Indignados com Pinheirinho vão protestar contra
despejo de indígenas na Bahia?
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
Quarenta famílias Tupinambá foram despejadas
ontem em Olivença, na Bahia. O jornal Brasil de Fato relatou
violência da Polícia Federal: 30 agentes, armados, forçaram a
desocupação das casas. Assim como em São José dos Campos, os
moradores não esperavam a reintegração de posse: baseavam-se em
uma decisão do Superior Tribunal de Justiça. Embora os fatos sejam idênticos aos da Ocupação
Pinheirinho, a esta altura destruída e queimada em São José dos
Campos, não geram a mesma indignação e repercussão midiática.
Por quê?
Uma parcela de indignados no Brasil é
seletivamente partidária. Bufa, grita, espuma, se contorce – mas
somente se as violações de direitos humanos forem protagonizadas por
tucanos. Brutalidade policial em São Paulo? ONU neles! Brutalidade
policial no Piauí, em Pernambuco ou Sergipe? Moita.
Agem da mesma forma os indignados contra a
corrupção. Hoje eles estão no campo da oposição ao governo
federal. Bufam, gritam, espumam, se contorcem – mas somente se os
desvios e bandalheiras forem protagonizados por petistas e seus
aliados. Casos similares envolvendo membros do PSDB, do DEM? Moita.
Cada um desses grupos tem uma mídia específica,
em uma espécie de concerto da indignação seletiva. De um lado, o
que os governistas chamam de PIG – o Partido da Imprensa Golpista.
Segundo eles, a grande imprensa faz qualquer coisa para atingir Dilma
Rousseff ou Lula.
Do outro lado entrincheira-se boa parte da mídia
alternativa: blogueiros “progressistas” cuja principal
preocupação parece ser a de atingir os tucanos e seus aliados – e
o PIG.
Cada vez acredito menos na existência do PIG.
Acredito, sim, na existência de uma imprensa graúda que reverbera
(como a polícia, como o Judiciário) os interesses dos poderosos. O
despejo na Bahia mostra isso com clareza: não seria de interesse do
PIG, por exemplo, divulgar enfaticamente um despejo de indígenas
pelo governo Dilma?
Não divulga porque está imbuído do ensejo de
defender com garras o direito à propriedade. Este, muito mais que o
direito à vida e outros direitos humanos elementares, flutua acima
de simpatias partidárias – que, sim, existem.
Por outro lado, cada vez acredito mais na
existência do PAG. O Partido da Agenda Governista, o anti-PIG, uma
imprensa chapa-branca, servil aos humores lulopetistas. Não de uma
forma absoluta, como ele mesmo proclama em relação ao PIG, mas com
uma capilaridade e uma força suficientes para gerar ondas de
indignação – quando esta for conveniente.
É claro que há nuances em todo esse processo.
Não é inexorável que a grande imprensa vá ser indigna em relação
a violações de direitos. A cobertura sensível que a Record faz do
Pinheirinho é um exemplo disso. Outro, a oposição, na própria
Rede Globo, da abordagem humana do Bom Dia, Brasil em relação às
famílias despejadas em São José dos Campos, em contraponto com a
criminalização imposta pelo Jornal Nacional e Fantástico.
Da mesma forma há uma imprensa realmente
alternativa. O Brasil de Fato divulgou atentamente o despejo na
Bahia. Por ele ficamos sabendo que Vanderlei, um indígena de cerca
de 50 anos, entoou o canto Tupinambá dentro de uma viatura da PF.
Foi retirado do carro e colocado na chuva, de joelhos, com as mãos
para trás. Soubemos também de agressões, contra os mesmos
Tupinambá, em 2009 e em 2010.
O saldo desse problema é que o país está
cindido. Salvo uma turma de fanáticos que ainda acredita no que lê
na revista Veja, há poucos brasileiros instruídos que se pautam
apenas pelo canto da grande imprensa. Por outro lado, a imprensa
alternativa não é livre como deveria ser. A soma de seus esforços
pulverizados aparece apenas aqui e ali, quando governistas e
independentes participam do mesmo coro – como aconteceu no caso
Pinheirinho.
Não se trata apenas da necessidade de garimpar jornalismo independente, dos dois lados da força. Trata-se, infelizmente, de garimpar indignação genuína – de preocupação sistemática e coerente com a vida e os direitos fundamentais de todos os brasileiros.
Alfabetizados em cidadania não podem ter apenas o
PT ou o PSDB como “inimigo”. E sim a tortura, os abusos
policiais, as agressões contra povos indígenas, camponeses,
sem-teto, moradores de rua, dependentes químicos, estudantes. Parece
elementar – mas não é o que está acontecendo no Brasil hoje,
fevereiro de 2012.Não se trata apenas da necessidade de garimpar jornalismo independente, dos dois lados da força. Trata-se, infelizmente, de garimpar indignação genuína – de preocupação sistemática e coerente com a vida e os direitos fundamentais de todos os brasileiros.
LEIA MAIS:
500 anos depois: a violação sistemática de direitos indígenas
Cobertura da Globo no Pinheirinho é o debate Lula x Collor do século 21
NO TWITTER:
4 comentários:
Não sei não Alceu, mas acho que a tal da Imprensa Ideal que a gente aprende a fazer na faculdade, na prática não existe...
http://miseriahq.blogspot.com/2012/02/tudo-fantoche-do-mesmo-monstro.html
http://miseriahq.blogspot.com/2012/02/tudo-fantoche-do-mesmo-monstro.html
"indígenas, camponeses, sem-teto, moradores de rua, dependentes químicos, estudantes." eu acrescentaria aí bandidos, loucos, traficantes e vagabundos
Postar um comentário