quarta-feira, 18 de abril de 2012

Ivo viu a PM – e por ela foi brutalmente assassinado, em janeiro, no Pinheirinho
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
Ivo Teles dos Santos, de 69 anos, morreu na semana passada. Até janeiro, era morador do Pinheirinho, em São José dos Campos.
 
A Rádio Brasil Atual informou há pouco que, segundo a liderança Valdir Martins, o Marrom, ele não resistiu às sequelas do espancamento que sofreu da Polícia Militar, durante a reintegração de posse da área pertencente ao especulador Naji Nahas.
 
A morte de Ivo ocorre um dia após uma efeméride: os 16 anos da execução de 19 sem-terra em Eldorado dos Carajás (PA). E menos de três meses após o despejo. Vídeos divulgados em janeiro mostram um morador sendo gratuitamente espancado por policiais militares.
 
Não era Ivo. E não se tratava de somente um espancador. A violência de Estado, no Brasil, é estrutural. Contra quem não possui bens. Isto sabemos. O que ainda não sabemos é como são construídos, de fato, os mecanismos da indiferença.
 
A escritora francesa Viviane Forrester cunhou, em 1980, o conceito de “violência da calma”. Que, reduzindo muito, poderia também ser chamada de violência da indiferença. Vejamos um trecho sobre o tema, no livro “Horror Econômico”:
 
- É a mais perigosa, a que permite que todas as outras se desencadeiem sem obstáculo; ela provém de um conjunto de opressões oriundas de uma longa, terrivelmente longa, tradição de leis clandestinas. 'A calma dos indivíduos e das sociedades é obtida pelo exercício de forças coercitivas antigas, subjacentes, de uma violência e de uma eficácia tal que passa despercebida', e que, no limite, não é mais necessária, por estar inteiramente integrada; essas forças nos oprimem sem ter mais que se manifestar. Só aparece a calma a que fomos reduzidos antes mesmo de nascer. Essa violência, escondida na calma que ela própria instituiu, sobrevive e age, indetectável. Ela cuida, dentre outras coisas, dos escândalos que ela própria dissimula, impondo-os mais facilmente e conseguindo suscitar uma tal resignação geral que já não se sabe mais ao que se está resignando: de tão bem que ela negociou seu esquecimento!"


Mais de Forrester sobre a indiferença. Ela consegue expressar melhor o que, nos últimos meses, tenho tentado falar sobre o tema:
 
- A indiferença é feroz. Ela constitui o partido mais ativo, e certamente o mais poderoso. Ela permite todas as exações, os desvios mais funestos, mais sórdidos. (...) Para um sistema, obter a indiferença geral representa uma vitória maior que qualquer adesão parcial, por mais considerável que seja".
 
Lutar contra a violência, portanto, é lutar contra a indiferença.

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