O lucro da Sabesp e a falta d’água em São Paulo
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Notícia de hoje no Valor Econômico: “Mercado estima queda no lucro da Sabesp”. Vale ler o primeiro parágrafo:
-
As previsões de analistas que acompanham a Sabesp consultados pelo
Valor são de um primeiro trimestre de resultados ainda bons para a
estatal paulista, pois o verão foi um dos mais quentes dos últimos anos.
Com isso, espera-se aumento no consumo de água na região operada pela
empresa, pois somente a partir de março a Sabesp começou a ter seus
volumes e receitas reduzidos por causa dos descontos oferecidos aos
clientes que reduzirem o consumo.
A noticia é dada
exatamente no dia em que o governo estadual anuncia o início da
utilização do volume morto do Sistema Cantareira. A empresa nunca
utilizou esse reservatório.
Ou seja, a empresa comemora os lucros. No verão, nada de desestimular o consumo. Pois ele inspira “bons resultados”.
(O
mesmo jornal, no caderno de investimentos, conta que o preço dos
aluguéis está baixando. E que, “entretanto”, cenário em 2015 pode
“melhorar”.)
Resultados bons para quem? Melhorar para quem?
Há
aí um conflito de interesses evidente. Se uma empresa tem no consumo de
água sua meta, pelo ângulo do lucro, como pode o cidadão (visto apenas como consumidor) virar
refém desse objetivo?
Não se trata de uma distorção
pontual. E sim estrutural. De um modelo que precisa ser revisto. Ou a
água é um direito, ou uma commodity. Cabe ao Estado apenas reproduzir a
lógica e os interesses do capitalismo?
Como se não
bastasse, como sabemos, existem os interesses eleitorais. Não se assume o
rodízio d’água em São Paulo (embora exista em Guarulhos, embora haja
falta d’água nas regiões mais altas) porque isso pode prejudicar a
reeleição do governador Geraldo Alckmin.
Mas os
tucanos são protegidos pela imprensa. E a situação de calamidade (a
mesma que engordou os cofres da Sabesp) não é exposta com todas as
letras para a população.
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