“PM me escolheu porque eu era o único negro”, diz estudante agredido na USP
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Órfão de pai desde os 15 anos, Nicolas Menezes Barreto sabe bem o que é trabalhar. É músico e professor da rede municipal de ensino, na zona leste – em condição provisória, pois ainda não é formado. Ele prestou Música, mas entrou na segunda opção no vestibular da Fuvest. Cursa Ciências da Natureza na EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), na USP-Leste.
Nicolas foi agredido por um sargento da PM, nesta segunda-feira, durante a desocupação da antiga sede do DCE Livre, o DCE ocupado – a alguns metros da sede da reitoria da USP. “Eu era o único negro lá, com dread”, disse ele ao blog Outro Brasil, por telefone, no fim da tarde.
A palavra dread remete ao estilo de cabelo rastafari. “Sem dúvida foi racismo. Ele foi falar comigo porque pensou que eu não era um estudante, e sim um traficante, algo assim. Tanto que se surpreendeu quando viu que eu era estudante”.
Ele conta que um guarda universitário ajudou o PM a segurá-lo, durante a agressão – naquele momento as imagens aparecem um pouco mais distantes no vídeo. Sobre o sargento que o agrediu, ele afirma: “O cara estava virado no capeta, não sei o que acontece. Tem de pagar as contas também, né. Mas não aceito.”
Nicolas diz que é conhecido dos guardas universitários. Até por ter sido um dos 73 estudantes presos durante a desocupação da reitoria, no início de novembro.
- Agora estou aqui, na endorfina, na adrenalina, tentando me livrar desse susto. Tive algumas escoriações, arranhões, cortes na mão. Mas fiquei com medo de ir à delegacia sozinho. Como tem o vídeo vou fazer depois o exame de corpo de delito. Estou esperando o advogado para ir fazer o boletim de ocorrência.
O estudante conta que não falou nada demais na hora em que o policial avança em sua direção. “Quando eu falo no vídeo, com o punho da mão fechado, estava dizendo que nós estávamos cuidando do espaço e que não precisávamos da reforma da reitoria. Ele não entendeu isso e veio pra cima de mim”.
O sargento pediu o documento e Nicolas disse que sua palavra bastava. “Aí ele me puxou da bancada”, confirmando o que se vê e ouve no vídeo veiculado pela internet. “Tentei me defender para não tomar um tapa na cara – ou um tiro na barriga, pois ele me apontou a arma”.
Nicolas fala com orgulho de seu projeto como músico, a banda BRs. O símbolo da banda tem um quadradinho antes do “s”. Ele conta que sua mãe insiste, diante das dificuldades, para ele priorizar o trabalho – pois a família depende de sua renda. Mesmo assim ele tenta conciliar tudo. “Minha mãe sabe da minha luta”.
O estudante atendeu a reportagem agitado, mesmo depois de uma noite sem sono – os estudantes ficaram em vigília nas últimas noites, por conta da ameaça de nova desocupação do espaço.
Antes de desligar o telefone, ainda falou do momento "sinistro" que vivem os alunos da USP durante a gestão de João Grandino Rodas. E se declarou preocupado com a cobertura da mídia. Já sabe que alguns veículos o definiram como “suposto” estudante. “Às vezes o repórter está bem intencionado, mas não sabemos como vai ser a edição”.
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20 comentários:
Meu caro Alceu,
se vc fizer um bom artigo sobre a crise na USP, dando uma visão global do assunto, o "sujeito muito teimoso" aqui terá o máximo prazer em públicar e divulgar nos seus espaços.
Como entro pouco no Facebook, por favor, responda-me por e-mail: lungaretti@gmail.com
Um abração!
salve, Lungaretti,
você que bem conhece as violências policiais (e o heroísmo da resistência), é uma honra tê-lo por aqui.
Enviei a resposta por email!
abração,
Alceu Castilho
Boa reportagem, Alceu. abs
Bom dia Alceu, bem escrito o post, porém me pareceu um tanto tendencioso e em minha opinião a frase : "Minha palavra basta!" não sei porque mas ultimamente estudantes da USP estão sentindo-se acima de tudo, pensei comigo, custava algo ele mostrar a carteirinha e provar que estudante? Tinha que causar polêmica? Não defendo a atitude do policial, mas ele como estudante deveria ser um pouco mais coerente (não sei se a palavra certa) em sua atitude... Ninguém está acima da lei, estudante da USP ou policial.
Alan, acredito eu, uma vez q tbm já participei de manifestações e ocupações nos tempos de faculdade, que uma das intenções era justamente desafiar o policial que estava nervoso, isso estando sempre dentro do seu direito e obrigação, visto que o espaço é público e ninguém precisa provar que estuda lá, e desta forma expor o policial a uma situação de ridículo, já que tudo estava sendo filmado... o que vcs acham?
Glauco, concordo com o fato de o espaço ser público, antigamente podia se ter um ideal realmente político, afim de melhorar, como você mesmo disse, se o polcial estava nervoso e ele não tinha nada a temer, por que não se identificar? Depois vem dizer que o fato gerador de tudo era ele ser negro, sou negro também, morador de periferia e já fui parado pela policia, sim estava no meu direito me identifiquei e cada um seguiu seu caminho,o policial foi até educado, muitos reclamam do policiamento mas esses mesmo a chamam quando algo acontece e se esquecem que um estudante da USP foi morto em frente ao seu carro blindado na faculdade, será que não é hora de deixarem de ser rebeldes e serem um pouco coerentes, mais adultos? Muitos confundem liberdade com libertinagem rsrs, deixo bem claro que não defendo nenhum dos lados, não acho os estudantes heróis e nem os policiais vilões
Não posso concordar com você Alan, pois se era para exigir identificação teria que ser de todos e não só do aluno negro. Foi uma atitude racista, que, no mínimo, deve ser repudiada.
João Carvalho
Um fato relevante que está sendo ocultado, é que a vítima parece ter feito alguma gracinha com os braços antes de ser intimado pelo policial, o que acredito ser algum ato de provocação e/ou desacato.. ??
a polícia não denunciou Nicolas por desacato - nem por nada. Não houve infração.
Acabo de apagar outro post que fazia acusações a Nicolas (obviamente sem conhecê-lo, sob o conforto da internet).
Há espaço para opiniões conservadoras - desde que respeitem os direitos humanos elementares. Não permitirei esse tipo de irresponsabilidade no blog.
Então a última lição agora dos "estudantes" da USP é: se tiver um lugar público, simplesmente pode invadir e morar, mesmo se a admininstração daquele lugar disser que obras são necessárias ali.... ah também: se um policial pedir para vc se identificar (depois de vc ser desreipeitoso com a autoridade pública que até aquele momento estava sendo educada) simplesmente diga: "Não tenho identidade e minha palavra basta!" e pronto.
Ah tá bom.
O duro, é depois que um policial pai de família ainda ser politicamente punido por causa de ter reagido a um desaforo de um <-TRECHO EXCLUIDO PELA CENSURA DO NÃO-CONSERVADOR MODERADOR-> destes, ainda tem os pilotos de internet em cadeira-confortavel no ar-condicionado apontando mil atos de racismo, política e outras fábulas. Infelizmente essa é a cara das universidades públicas no Brasil. Um bando de mauricinhos e patricinhas mimados, literalmente fumando o dinheiro público, batendo o pezinho, fazendo beicinho, usando "dreads" e dizendo que tem consciencia política. Brabo é ver quem ainda vai se ferrar por causa disso, ainda apoiar essa m*&%# toda...
isso mesmo, Fenício. Absurdos como o que você escreveu duas vezes serão sistematicamente apagados. Pois não posso ser cúmplice de acusações infundadas (como era o caso) - ou de comentários que defendam crimes.
As opiniões que você emitiu estão aí, para a avaliação dos demais leitores.
att,
Alceu Castilho
Fica tranquilo Alceu, vc não será cumplice de acusações infundadas ou comentários que defendam crimes como por exemplo: desacato à autoridade, desrespeito, invasão de patrimônio público,etc.. - ainda que não denunciados formalmente - esses que vc está defendo no seu post entende? Pseudo liberais como vc que se dizem e se acham apoiadores da imprensa livre, liberdade de opinião, etc.. e criticam e censuram o que não lhe convem acabam sendo os instrumentos de desinformação mais eficazes e menos percebidos. Não é nada pessoal não. Acho até que vc deve ser boa pessoa e tal, mas totalmente equivocado. Sério, não sou conservador-óide não. É minha opinião. Respeito a sua. Lamento, mas respeito. Respeite a minha.
Fenício, sou estudante de uma universidade publica, a UNESP. E não sou nenhuma patricinha. Tudo que minha familia tem é fruto de muito suor... na epoca de meus pais, a 50 anos atrás, com 14 anos, aqueles que não eram "privilegiados", trabalhavam desde cedo... e estudavam a noite. Desde o dia em que ela começou a trabalhar, não ficou um dia sequer desempregada. Trabalhava de dia, estudava a noite... e depois ainda fez faculdade. Não tinha condições de deixar a casa dos pais e por isso fez uma universidade particular perto da nossa cidade. E tudo isso com muito esforço. Todos os dias ela repete que ainda trabalha pra poder me dar o que os pais dela não puderam dar a ela. Faço UNESP Araraquara, Ciências Sociais... e não, não sou hippie, não sou maconheira, não sou baderneira. Sou apenas uma estudante querendo ter um futuro melhor, estudando o que sempre gostei e tendo que responder tudo isso que acabei de te falar a cada vez que vejo a cara de algumas pessoas depois que sabem que faço Ciências Sociais. Julgar uma pessoa pela aparencia é tão antiquado, não acha? Esse pré-conceito que fazem, julgando pela cor da pele, pela cor do cabelo, pelo penteado que a pessoa usa e pelas roupas me parece uma coisa tão mesquinha e ultrapassada... Pena que não é isso que vemos acontecer todos os dias. Seja com universitários, seja com adultos, jovens... Não se pode vestir de acordo com o gosto próprio. Tem que se vestir de acordo com os padrões que a midia mostra, não é? Aí sim todos serão "normais"... e olha que "normal" pra mim não é a palavra certa, já pra sociedade... Normal é o que? Normal pra mim não é ter que abaixar a cabeça pra policia e mostrar a carteirinha para não apanhar, para não ser reprimido. E aqueles que não tem uma carteirinha para provar que são estudantes, como irão se defender? Normal pra mim são todas as pessoas... cada uma ao seu jeito. Se ela é hippie, tem dreads, isso mostra que ela é inferior a você? Dizem que as crianças são o futuro da nação, e não começaram a dizer isso ontem... me disseram que eu seria o futuro da nação. Eu e todos aqueles que poderiam fazer a diferença. Eu e todos aqueles que estão na luta pelo movimento estudantil, movimento este que não prega "o uso de maconha dentro da universidade sem ser repreendido". E o que é fazer a diferença pra você? Pra mim, hoje em dia, eu tento fazer a diferença estudando... tentei sempre fazer isso. Precisei de cursinho para entrar na UNESP e não tenho vergonha nenhuma de dizer isso. Fiz e passei. E muitos que estão lá dentro também fizeram cursinho e passaram. Muitos dependem da moradia estudantil, de bolsas de apoio ao estudante para se manter lá dentro. E isso prova que através da educação, qualquer um pode entrar numa universidade publica. Várias universidades tem "cursinhos comunitários" em que os próprios alunos são professores. Não acho justo esse julgamento que as pessoas que estão de fora fazem sem saber qual é a realidade das universidades publicas... assim como não acho certo tantas outras coisas. Não acho certo mas respeito. Porque se eu quero que me respeitem, devo respeitar os outros. Sendo ele o estudante que foi agredido ou o agressor.
E Alceu, meus parabéns pela coragem de postar isso no seu blog. Poucos são aqueles que assim o fazem. E essa coragem não deve ser apenas vista, deve ser comentada e parabenizada! Obrigada! Não podemos nos fazer de cegos diante de tantas coisas erradas...
grato, Nanda.
Espero que as pessoas acompanhem também outros casos. Pois esse do Nicolas está longe de ser algo isolado.
abraço,
Alceu Castilho
relendo o longo post da Nanda pincei esta frase que me parece importantíssima na discussão:
"E aqueles que não tem uma carteirinha para provar que são estudantes, como irão se defender?"
É isso aí meu caro colega!
Precisamos de informação coerente. Nossa principal ferramenta num mundo autoritário contra a diversidade.
Continue nessa jornada...
A repressão que hoje se manifesta na USP é só um espelho do que sempre acontece nos rincões de pobreza do mundo. Fábrica de marginais, submetidos pelos endinheirados que sugam suas almas para manterem seu status-cúo.
Abaixo a hegemonia da cerveja (que só tráz tristeza nas estradas) e do cigarro (que só traz sujeira e complicações na saúde pública).
Pela descriminalização da Cannabis!
Viva a Natureza!
Viva a Diversidade!
Obs. Quando puder, visite meu blog: http://popygua.blogspot.com
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