Os “novos
Pinheirinhos” em São Paulo e os velhos esquecimentos
por ALCEU LUÍS
CASTILHO (@alceucastilho)
Na sexta-feira duas
novas ocupações de sem-teto em São Paulo, em Embu das Artes e
Santo André, levaram o nome de “Novo Pinheirinho”. O fato merece
uma análise do ponto de vista político e do ponto de vista da
comunicação. Ao reviver o nome Pinheirinho o Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto (MTST) faz um movimento duplo: de valorização
política das novas ocupações e de luta contra o esquecimento de
uma violência.
Comecemos com o
esquecimento. Neste início de março, quantas barbaridades recentes contra
brasileiros pobres já foram esquecidas? Os abusos na Cracolândia
praticamente já saíram do noticiário. A Favela Moinho Vivo, que
pegou fogo em São Paulo antes do Natal, também não alcança mais a
nossa imprensa desmemoriada. Violências contra indígenas nem se
fala: antes de serem esquecidas, muitas nem foram noticiadas.
É nesse sentido que o
nome “Novo Pinheirinho” tem um primeiro mérito. A desocupação
em São José dos Campos será sempre uma realidade para cada família
desabrigada - e brutalmente expulsa naquele domingo de janeiro em São José dos Campos.
Tornou-se um símbolo do abuso estatal, da violência institucional.
Para o
procurador Marcio Sotelo Felippe, o governador Geraldo Alckmin,
Naji Nahas e o presidente do Tribunal de Justiça, Ivan Sartori, devem ser presos por crimes contra a humanidade.
Temos aí, portanto, no marketing do MTST, o mérito de manter a história viva. A acampamentos e assentamentos com nomes como Chico Mendes e Zumbi dos Palmares soma-se agora o nome de uma ocupação emblemática: Pinheirinho.
O
segundo mérito é o de unificar lutas – dispersas – por moradia.
Claro que elas sempre tiveram como matriz os mesmos problemas (a
brutal desigualdade de renda no Brasil, a segunda estrutura fundiária
mais concentrada do planeta etc). Mas a falta de unificação dos
movimentos faz cada reivindicação soar como isolada.
Talvez
a sociedade brasileira já tenha – sordidamente – assimilado
sem-terra e sem-teto apenas como tais. Suas causas (moradia, terra) são
justas e emergenciais, mas a classe média e as elites naturalizaram
a ausência de terra e de teto. Como se isso fosse uma condição
eterna, e não historicamente construída – a partir de políticas
excludentes diárias.
Ao
multiplicar os Pinheirinhos, portanto, o MTST (ainda que seja só o
MTST, e não um conjunto de movimentos de sem-teto), expande
geograficamente uma tragédia que não é só localizada em São José
dos Campos.
O
quanto os meios de comunicação vão perceber disso tudo, não se
sabe. A tendência da mídia hegemônica é a de dispersar –
despolitizar – as causas. Tratar tudo como ato isolado, pontual,
não como parte de uma grande tragédia nacional.
O
mesmo vale para outras expressões da violência brasileira do dia a
dia: contra indígenas, quilombolas, homossexuais, negros etc. Casos
individuais são eventualmente amplificados. O conjunto da violência
contra minorias ou contra excluídos, porém, quase não é exposto.
Para
discutir esse conjunto não dá para ser superficial: é preciso
aprofundar o debate político e econômico. E, por que não dizer, o
debate constitucional. O embate entre o “sagrado” direito à
propriedade e os direitos elementares consagrados na Constituição:
direito à vida, à moradia, à saúde, educação...
A
violência contra sem-teto não começou no Pinheirinho. Mas que ele
ao menos sirva de referência. Contra novas desocupações, novos
incêndios, novos higienismos, velhas agressões diárias de uma
sociedade intrinsecamente excludente.
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Pinheirinho, Brasil: onde foi que enterraram nossos escrúpulos?
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