segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Uso de bala de borracha não é algo universal, mostra Eric Hobsbawm

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

Invoco o historiador Eric Hobsbawm para mostrar que o emprego de bala de borracha para controlar massas não é algo universal. Nesta segunda-feira, em Salvador, mais um manifestante ficou ferido - no rosto - diante da banalização, pelas polícias brasileiras, do uso desse recurso. Mas muitos países não utilizam nem esse nem outros métodos violentos de repressão.

Hobsbawn fala do assunto em seu livro “Globalização, Terrorismo e Democracia” (Companhia das Letras, 2007). Em um capítulo chamado A ordem pública em uma era de violência, ele discorre sobre o aumento das forças policiais no mundo – e sobre o aumento do emprego da força.

É nesse ponto que ele diz que os especialistas em controle de massas dispõem hoje de quatro tipos principais de instrumentos para enfrentar manifestações “violentas”:
  • químicos (como o gás lacrimogêneo);
  • cinéticos (armas de dispersão, balas de borracha);
  • jatos de água;
  • tecnologias de atordoamento.
O historiador faz, então, uma lista de países para ilustrar as variações entre o que chama de enfoque tradicional e o “moderno” no campo real do controle de massas:

- A Noruega não emprega nenhum dos quatro; Finlândia, Holanda, Índia e Itália, apenas um, a saber, do tipo químico. Dinamarca, Irlanda, Rússia, Espanha, Canadá e Austrália usam dois; a Bélgica e os pesos pesados Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e mais a pequena Áustria têm os quatro tipos prontos para a ação.

Vale ressaltar que ele está se referindo a manifestações “violentas”. E não a manifestações pacíficas, democráticas – que as polícias brasileiras já se acostumaram igualmente a reprimir, das mais diversas formas.

Não estamos ainda nem falando do uso indevido do recurso: balas de borracha apontadas para o peito, para o rosto, para os olhos, oferecendo riscos diversos para os manifestantes.

O fato é que se naturaliza, com isso, uma expressão institucional da barbárie. Como a guilhotina, como a escravidão, as balas de borracha poderiam ser simplesmente abolidas. Mas, no Brasil, parecem ser o primeiro recurso, uma espécie de fetiche das forças de segurança.

UM DIA NA FEBEM

Uma vez, repórter do Estadão, fui num domingo cobrir o dia seguinte de uma rebelião na Febem Imigrantes. Alguns adolescentes tinham fugido na noite anterior. Houve mortos. As mães e demais parentes (quase todos mulheres) formavam uma fila, em busca de notícias dos internos. Estavam em ordem – a fila, diga-se de passagem, era infinitamente mais ordeira que filas feitas pelas classes média e alta em São Paulo.

Embora as mulheres estivessem quietas, um caminhão da Tropa de Choque passava provocando-as. Os policiais queriam briga. De fato, dali a alguns minutos, enquanto entrevistava algumas pessoas, vi os PMs atirando a esmo. Também fiquei na mira das armas. Várias pessoas ficaram feridas. No dia seguinte, emplaquei a manchete do caderno Cidades: “Tropa de choque atira em parentes em frente da Febem”.

Parecia-me a abordagem honesta. A notícia da fuga já fora explorada pelas televisões. Eu quis testemunhar, como repórter, o que vi, in loco.

No dia seguinte, porém, tomei bronca do editor. Ele alegou que eu fora “parcial”. Pois as TVs mostraram que alguém jogara uma pedra no caminhão. Retruquei que isso não justificava balas atiradas a esmo em mulheres, idosas, crianças. Que poderiam localizar a pessoa que atirara aquela – aquela única – pedra. Disse também que, se quisessem se basear no relato da televisão, não era necessário enviar repórter.

Minha sensação foi a de que eu convenci o editor. Mas ele não podia admitir, pois a bronca nitidamente viera da direção do jornal.

É que, de longe, sem convivermos com as pessoas que são vítimas desse tipo de violência estatal, fica muito mais fácil dizer que tudo aquilo é normal. Não é – e pobre da sociedade que acha que sim.

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domingo, 5 de fevereiro de 2012

Grandes Patifes da Literatura (V) - Paulinho Perna Torta
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
João Antônio é um dos grandes escritores brasileiros. E, com a sua galeria de malandros, um dos mais importantes para entender a nossa sociedade excludente. “Paulinho Perna Torta” é o nome de um longo conto sobre uma dessas pessoas que, após uma sequência de explorações e discriminações, torna-se bandida. Paulinho Perna Torta vira cafetão, assaltante, faz de tudo no crime, na região central de São Paulo.
 
O conto foi escrito em 1965, mas publicado em 1974, no livro “Leão-de-Chácara”. Em artigo publicado na Revista de Estudos Avançados, da USP, o escritor Bruno Zeni mencionava, em 2004, um trecho importante. Paulinho diz: “[...] me ensinaram que meu negócio era ver e desejar. Parasse aí”. Zeni observa que, para o protagonista, “as pretensões de acumulação material não deveriam passar de fantasia”.
 
Estamos aqui, portanto, no quinto texto da série, diante de um caso muito diverso dos dois anteriores: Paulo Honório, de Graciliano Ramos, e João Romão, de Aluísio de Azevedo, representam proprietários de terra, capitalistas. Fernando Vidal Olmos, de Ernesto Sabato, era também um bandido, mas burguês. Perna Torta, um espoliado.
 
A escalada de Paulinho duma Perna Torta (ele não gostava da abreviação) no mundo do crime tem um momento antológico. João Antônio narra os conselhos daquele que era seu professor do crime. Mas a sequência – específica sobre machismo - poderia ser a mesma caso o conselheiro, com alguma variação temática, fosse uma raposa política diante de um novato, ou um empresário experiente diante de seu sucessor, um fazendeiro ensinando um jagunço.
 
Paulinho tinha apenas 18 anos e vivia com uma prostituta. Já era seu cafetão, mas ela o dominava. Vejamos:
 
“Vivia todo arranhado. Quando eu não dormia com ela, por ficar lá mesmo na minha tarimba da boca do Arrudão, na outra noite, Ivete estalava de nervos, se metia a me bater. Eu entendia mal todo aquele movimento. Ficava como um moleque bocó arriado à beira da cama. Agüentando a gritaria...Por onde foi que andou, cadelinho? - com aquele ar canalha me gozando no canto da boca.
 
- Uma criança. Um dia de cabeça quente, boquejei com Laércio, pedi-lhe uma luz. O mulato me zombou e ouvi xingo, esculhambação, desconsideração. Fiquei desengonçado como um papagaio enfeitado. Entendendo nada.

- Também... Você deixa a gringa lhe fazer gato e sapato. Dá-lhe um chalau, seu trouxa.
 
Arrudão arrastou este aqui para um canto e ensinou.
 
- Você vai deixar de ser um pivete frouxo. Vou te levantar a crista pra você dar uma ripada nessa gringa – e me olhou dos pés à cabeça – porque você é gente minha.
 
O brilho de simpatia nos olhos de Laércio Arrudão começou por me ensinar que quem bate é o homem. E manda surra a toda hora e fala pouco. Quem chega tarde é o homem. Quem tem cinco-dez-mulheres é o homem – a mulher só tem um homem. Quem vive bem é ele – para tanto, a mulher trabalha, se vira e arruma a grana. Quem impõe vontades, nove-horas, cocorecos, bicos-de-pato e lero-leros é o macho. Homem grita, manda e desmanda, exige, dispõe, põe cara feia e pede pressa. A mulher ouve e não diz um a, nem sim, nem não, rabo entre as pernas. Mulher só serve para dar dinheiro ao seu malandro. Todo o dinheiro. Por isso, entre os malandros da baixa e da alta, as mulheres se chamam minas.
 
Laércio Arrudão me ensinou.
 
- Mulher lava os pés do seu homem e enxuga com os cabelos.
 
Laércio Arrudão me ensinou.
 
- Outra coisa: duas ondas bestas podem perder um homem. Gostar e mulher bonita. Malandro que é malandro se espianta e evita tudo isso.
 
Pousando as duas mãos nos meus ombros, falando baixo e sério um português bem clarinho, Laércio começava a me escolar que quem gosta da gente é a gente. Só. E apenas o dinheiro interessa. Só ele é positivo. O resto são frescuras do coração.
 
Eu precisava tomar uns pontos na ignorância.
 
À noite, à toa, à toa, meti-lhe um sopapo na caixa do pensamento. Ela caiu e quis pôr a boca no mundo. Chapoletei-lhe mais um muquete e se aquietou.
 
- Fale baixo comigo.
 
Agora, ganha porrada toda a mão que tenta uma liberdade. Às vezes, à frente das outras mulheres do Salão Azul. Então, meu nome se espalha e começa a ganhar tamanho na zona. Boquejam à boca pequena:
 
- Um valente ponta firme.
 
Ivete se sente mulher de malandro e me agrada mais. Vem se aninhar como uma cachorra. Sou temido e presenteado”.
 
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sábado, 4 de fevereiro de 2012

“Uma Visita para Elizabeth” resgata dimensão histórica de uma heroína brasileira
 

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
O curta “Uma Visita para Elizabeth Teixeira” (2011) é um tributo duplo: ao cineasta Eduardo Coutinho e à camponesa Elizabeth Altina Teixeira. Elizabeth é a viúva de João Pedro Teixeira, o líder das Ligas Camponesas assassinado em abril de 1962. Estamos a dois meses do cinquentenário de um fato histórico: Teixeira é o “Cabra Marcado para Morrer” do clássico de Coutinho, o documentário mais importante já feito no Brasil. Tanto ele como Elizabeth são símbolos da luta pela terra na América Latina.
 

A cineasta Susanna Lira começa seu filme, dedicado a Eduardo Coutinho, com cenas de “Cabra Marcado” (1984). São cenas de 1962, quando Coutinho soube da morte de Teixeira e decidiu fazer o documentário – interrompido pelo regime militar. Em seguida Susanna explica a motivação do filme: ela considera Elizabeth Teixeira a personagem mais contundente do gênero documentário no Brasil.

A vida de Elizabeth, de fato, é uma síntese da violência contra camponeses no Brasil – e da capacidade de resistência de um povo espoliado. Leia aqui uma entrevista com a camponesa, feita em 2006, em Brasília.
 

Elizabeth perdeu o marido e dois filhos assassinados; diante da morte do pai, uma filha enlouqueceu. Depois da tragédia ela morou, por vários anos, clandestina, no Rio Grande do Norte, com o nome de Maria Marta. Com o sucesso do filme de Coutinho, ele a ofertou uma casa no bairro Cruz das Armas, em João Pessoa – onde está até hoje, aos 86 anos.

Foi para lá que Susanna Lira viajou, do Rio. Após as cenas de “Cabra Marcado”, ela pergunta: será que aquela mulher manteve os ideais, o discurso? Resposta simples: manteve. Elizabeth Teixeira segue perguntando: “Cadê a reforma agrária?”
 

O próprio Eduardo Coutinho e João Pedro Stedile, um dos coordenadores nacionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), dão depoimentos sobre a camponesa. Existe um diálogo entre a importância de Elizabeth para a luta camponesa no Brasil e a importância do filme de Coutinho para essa mesma luta: estamos diante de um caso onde a arte (no caso, um documentário) participa decisivamente de uma construção política.

O ponto alto do filme de Susanna Lira é a visita de Elizabeth a uma capela, construída em homenagem a Teixeira. É a primeira visita dela ao local. Uma placa registra o nome do líder e o dia de seu assassinato. Mas ela não consegue enxergar, mesmo com óculos. A diretora pergunta se ela sabe quem construiu a capela. Ela diz que não sabe. Mas que devem ter sido os sem-terra. “O Latifúndio é que não foi”.
 

Coloco o Latifúndio assim, com maiúscula, porque era comum que se falasse dessa forma personalizada, na Paraíba. O Latifúndio era uma espécie de personagem, ou mais que isso: uma entidade.

Nesta semana, o Latifúndio foi homenageado por Dilma Roussef. A presidente nomeou, como ministro das cidades, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Ele é neto de Aguinaldo Veloso Borges, um dos três mandantes do assassinato de João Pedro Teixeira.

Não sei se Elizabeth já tem essa informação. Sob uma perspectiva histórica, porém, é possível perceber que esse será apenas mais um escárnio específico da política brasileira. Quem se lembrará que Aguinaldo Ribeiro foi ministro das Cidades?

Um dos méritos do filme de Susanna Lira é nos relembrar que a história do Brasil registrará os nomes de João Pedro e Elizabeth Teixeira.


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Entrevista com Elizabeth Teixeira ajudou cineasta a localizá-la
 

Em 2006 entrevistei Elizabeth Teixeira, no Senado. Ela acabara de ser homenageada, no Dia Internacional da Mulher. A entrevista foi publicada no site da Agência Repórter Social – do qual eu era um dos editores. Ao conversar com a cineasta Susanna Lira, descobri que ela foi decisiva para a realização de seu documentário sobre a camponesa: é que, indagada sobre onde morava, a viúva de João Pedro Teixeira, o "Cabra Marcado para Morrer", deu seu endereço completo, em João Pessoa – tornando mais fácil a busca da cineasta. Reproduzo a entrevista aqui, na íntegra, conforme publicada na época:

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)


Aos 81 anos, Elizabeth Teixeira, a viúva de “Cabra Marcado para Morrer”, ainda sonha com a reforma agrária


BRASÍLIA - Ao falar da morte do marido, João Pedro Teixeira, há exatos 44 anos, a paraibana Elizabeth Altina Teixeira comete um ato falho (ou nem tanto): começa a falar no tempo passado, “ele só queria o melhor para a classe trabalhadora”, e passa para o tempo presente, “e é assassinado, barbaramente”. Vinte e dois anos após o lançamento de “Cabra Marcado para Morrer”, o consagrado documentário de Eduardo Coutinho, o testemunho de Elizabeth ganha força de atualidade, diante das estatísticas sobre mortes no Brasil em decorrência de conflitos fundiários: 1.500 nos últimos anos, segundo a Comissão Pastoral da Terra, 39 delas em 2005. Elizabeth foi homenageada no Senado no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Ex-candidata a deputada estadual pelo PSB, filiada ao PT durante a década de 90, sentou-se ao lado da senadora alagoana Heloísa Helena (Psol), em cadeira normalmente ocupada por senadores. Uma ironia da história: no cordel “Cabra Marcado para Morrer”, que inspirou em Coutinho a realização do filme, o maranhense Ferreira Gullar dispara: “Essa guerra do Nordeste/ não mata quem é doutor. / Não mata dono de engenho, / só mata cabra da peste, / só mata o trabalhador./ O dono de engenho engorda,/ vira logo senador.”Em entrevista exclusiva à Agência Repórter Social, Elizabeth fala dos dois filhos assassinados, da filha que se suicidou logo após sua prisão. Em tom musical, relembra em detalhes o dia da morte do marido e conta sobre o que mudou depois do filme de Eduardo Coutinho. Fala da esperança de ainda ver o trabalhador do campo ganhar sua terra. Mas, com decepção, e com a arma que a democracia lhe devolveu, sentencia: “A reforma agrária ainda não implantada em nosso País”. Confira a conversa feita no Senado, no dia 8 de Março, quando foi uma das cinco homenageadas pelo Dia Internacional da mulher:
 

Repórter Social – Quarenta e quatro anos após a morte do seu marido, João Pedro Teixeira, como a senhora se sente, com tantos cabras marcados para morrer ainda no Brasil?
Elizabeth Teixeira – Sinto dentro de mim uma tristeza quando acontece qualquer violência com o homem do campo. Por conta de João Pedro. Porque João Pedro é uma personalidade que só queria o melhor para a classe trabalhadora, do campo, lutando, e é assassinado em emboscada, barbaramente. Até hoje eu vejo essa violência com o homem do campo e me sinto muito triste, o homem do campo luta por melhores condições de sobrevivência. João Pedro era uma pessoa que lutava dia e noite para que o homem do campo tivesse condições de viver com seus filhos, não ver seus filhos morrer de fome. E por essa razão ele fundou a Liga Camponesa, na cidade de Sapé (PB), para que ali fosse reunindo o homem do campo, e ele fosse ali se saciando, e desfrutarem, unidos. Como tinha muitos pais de família naqueles engenhos vendo seus filhos morrer de fome, a luta de João Pedro era para que o homem do campo não visse seu filhos morrer de fome e tivesse condição de colocá-los numa escola, para que fossem alfabetizados. E por essa razão ele foi assassinado. Até hoje a luta no campo continua na violência, a reforma agrária não foi implantada ainda em nosso País. Pois João Pedro na luta sabia que ia morrer. Ele chegava em casa, me abraçava todos os dias e me dizia: “Minha filha, vão me tirar a vida. Mas a reforma agrária vai ser implantada em nosso País. E com a reforma agrária, com terra, com condições para o homem do campo produzir, vai acabar com essa miséria que tem, de fome, o homem do campo sem terra, sem condições de sobreviver, com os filhos analfabetos, isso vai acabar, minha filha”.


Repórter Social – E a senhora ainda acredita nisso?

Elizabeth - Eu acredito que ainda seja implantada uma reforma agrária, que nosso povo lute, nossas mulheres. Como eu enfrentei depois do assassinato do João Pedro, assumi a presidência da Liga Camponesa e fui lutar com o homem do campo. Quantas vezes eu era presa, mas não ficava presa, me liberavam e eu voltava e continuava a luta para o que desse e viesse. Então acredito que ainda vai ser implantada uma reforma agrária em nosso País, que vai melhorar a situação do povo. Apesar de hoje eu já estar com 81 anos, pelo que passei na minha vida, o assassinato de João Pedro vai fazer 44 anos no dia 2 de abril, não foi fácil. Mas tenho uma fé dentro de mim que vai melhorar a situação do nosso povo brasileiro, principalmente o homem do campo.

Repórter Social – Com 81 anos, como a senhora faz nessa luta?

Elizabeth – Olha, com 81 anos eu não posso mais continuar a luta no campo. Vivo em casa, só a minha vidinha de casa mesmo, viu? Não estou mais na luta no campo, agora eles vêm conversar comigo, eu dou apoio, converso com eles, mostro o livro de João Pedro, o meu livro, ao companheiro do campo, mas no campo não posso mais estar, lutando naqueles engenhos, não posso mais, meu filho.

Repórter Social – A senhora mora onde? 

Elizabeth – Eu moro em João Pessoa, em Cruz das Armas, na Genésio Gambarra, 160, em Cruz das Armas.
 

Repórter Social – A senhora se mantém como? 
Elizabeth – O governo do Estado me deu há muitos anos atrás uma pensão. È uma pensãozinha de 600 reais. (A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedeu ainda há três anos uma indenização em parcela única, no valor de 480 salários mínimos – o equivalente hoje a cerca de R$ 150 mil) Eu recebo, já faz muito anos que recebo essa pensão.

Repórter Social – O que mudou desde 1984, desde o filme e portanto desde a redemocratização do País?

 Elizabeth - O que mudou? Eu não tinha uma casa para morar. Eduardo Coutinho, que fez o filme “Cabra Marcado para Morrer”, comprou uma casa, justamente nesse bairro de Cruz das Armas e me deu a casinha. Justamente eu moro lá na casa. O que melhorou para mim foi essa casa, que eu moro com uma filha lá na casa que foi dada, comprada pelo Eduardo Coutinho com o dinheiro do filme “Cabra Marcado para Morrer”.

Repórter Social – A senhora foi procurada por muita gente por conta do filme?

Elizabeth - Muita gente chegava até minha casa e dizia que tinha assistido o filme Cabra Marcado e que tinha gostado do filme...

Repórter Social – A senhora ainda é reconhecida nas ruas?

 Elizabeth - Sou reconhecida, nas ruas, todo mundo. Elizabeth Teixeira, educadora, mulher da reforma agrária, mulher da Liga Camponesa, eles gritam: “É a Liga Camponesa, Elizabeth Teixeira!” Sou conhecida demais, demais até. E tudo: lá na Paraíba, no Pernambuco, em São Paulo (sorri), no Rio (sorri), em todo canto eu sou conhecida. ( Ela foi homenageada pelo grupo Tortura Nunca Mais, no Rio, e pela Câmara Municipal de São Paulo; no ano passado, foi uma das 100 brasileiras indicadas ao Prêmio Nobel da Paz.)

Repórter Social – Quantos filhos a senhora teve? 

Elizabeth - Onze filhos. Eu fiquei com onze filhos, mas dois foram assassinados. O José Eudes Teixeira e o João Pedro Teixeira foram assassinados, e a mais velha suicidou-se com a minha prisão, no mesmo ano em que mataram João Pedro foram me prender, os policiais, fizeram fila de policiais, aí o tenente me chamou lá na frente, cada passo que eu dava um dava um tiro de um lado, outro de outro, outro de outro, outro de outro, aí quando eu cheguei lá o tenente me disse, de dentro do carro: “Eu vou pegar o documento”. Eu disse: “mas tenente, é mais uma prova de covardia. Vocês não mataram o João Pedro de emboscada? Não botaram uma emboscada e tiraram a vida de João Pedro, e por que não tiram a minha aqui?” Né? Foram tiros, muitos tiros. Aí a menina mais velha, Marluce Teixeira, onde eu voltei para pegar os documentos, ela me pegou, me abraçou e me disse: “Mainha, vão tirar a sua vida da maneira que tiraram a de Painho. Daí peguei na mão dele, melada de sangue, fiquei toda melada de sangue, mas a senhora eu não quero ver a senhora morta não, mainha. Vão tirar sua vida.” Eu disse: “não, minha filha, não vão tirar não. Fique aí com seus irmãozinhos, que eu vou presa, mas volto”. Aí eu vim presa para João Pessoa, do município de Sapé, onde eu morava, vim para João Pessoa, quando eu cheguei em João Pessoa já tinha um advogado, doutor Santa Cruz, já tinha tomado conhecimento desses desentendimentos que houve lá no engenho, que já tinha ido lá, aí ele estava lá me esperando, sei que fizeram várias perguntas a mim, eu respondi tudo, o tenente disse: “Está liberada, pode voltar”. Aí eu voltei para casa, quando cheguei em casa, ela já tinha ingerido veneno com mel, já estava morrendo. Trouxe ela para a cidade, voltei no mesmo carro, o carro do advogado que foi me levar, voltei no mesmo carro, quando eu cheguei em casa ela já estava (pausa) morrendo, aí botei dentro do carro, trouxe para João Pessoa, quando cheguei lá em João Pessoa que o médico examinou ele disse: “Ela vai morrer já”. Em poucos minutos ela morreu.

Repórter Social – Os seus outros filhos morreram quando?

Elizabeth - Um morreu já depois da anistia. Ele fundou uma associação, um sindicato, quando fundou o sindicato já estava com 200 associados, aí o cara veio lá e matou, tirou a vida dele.
 

Repórter Social – Algum dos seus filhos persiste na luta? 
Elizabeth - Não. Não tem mais nenhum. Não. Nenhum mais na luta. Não tem não. Eu é quem continuo a luta, mas meus filhos não. Os filhos não. Foi assassinado José Eudes Teixeira, que me abraçava e dizia: “Mainha, eu vou continuar a luta de painho, para o que der e vier.” Aí fundou o sindicato. Construiu a casa, fundou e foi morto.

Repórter Social – O que a senhora não disse no filme que gostaria de dizer, hoje?

Elizabeth – O que eu considero importante é que o nosso povo brasileiro se una, fiquem todos unidos, lutando por uma reforma agrária. Era a maior alegria da minha vida se eu tomasse conhecimento de que fosse implantada uma reforma agrária em nosso País, e que todos os homens do campo tivessem condições de sobreviver ali na terra, melhorar essas condições do trabalhador da terra, isso aí era o que eu tinha mais prazer na minha vida, e hoje, na idade em que estou, tomasse conhecimento de um movimento desses.

Repórter Social – A senhora está feliz com a homenagem feita pelo Senado? 

Elizabeth - Estou feliz com essa homenagem, por estar aqui no Senado. Agradeço a todas as mulheres que estão presentes, a todos os senadores, agradeço a todos de coração por lembrar a minha pessoa e fazer esta grande homenagem a Elizabeth Teixeira, lutadora da Liga Camponesa, da reforma agrária no campo.
 
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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Com Aguinaldo, Dilma escarnece dos sem-teto e dos sem-terra
 

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
O ano de 2012 começou em temperatura alta no que se refere a conflitos por terra no Brasil. Ao despejo violento na Ocupação Pinheirinho, em janeiro, somam-se este mês duas reintegrações de posse: uma delas, pela Polícia Federal, em terras ocupadas por famílias Tupinambá, em Olivença (BA); outra, em São Paulo, em um prédio na região central. No Mato Grosso do Sul há outro despejo anunciado, em Rio Brilhante: 170 indígenas Guarani Kaiowá precisam sair da Fazenda Santo Antônio, conforme decisão judicial.
 
É em um contexto como esse que Dilma Rousseff opta pelo deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) como novo Ministro das Cidades – substituindo um colega de partido sob suspeita. Dono de mais de 30 terrenos em João Pessoa, Ribeiro é neto de um dos maiores coronéis que a Paraíba já teve, Aguinaldo Veloso Borges.
 
Francisco de Assis Lemos, ex-militante das Ligas Camponesas e deputado estadual na Paraíba cassado pelo regime militar, expõe, em seu livro sobre as Ligas (“O Vietnã que Não Houve – Ligas Camponesas e o Golpe de 64”), quem foi Veloso Borges:
 
- No dia 2 de abril de 1962, João Pedro Teixeira, Vice-Presidente da Liga Camponesa de Sapé, foi assassinado com tiros de fuzil, na estrada, entre Café do Vento e Sapé. Os mandantes do crime foram: Aguinaldo Veloso Borges, Pedro Ramos Coutinho e Antônio José Tavares, conforme concluiu a pronúncia do Juiz Walter Rabelo em 27 de março de 1963.
 
João Pedro Teixeira é o "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho, o maior documentário brasileiro de todos os tempos. Foi o soldado Chiquinho, primeiro a ser preso pela polícia paraibana, que denunciou o trio. Veloso Borges, então suplente de deputado, assistiu a uma série de renúncias na Assembleia até obter a imunidade parlamentar – e escapar do julgamento. Um ano depois viria o golpe militar.
 
O ministro Aguinaldo Ribeiro não se torna um assassino pela biografia do avô. Assim como o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) não matou ninguém no Senado, como fez seu pai Arnon de Mello, em 1963 – atirando no colega Silvestre Péricles e vitimando o colega José Kairale.
 
Mas é evidente que esses senhores representam interesses muito distintos daqueles dos sem-teto e dos sem-terra. Não será deles que sairão iniciativas efetivas para garantir o direito constitucional à moradia. Os que sabem o caminho das pedras para a garantia desse direito seguem não sendo cogitados para o Ministério das Cidades.
 
Em outras palavras, a nomeação de Aguinaldo Ribeiro é um escárnio. Dilma Rousseff repete, com isso, a política de Lula em relação ao Ministério das Cidades, de entregar a pasta de bandeja para um dos partidos mais nefastos do país, o PP. Em meio ao loteamento político, um ministério de importância central para a questão social tem sido reservado para os filhos da Arena – os netos de Aguinaldo Ribeiro e Arnon de Mello, dos usineiros e latifundiários.

Curioso observar, em relação ao caso Pinheirinho, que muito lulista e governista quer nos fazer crer que o despejo violento em São José dos Campos é uma obra de responsabilidade do PSDB, do governo estadual e do prefeito Eduardo Cury. E é evidente que não se trata disso. Direito à moradia e a reforma agrária não são prioridade de governo nenhum – inclusive do governo federal, comandado pelo PT.
 
O próximo despejo anunciado, o dos Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul, tem contornos surreais – no Estado onde há mais homicídios de indígenas no Brasil. Os 170 membros da Terra Indígena Laranjeira Nhanderu estavam na beira da rodovia, na região de Rio Brilhante. Incomodavam: o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) entrou com ação para que ali não permanecessem. Aí eles foram para a fazenda. Incomodavam: com a recente decisão judicial, terão de voltar para a beira da estrada.
 
Brasileiros com pouca informação em relação às leis da física gostariam que esses seres humanos não ocupassem lugar nenhum. Como isso não é possível, e a moradia, antes de ser um direito, é uma necessidade elementar, esses indígenas – e outros sem-teto e sem-terra pelo país – seguirão ocupando alguma fatia de nosso território. Como não é dada a terra que lhes é de direito, seguirão sendo despejados – enquanto o novo ministro especula com seus terrenos em João Pessoa.
 
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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Indignados com Pinheirinho vão protestar contra despejo de indígenas na Bahia?
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
Quarenta famílias Tupinambá foram despejadas ontem em Olivença, na Bahia. O jornal Brasil de Fato relatou violência da Polícia Federal: 30 agentes, armados, forçaram a desocupação das casas. Assim como em São José dos Campos, os moradores não esperavam a reintegração de posse: baseavam-se em uma decisão do Superior Tribunal de Justiça. Embora os fatos sejam idênticos aos da Ocupação Pinheirinho, a esta altura destruída e queimada em São José dos Campos, não geram a mesma indignação e repercussão midiática. Por quê?
 
Uma parcela de indignados no Brasil é seletivamente partidária. Bufa, grita, espuma, se contorce – mas somente se as violações de direitos humanos forem protagonizadas por tucanos. Brutalidade policial em São Paulo? ONU neles! Brutalidade policial no Piauí, em Pernambuco ou Sergipe? Moita.
 
Agem da mesma forma  os indignados contra a corrupção. Hoje eles estão no campo da oposição ao governo federal. Bufam, gritam, espumam, se contorcem – mas somente se os desvios e bandalheiras forem protagonizados por petistas e seus aliados. Casos similares envolvendo membros do PSDB, do DEM? Moita.
 
Cada um desses grupos tem uma mídia específica, em uma espécie de concerto da indignação seletiva. De um lado, o que os governistas chamam de PIG – o Partido da Imprensa Golpista. Segundo eles, a grande imprensa faz qualquer coisa para atingir Dilma Rousseff ou Lula.
 
Do outro lado entrincheira-se boa parte da mídia alternativa: blogueiros “progressistas” cuja principal preocupação parece ser a de atingir os tucanos e seus aliados – e o PIG.
 
Cada vez acredito menos na existência do PIG. Acredito, sim, na existência de uma imprensa graúda que reverbera (como a polícia, como o Judiciário) os interesses dos poderosos. O despejo na Bahia mostra isso com clareza: não seria de interesse do PIG, por exemplo, divulgar enfaticamente um despejo de indígenas pelo governo Dilma?
 
Não divulga porque está imbuído do ensejo de defender com garras o direito à propriedade. Este, muito mais que o direito à vida e outros direitos humanos elementares, flutua acima de simpatias partidárias – que, sim, existem.
 
Por outro lado, cada vez acredito mais na existência do PAG. O Partido da Agenda Governista, o anti-PIG, uma imprensa chapa-branca, servil aos humores lulopetistas. Não de uma forma absoluta, como ele mesmo proclama em relação ao PIG, mas com uma capilaridade e uma força suficientes para gerar ondas de indignação – quando esta for conveniente.
 
É claro que há nuances em todo esse processo. Não é inexorável que a grande imprensa vá ser indigna em relação a violações de direitos. A cobertura sensível que a Record faz do Pinheirinho é um exemplo disso. Outro, a oposição, na própria Rede Globo, da abordagem humana do Bom Dia, Brasil em relação às famílias despejadas em São José dos Campos, em contraponto com a criminalização imposta pelo Jornal Nacional e Fantástico.
 
Da mesma forma há uma imprensa realmente alternativa. O Brasil de Fato divulgou atentamente o despejo na Bahia. Por ele ficamos sabendo que Vanderlei, um indígena de cerca de 50 anos, entoou o canto Tupinambá dentro de uma viatura da PF. Foi retirado do carro e colocado na chuva, de joelhos, com as mãos para trás. Soubemos também de agressões, contra os mesmos Tupinambá, em 2009 e em 2010.
 
O saldo desse problema é que o país está cindido. Salvo uma turma de fanáticos que ainda acredita no que lê na revista Veja, há poucos brasileiros instruídos que se pautam apenas pelo canto da grande imprensa. Por outro lado, a imprensa alternativa não é livre como deveria ser. A soma de seus esforços pulverizados aparece apenas aqui e ali, quando governistas e independentes participam do mesmo coro – como aconteceu no caso Pinheirinho.

Não se trata apenas da necessidade de garimpar jornalismo independente, dos dois lados da força. Trata-se, infelizmente, de garimpar indignação genuína – de preocupação sistemática e coerente com a vida e os direitos fundamentais de todos os brasileiros.
 
Alfabetizados em cidadania não podem ter apenas o PT ou o PSDB como “inimigo”. E sim a tortura, os abusos policiais, as agressões contra povos indígenas, camponeses, sem-teto, moradores de rua, dependentes químicos, estudantes. Parece elementar – mas não é o que está acontecendo no Brasil hoje, fevereiro de 2012.
 

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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Trabalhadores da Marfrig “vieram a óbito” e a culpa é da terceirizada?

A nota oficial da Marfrig em relação aos trabalhadores mortos e em risco de vida em Bataguassu (MS) mostra como as empresas – por meio de suas equipes de comunicação - tentam atenuar o horror da exploração de homens por outros homens. Cada palavra escolhida visa minimizar a tragédia. Mas o discurso merece alguns questionamentos, trecho por trecho. Vejamos.


A Marfrig informa que o acidente na manhã desta terça-feira (31) envolvendo a unidade de curtume no município de Bataguassu (MS) foi controlado pelo Corpo de Bombeiros.


“Envolvendo”? Algo de cima, ou de fora, estranho à Marfrig, que “envolvesse” sua “unidade de curtume”? Na verdade quatro trabalhadores brasileiros morreram intoxicados na Marfrig. Enquanto serviam à Marfrig, em um trabalho de alto risco. Por responsabilidade direta da Marfrig, que deveria zelar pela segurança de seus funcionários.


O curtume está isolado para perícia técnica e não há qualquer risco de intoxicação ou perigo.


Que bom sabermos disso, não? Mas assim que a perícia liberar o curtume a empresa seguirá obtendo normalmente seus lucros. Nesse caso, haverá risco? As empresas informam à sociedade os riscos embutidos em suas atividades? Quais são eles?


Aproximadamente 20 funcionários intoxicados foram encaminhados à Santa Casa local.


Aproximadamente, mais ou menos 20 funcionários? Tipo assim: “demos uma olhadinha e parece que eram uns 20 caras”? Poderiam informar com precisão? Qual o controle, afinal, numa área de tamanho risco? Quem estava no local?


Destes, 4 vieram a óbito e 3 foram removidos em UTIs móveis para tratamento na Santa Casa de Presidente Prudente (SP). Os demais seguem sendo atendidos localmente e estão fora de perigo.


Os quatro mortos aparecem de passagem no texto. São uma espécie de detalhe. E eles, vejam só, “vieram a óbito”. Não foram asfixiados, violentados por um veneno explosivo. A frase coloca as mortes en passant e segue para seu final inadvertidamente irônico: na Santa Casa de “Prudente”. E logo se avisa que os “demais” (não se sabe quantos, afinal) estão “fora de perigo”. Leitura jornalística: quatro morreram e três correm risco de morrer.


A causa do acidente está sendo apurada pela polícia técnica. Informações preliminares indicam que houve reação química no descarregamento de insumos realizado por uma empresa terceirizada.


Aaaaah, então a culpa é da empresa terceirizada. Claro. Ora, essa é a mesma desculpa utilizada por todos os patrões flagrados com trabalhadores escravos. Mal têm margem de lucro, as pobres corporações, e não podem fiscalizar os tais “terceiros”.


A equipe local da empresa está empenhada na prestação de atendimento aos funcionários atingidos e suas famílias.


Os funcionários “atingidos” e suas famílias agradecem.


Assim que as causas do acidente forem esclarecidas pelas autoridades competentes a empresa voltará a informar.


Só depois disso? O esclarecimento das causas costuma demorar. A empresa não deveria voltar a “informar” mais vezes?


A unidade frigorífica de Bataguassu, próxima ao curtume, não foi atingida pelo acidente.


A empresa não tinha um final melhor para uma nota fúnebre? Devemos soltar fogos por estar intacta a unidade frigorífica?


As grandes empresas possuem equipes de comunicação especializadas em “gestão de crise”. Notas como essa, porém, longe de minimizar a crise, expõem o quanto, no Brasil, as relações de trabalho seguem “aproximadamente” nas condições do século 19.


Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
 

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