quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Governo do Acre denuncia assassinatos e estupros de haitianos no Peru e Bolívia

Nas últimas duas semanas se intensificaram os relatos de assassinatos contra haitianos no Peru e Bolívia, no trajeto até chegarem ao Brasil. Os que não possuem dinheiro e nem bem de valor são amarrados, surrados e colocados nas margens das estradas de barro e com pouca movimentação. Há relatos de corpos de negros, amarrados na beira da estrada. No dia 28 de dezembro um grupo de 10 haitianos foi amarrado e deixado na estrada. Havia mortos entre eles.

O texto acima não é meu. Com modificações mínimas, foi assinado por Lúcia Maria Ribeiro de Lima. Ela coordena um comitê gestor, no governo do Acre e na prefeitura de Rio Branco, responsável pela Promoção da Igualdade Racial. Esse é o sétimo item de um relatório entregue ao ouvidor da Secretaria Especial de Políticas da Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Ela cobra ações imediatas do governo federal.

O restante do relatório informa que 3 mil haitianos já passaram pelo acre – “e muito mais virão”. Como a fronteira brasileira está fechada, os vizinhos estão exigindo o visto.

- Por conta desta situação os haitianos estão sendo vítimas de extorsão e roubo. São objetos de valor como: dinheiro, câmeras fotográficas, computador, perfume, sabonete. O que trazem de valor são roubados, mediante violência, durante a viagem para o Brasil, no percurso Peru/Bolívia até chegar ao Brasil. Segundo relatos, estes roubos são praticados por Policiais da Guarda Nacional do Peru e da Bolívia e também por taxistas.

O conteúdo do relatório foi divulgado ontem, em primeira mão, pelo jornalista Altino Machado, no portal Terra, em seu Blog da Amazônia. Ele me cedeu gentilmente a íntegra do relatório.

Este trecho do documento relata a violência contra mulheres:

- As mulheres haitianas são separadas dos homens. Em seguida, conforme relato, são bolinadas. Algumas foram vítimas de tentativa de estupro e outras foram estupradas por parte dos taxistas que fazem o percurso Peru/Bolívia, até a fronteira com o Brasil.

Lúcia de Lima diz que isso ocorre principalmente numa cidade chamada Soberania, na Bolívia. Não há relato de violência em território brasileiro. Ela diz ao final do relatório que ainda há problemas graves na área de saúde.

Ela pede que o governo brasileiro reabra as fronteiras, permitindo a entrada dos haitianos, “visando com isso fazer com que eles evitem o caminho que os estão levando para a extorsão, roubo, estupro e a morte”.

A representante do governo do Acre solicita ainda que sejam enviados os relatos aos governos peruano e boliviano; que seja aumentado o efetivo da Polícia Federal em Epitaciolândia (AC), para facilitar a documentação; que o governo federal envie recursos para garantir melhor atendimento aos haitianos no Brasil; que empresas que constroem obras para a Copa de 2014 contratem mão-de-obra haitiana; e que o ouvidor vá ao Acre para conhecer a situação dos haitianos.

Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

LEIA MAIS:
Que revista vai falar dos refugiados do Haiti no Acre?

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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Professor relata intimidação policial em Campinas

por ALCEU LUÍS CASTILHO (
@alceucastilho)
O sociólogo e professor Henrique Pereira Monteiro, doutorando em Filosofia na Universidade de São Paulo, relatou nesta terça-feira, pela internet, um caso de abuso de autoridade – e de provocações feitas por policiais diante de sua casa, no distrito Barão Geraldo, em Campinas.
Diante de abordagens humilhantes a adolescentes, numa praça no bairro, ele (que estuda na USP violência policial) e sua companheira foram conversar com os PMs – para que os direitos de todos fossem garantidos.
Monteiro conta ter sido intimidado e ameaçado. Depois disso, viaturas começaram a passar devagar em frente de sua casa. Em outra situação, de novo por tentar saber qual a acusação contra rapazes detidos, foi ele mesmo levado pelos policiais por “desacato à autoridade”.
Confira o relato do professor:
“Ao longo do ano passado, o bairro em que moro no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, esteve sob presença constante da Polícia Militar. Não demorou para eu e minha companheira Georgia Sarris começarmos a presenciar formas de abuso de autoridade, como abordagens humilhantes de adolescentes. Moramos perto de uma praça que é um dos pontos centrais de tais ações, cujo viés racial e de classe é conhecido. A repetição dos casos começou a nos preocupar. Com o intuito de mostrar a presença de moradores que não se conformariam com abusos, fui até os policiais durante uma batida no final de agosto.
Apresentei-me educadamente, perguntei do que se tratava e disse que ia permanecer no local para verificar se tudo iria transcorrer tranquilamente. Tal atitude, a de um simples cidadão comum observando os procedimentos de um agente público, algo que deveria ser banal em qualquer regime democrático, gerou imediatamente um turbilhão inacreditável de agressividade. Foi o bastante para que eu fosse intimidado de várias formas ao longo de mais de duas horas, com ameaças de prisão (ilegal) por não portar documento de identidade, por desacato, entre outros exemplos. Deixei claro que estava disposto a denunciar abusos e fiz críticas à estrutura autoritária da PM, mas sempre tratei os policiais da forma mais respeitosa possível. Entretanto, a questão não era de mais ou menos polidez. O problema, na verdade, é que, ao questionar diretamente a PM, atravessei uma fronteira social muito precisa: assim como os jovens pobres que frequentam (ou tentam frequentar) as praças de Barão Geraldo, eu já havia deixado de ser "cidadão" e me tornado um inimigo.
Depois disso, começou um processo de intimidação pessoal discreta, mas clara. Viaturas passando muito vagarosamente na minha porta, em frente à minha mesa no restaurante, faroletes na minha janela à noite, policiais me encarando em vários lugares do bairro etc. Houve outra batida, em frente à minha casa, que era nitidamente uma provocação, com um policial de braços cruzados, peito estufado, pernas abertas bem diante do meu portão. É claro que não fui lá.
No dia 29 de dezembro passado, nova batida na praça, desta vez envolvendo um vizinho. Não pude deixar de ir até o local, inclusive para apoiar minha vizinha, companheira de um dos rapazes detidos, que observava à distância. Quando os policiais disseram que iriam levá-los, nós nos aproximamos. Comecei a fazer as perguntas básicas: "Para onde serão levados? Sob qual acusação?" De novo, fui cercado por vários policiais e intimidado de forma truculenta. Provocações variadas se seguiram até que um dos policiais forçou a minha prisão, completamente arbitrária, por "desacato à autoridade". Mesmo depois, provocações e ameaças não pararam.
O interesse pessoal que tenho em divulgar esta história - preservar a minha segurança e a de minha companheira — já aponta também o seu evidente interesse público. A violência que sofri - até agora - é ínfima para os padrões de ação da Polícia Militar do Estado de São Paulo, como sabem os jovens das periferias, os militantes de movimentos sociais, os ativistas de direitos humanos. No entanto, ela é da mesma natureza e também serve como documento, ainda que em escala reduzida, de processos sociais que nos afetam a todos e devem ser combatidos. Quando se trata da higienização social das cidades, da criminalização do protesto, da expansão do autoritarismo e da policialização generalizada das relações sociais, nenhuma "escala" é pequena o bastante para ser desprezada."
(Henrique Pereira Monteiro, 03 de janeiro de 2012).

O professor contou ao blog que seu advogado está protocolando uma representação na Polícia Civil. Ele pretende também contar a história ao Ministério Público Estadual, logo após o recesso dos promotores.

Monteiro faz doutorado na USP sobre o tema "Crítica da sociologia da violência no Brasil". Em novembro ele foi um dos 267 pesquisadores da USP que assinaram
manifesto contra o reitor João Grandino Rodas por conta da crise na universidade.

Ele lecionou Teoria Política e Relações Internacionais por cinco anos numa faculdade privada de Campinas; deixou esse trabalho para cursar o doutorado. "Minha tese discute exatamente o discurso securitário contemporâneo e o atual estado de exceção permanente", diz ele.

Graduado na própria Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, ele é o terceiro estudante da FFLCH a denunciar, nos últimos dois meses, violências policiais. Em novembro a estudante de graduação Rosi, da Filosofia, contou ter sido torturada durante a desocupação da reitoria. Em dezembro foi a vez do antropólogo Danilo Paiva Ramos, também estudante de doutorado, relatar que a PM o espancou na Avenida Paulista enquanto comemorava o título do Corinthians.

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LEIA MAIS:Rosi conta como foi torturada na USP

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Globo mostra “limpeza na Cracolândia” e legitima higienismo de Kassab

A PM ocupou a Cracolândia nesta terça-feira. A reportagem do SPTV, da Rede Globo, legitima o higienismo. Ela começa exatamente com cenas de limpeza – caminhões de lixo, carro-pipa jogando água nas ruas e trabalhadores da limpeza urbana tirando lixo do local, no centro de São Paulo. Confira o vídeo:

http://g1.globo.com/videos/sao-paulo/sptv-1edicao/t/edicoes/v/policia-faz-operacao-em-busca-de-traficantes-e-armas-na-cracolandia/1752974/

As imagens vão ao encontro do discurso embutido nas ações da prefeitura de Gilberto Kassab (PSD) - com o aval do governo de Geraldo Alckmin (PSDB). A mentalidade higienista vem desde o século 19. Prefeitos de São Paulo e do Rio já praticavam isso na virada do século.

Por meio dessas políticas são retirados “empecilhos” diversos a uma cidade "ordenada", como moradores de rua – ou, no caso, supostos usuários de crack. A lógica por trás dessa abordagem é a de uma "cidade limpa", asseada, ordenada - acima da garantia de seres humanos saudáveis.

O padre Julio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, classificou a operação de “midiática”. Ele descreveu com ironia, em sua página no Facebook, a ação policial:

- Polícia Militar cerca a Cracolândia com 100 policiais militares, hoje, às 9 da manhã. O objetivo, estabelecer a ordem e permitir o trabalho de médicos e assistentes sociais. Até o início da tarde conseguiram um enorme resultado: dois flagrantes de tráfico, prisão de uma foragida, apreenderam duas armas de brinquedo, dez carcaças de motos e um rádio comunicador.

Lancelotti afirmou em seguida que os chefes do tráfico, “os que ganham muito com a desgraça alheia”, não estão na Cracolândia. “A Polícia precisa encontrar a folha de pagamento dos traficantes, tem muitos agentes do Estado nesta folha de pagamento”.

Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

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Eliane Brum, "Olhos Azuis", o Explorador Sexual e o Pauteiro Indiferente

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

Com sua habitual elegância, a jornalista Eliane Brum escreveu esta semana – em sua coluna na revista Época – sobre um personagem sórdido, que ela apelidou de Olhos Azuis. Trata-se de um jornalista europeu (ela não o nomeia) que veio ao Brasil, em 2000, fazer uma reportagem sobre exploração sexual. Ela se dispôs a ajudá-lo, mas logo descobriu que ele, em vez de apurar os fatos, copiou uma reportagem escrita tempos antes por um jornalista do centro-oeste. Olhos Azuis era um farsante. Mas o texto foi publicado.

Eliane escreve sobre isso para falar do bem e do mal. Ela fez questão de encontrar Olhos Azuis (a quem também chama de "pior jornalista do mundo") para dizer o que pensava. Cínico, ele fez a ela uma proposta: que por um dia ele fizesse o bem, e que por um dia ela fizesse o mal. Isso a perturbou. Mas decidiu que faria ainda mais esforços para fazer o bem. Por exemplo, praticar um bom jornalismo (em seu caso, ótimo), ou não tratar com irresponsabilidade um tema sério como aquele – a exploração sexual.

Escrevo não para rebater o texto brilhante de Eliane Brum – que percorre de Goethe a Hannah Arendt e aqui ganha um resumo grosseiro. Mas para desenvolver um aspecto que, até por espaço (e pelo viés filosófico de seu artigo), ela não poderia esgotar. Quero falar da ausência do tema negligenciado por Olhos Azuis – a exploração sexual – nos principais jornais e revistas brasileiros.

Olhos Azuis é um patife, evidentemente. Mas há, nessa tragédia brasileira, personagens mais próximos do nosso dia-a-dia. A começar da própria figura do Explorador Sexual – candidato a aparecer no topo de qualquer lista de Grandes Canalhas da Humanidade. Aqui nem estamos falando ainda do Abusador Sexual, este ainda mais onipresente. Na sociedade e no jornalismo, esses personagens só podem atuar a partir da omissão do Estado (e das polícias) e de uma legião de indiferentes.

Não estou falando de algo sem base acadêmica. Especialistas nos temas (exploração e abuso sexual), como a assistente social Eva Faleiros, professora aposentada da Universidade de Brasília, dizem que esse tipo de ignonímia ocorre a partir de um certo Pacto do Silêncio. Não se tratam somente de pessoas próximas, de familiares, por exemplo, a ignorar algum caso de violência sexual. Mas de grupos inteiros, até municípios inteiros.

Na melhor das hipóteses, esse Pacto do Silêncio ocorre por conta de medo de represálias físicas. Nas piores hipóteses, por conveniência social, profissional, financeira etc.

O PACTO JORNALÍSTICO

E onde entra o jornalismo nisso tudo? Ora, a mídia contribui diariamente para esse Pacto do Silêncio. Não se trata de sabotar uma reportagem pautada, como fez Olhos Azuis. Mas sabotar a própria pauta, ignorá-la. Isso ocorre por decisão (ou omissão) do Pauteiro – o Pauteiro Indiferente. Por decisão irrevogável do editor – o Editor Cúmplice. Por inexistência de interesse de repórteres – os Repórteres Distraídos.

Escrevo esses apelidos por conta de Olhos Azuis, personagem real flagrado por Eliane Brum, mas pensando também na literatura de Roberto Arlt. O argentino é autor da obra-prima “Os Sete Loucos” (1929), onde cria personagens como O Astrólogo e O Rufião Melancólico. Autor de obras preciosas sobre submundo, como os brasileiros Plínio Marcos e João Antônio, Arlt (também jornalista) bem poderia ter escrito algo sobre alguém como Olhos Azuis – ou sobre o Pauteiro Indiferente.

As abordagens da imprensa em relação à exploração sexual são eventuais, e não sistemáticas. E por isso - em meio às honrosas exceções - escondem uma certa hipocrisia social. Em 2006 escrevi sobre isso, no site da Agência Repórter Social:


- Jornalistas e leitores retomam por instantes um certo peso na consciência coletiva e os aliviam em seguida, enquanto as raízes do problema não são efetivamente expostas ou debatidas. Um círculo vicioso explica essa discrição dos meios de comunicação: se uma das raízes sociais do problema é o tal “pacto do silêncio”, os sussurros da mídia são a sua mais completa tradução.

O que é pior? A reportagem copiada de Olhos Azuis ou a omissão cotidiana de jornalistas brasileiros?

Onde está o “mal”? Antes de mais nada na exploração sexual, claro - mas e os signatários do Pacto do Silêncio, quem são eles?

Seriam os leitores? Eles não deveriam também pressionar os editores por não varrer a sordidez do País para debaixo do tapete?

Não que apenas o cidadão comum deva ser responsabilizado. Que se discuta política - em escala. Por isso falo também nesse artigo do papel dos governos:

- Os orçamentos para preservação de direitos fundamentais são pífios. Aos sussurros da mídia correspondem as migalhas do setor público. A começar do governo federal. Não podemos pensar que seja um mérito enorme ou suficiente ele ter criado há poucos anos um Disque Denúncia. Não fez nada mais que a obrigação. O que acontece é que esse tipo de tema não está na grande agenda nacional.

Vale registrar que, entre 2005 e 2010, foram registrados 25.175 casos de exploração sexual de crianças e adolescentes, segundo o Disque 100. As capitais que mais denunciaram casos foram Salvador, Rio de Janeiro, Fortaleza, São Paulo e Natal.

Se esses números não fazem parte da grande agenda nacional é também porque o jornalismo define determinadas prioridades. Só há um Pacto do Silêncio na mídia porque há uma Pauta Barulhenta (a pauta econômica):

- A obsessão por crescimento e temas econômicos esmaga estruturalmente a noção de que, antes do PIB, dos juros ou qualquer indicador econômico, temos a obrigação de oferecer o mínimo de dignidade às nossas crianças. Essa dívida nem começou a ser paga e tem juros monstruosos. Primeiro as crianças precisam de condições normais para se desenvolver. Sem serem molestadas, estupradas, vendidas. Depois a gente discute o País.


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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

"Parece a Etiópia ou o Haiti", diz Julio Lancelotti sobre desalojados em SP

O padre Julio Lancelotti repercutiu neste domingo, em seu perfil no Facebook, a situação dos desalojados da Favela do Moinho, que pegou fogo na última terça-feira. Ele publicou dois posts sobre o tema.

No primeiro ele definiu a implosão (pela metade) de um prédio pela prefeitura como "um fiasco". E fez críticas à cobertura da mídia:

- Mas a imprensa não mostra o drama humano dos desalojados. Hoje visitei o acampamento embaixo do viaduto, assemelha-se à Etiópia ou ao Haiti,em pleno centro de São Paulo. Visitei dois queimados: um sentado no chão, outro deitado na carroça. Visitei Dona Natalia em seu pobre barraco, sem locomoção e idosa. O que recebeu foi um protetor para os ouvidos. O abandono do povo pelo poder público é alarmante.

Lancelotti faz parte da Pastoral do Povo de Rua, da Arquidiocese de São Paulo. No outro post ele denuncia abordagem violenta por Guardas Civis Metropolitanos:

- Uma senhora de nome Socorro estava agitada e voltou para a área de risco da implosão, foi abordada com violência por GCMs e nem 8 guardas conseguiam controle sobre ela. Fui a seu encontro chamando pelo nome, segurando em sua mão, e consegui que viesse comigo para a área de segurança e ficou com as missionárias da Aliança de Misericórdia.

CARTA ABERTA
Os moradores publicaram neste domingo uma Carta Aberta à População, para "impedir distorções das informações". Eles solicitam - pela quinta vez - uma audiência com o secretário municipal da Habitação. Querem mais educação e oportunidade, mais diálogo e respeito pela perspectiva de futuro "e menos arrogância".
Eles estão alojados provisoriamente no Clube Escola Raul Tabajara, um centro desportivo municipal, e sob o Viaduto Engenheiro Orlando Murgel, ao lado da favela. Como diz o padre Julio Lancelotti, "com coberturas de plástico e ao relento".

O padre definiu como "mentira" a reportagem do Fantástico, da Rede Globo, que diz que os moradores foram "removidos". Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, esteve mais uma vez neste domingo no local e chamou de "vergonhoso" o atendimento aos moradores.
Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

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A trapalhada de Kassab e a implosão parcial da vergonha política

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A trapalhada de Kassab e a implosão parcial da vergonha política

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

A imagem de um prédio parcialmente implodido marcou este início de ano em São Paulo. O objetivo oficial, preservar o tráfego dos trens, ao lado. O prédio pegou fogo durante o incêndio da Favela do Moinho, antes do Natal. Moradores estão desabrigados. Alguns dormem ao relento. Mas o prefeito Gilberto Kassab (PSD) comemorou a implosão parcial – na verdade, uma grande trapalhada de seus engenheiros.  De qualquer modo, a cena – metaforicamente muito rica - dá margem a várias análises.

Fica evidente que o prefeito – munido de seus ideais higienistas – queria mesmo ver aquela cena de implosão geral e irrestrita, aquela que a Rede Globo sempre gostou de mostrar, com algum engenheiro descrevendo euforicamente a proeza. Uma favela pegou fogo? Dois moradores morreram? Pela lógica de Kassab, “queimemos as evidências”. “Mostremos que esta cidade tem comando. Eu sou um prefeito realizador: vou lá e implodo mesmo”.

Diante do fracasso midiático, o dinâmico prefeito se reuniu por uma hora e meia com os técnicos para “avaliar o sucesso da ação”. Encerrados esses 90 minutos, feito um jogador de futebol emitindo platitudes após uma partida, ele se saiu com a tese de que a implosão parcial fora “bem sucedida”. Que o objetivo – diz Kassab - era liberar as linhas da Companhia de Trens Metropolitanos e era preciso achar um “ponto de equilíbrio”.

Poderíamos perguntar aqui, equilibradamente, até onde vai a cara-de-pau (essa que nunca parece pegar fogo) dos políticos brasileiros. Mas busquemos um contra-exemplo. Na sexta-feira, em entrevista à Folha, o governador carioca Sergio Cabral (PMDB) mostrou que ainda é possível (aqui e ali) ouvir políticos dizerem a verdade. Ainda que em um único trecho de entrevista. Diante de uma pergunta sobre educação, a última feita pelos repórteres, Cabral respondeu:

- É vexatória a situação. Vigésimo sexto no Ideb me envergonhou profundamente. Meu compromisso é estar entre os cinco do Ideb em 2014.

Claro, seria pedir muito que um político não agregasse uma promessa a uma constatação vexatória. Oportuno também lembrar que educação não é uma competição, uma corrida entre cavalos. Nem algo passível de mudanças bruscas em tão pouco tempo – não se trata de tentar classificar ninguém para alguma Copa do Mundo.

Mas reconheçamos: o governador do Rio admitiu que está envergonhado. Pode até ter levado depois uma chamada de seus marqueteiros, porém declarou-se “profundamente envergonhado”.

E Gilberto Kassab? Não estaria ele envergonhado? Ainda que não tão “profundamente”? Não por sua implosão de araque num ano novo chuvoso, mas por administrar uma cidade cujas moradias pegam fogo?

Existe ainda espaço para a “profunda vergonha” na política brasileira?

Dilma Rousseff tem “profunda vergonha” do desmatamento e do novo Código Florestal? Ou do trabalho infantil? Luiz Inácio Lula da Silva tem vergonha por não ter cumprido a promessa de erradicar o analfabetismo? Fernando Henrique Cardoso fica vexado ao ser confrontado com os números da “privataria tucana”? Governadores de todo o Brasil declaram-se envergonhados diante das violências policiais – nos porões e nas ruas?

E o trabalho escravo (esse sobrevivente), a exploração sexual de crianças e adolescentes, as violências praticadas contra as nações indígenas brasileiras? Elas inspiram em nossos governantes (entre eles todos os ministros recentes da Justiça, de Renan Calheiros a José Eduardo Cardozo) alguns sentimentos humanos – de vergonha, ou de pena, comiseração?

O que mais no Brasil está “parcialmente implodido”?

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domingo, 1 de janeiro de 2012

Prédio ao lado de favela em SP implode pela metade e moradores vaiam

Um dos vizinhos afetados pela implosão ao lado da Favela do Moinho, em São Paulo, é João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra). Ele mora na Rua Dino Bueno, em um dos prédios em frente do edifício condenado. Seu apartamento foi um dos evacuados pela prefeitura.


Um prédio ao lado da favela foi condenado após ser atingido pelo incêndio, ocorrido antes do Natal – quando dois moradores morreram queimados. Mas a implosão na tarde deste domingo foi mal sucedida: parte do prédio ficou em pé. “Estava ao lado do viaduto, com umas mil pessoas assistindo”, contou Rodrigues. “Foi uma vaia total”.

Rodrigues estava no interior e correu para São Paulo quando ficou sabendo da implosão do prédio vizinho. “Toda uma movimentação para nada”, contou ele ao blog, no fim da tarde deste domingo. O líder do MST contou no Twitter, antes e depois da implosão, que era um dos atingidos. "Coisas do governo Kassab".

Ele voltou ao seu apartamento enquanto falava ao telefone. “Foi um erro de cálculo tremendo. Pode parte da dinamite ainda estourar lá dentro”, imagina o líder dos sem-terra. “É uma bagunça. Todos tiveram de deixar a janela aberta, aí a poeira toda entrou na casa do povo”.

Todos os moradores num raio de 500 metros tiveram de deixar temporariamente suas  casas.

Segundo o portal UOL, foram utilizados cerca de 800 quilos de dinamite. Mas os responsáveis ainda não deram detalhes sobre os trabalhos, diz a reportagem da Folha. A prefeitura obteve na sexta-feira uma ordem judicial para tomar posse do imóvel – o que lhe permitiu a demolição.

AO RELENTO

Os moradores da favela que pegou fogo estão alojados provisoriamente no Clube Escola Raul Tabajara, um centro desportivo municipal, e sob o Viaduto Engenheiro Orlando Murgel, ao lado da favela. Como diz o padre Julio Lancelotti, "com coberturas de plástico e ao relento".

Em sua página no Facebook, Lancelotti definiu como "mentira" a reportagem do Fantástico, da Rede Globo, que diz que os moradores foram "removidos". Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, esteve mais uma vez neste domingo no local e chamou de "vergonhoso" o atendimento aos moradores.

Confira abaixo texto sobre a agressão aos moradores da Favela do Moinho por homens da Guarda Civil Metropolitana, na última terça-feira, em São Paulo.

Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

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