domingo, 18 de dezembro de 2011

"Ainda sou aluna da USP", diz estudante expulsa pela reitoria

A estudante Jéssica de Abreu Trinca foi a primeira entre os seis alunos expulsos da USP a se manifestar. Os estudantes em greve divulgaram um vídeo com seu depoimento, neste domingo, um dia após a divulgação do despacho da reitoria que determina a “eliminação do corpo discente” dela e de mais cinco estudantes. “Eu sou aluna da USP ainda”, diz Jéssica. “Temos professores, que são advogados, que vão reverter isso”.

Ela passa os quase 12 minutos do vídeo atacando o reitor João Grandino Rodas, a quem associa ao período da ditadura militar. Jéssica lembra que há 43 anos (no dia 17 de dezembro de 1968) o Exército invadiu o Crusp, o Conjunto Residencial da USP. E teme que a história se repita. “Antes do golpe militar a USP expulsou muitos alunos militantes do movimento estudantil. Espero que a sociedade não permita que se construam novamente os porões”.

A estudante de Letras justifica a ocupação do bloco G do Crusp, a chamada Moradia Retomada, porque esse espaço já fora destinado à moradia. A ocupação ocorreu em março de 2010 e deu origem aos processos que culminaram na expulsão dos estudantes. “A reitoria destruiu os apartamentos e construiu escritórios”, afirma. Ela não entra em detalhes das acusações feitas pela reitoria no processo – e que não foram ainda divulgadas à imprensa.

Jéssica criticou ainda o que chama de “sistema de vigilância” montado na Cidade Universitária, segundo ela, por funcionários da Coordenadoria de Assistência Social e pelo chefe da Guarda Universitária, Ronaldo Penna. “Eles vigiam a vida pessoal dos alunos”, acusa. “Acham que estão fazendo um favor aos moradores do Crusp e proíbem que nos manifestemos politicamente”.

Para ela as expulsões estão ligadas a um processo de repressão na USP, efetivado com a entrada de Rodas. Ela lembra que as “eliminações” ocorrem após a prisão de 73 estudantes, durante a desocupação da reitoria no dia 8 de novembro, e após o conflito na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, quando policiais militares tentaram prender estudantes que portavam 21,8 gramas de maconha. “Tentaram algemar os estudantes na frente de professores e alunos”, diz.

Outro ponto-chave é o convênio assinado entre a reitoria e a Secretaria de Estado de Segurança Pública, este ano, meses após o assassinato de um aluno de Ciências Contábeis, no estacionamento da Faculdade de Economia (FEA). “A PM até agora só prendeu estudantes”, afirma Jéssica no vídeo:


Segundo a estudante, trata-se de um projeto para que a USP não seja mais pública. “Querem eliminar todos que acreditam na autonomia universitária”, considera. Ela citou o caso de um professor do Instituto de Ciências Biomédicas que estaria sendo processado internamente por criticar o sistema de conservação dos cadáveres das cobaias utilizadas em pesquisas.

- O que fere a imagem da USP não é eu ser a favor de ocupar prédio para moradia, ou esse professor fazer crítica à conservação dos cadáveres. O que fere é um reitor que defende torturadores, que gasta R$ 72 mil para comprar um tapete, que gasta dinheiro para instaurar processos, que monta um monumento à ditadura militar.

Aqui cabe um esclarecimento: esse monumento na Praça do Relógio,feito em parceria com a Secretaria dos Direitos Humanos (hoje com status de ministério) e com a Petrobras, é, na verdade, um monumento às vítimas da repressão - mortos e cassados. Mas ele se tornou polêmico porque utilizou a expressão “mortos e cassados pela Revolução de 1964”. "Revolução" é o termo utilizado pelos militares, no lugar de “golpe de 1964”.

A estudante também dá uma alfinetada nos colegas que não têm participado das mobilizações. “O que fere a imagem da USP é o movimento estudantil aceitar essas decisões”. Jéssica considera que precisa ser garantido o direito de se manifestar e reivindicar. E encerra o vídeo dirigindo-se ironicamente aos futuros calouros: “Bem-vindos, Bixos, à USP”.

O site da USP e o perfil da reitoria no Twitter ainda não fizeram referência às expulsões de estudantes.

Uma das manifestações contrárias a essa decisão partiu da seção paulista da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), ainda no sábado. Os três estudantes pegos com maconha no dia 27 de outubro são alunos de Geografia.

Entre os demais cinco expulsos, um também estuda Letras; ainda na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), um é da Filosofia, outro está no último ano de Geografia, prestes a entregar o trabalho final. Os dois alunos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) são dos cursos de Artes Cênicas e Artes Plásticas.

Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

4 comentários:

Chi Qo disse...

Rodas é uma besta. Ele só está criando mártires! Governador, onde está o senhor que não vê a incompetência desse seu assistente?

Júnior disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Júnior disse...

Olá Alceu, meu nome é Júnior e sou aluno da rede estadual de educação de SP. Cara, eu sou contra qualquer tipo de violência seja ela física ou moral. Modéstia parte posso dizer que não tenho o nível intelectual semelhante ao atual padrão das escolas públicas brasileiras, então por favor não coloque bobagens como "fascismo", "alienado pela mídia" e coisas do tipo. Não sou desses alienados e assim você iria estar indo contra sua classe e se tornando um verdadeiro censor.
Eu como aluno da rede estadual pública de educação de SP digo que vocês estão se auto ridicularizando ao postar bobagens desse tipo, porra cara, vocês até agora não apresentaram os reais motivos do protesto e não mostram nenhuma base ideológica para se apoiar ou quaisquer coisas do gênero. Isso é extremamente patético, a PM paulista é na maioria formada por bons homens, existe a parte podre que comete corrupção, mas isso como todas as insituições atuais de nosso país. Mas não se pode comparar com ditadura. Eu até entendo vocês, só que o único motivo que consigo ver nessa onda de vandalismo é que os alunos ligados ao episódio só querem fumar um baseado em paz, Então vocês deveriam protestar a favor da legalização dessa droga e não destruir a universidade que já sofre com problemas seríssimos de infra estrutura.
Vocês se mostram corporativistas ao criticarem a opinião de quem está a favor da PM e da segurança. Porra cara, meu sonho é entrar na USP e você como jornalista deveria estar vendo os problemas que minha região sofre. Minha escola é uma merda, o sistema de distribuição de aulas é patético, ridículo, mal organizado, o aluno sofre tudo para que NÃO possa entrar em uma universidade pública, como se as mesmas fossem reservadas para a elite. Enfim, vocês devem se encaixar em uma causa antes de postar essas coisas. Lembre-se que eu não sou a favor da violência, mas as coisas que aconteceram na USP estão muito mais ligadas à uma rebelião em um presídio do que realmente a reivindicação de direitos estudantis. Infelizmente a polícia deve agir com repressão, grande parte dos alunos tamparam seus rostos espontaneamente, onde está a democracia e a transparência nisso? Não é isso que você está tentando mediar nos posts? Aliás eu já estudei rebeliões em presídios bem mais organizadas que esse show de bobagens de jovens de classe média. Porra, venham conhecer os bairros pobres de SP, talvez vocês consigam se encaixar em uma causa, pois até a agora, infelizmente só passaram a imagem de que querem um fumódromo de maconha dentro da universidade sem que a PM encha o saco.

Abraços, Júnior. Se possível sem censura e opinem bastante sobre meu comentário. E seu blog parece ser feito para estudantes da USP somente Pow :)

Alceu Castilho, jornalista. disse...

olá, Junior, não há censura para comentários educados como o seu.

Olha, você entrou em vários assuntos. Tenho opinião sobre todos eles, mas fica difícil responder um por um. Não concordo com tudo o que os estudantes fazem (e sou também estudante), mas muitas das críticas feitas a eles esquecem que eles estão reagindo (nem sempre da melhor forma) a iniciativas do reitor - ou a abordagens policiais abusivas.

No caso dos posts que você comentou (este e o da Rosi, a estudante torturada), tratam-se de relatos. Com um ponto de vista diferente do que foi divulgado pela reitoria - e pela imprensa. São jornalisticamente relevantes, portanto.

Veja, eu sou sozinho no blog. Gostaria de escrever sobre muita coisa (sua região inclusive), mas é impossível. Hoje, dezembro de 2011, nem ganho nada com a minha iniciativa. Quem sabe mais à frente, não?

Mas vamos conversando por etapas. Espero que troquemos ideias em outros posts. Mas fique à vontade para falar por email também, no alceucastilho@yahoo.com.

abraços,
Alceu Castilho