 

Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
 

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Um comentário:

Chi Qo disse...

Já que ele gosta tanto de usar o peso da lei, fico pensando se algum bom advogado não gostaria de impetrar um Mandado de Segurança para afastar esse tirano por falta de decoro com o cargo de Magnífico, ou mesmo pela falta de habilidade como professor! Que vergonha para a nobre classe dos que ensinam aos jovens!!!