quarta-feira, 2 de abril de 2014

Militares investigam militares por crimes cometidos por militares

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

Manchete da Folha: "Militares criam comissões para investigar tortura". Os outros jornais vão na mesma linha. Lemos que os militares vão investigar "centros de tortura da ditadura" (Estadão), que as Forças Armadas investigarão "tortura e morte em quartéis" (O Globo).

Então tá. Os militares vão investigar os militares sobre torturas praticadas por militares durante uma ditadura.

A primeira imagem que me veio à cabeça foi a da lanterna de Diógenes. Só que às avessas. O filósofo grego andava com uma lanterna acesa, durante o dia. À procura de um homem honesto. Ou da verdade.

Já que estamos a falar de filosofia, não custa invocar o doutor Pangloss, personagem de Voltaire. Ele é o guru de Cândido, o jovem ingênuo que acreditava que todas as desgraças, no fundo, viriam para melhor. (Pollyanna viria a ser uma personagem mais popular nesse campo do otimismo empedernido.)

No sentido contrário, não consigo enxergar nessa lanterna verde-oliva mais do que uma reafirmação da obscuridade. Uma lanterna para inglês honesto ver, uma verdade para torturadores, auto-redentora.

O próprio Voltaire definia metafísica como procurar, em um quarto escuro, um gato preto que não está lá. Mas aqui estamos novamente às avessas: os torturados estavam lá, os desaparecidos existiram, os mortos se multiplicaram e ainda nem foram devidamente contados. (Pois temos os indígenas, os camponeses.)

E as tais comissões verde-oliva terão 30 dias para apurar tudo. Trinta dias! Um disparate, claro, que até agora passa despercebido por nossa imprensa tão peculiar, essa da "ditabranda", essa que transforma um mea culpa, por ter apoiado o golpe, num esquisitíssimo "meia culpa".


Trinta dias! Fiquei pensando: por que não 25 dias? Ou 21? Assim teríamos um dia para cada ano de perseguições, abusos, espancamentos, paranoia, em cada Unidade da Federação.

Eu me lembro que, quando servi o Tiro de Guerra, em São Carlos, o sargento Castro falava abertamente sobre tortura. Podiam chamar o sargento Castro para as investigações!

Na melhor das hipóteses, como imagina o Valor, esse encaminhamento peculiar da história recente do Brasil vai motivar "desculpas" por parte dos militares, "perdão".

Como não é isso que eu quero, esses jornais não me representam. Na minha opinião eles deviam estar exclamando palavras como "deboche", "escárnio". Clamando por investigação de verdade e pelo devido respeito à história de homens e mulheres violentados pelo Estado.


TWITTER:
@blogOutroBrasil

NO FACEBOOK:

Outro Brasil

segunda-feira, 17 de março de 2014

Cláudia, a mulher-arrastada. E os homens engravatados, fardados e-que-escrevem

por ALCEU LUÍS CASTILHO
(@alceucastilho)

Corre nas redes sociais um movimento para que Cláudia da Silva Ferreira seja tratada como tal. Com nome e sobrenome, uma história. E não como "a mulher arrastada" por policiais, no Rio. Muito justo. E necessário. Ela era uma mulher, uma mulher-que-cuidava-dos-filhos (e dos sobrinhos), uma mulher-que-tinha-saído-para-comprar-pão (e mortadela). Mas, sim, ela foi arrastada. Antes disso, baleada. E aqui temos uma distorção - linguística, narrativa - em cima de uma distorção. Pois ninguém fala em Cláudia como "a mulher baleada". Ou "a mulher executada".

A indignação não pode se restringir à ação mais patética da polícia. Os patetas que a arrastaram foram, naqueles instantes em que a levavam para o hospital (baleada), exatamente isso: patetas. Não planejaram esse desfecho mais chamativo. Não temos aqui - insisto, estou a falar dessa cena final - mais um caso João Hélio Fernandes Vieites, o menino arrastado por bandidos, em 2000. Temos algo pior: algo que perpassa toda uma instituição, toda uma argamassa - uma sociedade - em frangalhos. Algo mais que uma distração brutal. E que um caso de banditismo comum.

Se Cláudia da Silva Ferreira foi baleada antes de ser arrastada, temos antes dessa cena - sim, extremamente chocante - um fato bem mais estrutural: temos uma corporação de assassinos. Que mata Cláudias e Amarildos e milhares de pessoas (negras e com filhos e que compravam pão), por todo o país, sem que alguma trapalhada escancare a brutalidade habitual.

A trapalhada não é cruel. Ela parece cruel. Cruel foi a execução de Cláudia. Chocante é ter um corpo no porta-malas. Violento foi o assassinato às escondidas, essa solução em escala para os conflitos sociais. Essa solução histórica, esse extermínio de brasileiros, essa naturalização da barbárie. Violento é o chefe de polícia, é cada um dos governadores, violento é esse sistema que mantém essa instituição que apela sem culpa para balas e porta-malas - e que abriga um ou outro policial tão trapalhão quanto despreparado.

Vou insistir no ponto: não estamos diante de uma videotrapalhada. Estamos diante do registro de uma parte chocante de uma cena mais ampla. Menos travelling (uma cena mais frenética de um filme) e mais uma imagem congelada: uma mulher baleada. Uma mulher que perde a vida. No filme “Roma, Cidade Aberta", um clássico do pós-guerra, a personagem Pina - Anna Magnani - corre, desesperada, para tentar salvar o marido, preso pelos nazistas. E grita: "Francesco! Francesco!" Aqui, não sabemos ao certo se Cláudia corria. Deve ter corrido. Deve ter pensado em correr.

Seria natural ela correr. Natural? Seria cultural. Porque o medo cotidiano nas periferias do Brasil é o medo dessa polícia fascista, dessa polícia que confisca câmeras porque não quer o registro de suas trapalhadas e de seus métodos incivilizados de imobilizar, de prender, de reprimir, de humilhar. O medo de Cláudia é o medo de cada um de nós. Medo institucionalizado, um medo curtido, soldado, multiplicado no dia-a-dia por homens fardados, homens engravatados e homens-que-escrevem: jornalistas.

A libertação das Cláudias e Amarildos que ainda não foram arrastadas e baleados não se dará sem a libertação desses homens-que-escrevem. Que pressionem os homens engravatados que, por sua vez, levem os homens fardados (e que sejam identificados, que não sejam anônimos) a patamares menos animalescos de intervenção social.  A preservação da vida das Cláudias e Amarildos passa, portanto, pela decisão – que também não é apenas individual – de homens-e-mulheres que-escrevem, de homens e mulheres que não podem escrever arrastados por uma tradição – patronal – de insensibilidade e descaso. De jornalistas cúmplices, cínicos e com horror à contextualização histórica e social.

Toda a sociedade brasileira estava naquele porta-malas. Toda a sociedade (mundial, capitalista, consumista, cega) está sendo arrastada e baleada. A ferida é planetária. Mesmo os defensores dos canalhas que promovem o extermínio estão sendo, dia-a-dia, no Rio de Janeiro, em São Paulo e nos grotões (onde indígenas são atropelados, onde casas de camponeses são queimadas), violentamente reduzidos a arremedos de cidadãos. Mesmo quando marcham “pela família” eles marcham para trás. E sem retrovisor. É uma sociedade em marcha-a-ré, essa que matou Cláudia da Silva Ferreira - a “mulher arrastada”, a “mulher baleada”.

A luta que os filhos e sobrinhos de Cláudia podem ter – e de todos aqueles capazes de imaginar sua dor - não é aquela por policiais menos atrapalhados e por porta-malas que não falhem. É por uma polícia e uma sociedade humanizadas. Todos os que lidam com informação – jornalistas diplomados ou não, com crachá ou não, comunicadores de um modo geral, comentadores de redes sociais– têm um papel importante nesse sentido.  A escolha de cada palavra e de cada história e de cada tema pode contribuir mais ou menos para essa humanização. A escolha do lado errado bate, mata e arrasta – e tornará cada um de nós, aos olhos da posteridade, apenas mais um anônimo infame.

TWITTER:
@blogOutroBrasil

NO FACEBOOK:

Outro Brasil

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Caso Tenharim: o sonho do pajé, a conta de luz ou a galinha?

por ALCEU LUÍS CASTILHO
(@alceucastilho) 

No momento em que cinco Tenharim estão presos em Porto Velho (em condições degradantes), suspeitos de ter matado três pessoas na Rodovia Transamazônica, no sul do Amazonas, vale refletir um pouco sobre um aspecto fundamental na investigação de qualquer crime: os motivos.

Em entrevista ao site Amazônia Real, o advogado dos familiares dos desaparecidos - também advogado de madeireiros - diz o seguinte:


- Tem no inquérito a questão levantada por um pajé de outra etnia. Ele sonhou que foi um carro preto que atropelou o cacique Ivan Tenharim. Os filhos do Ivan Tenharim participaram diretamente da cena do crime. Consta no inquérito também uma insatisfação dos índios com o técnico da Eletrobrás, o Aldeney Salvador. Ele vinha cobrando a conta de energia aos índios, que pagavam a conta da energia. Os índios tinham alguma reserva contra esse rapaz, o Aldeney. Os índios o conheciam muito bem, chegaram a jogar bola com ele em algumas ocasião. 


Então vamos lá. De volta a história do pajé. Como não tem pajé entre os Tenharim, agora decidiram que o pajé é de outra etnia.

Mas raciocinemos. Você é um Tenharim. Mensalmente, seus parentes arrecadam (segundo seus detratores) R$ 35 mil de pedágio na Transamazônica. Morre um cacique. Um pajé de outra etnia diz que sonhou com um carro preto. Treze dias após o cacique morrer, você para um carro preto, degola o motorista e atira nos dois passageiros. (O povo de Humaitá e região se revolta e o seu povo fica sem o pedágio.)

Mas não. Não foi por isso. Não foi por causa do sonho. Diz o próprio advogado que os índios tinham alguma reserva contra o motorista. Porque ele cobrava a conta de energia dos índios. (Francamente: o gerente da Eletrobrás é quem cobrava a conta?) Jogavam bola com ele. Um dia, ele passa com o carro e é degolado. Está com duas pessoas e...

Claro. Temos de aguardar as investigações da Polícia Federal. Mas que elas sejam sérias. Pois as duas versões, isoladamente, são implausíveis. A julgar pelo que o advogado diz, na linha do discurso racista consagrado na região, ora os indígenas são espertalhões frios e calculistas, ora são panacas completos. E impulsivos.

Mas é pior que isso: juntas, essas duas versões são absolutamente incompatíveis. Esse conjunto eletro-onírico desafia as leis elementares da lógica. Ou uma coisa ou outra, pois não?

Um sonho de um pajé (de outra etnia) se une à súbita vontade de não pagar conta de luz... o cara que cobraria a conta de luz passa no carro preto imaginado pelo pajé... e, claro, você vai lá e destrói a suposta galinha dos ovos de ouro: a grana do pedágio.

Decidam-se! Os Tenharim matariam (ou mataram) os três desaparecidos por quais motivos? (Polícia Federal, Ministério Público, juízes, respondam.)

Mas decidam sem subestimar a nossa inteligência. 


LEIA MAIS:
PF faz nota sobre prisão de cinco Tenharim. O que está nas entrelinhas?
A Batalha de Humaitá 
"Matar um índio para pegar uma índia"

TWITTER:
@blogOutroBrasil

NO FACEBOOK:

Outro Brasil

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014


PF faz nota sobre prisão de cinco Tenharim. O que está nas entrelinhas?

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

Vejamos, na íntegra, a nota da Polícia Federal sobre a prisão de cinco Tenharim, no sul do Amazonas. E depois, embaixo, tentemos ver o que está em suas entrelinhas. Vale observar que essa nota é o que temos para analisar – pois a PF informa que não dará entrevista coletiva.

Primeiro, a nota completa:

“A Polícia Federal em Rondônia, juntamente com a Força Nacional de Segurança Pública, Polícia Rodoviária Federal e o Exército Brasileiro, deflagraram a Operação Humaitá na data de 30/01, com o objetivo dar cumprimento a 5 mandados de prisão temporária de indígenas da etnia Tenharim, que habitam território localizado entre os quilômetros 100 e 150 da BR- 230.

As prisões foram expedidas pela Justiça Federal do Estado do Amazonas em razão de possível envolvimento dos índios na morte de três pessoas que desapareceram ao atravessarem uma das aldeias localizadas na rodovia Transamazônica.

O crime teve grande repercussão nacional e internacional no final do dezembro de 2013 e provocou manifestações da comunidade não-indígena contra os silvícolas, culminando com a destruição de carros e instalações da FUNAI em Humaitá/AM.

A Polícia Federal instaurou inquéritos policiais para apurar o desaparecimento e destruição do patrimônio público (FUNAI).

As conclusões da investigação apontam para a ocorrência de homicídio praticado pelos presos dentro de uma das aldeias e posterior ocultação dos cadáveres. Os corpos ainda não foram localizados.

Durante os trabalhos da Força Tarefa foram percorridos aproximadamente 270 hectares, delimitados pela investigação, e encontrados, no interior da terra indígena, peças do veículo ocupado pelos desaparecidos.

Na investigação, foram ouvidas diversas testemunhas, entre indígenas e não-indígenas, realizada perícia técnica nas peças encontradas, além da utilização de cães farejadores para localização de cadáveres e equipamentos modernos de rastreamento de peças metálicas escondidas.

Os trabalhos de polícia judiciária prosseguem até a apresentação do relatório final do inquérito policial”.

Agora, a nota comentada:

A Polícia Federal em Rondônia, juntamente com a Força Nacional de Segurança Pública, Polícia Rodoviária Federal e o Exército Brasileiro, deflagraram a Operação Humaitá na data de 30/01, com o objetivo dar cumprimento a 5 mandados de prisão temporária de indígenas da etnia Tenharim, que habitam território localizado entre os quilômetros 100 e 150 da BR- 230.

Primeiro, nota-se que a Operação Humaitá foi realizada em Manicoré. E que se trata de uma prisão temporária. E não preventiva. Se é temporária, costuma ser decretada por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. Se o crime investigado for hediondo (como tráfico, tortura e terrorismo), o prazo será de 30 dias, prorrogáveis, em caso de extrema e comprovada necessidade.

As prisões foram expedidas pela Justiça Federal do Estado do Amazonas em razão de possível envolvimento dos índios na morte de três pessoas que desapareceram ao atravessarem uma das aldeias localizadas na rodovia Transamazônica.

Ou seja, os Tenharim estão sendo acusados de crime hediondo a partir do possível envolvimento na “morte” de três pessoas. Mas elas não desapareceram ao atravessarem uma das aldeias. Elas desapareceram entre Humaitá (km 0) e o km 180. A maior parte desse trajeto não fica em Terra Indígena. No km 150 sai uma estrada conhecida pela periculosidade, a Rodovia do Estanho. Por que a investigação voltou-se apenas contra os Tenharim? Teremos a prisão temporária de não-índios?

O crime teve grande repercussão nacional e internacional no final do dezembro de 2013 e provocou manifestações da comunidade não-indígena contra os silvícolas, culminando com a destruição de carros e instalações da FUNAI em Humaitá/AM.

Silvícolas? Silvícolas, Polícia Federal? E mais: não foram apenas destruídos carros e instalações da Funai. Foram destruídos carros, motos, barcos e instalações da Funai, da Sesai (da Funasa, portanto), postos de pedágio e casas na Terra Indígena, na Transamazônica, em Humaitá e Manicoré. Dezenas de crimes, portanto. Alguns desses crimes foram fotografados e televisionados. O que, isto sim, motivou a tal repercussão internacional.

A Polícia Federal instaurou inquéritos policiais para apurar o desaparecimento e destruição do patrimônio público (FUNAI).

A Polícia Federal vai prender os não-índios (inclusive comerciantes e fazendeiros) que teriam incitado a população de Humaitá, Apuí e Manicoré a queimar bens públicos e indígenas? Vai prender aqueles que ameaçam os Tenharim de morte caso eles pisem em uma das cidades? Informação: os Tenharim dão nome e sobrenome para várias dessas pessoas. Eu mesmo entrevistei pessoas que pregaram a discriminação. Repito: só indígenas serão presos?

As conclusões da investigação apontam para a ocorrência de homicídio praticado pelos presos dentro de uma das aldeias e posterior ocultação dos cadáveres. Os corpos ainda não foram localizados.

Se as conclusões são tão fortes assim, poderia ter sido decretada a prisão preventiva, não? Ah: mas essa só com provas materiais. Ocorre que o delegado narrou detalhes sobre um assassinato com degola, segundo o Portal Terra. Com um relato muito parecido com os boatos que tomaram a cidade, na virada do ano. Um assunto para advogados criminalistas – mas desde que a Polícia Federal informe melhor (quem sabe numa entrevista coletiva) sobre os indícios. Eles não são apenas testemunhais? Cadê os cadáveres?

Durante os trabalhos da Força Tarefa foram percorridos aproximadamente 270 hectares, delimitados pela investigação, e encontrados, no interior da terra indígena, peças do veículo ocupado pelos desaparecidos.

Se percorreu 270 hectares, não procurou os cadáveres fora da TI Indígena. Por quê? Mas sejamos justos: a PF informa, ao menos, entre tantas deduções, que se trata do carro dos desaparecidos. Vale observar que ele foi encontrado no fim da TI Tenharim – no fim da TI Tenharim, quase na Rodovia do Estanho. A PF garante que ele tenha sido colocado lá pelos próprios Tenharim?

Na investigação, foram ouvidas diversas testemunhas, entre indígenas e não-indígenas, realizada perícia técnica nas peças encontradas, além da utilização de cães farejadores para localização de cadáveres e equipamentos modernos de rastreamento de peças metálicas escondidas.

Esses cães farejadores só começaram a trabalhar no dia 2 de janeiro. Mais de 15 dias após o desaparecimento. Eu estava em uma das casas dos parentes quando foram buscar as roupas dos desaparecidos. Por que tanta demora? E, de novo: os cães trabalharam também em terras que não fossem indígenas? O objetivo é encontrar os corpos ou não? Por último, e não menos importante: onde está o Ministério Público?

Os trabalhos de polícia judiciária prosseguem até a apresentação do relatório final do inquérito policial.

A sociedade brasileira espera, mesmo, que os trabalhos prossigam. Não somente aqueles relativos aos três desaparecidos, mas a todos os crimes cometidos na região. Contra indígenas e não-indígenas. Sem que o conjunto desses trabalhos ajude a criminalizar um povo específico - em nome do suposto crime cometido por alguns de seus membros. Que tudo o que aconteceu em Humaitá e região - tudo - seja esclarecido. E não apenas aquilo que tenha conveniência midiática.

LEIA MAIS:
A Batalha de Humaitá 
"Matar um índio para pegar uma índia"

TWITTER:
@blogOutroBrasil

NO FACEBOOK:

Outro Brasil
 

sábado, 21 de dezembro de 2013

Ruralistas dominam ranking de congressistas “modernos” da Veja

por ALCEU LUÍS CASTILHO
(@alceucastilho)

A revista Veja desta semana traz uma lista que chama de “ranking do progresso”. A lista na edição impressa é composta por 32 senadores e 54 deputados “que mais trabalharam em 2013 por um país moderno e competitivo”. A lista traz uma infinidade de ruralistas, em muitos casos nem um pouco associados a qualquer noção condescendente de modernidade.

A lista de ruralistas começa já no primeiro lugar entre os senadores: Armando Monteiro (PTB-PE). Ele leva a nota 10. A revista dá nota 10 para o político. Seu irmão, Eduardo de Queiroz Monteiro, tem empresa que já esteve várias vezes na Lista Suja do Trabalho Escravo, a Destilaria Gameleira, renomeada para Destilaria Araguaia.

Número 2 da Veja? Senador Casildo Maldaner (PMDB-SC). Dono de 2.050 hectares em São Félix do Xingu (PA), a capital da pecuária, terra de desmatamento e de grilagem.

O quarto da lista é um dos políticos que mais têm propriedades rurais: Eunício Oliveira (PMDB-CE). Em décimo lugar, mais um ultraruralista: Romero Jucá (PMDB-RR), com interesses diretos no setor da mineração.

O ruralista pouco assumido José Sarney (PMDB-AP) aparece em 22º lugar nessa lista, com nota 6. Pouco abaixo, em 24º lugar, lá está ela: Kátia Abreu (PMDB-TO), a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com nota 5,9.

O último lugar na lista da revista impressa (a edição digital traz um ranking mais completo) também é ocupado por um ruralista, Valdir Raupp (PMDB-TO).

A lista de ruralistas entre os deputados associados pela revista à palavra “progresso” também é inesgotável. Ela começa com Onofre Agostini (PSD-SC), membro da Frente Parlamentar da Agropecuária, um ex-arenista que também ganha nota 10 da Veja.

Em oitavo lugar, com nota 8,4, aparece Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Filho do poderoso Jorge Picciani, que já figurou na Lista Suja do trabalho escravo.

Ronaldo Caiado (DEM-GO) leva nota 7,8, em 20º lugar. A lista com dezenas de ruralistas também tem outros políticos importantes na defesa do agronegócio e dos latifúndios (indiscutivelmente dissociados de qualquer ideia de “progresso”), como Moreira Mendes (PSD-RO) e Arthur Lira (PP-AL).

A própria revista Veja, na semana passada, publicou uma “reportagem” contra os indígenas no Mato Grosso do Sul, a favor dos fazendeiros, com direito a foto de um deles portando arma, com ameaças aos indígenas.



TWITTER:
@blogOutroBrasil

NO FACEBOOK:

Outro Brasil

domingo, 15 de dezembro de 2013

Deputado ruralista defende "cacete" em indígenas

A fala do deputado Giovanni Queiroz (PDT-BA) na quarta-feira não pode passar despercebida. Em audiência pública promovida pelos ruralistas, ele ensinou a "dar um cacete" em indígenas. Conforme relato de Luisa Molina no Diário Liberdade: "O Gatilho da ofensiva ruralista".

Segue trecho:

- Aplausos e expressões de satisfação rondaram o auditório quando o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA), ao falar de como "lidaram" com "o problema indígena" no seu estado com violência. "Ninguém mais contrata advogado. Entrou hoje [indígena na terra], sai na madrugada do dia seguinte. Sai debaixo de cacete". Ele prossegue, aconselhando outros a contratarem empresas de segurança: "4 horas da manhã você aborda o pessoal [que entrou na terra], chega o cravo no primeiro que reclamar, dá-lhe um cacete, bota em cima de um caminhão e manda devolver".

Em 2010, o deputado latifundiário declarou R$ 10 milhões. Vejamos os três itens mais significativos:

-> Área Rural 4.356 Ha - Municipio De Pau Darco R$ 6.000.000,00

-> Área Rural 1.840 Ha Em Rio Maria R$ 2.000.000,00

-> 1.900 Cabeças De Gado R$ 1.500.000,00

Valor total dos bens declarados: R$ 10.421.200,00

Em 1998 ele possuía R$ 2,3 milhões. As duas fazendas já estavam lá, com valores menores, mas também significativos em relação ao total: R$ 1,2 milhão e R$ 555 mil.

Segundo o site A República dos Ruralistas, ele teve uma campanha eleitoral tímida, de R$ 487.750,00 em doações diretas, feitas por empresas do ramo sucroalcooleiro, frigoríficos e uma mineradora. Entre elas a a Cosan S/A Açúcar e Álcool, a Agropastoril do Araguaia Ltda, o Frigorífico Rio Maria Ltda e a Mineração Buritirama S/A.


Alceu Luís Castilho (@alceucastilho) 


TWITTER:
@blogOutroBrasil

NO FACEBOOK:

Outro Brasil



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Turbina explode, e trabalhador morre em usina. Quem liga?

por ALCEU LUÍS CASTILHO
(@alceucastilho)

Notícia robótica na Folha: "Acidente mata trabalhador em usina". Mas só na Folha Ribeirão, que circula na região de Ribeirão Preto. Nome da vítima? Ah, qual a necessidade, não é mesmo? (Edson Aparecido Pinheiro, informa a Rede Anhanguera: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/12/ig_paulista/130791-explosao-mata-um-e-fere-outro-em-usina-de-cana-de-acucar.html).


Circunstâncias da morte? A empresa Biosev não informa. (O G1, porém, conta que uma turbina explodiu: http://m.g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2013/12/explosao-em-usina-mata-trabalhador-e-deixa-outro-ferido-em-sertaozinho.html.)

A usina atende pelo nome de Santa Elisa. Pertence ao grupo francês Louis Dreyfus, presente em mais de 50 países. (Santa Elisa, padroeira dos ferreiros, foi uma mártir egípcia. Decapitada.)

Segue a notícia robótica e gélida da Folha:

"Um acidente na área industrial da usina de cana-de-açúcar Santa Elisa, em Sertãozinho (a 333 km de São Paulo), matou um homem que trabalhava no local.

Outra pessoa também ficou ferida na ocorrência.

O acidente ocorreu no final da tarde de anteontem.

Em nota, a Biosev, empresa responsável pela usina, afirmou que lamenta a morte do funcionário e que oferece apoio aos familiares dele.

Entretanto, a Biosev não informou as circunstâncias do acidente que levaram à morte do trabalhador.

As causas do acidente serão investigadas pela Polícia Civil de Sertãozinho".


E é só. Registrado o protocolo jornalístico.

Em dezembro de 2008, a organização Amigos da Terra publicou os resultados do prêmio Pinóquio de desenvolvimento sustentável. O grupo Louis Dreyfus venceu na categoria direitos humanos, com 36% dos votos, pelo tratamento indigno aos assalariados brasileiros: http://www.prix-pinocchio.org/laureat-2008.php?id_rubrique=7

Mas hoje tem sorteio da Copa.


TWITTER:
@blogOutroBrasil

NO FACEBOOK:

Outro Brasil