Ivo viu a PM – e por
ela foi brutalmente assassinado, em janeiro, no Pinheirinho
por ALCEU LUÍS
CASTILHO (@alceucastilho)
Ivo Teles dos Santos,
de 69 anos, morreu na semana passada. Até janeiro, era morador do
Pinheirinho, em São José dos Campos.
A Rádio Brasil Atual
informou há pouco que, segundo a liderança Valdir Martins, o
Marrom, ele não resistiu às sequelas do espancamento que sofreu da
Polícia Militar, durante a reintegração de posse da área
pertencente ao especulador Naji Nahas.
A morte de Ivo ocorre
um dia após uma efeméride: os 16 anos da execução de 19 sem-terra
em Eldorado dos Carajás (PA). E menos de três meses após o
despejo. Vídeos divulgados em janeiro mostram um morador sendo
gratuitamente espancado por policiais militares.
Não era Ivo. E não se
tratava de somente um espancador. A violência de Estado, no Brasil,
é estrutural. Contra quem não possui bens. Isto sabemos. O que
ainda não sabemos é como são construídos, de fato, os mecanismos
da indiferença.
A escritora francesa
Viviane Forrester cunhou, em 1980, o conceito de “violência da
calma”. Que, reduzindo muito, poderia também ser chamada de
violência da indiferença. Vejamos um trecho sobre o tema, no livro
“Horror Econômico”:
- É a mais perigosa, a
que permite que todas as outras se desencadeiem sem obstáculo; ela
provém de um conjunto de opressões oriundas de uma longa,
terrivelmente longa, tradição de leis clandestinas. 'A calma dos
indivíduos e das sociedades é obtida pelo exercício de forças
coercitivas antigas, subjacentes, de uma violência e de uma eficácia
tal que passa despercebida', e que, no limite, não é mais
necessária, por estar inteiramente integrada; essas forças nos
oprimem sem ter mais que se manifestar. Só aparece a calma a que
fomos reduzidos antes mesmo de nascer. Essa violência, escondida na
calma que ela própria instituiu, sobrevive e age, indetectável. Ela
cuida, dentre outras coisas, dos escândalos que ela própria
dissimula, impondo-os mais facilmente e conseguindo suscitar uma tal
resignação geral que já não se sabe mais ao que se está
resignando: de tão bem que ela negociou seu esquecimento!"
Mais de Forrester sobre
a indiferença. Ela consegue expressar melhor o que, nos últimos
meses, tenho tentado falar sobre o tema:
- A indiferença é
feroz. Ela constitui o partido mais ativo, e certamente o mais
poderoso. Ela permite todas as exações, os desvios mais funestos,
mais sórdidos. (...) Para um sistema, obter a indiferença geral
representa uma vitória maior que qualquer adesão parcial, por mais
considerável que seja".
Lutar contra a
violência, portanto, é lutar contra a indiferença.
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