terça-feira, 13 de março de 2012

Texto de reitoria da USP desrespeita perseguidos pela ditadura
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
A assessoria de imprensa da reitoria da USP divulgou nesta terça-feira um texto que desrespeita perseguidos pela ditadura de 1964. Logo no início é feita uma referência a um manifesto, feito em novembro e renovado em março, dos “perseguidos pelo regime militar, parentes dos companheiros assassinados durante esses anos sombrios e defensores dos princípios por eles almejados”. Esse manifesto recusa qualquer homenagem feita pela atual reitoria.
 
Em resposta aos signatários do manifesto, o texto da reitoria - leia aqui - refere-se a eles como “autointitulados”. Ou seja: “autointitulados” perseguidos, “autointitulados” parentes de pessoas assassinadas, “autointitulados” defensores de princípios defendidos por aqueles que foram assassinados pelo regime.
 
Um texto oficial da assessoria de imprensa da reitoria da Universidade de São Paulo não é um texto impessoal. O texto intitulado "Democracia na USP" tem nome e sobrenome: e atende pelo nome do reitor João Grandino Rodas.
 
Cabe a pergunta de um jornalista (e estudante da USP) que respeita os assassinados pela ditadura: qual era a sua posição durante o regime militar, João Rodas? Esta pergunta foi feita ao senhor, por meio de sua assessoria de imprensa, mas o reitor não quis falar sobre o assunto.
 
Agora, chama os perseguidos e parentes de “autointitulados”. Ora, alguém se “autointitula” parente de uma pessoa torturada e morta pela ditadura? Alguém se “autointitula” perseguido pelo regime militar quando, entre os signatários, estão pessoas notoriamente conhecidas por terem sido perseguidas por esse regime de exceção? Enxergaste ali, Magnífico Reitor, nomes de brasileiros mortos e desaparecidos?
 
De que lado o senhor estava durante a ditadura, João Rodas? O senhor não conhecia essas pessoas? Não participou das mesmas batalhas?
 
O texto da reitoria ainda ironiza a ampliação das reivindicações dos signatários. Coloca entre aspas a realização de “outros atos de lançamento” e completa, com ironia: “Esse manifesto, com propósitos múltiplos e cujo texto aumenta a cada relançamento, mantém as assinaturas coletadas anteriormente!”
 
Assim, com exclamação. A ela adicionamos uma interrogação: caro reitor, o senhor está duvidando da legitimidade das assinaturas coletadas pelos perseguidos políticos (muitos deles, professores da mesma Universidade de São Paulo) e parentes dos assassinados?
 
Poderia, então, reitor Rodas, dizer isso com todas as letras? Está em jogo a reputação das pessoas que assinaram o documento? (Leia aqui a lista completa.)
 
A das famílias de Caio Prado Jr, de Bento Prado Jr? Dos professores Chico de Oliveira, Emília Viotti da Costa, Emir Sader, Flávio Wolf de Aguiar, Helenira Resende (irmã de uma desaparecida do Araguaia), Luiz Roncari, Maria Amélia Azevedo, Osvaldo Coggiola?
 
Estariam utilizando indevidamente, João Rodas, as assinaturas do vereador Carlos Neder e dos deputados estaduais Adriano Diogo e Rui Falcão? Do preso e torturado Celso Lungaretti? De Carlos Eugênio Paz, da família de Luis Carlos Prestes e de... Zuzu Angel?
 
Por Zuzu Angel e Stuart Angel Jones assinam os manifestos Hildegard Angel Bogossian e Ana Cristina Angel Dronne, filhas de Zuzu, irmãs de Stuart. A reitoria está insinuando que foram adicionadas reivindicações que essas pessoas não quiseram assinar?
 
A sociedade paulista quer saber sua resposta.
 
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4 comentários:

Drika Sanz disse...

... um absurdo. E pensar que a nossa segurança está nas mãos desses bandidos de farda!!!

Flavio Morgenstern disse...

O texto inteiro comenta UMA PALAVRA do comunicado da reitoria. Palavra esta muito correta: entre muitos perseguidos, há muita gente ali cuja relação com a ditadura sequer poderia existir, já que são de épocas completamente distintas.

Faz uma inversão de significado absurda para dizer que Rodas é a favor da ditadura, isso por lembrar que um manifesto ganha cada vez mais texto, mantendo assinaturas que nem viram os acréscimos. É este o tipo de jornalismo "formado pela USP" que queremos mostrar como sinônimo da qualidade de nossa Universidade?

Por fim, por que criar um texto inteiro reclamando de uma palavra ("autointitulados"), e esquecer espertamente de comentar que o monumento sequer parte da reitoria, e sim da Comissão de Direitos Humanos, como ele afirma? Será que o autor leu algo além da primeira frase antes de criticar?

Alceu Castilho, jornalista. disse...

não, o texto não comenta somente uma palavra. Enfatiza, sim, uma ironia desnecessária - e desrespeitosa - da reitoria. E, mais abaixo, comenta outras ironias contidas no primeiro parágrafo - que igualmente desqualificam os parentes de mortos e desaparecidos.

O texto não esquece "espertamente" de nada. Poderia rebater também as acusações - espertas - de João Rodas em relação aos estudantes. Ele diz (em outras palavras) que, nos últimos 20 anos, as manifestações foram à margem da lei. Criminosas. Nada razoável, não?

Os signatários do manifesto bem sabem a origem da ideia do monumento. Mas insistem em não querer (e têm todo o direito) que isso seja feito numa gestão que consideram autoritária.

Quanto à relação entre João Rodas e a ditadura, você tem mais informações, Morgenstern? Pois ele não quer falar sobre o assunto. Não há ainda nenhuma pista de algo no sentido contrário, de alguém que defendia a democracia, mas assim que você conseguir essa informação eu divulgarei com prazer.

att,
Alceu Castilho

Anônimo disse...

Uma pena que o discurso dos órfãos da ditadura, ávidos leitores da Veja, saia do confronto de ideias e parta para ofensas. Esperava argumentação melhor... Curioso, em uma análise simplista do discurso, no caso das ofensas proferidas, nos remete ao suposto desejo de um estudante de letras que, não contente com seu curso, tem 'inveja' dos estudantes de jornalismo USP, que realizaram o que ele não conseguiu. No mínimo, uma pena que se lide assim com a questão. Sobre a análise do discurso em si, mais das vezes, se pauta, nem tanto pelas ideias apresentadas, mas pelos termos utilizados, palavras têm história e origem política, sua análise nos remete as fontes do pensamento apresentado, trágico ter que lembras isso. Voltando à trágica crítica colocada sobre a interessante análise, o jovem que faz essa crítica, também mantenedor de um blog, está naufragando em um mar de baixo ibope, desesperado, crítica outros blogs para não morrer afogado. No mínimo, infeliz!