sábado, 10 de dezembro de 2011

No Terra Madre Day, um pouco sobre Ermanno Olmi

Hoje é o Terra Madre Day. Uma iniciativa do movimento Slow Food pela valorização do alimento local. Há 1.002 eventos pelo planeta (30 no Brasil, três em São Paulo) promovendo o alimento “bom, limpo e justo” – sem agrotóxicos, “bom para o paladar, limpo para as pessoas, animais e ambiente, e justo para produtores e consumidores”.

Aproveito o dia para falar do cineasta italiano Ermanno Olmi. Talvez quase tão pouco conhecido no Brasil quanto o Slow Food. Um dos maiores diretores de cinema vivos (ele nasceu em 1931), ele lançou em 2009 na Itália o documentário “Terra Madre”, que documenta o Fórum Mundial Terra Madre de 2006, realizado em Torino. Acho difícil que seja lançado no Brasil.

Olmi é o diretor de A Árvore dos Tamancos (1978). Um clássico, Palma de Ouro em Cannes. Aliás, não só diretor. Como Pier Paolo Pasolini, ele também operou e montou seus filmes. Como Pasolini, é um humanista – e fez uma opção pelos excluídos.  A Árvore dos Tamancos retrata a vida de camponeses na virada para o século XX. Todos os atores são camponeses de Bergamo, sem experiência com cinema.

Mas voltemos ao Terra Madre. O filme de Olmi já é uma referência sobre o tema e pode ser utilizado (caso alguém faça as legendas em português) em discussões não só sobre alimentação, mas sobre o mundo em que vivemos. O sistema alimentar é essencial para se pensar as estruturas sociais e econômicas.

Não à toa, uma das histórias marcantes é a de um homem que decidiu viver sozinho em sua casa, numa cultura de subsistência, sem carro, telefone, luz. Por mais de 40 anos plantava os alimentos e fazia os próprios móveis com a madeira do quintal, em San Cipriano. Algo impossível de se replicar em grande escala, mas altamente simbólico como questionamento da sociedade de consumo.

Outra história central no documentário de Olmi é a da ativista indiana Vandana Shiva, vencedora, em 1993, de uma espécie de Nobel da Paz alternativo, o Right Livelihood Award. Formada em Física e referência no movimento por outra globalização, ela tem dois livros publicados no Brasil, um sobre biopirataria, outro sobre guerras por água. Em seu centro de pesquisa em Nova Deli ela reúne sementes ameaçadas – questionando a privatização das sementes feita pelas grandes corporações.

Com foco no resgate das sementes, Olmi retrata com sensibilidade o cotidiano dessas indianas que, quase como o ermitão de Torino, lutam contra a corrente. A multiplicação da produção de sementes (sem a mão das empresas) visa também combater a fome – em um país de mais de 1 bilhão de habitantes. Resgata as tradições e as culturas locais (como, aliás, propõem o Slow Food e o Terra Madre) e estimula a autonomia.

“É uma poesia que nos fala de uma nova política, de um novo humanismo, agora que o sistema dominante dá sinais importantes de declínio”, disse sobre o filme o criador do Slow Food, Carlo Petrini. “A mensagem é de extrema atualidade: voltar a ter memória, porque sem memória não há futuro e sem senso de limite a terra-mãe se rebela. Este filme é poesia e ao mesmo tempo reflexão; quem sabe, esperança”.

Para saber mais sobre o Slow Food, vale seguir o perfil do movimento no Twitter (@slowfoodbrasil) ou no Facebook: Slow Food Brasil.

Sobre o documentário “Terra Madre”, de Ermanno Olmi, confira o trailer (em italiano, trechos em inglês):



OLMI POR OLMI

A leitora e amiga (aficionada por cinema italiano) Gioconda Gigghi leu este texto e recomendou entrevista do próprio Ermanno Olmi sobre o filme:





Traduzi um trecho do início da entrevista (antes dos primeiros aplausos da plateia), onde ele responde por que aceitou fazer o filme:

“Minha cumplicidade com terra, minha amizade com a terra começou quando eu era criança. Percebi a responsabilidade de voltar minha atenção a esta relação que temos hoje com a terra. Chegamos a um ponto que precisamos decidir o que fazer com esta nossa mãe. Esta mãe sempre manteve suas promessas; nós, como filhos, não mantivemos. Quase refutamos sua presença carinhosa e amorosa. Mas sobre a terra disseram muitas mentiras. Agora é o momento de saber a verdade”.

Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

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2 comentários:

Dentro da Bota disse...

Realmente Alceu, o "Terra Madre" do Olmi precisa ser visto!
Ótima dica!

Cari saluti

Gioconda

Alceu Castilho, jornalista. disse...

salve, Gioconda!

A dica da Gioconda, por sinal, é uma entrevista com o próprio Ermanno Olmi sobre o filme:

http://www.youtube.com/watch?v=abia6qbe1gQ