sábado, 10 de novembro de 2012

Otavio Frias Filho precisa contar ao Brasil que defende os ruralistas
 

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 

A Folha de S. Paulo deste sábado e a Veja desta semana repercutem uma pesquisa do Datafolha sobre hábitos indígenas. O título do jornal é absurdo, para quem tenha aprendido rudimentos de antropologia: “Índios estão integrados ao modo de vida urbano, afirma pesquisa”.
 

Ao lado, pelo menos, a Folha destaca uma frase do Conselho Indigenista Missionário (Cimi): “Isso não significa um conflito cultural. Não é o fato de adquirir uma TV ou portar um celular que fará alguém ser menos indígena”.

O jornal que se proclama democrático por ter aderido à campanha das Diretas Já, nos anos 80, precisa explicitar à sociedade brasileira que defende os ruralistas. Tanto quanto o Estadão ou a Veja. Sem posar de isento.

A pesquisa sobre indígenas foi encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Ela é presidida pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO), que tem uma coluna semanal no jornal. Com direito a artigos extras, em campanha sistemática contra os territórios indígenas.
 

Um desses artigos foi escrito um dia depois da prisão do pecuarista Assuero Veronez, seu vice na CNA, acusado de participar de uma rede de exploração sexual de adolescentes. Veronez foi libertado por um desembargador que, por sua vez, já foi acusado de se apropriar de terras do Incra. A imprensa, porém, não divulgou essa informação.


O JORNAL E A SENADORA
 

Mas a relação dos donos da Folha com os ruralistas não é apenas ideológica. Um jornal do Tocantins publicou este ano a seguinte notícia, sobre visita de Otavio Frias Filho, diretor editorial e diretor de redação da Folha, ao parque do Jalapão. Ele estava acompanhado da senadora:
 


A origem do império Folha (que também tem participação no UOL e no Valor Econômico) é ruralista. Octavio Frias de Oliveira, o pai, era granjeiro, antes de adquirir a empresa Folha da Manhã S.A. Vejamos o que escreveu a respeito o jornalista Paulo Nogueira, há dois anos:
 

- Na biografia semioficial de Octavio Frias de Oliveira, está publicado um episódio revelador. Nabantino, o antigo dono da Folha, estava desencantado (...) Decidiu vender o jornal. Um amigo comum de Nabantino e Frias sugeriu que ele comprasse. “Dinheiro você já tem da granja”, ele disse. “O jornal vai dar prestígio a você.”

Nenhuma notícia que contrarie os amigos pessoais de Frias é publicada na Folha. Quem trabalhou lá diz que Frias Filho, após a morte do pai, é mais realista que o rei nesse sentido – em homenagem à memória do fundador do jornal. O mesmo não valeria para pecuaristas?
 

O Senado realizou em 2011 duas sessões de homenagens ao grupo: à Folha de S. Paulo e a Octavio Frias de Oliveira. Doze senadores discursaram na segunda sessão, em março – sob a presidência do ruralista José Sarney (PMDB-AP). Um ministro do STF também participou: o ruralista Gilmar Mendes.

Um desses parlamentares era a senadora Kátia Abreu. Ela disse no plenário que a Folha “agita, incomoda, provoca”. Segue um trecho:


- Infelizmente, este meu depoimento corre o risco de ser arguido de suspeição. Na verdade, não tenho apenas admiração pela presença testemunhal da Folha na vida brasileira. Vou além. Devo confessar minha condição de leitora diária do jornal (...) Também sou eventual colaboradora da sua corajosa terceira página, onde debatem os que têm algo a dizer sobre os temas em discussão no País, e que é aberto até aos que discordam do próprio jornal e o acusam de parcialidade. Além disso, com frequência, sou citada por minhas opiniões, intervenções nos trabalhos do Congresso Nacional e posições em defesa dos produtores rurais (...) Pois bem, mesmo quando as posições críticas do noticiário que me envolvem são adversas – o que é natural e nem sempre agradável, pois, às vezes, injustas –, nunca me senti desrespeitada, nem me foi negado espaço na Folha para explicações ou versões que me pareceram indispensáveis.


A TERRA E OS LATIFUNDIÁRIOS
 

Após a CPI da Terra, em 2005, o deputado federal João Alfredo (PSOL-CE) publicou um relatório que deveria ser o oficial. Por uma manobra dos ruralistas, entre eles o presidente da CPI, Álvaro Dias (PSDB-PA), o documento tornou-se um relatório paralelo. Eles aprovaram um texto que classificava as ocupações de terra como “atividade terrorista”.
 

A professora Regina Bruno escreveu o posfácio desse relatório paralelo, que virou livro. Em certo momento ela pergunta quais as razões de tanto poder e apego dos grandes proprietários de terra. “A resposta dela é longa”, conto no livro Partido da Terra (Editora Contexto, 2012). Mas vale destacar um trecho em que ela identifica uma “infinidade de pessoas, grupos e categorias sociais de proprietários de terra”:
 

- São os banqueiros-proprietários de terra, os empresários-proprietários de terra; os homens do agronegócio-proprietários de terra; os donos dos meios de comunicação-proprietários de terra, os comerciantes-proprietários. E, mesmo os não-proprietários, em seu modo de ser, são grandes proprietários por “apoio aos meus”, como costumam declarar na mídia.
 

Esses donos dos meios de comunicação precisam dizer com todas as letras quais interesses defendem, em relação à reforma agrária, à questão indígena, aos impactos das decisões dos ruralistas no meio ambiente.
 

Otavio Frias Filho, defensor da democracia, poderia encabeçar esse movimento.
 

TWITTER:
@blogOutroBrasil
 

NO FACEBOOK:

Nenhum comentário: