A Arena nunca morreu –
e está instalada na presidência do Senado
por ALCEU LUÍS
CASTILHO (@alceucastilho)
A velha Arena tem um
bigode farto, pintado de acaju. E exerce um dos cargos mais
importantes da República, a presidência do Senado. Está muito
longe de ter morrido – apenas metamorfoseou-se, invadiu outros
partidos e segue exercendo seu poder político.
Essa é a notícia
principal sobre o partido oficial do último regime militar. E não a
criação de um partido sem representatividade por uma estudante
gaúcha – aquela que é contra cotas e quaisquer privilégios, mas
é bolsista do ProUni.
A velha Arena está
instalada no Ministério das Minas e Energia. É uma extensão do
poder daquele vasto bigode acaju: orbita em torno de José Sarney o
poder do ministro Edison Lobão. Deputado federal pela Arena durante
a ditadura, um dos que migraram para o PFL, seguindo o vice de
Tancredo Neves. Hoje, como seu padrinho, está no PMDB.
Lobão e Sarney são
poderosos. O poder do segundo é mais conhecido. O do primeiro, não.
Mas ele foi ministro das Minas e Energia também durante o governo
Lula, entre janeiro de 2008 e março de 2010. Entende do tema? Não,
é um jornalista. Está lá para perpetuar os interesses de seu grupo
político. Durante a Constituinte, não foi um deputado qualquer: foi
decisivo, em comissão, para barrar uma verdadeira reforma agrária
no Brasil.
Esqueçam de Cibele
Baginski, portanto. A gaúcha da falsa Arena. A Arena verdadeira
existe, está aí para quem quiser ver. Falemos do poder de Sarney,
do poder de Lobão.
A Arena também esteve
no palanque de Fernando Haddad, em São Paulo, na figura
constrangedora do deputado Paulo Maluf (PP-SP). Mas ela não se
perpetua somente parasitando o PT. Em São Paulo, faz isso também
com os tucanos. A Arena é da base da petista Dilma Roussseff e da
base do tucano Geraldo Alckmin.
A Arena não tem
pudores. Ela apoiava um regime assassino e desastrado – fiador de
um projeto monstruoso de colonização, por exemplo, que turbina até
hoje os conflitos no campo no Brasil. A Arena, cinquentona, é hoje
uma senhora experiente. Sabe que não precisa botar para quebrar para
perpetuar os interesses das elites mais atrasadas do país.
A Arena é o cavalo de
troia presente no PMDB, no PSB, no PDT, no PPS. Difícil não
enxergar alguém da Arena escondidinho por aí, disfarçado de
democrata, em quase todos os partidos do país. Ou pelo menos
participando ativamente de governos desses partidos. A Arena tem um
nível intelectual superior ao do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) –
e nem sempre sua truculência explícita.
Ela está em dobradinha
de irmãos no Senado e na Câmara, com Jayme e Julio Campos. Ambos
ruralistas. O irmão de Jayme está sendo investigado desde o ano
passado, no STF, sob a acusação de assassinato. Leiam matéria do
site Congresso em Foco: “STF investiga deputado por duplo homicídio”.
Julio Campos é suspeito de ser o mandante das mortes do empresário Antônio Ribeiro Filho e do geólogo húngaro Nicolau Ladislau Ervin Haraly, em 2004, em São Paulo. Tudo para se apropriar de terras com pedras preciosas. Mas quem fala disso na imprensa brasileira? Melhor falar de uma estudante irrelevante, não é mesmo? Ou do mensalão.
Foi também Julio
Campos também quem chamou o ministro Joaquim Barbosa de “aquele
moreno escuro”. “Ah, o STF”, suspirará alguém. “O STF é
uma prova de que aqueles tempos foram superados”. Mas será mesmo?
Um dos colegas de Barbosa no STF, Marco Aurélio Mello, tem repetido
que o golpe de 1964 foi um “mal necessário”.
Vamos repetir: a Arena
não é uma estudante gaúcha de 23 anos. É uma senhora cinquentona,
representante de famílias que dominam o país há 500 anos. Possui
muitos descendentes e muitos amigos – que, em muitos casos, acabam
sendo convencidos de que as ideias dela estão certas.
A Arena – a original
– não está para brincadeiras. Ela é uma amostra vigente das
práticas políticas reinantes no país: ruralistas,
patrimonialistas, cínicas, violentas.
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