segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Universalização do saneamento, no Brasil, só em 2122. Quem liga?

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

O jornal Valor Econômico informa, em repercussão aos debates do 3º Encontro de Saneamento Básico, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na quarta-feira, dia 9 de outubro:

- Mantido o ritmo atual de investimentos, que chegam por ano a 0,2% do PIB, um terço dos 0,6% necessários, a universalização só seria atingida no próximo século, em 2122, quase 90 anos além do prazo estabelecido.

Não, não há um erro de digitação. É 2122 mesmo, e não 2022. Daqui a 109 anos, portanto.

Não se trata do único atraso: o jornal deu a notícia somente nesta segunda-feira, dia 14. Cinco dias após a divulgação dos números.

Elas não motivaram uma manchete do jornal. Do tipo: “Brasil só terá saneamento universal em 2122”. A informação é dada com discrição, em um dos textos de especial sobre saneamento. Sem que o dado mereça o título – reservado a algo sobre “choque de gestão”.

Desta forma não se gera indignação, portanto. Saneamento universal só em 2122? Ah, logo ali. Um assunto para a indignação dos bisnetos do Gigante Adormecido.

Note-se que quem está dizendo tudo isso é a Fiesp. E não uma fonte de esquerda. Um dos diretores da Federação das Indústrias conta que também estamos em nono lugar no ranking dos países com menos banheiros no planeta. (Sim, isso mesmo. Só oito países têm piores índices que os nossos em relação à  existência de banheiros.)

Conclui-se, portanto, que, se a Fiesp está dizendo isso, é sinal de que a esquerda ocupará os plenários da Câmara e do Senado com discursos ainda mais enfáticos. Militantes de partidos da oposição dirão que essa situação é intolerável. Uma comoção e movimentos de solidariedade tomarão conta do país.

Iniciativas assistencialistas, mobilizações religiosas em torno da caridade, financiamento coletivo. A Rede Globo deve estar inquieta; os black blocs, furiosos.


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