Ensaio sobre coxinhas
O termo "coxinha" é despolitizado. Ele ameniza a sordidez. Existem policiais violentos, existem políticos que promovem a barbárie, governadores cruéis, existe gente cúmplice, indiferente, canalha. Existem jornalistas cínicos, médicos desumanos, advogados sem ética. Existem elites monstruosas, existem fazendeiros (ou netos de empresários) que escarnecem dos mais pobres, existem oligarcas sem escrúpulos, existem grileiros, desmatadores, ladrões de colarinho branco, existem racistas, homofóbicos. Em todas essas situações está lá, de forma explícita ou latente, a violência. A violência de 513 anos, a violência do sistema econômico, a opção - na maior parte dos casos, consciente - pela espoliação, pela discriminação, pela perpetuação da desigualdade. Nada disso é traduzido pela palavra "coxinha". O conezinho de frango não sintetiza os inimigos. Estes são os canalhas, aqueles que patrocinam a repressão, que envenenam a nossa comida, aqueles que defendem a tortura e a execução de jovens negros. Escravocratas, violadores de direitos, atropeladores da saúde, assassinos da educação, pulhas de diversos quilates. Desalimentemos as imprecisões de linguagem, portanto. Não há modismo linguístico que sintetize a gigantesca soma de violências praticadas no Brasil por vermes, por gente que exclui, que acende diariamente o fogo da exclusão. Aos agressores, os termos exatos. Eles não são um quitute. Os coniventes, também não. Que seja denominada a cada covarde a sua pequenez específica, a sua transbordante falta de glória. Patifes: vocês têm vários nomes.
Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
Com desenho de Eduardo Simch
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2 comentários:
Perfeito. O escracho é a tal da arma de dois gumes, e é preciso saber usá-la. Caso contrário, ele se torna uma ferramenta para banalizar questões muito graves. E, pelo que andei vendo por ai,é o que rolou.
http://alceucastilho.blogspot.com.br/2013/07/ensaio-sobre-coxinhas-o-termo-coxinha-e.html
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