sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A Arena nunca morreu – e está instalada na presidência do Senado

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

A velha Arena tem um bigode farto, pintado de acaju. E exerce um dos cargos mais importantes da República, a presidência do Senado. Está muito longe de ter morrido – apenas metamorfoseou-se, invadiu outros partidos e segue exercendo seu poder político.

Essa é a notícia principal sobre o partido oficial do último regime militar. E não a criação de um partido sem representatividade por uma estudante gaúcha – aquela que é contra cotas e quaisquer privilégios, mas é bolsista do ProUni.

A velha Arena está instalada no Ministério das Minas e Energia. É uma extensão do poder daquele vasto bigode acaju: orbita em torno de José Sarney o poder do ministro Edison Lobão. Deputado federal pela Arena durante a ditadura, um dos que migraram para o PFL, seguindo o vice de Tancredo Neves. Hoje, como seu padrinho, está no PMDB.

Lobão e Sarney são poderosos. O poder do segundo é mais conhecido. O do primeiro, não. Mas ele foi ministro das Minas e Energia também durante o governo Lula, entre janeiro de 2008 e março de 2010. Entende do tema? Não, é um jornalista. Está lá para perpetuar os interesses de seu grupo político. Durante a Constituinte, não foi um deputado qualquer: foi decisivo, em comissão, para barrar uma verdadeira reforma agrária no Brasil.

Esqueçam de Cibele Baginski, portanto. A gaúcha da falsa Arena. A Arena verdadeira existe, está aí para quem quiser ver. Falemos do poder de Sarney, do poder de Lobão.

A Arena também esteve no palanque de Fernando Haddad, em São Paulo, na figura constrangedora do deputado Paulo Maluf (PP-SP). Mas ela não se perpetua somente parasitando o PT. Em São Paulo, faz isso também com os tucanos. A Arena é da base da petista Dilma Roussseff e da base do tucano Geraldo Alckmin.

A Arena não tem pudores. Ela apoiava um regime assassino e desastrado – fiador de um projeto monstruoso de colonização, por exemplo, que turbina até hoje os conflitos no campo no Brasil. A Arena, cinquentona, é hoje uma senhora experiente. Sabe que não precisa botar para quebrar para perpetuar os interesses das elites mais atrasadas do país.

A Arena é o cavalo de troia presente no PMDB, no PSB, no PDT, no PPS. Difícil não enxergar alguém da Arena escondidinho por aí, disfarçado de democrata, em quase todos os partidos do país. Ou pelo menos participando ativamente de governos desses partidos. A Arena tem um nível intelectual superior ao do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) – e nem sempre sua truculência explícita.

Ela está em dobradinha de irmãos no Senado e na Câmara, com Jayme e Julio Campos. Ambos ruralistas. O irmão de Jayme está sendo investigado desde o ano passado, no STF, sob a acusação de assassinato. Leiam matéria do site Congresso em Foco: “STF investiga deputado por duplo homicídio”.

Julio Campos é suspeito de ser o mandante das mortes do empresário Antônio Ribeiro Filho e do geólogo húngaro Nicolau Ladislau Ervin Haraly, em 2004, em São Paulo. Tudo para se apropriar de terras com pedras preciosas. Mas quem fala disso na imprensa brasileira? Melhor falar de uma estudante irrelevante, não é mesmo? Ou do mensalão.

Foi também Julio Campos também quem chamou o ministro Joaquim Barbosa de “aquele moreno escuro”. “Ah, o STF”, suspirará alguém. “O STF é uma prova de que aqueles tempos foram superados”. Mas será mesmo? Um dos colegas de Barbosa no STF, Marco Aurélio Mello, tem repetido que o golpe de 1964 foi um “mal necessário”. 


Vamos repetir: a Arena não é uma estudante gaúcha de 23 anos. É uma senhora cinquentona, representante de famílias que dominam o país há 500 anos. Possui muitos descendentes e muitos amigos – que, em muitos casos, acabam sendo convencidos de que as ideias dela estão certas.

A Arena – a original – não está para brincadeiras. Ela é uma amostra vigente das práticas políticas reinantes no país: ruralistas, patrimonialistas, cínicas, violentas.

TWITTER:
NO FACEBOOK:

Nenhum comentário: