terça-feira, 16 de outubro de 2012

Psicóloga ofendida por Bolsonaro publica desabafo na internet
 

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 

A psicóloga brasiliense Tatiana Lionço, especialista em gênero, publicou nesta terça-feira (16 de outubro) um desabafo na internet. É uma reação contra a campanha difamatória que vem sofrendo desde que o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) postou, em junho, um vídeo distorcendo uma exposição que fez sobre sexualidade infantil, na Câmara, em maio. Centenas de internautas publicaram nos últimos meses ofensas contra a pesquisadora, acusando-a de crimes que ela combate diariamente como profissional.
 

O site Congresso em Foco publicou em agosto texto que mostra a íntegra da fala da psicóloga, em comparação com os trechos destacados por Bolsonaro, distorcidos explicitamente para dizer que ela estimulava “sexo entre crianças”. A exposição de Tatiana ocorreu no IX Seminário LGBT, promovido no dia 15 de maio de 2012 pela Comissão de Direitos Humanos e pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados.

Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB), com um trabalho sobre transexualidade defendido em 2006, a pesquisadora leciona no Uniceub, uma universidade privada em Brasília. Antes trabalhou no Instituto de Direitos Humanos, Bioética e Gênero. Ela conta que ficou emocionalmente abalada, “moralmente estuprada”. Mas aponta lentidão e omissão tanto dos movimentos sociais como do Estado.
 

Tatiana diz que está sendo usada como manobra para fins eleitorais, “vide a polêmica envolvendo o kit contra a homofobia nas escolas estar sendo usada para definir votos na campanha de 2012 em São Paulo”. No vídeo divulgado em junho, Bolsonaro define a iniciativa da Comissão de Educação da Câmara como a "volta do kit-gay nas escolas".
 

“Eu estou marcada, irreversivelmente, por isso que acontece comigo”, afirma a pesquisadora. “Apenas saliento que eles não conseguirão retirar de mim a dignidade, a competência, a voz”.
 
O vídeo com a íntegra da fala da psicóloga na Câmara pode ser visto aqui, no Youtube. 


Mais que um caso individual (o que já seria relevante), trata-se de um mais um grande ataque a defensores de direitos humanos no país. E uma amostra da extensão da impunidade em relação a linchamentos virtuais no Brasil.
 

Segue o texto de Tatiana Lionço, na íntegra:
 

Tatiana Lionço: “Estou sendo usada como manobra para fins eleitorais”
 

“Gostaria de dizer que sei que é impossível reverter completamente a onda difamatória que envolve meu nome e minha imagem na internet. Isso se deve ao fato de ser impossível juridicamente processar tantas pessoas como foram as que replicaram conteúdo difamatório na rede virtual. De qualquer modo, sei que é importante publicizar a indignação e ainda acredito que seria importante ter uma resposta formal, do ponto de vista do Estado, de que estão a violar meus direitos e minha imagem nesta campanha difamatória que vem acontecendo no Brasil envolvendo ativistas que lutam contra a homofobia. Gostaria de iniciar explicitando o meu pesar pelo fato de que o que está a acontecer decorreu em dano irreversível e irreparável, já que se eu vier a conquistar reparação jurídica a mesma terá o efeito de reparação simbólica, mas não reparação de fato, pois terei que conviver para sempre com conteúdo que considero ofensivo envolvendo a minha pessoa.
 

Quando tomei conhecimento do video do Deputado Jair Bolsonaro eu me revoltei, pois sou uma acadêmica e para nós a autoria é algo bastante sério, é o resultado mais evidente de nosso trabalho na produção de conhecimento. O uso deturpado de teses é abominado na academia, consistindo em severa infração ética e que decorre na reprovação formal de conteúdo, de modo a não vir a ser publicado. Na internet as regras são outras, e portanto eu tenho que digerir a existência de narrativas completamente avessas aos meus posicionamentos teóricos como se fossem as minhas próprias teses, devido à autoria alheia e o uso abusivo que têm feito de meu nome na rede virtual.
 

Muito me espanta a insistência de determinada associação em publicar matérias que se multiplicam. O blog, que se anuncia em defesa da família tradicional e contra o que chamam de proselitismo homossexual contra inocentes crianças, insistentemente tem usado o meu nome e minha imagem, tendo inclusive criado uma enquete virtual para saber se as pessoas concordariam que crianças deveriam brincar sexualmente em paz, lançando polêmicas a partir de distorções de meus argumentos. Publicam também videos no youtube, o mais recente com título questionando qual haveria de ser a mulher que o Brasil quer e aprova, incitando à reprovação social de minha pessoa. Eles tem questionado a legitimidade de meu trabalho acadêmico e usado imagens pessoais e as de um de meus livros publicados para alertar pais que quem publica sobre educação escolar seria uma imoral que pregaria a apologia da pedofilia.

Nas primeiras vezes em que li este tipo de conteúdo fiquei emocionalmente abalada, pois senti estar sendo estuprada moralmente e usada à minha revelia para fins extremamente opostos aos de minha própria luta política por justiça social e sexual. Pessoalizaram a demonização e atribuição de desvalor a mim, sendo que a mesma tese sobre sexualidade infantil consta, inclusive, em documento oficial do Estado brasileiro, no volume sobre orientação sexual nos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais. A sensação que tenho é que estou sendo usada como bode expiatório em uma cruzada de acusação às ciências psicológicas e sociais e da própria laicidade e democracia como geradoras de degradação social e imoralidade. Não posso deixar de mencionar que a ação da Polícia Federal contra o blog Silvio Koerich foi impulsionada pela ameaça pública de atentado às Ciências Sociais na UnB.
 

Outro blog que faço questão de enunciar como abusivo publicou em um de seus textos cenas deploráveis de abuso sexual atribuindo a sua própria fantasia sexual à minha pessoa. Disse o autor que eu estaria aprovando que jovens introduzissem os dedos na vagina de meninas de cinco anos, uma fantasia que me promoveu asco que entendo ser correlato ao asco despertado socialmente por ele e outros em relação à minha pessoa. Eu sou mãe de uma menina de cinco anos. Comparou também a atuação do Conselho Federal de Psicologia em relação à psicóloga puta (usando de argumentos irônicos meus em uma resposta pública ao fundador da Defesa Hetero, em que eu fiz questão de me aproximar moralmente das pessoas com quem eu trabalho academicamente, profissionais do sexo, putas, travestis etc) e à psicóloga santa, a psicóloga cristã que foi advertida pelo conselho de classe. Vejam bem, eu nunca fui advertida pelo meu conselho de classe, muito pelo contrário, tive dois convites para participação no seminário nacional promovido pelo CFP no corrente ano, em mesa redonda e em oficina sobre gênero e sexualidade.

Ser doutora neste país não é privilégio. Meu título foi conquistado a duras penas, sob renúncias financeiras para que eu pudesse investir em minha própria trajetória intelectual. Meu título também não me rende privilégios, mas reconhecimento público sobre o valor de meu trabalho, o que é bem diferente. Repetidamente dedico meu trabalho, sem retorno financeiro, à sociedade brasileira. Foi o caso de minha exposição na Câmara dos Deputados, ocasião em que fui convidada para discutir a sexualidade na infância e na adolescência e sua relação com a homofobia. Este tema, sexualidade na infância, não é ousadia de minha pessoa, mas um tema corrente em todas as graduações em Psicologia no país. Não é um tema ousado que uma pesquisadora sobre sexualidade escandaliza ao pronunciar. É um tema banal na teorização psicológica e tem servido para qualificar ações de prevenção e reparação do abuso sexual infantil em muitos aspectos, como o fato de que o abuso na maior parte das vezes não é praticado por estranhos e pode não envolver dor ou violência física, não deixando de consistir em severo abuso devido ao fato de as próprias crianças poderem experimentar prazer.

A explicação mais plausível que tenho para isso tudo que está a ocorrer é que tenho sido usada como manobra para fins eleitorais, vide a polêmica envolvendo o kit contra a homofobia nas escolas estar sendo usada para definir votos na campanha de 2012 em São Paulo, assim como o aborto foi moeda de troca nas eleições presidenciais. Eu sou uma pesquisadora e ativista apartidária, não há vinculação de minha pessoa a partido algum. Me tornei petista e lésbica sem saber. Sou a ativista lésbica engendrada pelo demônio, segundo afirmam. Sou uma retardada de universidade-hospício, segundo afirmam. De fato, tal manobra me vulnerabiliza à violência, já que não há como ter controle sobre a reação de indivíduos isolados que tem, na internet, a imagem de qual haveria de ser um bom alvo para ações de violência.

Digo aqui que sou mulher adulta, mãe de duas crianças, heterossexual, apartidária. Eu não preciso ser homossexual para lutar contra a homofobia, e tenho pronunciado publicamente que a homofobia é um processo discriminatório que incide sobre todas as pessoas que não correspondem a estereótipos de gênero, como o que acontece comigo agora. O blog em defesa da família e da heterossexualidade se chocou com o fato de eu ter ido a um show pornô de um dos maiores ícones gays de nosso tempo. Sim, sou adulta, mãe, pesquisadora em gênero e sexualidade, professora, e sei que tenho condições de pagar por uma entrada em boate e ver o que eu bem entender, desde que não seja algo ilícito. Postaram videos do show no seu próprio blog. Entenda, ir à boate gay é algo, do meu ponto de vista, banal. Não há demérito algum em ir à boate gay. Meus filhos estavam sob cuidado, eu decido o que fazer com o meu tempo livre. Mas postaram um video de um show pornô associado ao meu trabalho sobre educação infantil. Esta associação eu nunca fiz em meus estudos.
 

A lentidão ou mesmo omissão de ajuda do movimento social, bem como do Estado, me estarreceu. É muito duro ter que afirmar aqui que há pelo menos dois meses trabalho ininterruptamente sobre este caso e que poucas respostas formais obtive de instâncias do Poder Público. Felizmente, a Psicologia se pronunciou, por meio do CFP, CRP/SP, GT Psicologia, Política e Sexualidades da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia, bem como núcleos acadêmicos (ABEH – Associação Brasileira de Estudos da Homocultura), movimento social (ABGLT) e mesmo o Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT, vinculado à Presidência da República. Todas estas instâncias compreendem que as difamações acirram a violência homofóbica e repudiam a incitação ao ódio presente nas matérias que envolvem meu nome. Fiz questão de estar presente na audiência pública do Senado Federal sobre Ética Profissional e Diversidade Sexual, ocasião em que o CFP leu publicamente a nota de desagravo associada à minha pessoa.
 

Sou grata ao apoio, mas não posso deixar de esclarecer que este apoio é meramente simbólico, apoio moral, na melhor das hipóteses. Não decorreu em nenhuma consequência ou mesmo no impedimento da manutenção da difamação e calúnia. Minha sensação de impotência é indignante, pois vivo a convicção de que é difícil, senão quase impossível, reagir. Minhas tentativas de solicitação direta de retirada de conteúdo foram usadas por eles como se eu os tivesse ameaçando, outra manobra grotesca. Como haveria eu de não reagir a isso que estão a fazer? Caso o fizesse, poderia vir a ser acusada de conivência, o que me vulnerabilizaria ainda mais ao dano moral. Eu não sou conivente com isso. Eu me indigno, eu me estarreço, eu me dilacero no grito por justiça.
 

Eu estou marcada, irreversivelmente, por isso que acontece comigo. Apenas saliento que eles não conseguirão retirar de mim a dignidade, a competência, a voz. Eu continuarei a trabalhar, eu continuarei a me pronunciar publicamente, eu continuarei a reagir a injustiças. Esta sou eu, este é o meu trabalho. Eu não me renderei a acusações deploráveis, eu não me medirei em relação a pessoas que se apóiam em adjetivos (retardada, imoral, degradação social, pedófila, homossexual, puta, asquerosa) para enunciar argumentos. Eu não preciso dos adjetivos, eu posso argumentar baseada em princípios comuns de sociabilidade. Eu posso afirmar que estão a me difamar, caluniar. Me privo de enunciar quais adjetivos caberiam a eles, do meu ponto de vista. Eu não preciso adjetiva-los. Justiça seja feita. Que cheguem os fatos ao conhecimento público. Decidam o que pensar a partir dos fatos, e não pela força avassaladora dos adjetivos.
 

Não tenho como agora contabilizar todas as horas que gastei monitorando meu nome no Google, escrevendo documentos para ouvidorias e responsáveis no Poder Público, redigindo esclarecimentos para as instâncias que se posicionaram ao meu favor. Não há como contar todas as horas de sono que perdi. Não tenho como medir a desilusão que me acometeu. Não tenho como medir o impacto disso em minhas relações interpessoais e em meu ambiente de trabalho, apenas posso dizer que sofri um silêncio inquietante e me perturbei sem saber qual haveria de ser a posição de muitas pessoas que me são próximas e que me privaram de esclarecimentos sobre seu apoio/reprovação. Não tenho como medir dor psíquica. Não tenho como medir a minha dignidade, apenas posso afirmar que estou certa de ser uma pessoa digna e que conheço meu direito de defender a minha dignidade até última instância, e mesmo depois da última, até meu último suspiro nesta vida.
 
Eu vou carregar esta marca de violação para sempre. Para sempre, irei usar conscientemente desta violência para afirmar publicamente que a luta por justiça, a luta pelos direitos humanos, a luta contra os fundamentalismos, é uma luta que vale a pena. Vou usar isso para esclarecer às pessoas que todos estamos sujeitos à violência, sejamos pessoas abastadas ou não, tituladas ou não. Como em uma democracia somos condicionados a viver a realidade da diversidade social, temos nós, pessoas justas, que conviver com pessoas que lutam pela opressão.
 

O Brasil é um país de extremos. Infelizmente, no atual cenário, a discrepância argumentativa entre aqueles que lutam por justiça social e aqueles que lutam pelo direito à manutenção de injustiças e discriminações inconstitucionais tem levado o mesmo peso na balança da opinião pública. As melhores palavras que encontrei para finalizar a minha mensagem são palavras de Cristo, palavras que os próprios fundamentalistas cristãos no país não sabem ou não querem ouvir: “perdoai, eles não sabem o que dizem”."
 

Brasília, 16 de outubro de 2012.

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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Histeria contra o kit anti-homofobia é prima da política do medo

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

Estamos em um país onde se torturam e matam homossexuais. Mas o que deveria ser oportunidade de engrandecimento do debate (a política) acaba sendo um exercício de perpetuação de preconceitos. Políticos com medo perdem a ótima chance de promover a tolerância. Com isso, acabam dando aval – mais ou menos cúmplice - à histeria homofóbica.

A eleição para a prefeitura de São Paulo em 2012 está sendo cenário dessa política do medo. Medo dos gays, medo dos eleitores que têm medo de gays. O candidato tucano José Serra faz de conta que não quer o apoio do pastor Silas Malafaia, um conhecido opositor de direitos elementares, um refratário a políticas (de educação, de saúde) minimamente inclusivas. Nada revolucionárias. Constitucionais.

Malafaia abre fogo contra o candidato Fernando Haddad, ex-ministro da Educação. Pois este teria promovido o que esse senhor chama de “kit-gay” – na verdade um kit contra a violência, um produto educativo contra a barbárie, um instrumento para que não surjam mais tantos intolerantes como Silas Malafaia. Seria ponto para o MEC o kit anti-homofobia. Mas o medo venceu a esperança, diante da histeria raivosa - apresentada pela imprensa como “reação religiosa”.

A Folha de S. Paulo mostrou nesta segunda-feira que o próprio governo tucano já distribuiu kits semelhantes, para professores, no estado de São Paulo. Ótimo. Ponto para a Secretaria de Estado da Educação. Mas a informação é transmitida com a “justificativa” de que era só para professores. Como  se coubesse só aos professores combater a violência, a discriminação. E não a cada brasileiro.
 
A candidatura de Fernando Haddad pode ser considerada menos cúmplice em relação a essa lógica regressiva, a esse comportamento que impede avanços estruturais no combate à violência de gênero. Mas não sobe o tom como poderia. Pois, antes de defender os homossexuais (e, de um modo geral, os direitos humanos), tem medo de perder votos.  Por causa do vale-tudo promovido por aqueles que atacam “a turma dos direitos humanos”.

A lógica é a da conquista do voto. Mesmo que seja o voto da barbárie. Enquanto isso, a decorrência é que gays, lésbicas e travestis continuem sendo espancados e assassinados. (E este medo específico é apenas um entre vários medos que compõem o cenário político-paranóico, onde a "opinião pública", de modo fascista, impede políticas públicas que beneficiem ou protejam minorias.)
 
Quem se importa?

Os mais pacientes dirão que é necessário engolir esse sapo durante a campanha para evitar que políticos mais raivosos (e homofóbicos) sejam eleitos. Eu discordo. Vejo a necessidade de se combater a homofobia como prioritária, estrutural, sem margem a negociação, a interesses passageiros. O kit anti-barbárie deveria ser uma cartilha, um abecedário para a convivência em sociedade. E não um tema em disputa.

A cada segundo de espera mais um brasileiro terá sido espancado. O medo dos políticos é primo íntimo da homofobia. Corre o risco de patrocinar as mesmas mãos que torturam e matam. Caberia a todos (todos os políticos, todos os cidadãos que condenem a violência) exclamar: “Sim, nós somos da turma dos direitos humanos. E com muito orgulho. Com licença”.


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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Não é verdade que Câmara de SP tenha 40% de “renovação”
 

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

A leitura dos jornais de hoje indica “40% de renovação” na Câmara Municipal de São Paulo. Numa leitura superficial, comparando apenas com os vereadores atuais, temos, sim, 40% de troca. Mas o conceito de renovação não resiste a uma análise mais profunda, que remeta a legislaturas anteriores. Em boa parte dos casos há apenas alternância, com o retorno de antigos vereadores e outros caciques – ou seus parentes diretos.

Vejamos alguns dos nomes apresentados como “novos”. Nelo Rodolfo, do PMDB, foi presidente da Câmara em plena vigência da “máfia dos fiscais”, na gestão de Celso Pitta (1997-2001). Rubens Calvo (PMDB) também foi vereador naquela época, pelo PSB. Aurélio Nomura (PSDB) está retornando, assim como Nabil Bonduki (PT) – para mencionar nomes mais respeitados. Confira aqui a lista dos 55 vereadores eleitos.
 

Jair Tatto (PT) seria novidade? Claro que não. É irmão do vereador Arselino, do deputado Jilmar, mais um membro da famosa Tattolândia, que tem sua base eleitoral na zona sul. Também não são exatamente novidades os nomes de Mário Covas Neto (PSDB), e George Hato (PMDB), filhos do ex-governador e do deputado estadual Jooji Hato – este, vereador inexpressivo por vários mandatos. Eduardo Tuma (PSDB) é sobrinho do senador Romeu Tuma – o que ilustra parcialmente a guinada tucana à direita (em termos de direitos humanos), rumo a uma “bancada da segurança”.

A Folha de S. Paulo observou o crescimento do que chamou de uma “bancada da bala” na Câmara. De fato ela é uma realidade, com a presença dos coronéis da PM Paulo Telhada (PSDB) e Álvaro Camilo (PSD). Este último ficou na primeira suplência, mas assumirá o cargo em janeiro, pois Antônio Carlos Rodrigues seguirá para o Senado. O ex-deputado estadual Conte Lopes (PTB) também compõe essa bancada e está longe de ser uma novidade. (A bancada evangélica vai bem: cresceu de 8 para 11 vereadores.)

Muita gente comemorou a não-reeleição de Wadih Mutran (PP), uma espécie de símbolo do atraso no Legislativo paulistano. Bobagem. Mutran é o primeiro suplente da coligação com o PT e logo estará de volta à Câmara – se é que dela ficará de fora. Ele mantém uma relação assumidamente clientelista com eleitores na Vila Maria, seu reduto.

A perspectiva não é mais animadora se observamos os vereadores mais votados: Ricardo Tripoli (o mais votado com discurso populista de defesa dos animais), Goulart, Milton Leite, o próprio Rodrigues, Celso Jatene, Toninho Paiva compõem o chamado “centrão” na Câmara. Devem aderir ao governo de plantão em troca de cargos.

Em outras palavras, não temos “Nova Câmara”. Com as honrosas exceções, como Bonduki, teremos, sim, uma Câmara carcomida, viciada, despida de maiores perspectivas de algo “novo” em relação aos seus vícios históricos: clientelismo, ignorância e indiferença profundas em relação aos temas da cidade, distância espalhafatosa do conceito de coisa pública.

Isto na cidade dos incêndios em favelas, da falta de vagas em creches e do caos no transporte público. José Serra ou Fernando Haddad terão vida mais do que dura. Mesmo que admitamos as melhores das intenções em cada um deles, terão esses senhores pela frente.
 

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