A batalha (virtual) de Belo Monte – parte I
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
O que faz alguém definir sua opinião – ou mudar de ideia - sobre Belo Monte? Razão ou emoção? E por que o espaço virtual tornou-se o espaço por excelência da discussão sobre a usina?
A arena de debates na internet está posta. São vídeos com celebridades, estudantes ou autoridades acadêmicas, listas de “verdades e mentiras”, ou de “50 razões contra Belo Monte”, e assim por diante. As redes sociais trazem opiniões veementes sobre o tema, como se fosse um clássico entre Palmeiras x Corinthians. Um Fla x Flu.
Vamos ver aqui alguns exemplos dessa batalha virtual. E discutir a eficácia – ou ao menos a popularidade – de cada tipo de abordagem. Posto abaixo os links e os endereços do Twitter de cada um dos debatores.
"PENSO, PORTANTO ARGUMENTO"
Classifiquemos um primeiro tipo de debate como racional. Ou aquele dos “argumentos exaustivos”. A linha adotada não é aquela da isenção, dos “prós e contras”, da tentativa de equilíbrio entre opiniões contrárias – recurso mais típico da grande imprensa.
Aqui, cada articulista assume explicitamente um lado e adota a estratégia de vencer o leitor com uma demonstração racional da inviabilidade (ou a viabilidade, necessidade) da usina. Mas há nuances nessa história. Vejamos:
-> o professor de literatura Idelber Avelar (@iavelar), da revista Forum, faz um grande esforço de síntese em uma “bibliografia comentada”, em 50 itens. A posição dele é contrária à construção da usina. A tal ponto que ele chama o resumo de “50 leituras sobre o ecocídio de Belo Monte”. Em meio às argumentações, a metáfora do “ecocídio” associa a palavra homicídio à devastação da floresta.
-> uma leitora contestou a unilateralidade do artigo de Avelar. E remeteu ao Blog do Alê, uma tentativa de desmontar o que considera “inverdades” sobre o tema. Porto diz no título: "Eu não assino petições contra Belo Monte". E faz campanha no Twitter (@aleportoblog) contra isso – divulgando o endereço do próprio artigo. Ele considera os argumentos contrários à usina "protelatórios", que constituem uma "tática de guerrilha" contra o projeto.
Essa oposição entre “mentiras” e “verdades” é uma das marcas do debate na internet.
-> no Correio da Cidadania, o professor Oswaldo Sevá (@oswaldoseva) enumerou em seis itens o que seria um “Belo Monte de mentiras”. O segundo item desdobra-se em cinco subitens – igualmente desconstrutivos. “Trinta anos de manobras estranhas, omissão de informações cruciais e algumas mentiras grossas”, resume o acadêmico, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.
-> no blog de Luis Nassif, o articulista Fábio Bittencourt questiona os acadêmicos contrários a Belo Monte. E elabora um “dossiê a favor”. Como ele associa a campanha contra Belo Monte às esquerdas, o articulista chega a invocar Lênin (!) para defender a construção da usina.
-> o jornal digital Brasil 247 também respondeu ao vídeo dos artistas globais sobre Belo Monte na linha de expor “mentiras”. Seriam “quatro mentiras fundamentais”, diz a publicação. O vídeo é desqualificado como um "teatro".
-> a página do Instituto Socioambiental - contrário à usina - traz um belo histórico de Belo Monte e de notícias que saíram sobre o projeto, desde 1997. Em 2003, por exemplo, o jornalista Washington Novaes avisava que "cautela e caldo de galinha" não fazem mal a ninguém.
Novaes lembra, nesse artigo publicado originalmente no Estadão, que o antigo nome da usina era de Kararaô. Mas foi posto de lado "depois que, em 1989, para protestar contra a sua construção, a índia caiapó Tuíra encostou um facão no pescoço de um diretor da Eletronorte".
PARA ALÉM DOS ARGUMENTOS
Vale observar que, em meio a esse debate, há muitos articulistas que fazem afirmações na linha do “porque sim”, ou do “porque não” – sem maiores preocupações com a fundamentação técnica. Ou política. Ou com a história. Da região, do Brasil, da nossa política energética.
Uma dessas posições mais apaixonadas vem do jornalista Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada. Para ele, toda a campanha contra a usina vem do que ele chama de PIG – Partido da Imprensa Golpista. É uma espécie de paranoia, segundo a qual quase toda crítica aos governos petistas seria "golpista".
Mas bastaria citar o apoio da revista Veja (um símbolo da direita brasileira) ao projeto para desmontar a tese de Amorim - um governista empedernido - e mostrar que o debate é mais complicado. Curioso é que ele diz que Belo Monte vai sair, “queira o PIG ou não”. Só falta bater o pezinho.
Não pretendo aqui esgotar as listas de argumentos. Os leitores estão convidados a sugerir, nos comentários, outras tentativas de síntese – contra e a favor de Belo Monte. Mas insisto na necessidade de exposição de artigos que tragam de fato argumentos, fatos, dados – e não apenas defesas apriorísticas.
Falarei especificamente dos vídeos mais tarde, ainda hoje. Eles são o assunto do próximo post. Tornaram-se centrais no debate, com mais visibilidade que os artigos. Nesses vídeos, artistas globais, acadêmicos e anônimos disputam também com emoção (e recursos teatrais ou cinematográficos) a opinião pública.
É como se saíssemos da sisudez dos jornais impressos (ou da academia) e entrássemos diretamente no Fla x Flu.
LEIA MAIS:
A batalha (virtual) de Belo Monte - parte II
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
O que faz alguém definir sua opinião – ou mudar de ideia - sobre Belo Monte? Razão ou emoção? E por que o espaço virtual tornou-se o espaço por excelência da discussão sobre a usina?
A arena de debates na internet está posta. São vídeos com celebridades, estudantes ou autoridades acadêmicas, listas de “verdades e mentiras”, ou de “50 razões contra Belo Monte”, e assim por diante. As redes sociais trazem opiniões veementes sobre o tema, como se fosse um clássico entre Palmeiras x Corinthians. Um Fla x Flu.
Vamos ver aqui alguns exemplos dessa batalha virtual. E discutir a eficácia – ou ao menos a popularidade – de cada tipo de abordagem. Posto abaixo os links e os endereços do Twitter de cada um dos debatores.
"PENSO, PORTANTO ARGUMENTO"
Classifiquemos um primeiro tipo de debate como racional. Ou aquele dos “argumentos exaustivos”. A linha adotada não é aquela da isenção, dos “prós e contras”, da tentativa de equilíbrio entre opiniões contrárias – recurso mais típico da grande imprensa.
Aqui, cada articulista assume explicitamente um lado e adota a estratégia de vencer o leitor com uma demonstração racional da inviabilidade (ou a viabilidade, necessidade) da usina. Mas há nuances nessa história. Vejamos:
-> o professor de literatura Idelber Avelar (@iavelar), da revista Forum, faz um grande esforço de síntese em uma “bibliografia comentada”, em 50 itens. A posição dele é contrária à construção da usina. A tal ponto que ele chama o resumo de “50 leituras sobre o ecocídio de Belo Monte”. Em meio às argumentações, a metáfora do “ecocídio” associa a palavra homicídio à devastação da floresta.
-> uma leitora contestou a unilateralidade do artigo de Avelar. E remeteu ao Blog do Alê, uma tentativa de desmontar o que considera “inverdades” sobre o tema. Porto diz no título: "Eu não assino petições contra Belo Monte". E faz campanha no Twitter (@aleportoblog) contra isso – divulgando o endereço do próprio artigo. Ele considera os argumentos contrários à usina "protelatórios", que constituem uma "tática de guerrilha" contra o projeto.
Essa oposição entre “mentiras” e “verdades” é uma das marcas do debate na internet.
-> no Correio da Cidadania, o professor Oswaldo Sevá (@oswaldoseva) enumerou em seis itens o que seria um “Belo Monte de mentiras”. O segundo item desdobra-se em cinco subitens – igualmente desconstrutivos. “Trinta anos de manobras estranhas, omissão de informações cruciais e algumas mentiras grossas”, resume o acadêmico, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.
-> no blog de Luis Nassif, o articulista Fábio Bittencourt questiona os acadêmicos contrários a Belo Monte. E elabora um “dossiê a favor”. Como ele associa a campanha contra Belo Monte às esquerdas, o articulista chega a invocar Lênin (!) para defender a construção da usina.
-> o jornal digital Brasil 247 também respondeu ao vídeo dos artistas globais sobre Belo Monte na linha de expor “mentiras”. Seriam “quatro mentiras fundamentais”, diz a publicação. O vídeo é desqualificado como um "teatro".
-> a página do Instituto Socioambiental - contrário à usina - traz um belo histórico de Belo Monte e de notícias que saíram sobre o projeto, desde 1997. Em 2003, por exemplo, o jornalista Washington Novaes avisava que "cautela e caldo de galinha" não fazem mal a ninguém.
Novaes lembra, nesse artigo publicado originalmente no Estadão, que o antigo nome da usina era de Kararaô. Mas foi posto de lado "depois que, em 1989, para protestar contra a sua construção, a índia caiapó Tuíra encostou um facão no pescoço de um diretor da Eletronorte".
PARA ALÉM DOS ARGUMENTOS
Vale observar que, em meio a esse debate, há muitos articulistas que fazem afirmações na linha do “porque sim”, ou do “porque não” – sem maiores preocupações com a fundamentação técnica. Ou política. Ou com a história. Da região, do Brasil, da nossa política energética.
Uma dessas posições mais apaixonadas vem do jornalista Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada. Para ele, toda a campanha contra a usina vem do que ele chama de PIG – Partido da Imprensa Golpista. É uma espécie de paranoia, segundo a qual quase toda crítica aos governos petistas seria "golpista".
Mas bastaria citar o apoio da revista Veja (um símbolo da direita brasileira) ao projeto para desmontar a tese de Amorim - um governista empedernido - e mostrar que o debate é mais complicado. Curioso é que ele diz que Belo Monte vai sair, “queira o PIG ou não”. Só falta bater o pezinho.
Não pretendo aqui esgotar as listas de argumentos. Os leitores estão convidados a sugerir, nos comentários, outras tentativas de síntese – contra e a favor de Belo Monte. Mas insisto na necessidade de exposição de artigos que tragam de fato argumentos, fatos, dados – e não apenas defesas apriorísticas.
Falarei especificamente dos vídeos mais tarde, ainda hoje. Eles são o assunto do próximo post. Tornaram-se centrais no debate, com mais visibilidade que os artigos. Nesses vídeos, artistas globais, acadêmicos e anônimos disputam também com emoção (e recursos teatrais ou cinematográficos) a opinião pública.
É como se saíssemos da sisudez dos jornais impressos (ou da academia) e entrássemos diretamente no Fla x Flu.
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A batalha (virtual) de Belo Monte - parte II
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5 comentários:
Produzir energia para destruir a Amazônia? Para acabar de vez com espécies endêmicas e em vias de extinção? Devemos ser um país muito burro, isso sim! Uma Bela Merda... Desculpe Alceu, acho que estou meio pessimista pela construção dessa enorme porcaria no meio da Amazônia! Abração
olá, Chico. Longe de mim defender a usina. O que tentei fazer foi mostrar como está se dando o debate na internet. Tentei, não: estou tentando, logo mais tem mais posts! abraço, Alceu
Faltou-lhe citar um artigo, sim- inteligente, do mestrando de geografia da UFF, Flavio Almeida Reis, no blog Esquerda Marxista. Vale a leitura.
Www.marxismo.org.br - Belo Monte, questionamentos sobre sua legalidade e viabilidade técnica ( nao consegui copiar a url)
Caro Alceu, muito legal sua postagem! Acho uma reflexão fundamental esta por você colocada!
Nesse sentido, gostaria de recomendar uma série de vídeos (eu sei que são longos rs) resultantes de uma atividade que ajudei a organizar nesse sentido de levantar dados concretos. (http://escritoriopiloto.org/artigo/debate-belo-monte)
Pretendo ainda nas próximas semanas escrever alguns artigos em cima desse debate, tentando caracterizar melhor os dados.
http://blog.diraol.eng.br/2011/11/29/artistas-x-universitarios-breves-comentarios-sobre-a-campanha-tempestade-em-copo-dagua/
olá. Acabo de postar a segunda parte da série, exatamente sobre vídeos: http://alceucastilho.blogspot.com/2011/12/batalha-virtual-de-belo-monte-parte-ii.html
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