por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Adio o último post da série (uma tentativa de conclusão) para notícias extraordinárias. É que o tema Belo Monte tornou-se, nos últimos dias, onipresente na internet. É uma espécie de “jornal instantâneo”, paralelo aos demais fatos – e praticamente concorrendo com as notícias do Código Florestal, em temperatura alta. Virou quase um trabalho de Sísifo tentar dar conta do que está sendo divulgado nas redes sociais.
A notícia mais interessante, nesta quarta-feira, foi a divulgação do vídeo feito por jovens da Amazônia contrários à usina. É uma resposta ao vídeo feito pelos estudantes de Engenharia da Unicamp, “Tempestade em Copo D’Água” – que, por sua vez, rebatia aquele feito pelos atores globais (como vimos na parte II da série).
O que há de tão especial na realização desse vídeo? No
Twitter, a jornalista @verenaglass comemorou: “Grandioso!”. Outras reações
foram vibrantes, superlativas. Como se todos os contrários à usina tivessemos
feito um gol.
De fato. É que, em todos os relatos que citei até agora, tratavam-se de pessoas de fora daquela região. Claro, o conceito de “região” estará sempre em disputa na Geografia, e Belém ainda não é Altamira, mas só a diversidade étnica (negros e indígenas, além de brancos) protagonizarem o vídeo já justificaria sua elaboração. É o mundo dos “igarapés”, e não dos “rios” - um abismo em relação à cultura do Sul Maravilha.
Não que o apoio dos ativistas do Sul não seja bem-vindo. A articulação para se viabilizar o filme “Belo Monte – Anúncio de uma Guerra”, como vimos na parte IV, ilustra perfeitamente as possibilidades (internacionais) de divulgação do que está acontecendo no Pará.
É o Pará o Estado da matança de camponeses. Do trabalho escravo. Do desmatamento. Do gado substituindo a floresta em São Félix do Xingu. É ao Pará (Estado que pode em breve ser dividido em três) que o “jornal instantâneo de Belo Monte” deve voltar suas atenções, neste instante.
Até por um motivo muito simples: como o jornalista e blogueiro Altino Machado insiste em seu blog (hoje pendurado no portal Terra), a grande mídia não mantém correspondentes na Amazônia. À exceção de Altino (em Rio Branco) e de Lúcio Flávio Pinto (em Belém), são poucas as vozes locais capazes de reverberar o que dizem as populações locais – e olhem que Altino faz questão de dizer que entende de Acre, não de Amazônia...
O Brasil não é coberto pela grande imprensa. A velha piada de que “o Acre não existe” poderia valer para a Amazônia inteira - se pensarmos em termos midiáticos. Aquela paranoia em relação à retirada da Amazônia do mapa do Brasil pelos americanos ilustra à perfeição o que acontece: esse seria o mapa do País conforme visto pelos seus principais meios de comunicação – sem a Amazônia.
Por isso comemoramos o chute certeiro dos estudantes de Belém. Não porque o vídeo traga grandes novidades, ou tenha altíssimo nível técnico - é até mais discursivo que informativo. Mas por ampliar o leque de vozes; por lembrar mais visivelmente que Altamira existe, Belo Monte existe, os povos da Amazônia existem e gritam que não querem a usina. E a opinião pública quer saber disso, sim – à revelia do olhar imposto por quem detém o poder.
***
E a velocidade está mesmo altíssima em relação a Belo Monte na internet. Ainda ontem começou a ser divulgado outro vídeo em resposta aos engenheiros da Unicamp, chamado “O Belo Monstro e o Belo Castelo”, feito por Gabriel de Barcelos. É muito bem feito. Dá voz às comunidades e lembra que pelo menos um ativista contra a usina – Ademir Federicci, o Dema – foi assassinado, em 2001. Vale reservar 15 minutos para vê-lo:
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2 comentários:
Muito bom o texto Alceu! E concordo totalmente que é FANTÁSTICO ver/ouvir/ler os moradores da região amazônica se manifestando, ver/ouvir/ler pessoas de um outro contexto social se colocando, ver uma diversidade maior.
Aproveito para indicar este link, que tem MUITAS referências (MUITAS mesmo):
http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2011/11/24/bibliografia-comentada-50-leituras-sobre-o-ecocidio-de-belo-monte-1%C2%AA-parte/
E para perguntar se você tem (ou sabe aonde tem) o relatório (crítico) de análise do EIA/RIMA de Belo Monte, que o Prof. Célio Bermann coordenou, junto de outros 40 especialistas.
Abraços,
olá. Não tenho o relatório, talvez algum leitor possa ajudar o DiRaOL.
abs,
Alceu Castilho
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