Grávida está
entre 12 estudantes presos na USP
por ALCEU LUÍS
CASTILHO (@alceucastilho)
Uma estudante grávida, Paula,
está entre as seis mulheres e seis homens presos na manhã deste
domingo, na Cidade Universitária, durante reintegração de posse de
parte do bloco G, no Conjunto Residencial da USP (Crusp). O prédio
estava ocupado pelos alunos desde maio de 2010. Sem assistência específica, ela foi carregada por membros da Tropa de Choque para o ônibus da polícia e, na delegacia, passou mal, diante da cela inundada por urina e fezes.
A estudante de cursinho vestibular está com seis meses e meio de gravidez. Ela
já tinha sido retirada durante o despejo de ocupantes do antigo
espaço do DCE-Livre, em janeiro. Na época os estudantes divulgaram
uma foto de um portão sobre seus ombros, que ficaram machucados. Neste domingo, ela foi levada carregada - em uma cadeira, por quatro membros da Tropa de Choque - para o ônibus. Um vídeo mostrou esse momento - mas em apenas um dia saiu do ar, no YouTube.
O major Marcel Lacerda
Soffner, porta-voz da Polícia Militar, disse inicialmente que
“provavelmente” ela não era estudante da USP. Depois foi mais
categórico: afirmou que ela não estuda na universidade. De fato, ela não estuda na graduação - é companheira de um ocupante da Moradia Retomada, estudante de Física.
Ao chegar na cela, inundada de água, urina e fezes, Paula começou a passar mal. Segue o relato da estudante Aline Camoles, que estava no local:
- Ela entrou na cela e começou a ter ânsia de vômito, que passou. Algum tempo depois começou a ficar com pressão baixa. Arrumamos um plástico (a sacola do lanche) para ela sentar no chão, sem se molhar, perto da porta. Era o único local que tinha entrada de algum ar fresco. Ela foi ficando pálida e mole, parecia que ia desmaiar.
Nesse momento as estudantes começaram a gritar:
- Não adiantou por algum tempo, gritamos mais e mais, batemos a garrafa de refrigerante contra o ferro da cela, para fazer barulho. Só depois de um tempo veio um tal César, dizendo que ali não era a casa da mãe joana, para a gente parar de gritar. Falamos que eles seriam responsabilizados caso acontecesse algo com a Paula. Ela pôde sair da cela para o hospital por conta da presença da advogada.
OCUPAÇÃO RETOMADA
Ao chegar na cela, inundada de água, urina e fezes, Paula começou a passar mal. Segue o relato da estudante Aline Camoles, que estava no local:
- Ela entrou na cela e começou a ter ânsia de vômito, que passou. Algum tempo depois começou a ficar com pressão baixa. Arrumamos um plástico (a sacola do lanche) para ela sentar no chão, sem se molhar, perto da porta. Era o único local que tinha entrada de algum ar fresco. Ela foi ficando pálida e mole, parecia que ia desmaiar.
Nesse momento as estudantes começaram a gritar:
- Não adiantou por algum tempo, gritamos mais e mais, batemos a garrafa de refrigerante contra o ferro da cela, para fazer barulho. Só depois de um tempo veio um tal César, dizendo que ali não era a casa da mãe joana, para a gente parar de gritar. Falamos que eles seriam responsabilizados caso acontecesse algo com a Paula. Ela pôde sair da cela para o hospital por conta da presença da advogada.
OCUPAÇÃO RETOMADA
Segundo Soffner, 3
entre os 12 estudantes detidos não são estudantes da USP. Uma jovem de 16 anos foi presa - sem que alguém percebesse que ela tinha direitos específicos. O blog
também apurou que pelo menos uma das pessoas presas, do Sul, estava de
passagem exatamente nestes dias, durante o carnaval, hospedada no
apartamento do amigo – também preso.
Os estudantes foram
levados ao 14º Distrito Policial, em Pinheiros. O porta-voz da PM
definiu a desocupação, iniciada por volta das 6 horas, como
“pacífica”. Desde as 4h50, pelo menos, os policiais estavam no
local, bloqueando as entradas para o bloco. Soffner informou que 100
policiais militares participaram da operação.
A polícia cumpriu um
mandado expedido na sexta-feira pela juíza Ana Paula Sampaio de
Queiroz Bandeira Lins, da 4ª Vara de Fazenda Pública. O autor do
pedido de reintegração de posse é a USP. Os reús, a Associação
dos Moradores do Crusp “e outros”. Leia aqui o motivo de Ana
Paula ter tomado a decisão logo antes do feriado.
Moradores do terceiro
andar do bloco F mostraram balas de borracha que, contam, foram
atiradas pelos policiais. Vídeos registram os estilhaços. Os estudantes protestavam contra a
reintegração – mas estavam impedidos de acessar o bloco G. O
porta-voz da PM não quis entrar em detalhes sobre o conflito. Disse
que tudo foi registrado em vídeo e será apurado.
Os seis estudantes
expulsos da USP, em dezembro, estão entre as pessoas que ocuparam o
bloco G, em maio de 2010. O local era conhecido como Moradia
Retomada. Uma das primeiras providências da USP, durante a manhã de
hoje, enquanto as entradas para o local eram lacradas, foi a de
apagar as inscrições feitas pelos estudantes, com o nome “Moradia
Retomada”.
O porta-voz da PM
disse, em rápida entrevista coletiva às 9 horas, que o prédio já
foi entregue juridicamente à USP. E que os estudantes foram fazer
exame de corpo de delito, “para comprovar que não houve
violência”. “Houve resistência normal, legítima, resistência
passiva”, afirmou.
Pouco depois ele
informou ao repórter da Globo que os estudantes responderão por
resistência e por dano ao patrimônio público. “A polícia vai se
manter aqui para monitorar a reintegração”, afirmou. Leia mais
aqui sobre a entrevista com o porta-voz.
O estudante William
Santana Santos, morador do Crusp, falou em nome dos estudantes. Disse
que os estudantes pediram diálogo com a Coseas (a coordenadoria de
Assistência Social da USP) para que não houvesse a desocupação.
O delegado Noel
Rodrigues, do 14º DP, não quis falar sobre o caso. Disse que só
falaria depois do almoço.
ESTUDANTES X PM
A Cidade Universitária vive desde outubro conflitos diretos entre estudantes e Polícia Militar. Em outubro, alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) reagiram à detenção de três estudantes que portavam uma pequena quantidade de maconha no estacionamento da história.
ESTUDANTES X PM
A Cidade Universitária vive desde outubro conflitos diretos entre estudantes e Polícia Militar. Em outubro, alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) reagiram à detenção de três estudantes que portavam uma pequena quantidade de maconha no estacionamento da história.
Em seguida estudantes
ocuparam um prédio da administração da FFLCH. Uma semana depois, a
reitoria da USP. No início de novembro houve reintegração de posse
da reitoria, com centenas de policiais e a prisão de 73 pessoas –
a maior parte alunos da USP. Uma estudante conta ter sido torturada.
Diante da desocupação da reitoria, os estudantes
decidiram entrar em greve, progressivamente esvaziada durante os dois
últimos meses - mas oficialmente prevista até a próxima assembleia geral, no início de março. Entre as reivindicações dos alunos estão a saída do reitor João Grandino Rodas e o fim do convênio entre a USP e a própria PM.
Em janeiro, um vídeo
mostrou o estudante Nicolas Menezes Barreto sendo agredido por um
sargento da PM, durante a desocupação do antigo DCE-Livre. Ele
acusou a polícia de racismo. “PM me escolheu porque eu era o único negro”, disse ele ao blog Outro Brasil.
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