Ela tem um filho de 2 meses; foi expulsa da USP e da moradia
Amanda e Salvio conheceram-se no movimento estudantil. Ambos
estudam Filosofia na Universidade de São Paulo e moram no Crusp (Conjunto
Residencial da USP). No dia 24 de outubro, nasceu o primeiro filho do casal.
Dois dias depois, ela recebeu uma carta, da Coordenadoria de Assistência Social
(Coseas) da universidade: informando que não poderia continuar na moradia.
Quase dois meses depois, na última sexta-feira, nova informação: Amanda está
entre os seis expulsos pelo reitor João Grandino Rodas.
Com um filho no colo, entre uma e outra amamentação, ela
tenta ainda assimilar o que está acontecendo. “Decidi não me estressar
pessoalmente, por causa do meu filho”, disse ontem ao blog, logo após um ato
dos estudantes contra as expulsões, em frente da reitoria. “Até para continuar
no movimento estudantil, dando de mamar. Agora me vejo em duas frentes de luta –
no movimento e com meu filho”.
Amanda Freire é uma das três estudantes expulsas, a uma
semana do Natal, ao lado de Jéssica Trinca (da Letras) e Aline Camoles (Artes
Cênicas). A lista é completada por Bruno Belém (Artes Plásticas), Marcus Dunne
(Letras) e Yves Souzedo (Geografia). Eles foram acusados de ocupar o espaço do Serviço Social
da Divisão de Promoção Social da Coseas, no bloco G. O decreto da reitoria fala
em “eliminação do corpo discente” – eles não podem mais voltar à universidade
nem nela trabalhar. Cabe recurso, que deve ser movido ainda hoje pelos
advogados.
“Recebi a notícia de que não poderia ficar na moradia das
mãos de um agente de segurança da USP, dois dias após o nascimento do meu filho”,
conta Amanda, de 29 anos. Era uma carta da Coordenadoria de Assistência Social. “Normalmente
nos chamam para conversar na Coseas, desta vez mandaram um agente, sem
privacidade. Mandaram as mesmas pessoas que nos vigiam e perseguem, com uma
carta praticamente aberta, num plastiquinho”. Ele disse apenas uma frase: “Assine
aqui”.
Salvio observa que a
Assistência Social da USP deveria prever um tratamento melhor a uma mãe. “É uma
contradição, justo na maior universidade pública do Brasil”. Ele demonstra uma
serenidade em relação aos últimos acontecimentos. Amanda fez um discurso
indignado, contra o que considera um “cerco” do PSDB na universidade, e estava
particularmente azarada – recebeu duas picadas de formiga no pé, enquanto dava
a entrevista, e teve de entregar o bebê ao companheiro diante da dor. “Se a
polícia está batendo aqui, imagina lá fora”, discursou.
Em entrevista à Folha, publicada nesta terça-feira, Amanda afirma que nem estava na ocupação do espaço da Coseas. E que seu nome foi incluído por questões políticas.
Em entrevista à Folha, publicada nesta terça-feira, Amanda afirma que nem estava na ocupação do espaço da Coseas. E que seu nome foi incluído por questões políticas.
A família dela é de São Mateus, na zona leste de São Paulo. Ela teve dificuldade de
tocar o curso nos dois primeiros anos, diante da distância. Só então conseguiu
uma vaga no Crusp. Ela e Aline foram diretoras da Amorcrusp, a Associação dos
Moradores do Conjunto Residencial, em uma gestão de esquerda. A ocupação da
atual Moradia Retomada, em março de 2010, foi o episódio que deu origem aos
processos que culminaram em sua “eliminação” da USP.
“Não somos só os seis expulsos, somos os 73 presos durante a
desocupação da reitoria (Aline e Jéssica também estavam entre os 73), somos os
outros 20 que estão sofrendo processos”, diz Amanda. “É tudo a mesma coisa. Tudo
parte do mesmo processo de criminalização da política na universidade. Estamos
indo mais para a delegacia do que para a sala de aula”.
Em
seu discurso durante o ato, Amanda criticou a entrada da polícia no
campus "para proteger os bens dos ricos". "Os carross na FEA (Faculdade
de Economia) serão protegidos. Não precisam mais de alarme. A PM está na
USP como segurança particular de burguês". Ao contrário de outros
colegas (punidos por expulsões ou presos durante a desocupação da
reitoria), Amanda não integra nenhuma facção política. "Temos de acabar
com a universidade burguesa e elitista".
A
este blog, mais calma, ironizou as punições: "Veja o perigo que
oferecemos à universidade: uma mãe com seu filho. Eles temem a
proliferação dos revolucionários?"
Ela
disse que o termo “eliminação”
- utilizado no decreto do reitor que determinou as expulsões - foi
utilizado na legislação da USP de 1972 em um contexto de ditadura.
Segundo ela, significava mais do que expulsão. “Eliminação era te
colocar no porão e nunca
mais ser visto”.
2 comentários:
Quem merece ser expulso é a besta do João Grandino Rodas!!! Deve ter galgado postos graças a amizades suspeitas; não pela competência administrativa, que por sinal é nota ZERO!!!
Sou estudante de jornalismo em Ribeirao Preto e estou participando do premio Jovem Jornalista, promovido pelo Instituo Wladimir Herzog. O tema é "As comissões da verdade no Brasil". A primeira fase é produzir uma pauta sozinho, em dupla ou em trio.
Em uma pesquisa, meu grupo descobriu o seu caso, em uma reportagem na Carta Capital falando sobre o Yves, outro aluno expulso e resolvemos pautar a Comissao da Verdade da Usp. Gostaríamos de ter mais contato com você para ver o que tem anos dizer, pois a segunda fase é produzir uma reportagem. Caso dê certo, me mande um e mail...souza.viniciusalves@gmail.com
Obrigado!
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