Não é verdade que Câmara de SP tenha 40% de
“renovação”
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
A leitura dos jornais de hoje indica “40% de renovação” na Câmara Municipal de São Paulo. Numa leitura superficial, comparando apenas com os vereadores atuais, temos, sim, 40% de troca. Mas o conceito de renovação não resiste a uma análise mais profunda, que remeta a legislaturas anteriores. Em boa parte dos casos há apenas alternância, com o retorno de antigos vereadores e outros caciques – ou seus parentes diretos.
Vejamos alguns dos nomes apresentados como “novos”. Nelo Rodolfo, do PMDB, foi presidente da Câmara em plena vigência da “máfia dos fiscais”, na gestão de Celso Pitta (1997-2001). Rubens Calvo (PMDB) também foi vereador naquela época, pelo PSB. Aurélio Nomura (PSDB) está retornando, assim como Nabil Bonduki (PT) – para mencionar nomes mais respeitados. Confira aqui a lista dos 55 vereadores eleitos.
Jair Tatto (PT) seria novidade? Claro que não. É irmão do vereador Arselino, do deputado Jilmar, mais um membro da famosa Tattolândia, que tem sua base eleitoral na zona sul. Também não são exatamente novidades os nomes de Mário Covas Neto (PSDB), e George Hato (PMDB), filhos do ex-governador e do deputado estadual Jooji Hato – este, vereador inexpressivo por vários mandatos. Eduardo Tuma (PSDB) é sobrinho do senador Romeu Tuma – o que ilustra parcialmente a guinada tucana à direita (em termos de direitos humanos), rumo a uma “bancada da segurança”.
A Folha de S. Paulo observou o crescimento do que chamou de uma “bancada da bala” na Câmara. De fato ela é uma realidade, com a presença dos coronéis da PM Paulo Telhada (PSDB) e Álvaro Camilo (PSD). Este último ficou na primeira suplência, mas assumirá o cargo em janeiro, pois Antônio Carlos Rodrigues seguirá para o Senado. O ex-deputado estadual Conte Lopes (PTB) também compõe essa bancada e está longe de ser uma novidade. (A bancada evangélica vai bem: cresceu de 8 para 11 vereadores.)
Muita gente comemorou a não-reeleição de Wadih Mutran (PP), uma espécie de símbolo do atraso no Legislativo paulistano. Bobagem. Mutran é o primeiro suplente da coligação com o PT e logo estará de volta à Câmara – se é que dela ficará de fora. Ele mantém uma relação assumidamente clientelista com eleitores na Vila Maria, seu reduto.
A perspectiva não é mais animadora se observamos os vereadores mais votados: Ricardo Tripoli (o mais votado com discurso populista de defesa dos animais), Goulart, Milton Leite, o próprio Rodrigues, Celso Jatene, Toninho Paiva compõem o chamado “centrão” na Câmara. Devem aderir ao governo de plantão em troca de cargos.
Em outras palavras, não temos “Nova Câmara”. Com as honrosas exceções, como Bonduki, teremos, sim, uma Câmara carcomida, viciada, despida de maiores perspectivas de algo “novo” em relação aos seus vícios históricos: clientelismo, ignorância e indiferença profundas em relação aos temas da cidade, distância espalhafatosa do conceito de coisa pública.
Isto na cidade dos incêndios em favelas, da falta de vagas em creches e do caos no transporte público. José Serra ou Fernando Haddad terão vida mais do que dura. Mesmo que admitamos as melhores das intenções em cada um deles, terão esses senhores pela frente.
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A leitura dos jornais de hoje indica “40% de renovação” na Câmara Municipal de São Paulo. Numa leitura superficial, comparando apenas com os vereadores atuais, temos, sim, 40% de troca. Mas o conceito de renovação não resiste a uma análise mais profunda, que remeta a legislaturas anteriores. Em boa parte dos casos há apenas alternância, com o retorno de antigos vereadores e outros caciques – ou seus parentes diretos.
Vejamos alguns dos nomes apresentados como “novos”. Nelo Rodolfo, do PMDB, foi presidente da Câmara em plena vigência da “máfia dos fiscais”, na gestão de Celso Pitta (1997-2001). Rubens Calvo (PMDB) também foi vereador naquela época, pelo PSB. Aurélio Nomura (PSDB) está retornando, assim como Nabil Bonduki (PT) – para mencionar nomes mais respeitados. Confira aqui a lista dos 55 vereadores eleitos.
Jair Tatto (PT) seria novidade? Claro que não. É irmão do vereador Arselino, do deputado Jilmar, mais um membro da famosa Tattolândia, que tem sua base eleitoral na zona sul. Também não são exatamente novidades os nomes de Mário Covas Neto (PSDB), e George Hato (PMDB), filhos do ex-governador e do deputado estadual Jooji Hato – este, vereador inexpressivo por vários mandatos. Eduardo Tuma (PSDB) é sobrinho do senador Romeu Tuma – o que ilustra parcialmente a guinada tucana à direita (em termos de direitos humanos), rumo a uma “bancada da segurança”.
A Folha de S. Paulo observou o crescimento do que chamou de uma “bancada da bala” na Câmara. De fato ela é uma realidade, com a presença dos coronéis da PM Paulo Telhada (PSDB) e Álvaro Camilo (PSD). Este último ficou na primeira suplência, mas assumirá o cargo em janeiro, pois Antônio Carlos Rodrigues seguirá para o Senado. O ex-deputado estadual Conte Lopes (PTB) também compõe essa bancada e está longe de ser uma novidade. (A bancada evangélica vai bem: cresceu de 8 para 11 vereadores.)
Muita gente comemorou a não-reeleição de Wadih Mutran (PP), uma espécie de símbolo do atraso no Legislativo paulistano. Bobagem. Mutran é o primeiro suplente da coligação com o PT e logo estará de volta à Câmara – se é que dela ficará de fora. Ele mantém uma relação assumidamente clientelista com eleitores na Vila Maria, seu reduto.
A perspectiva não é mais animadora se observamos os vereadores mais votados: Ricardo Tripoli (o mais votado com discurso populista de defesa dos animais), Goulart, Milton Leite, o próprio Rodrigues, Celso Jatene, Toninho Paiva compõem o chamado “centrão” na Câmara. Devem aderir ao governo de plantão em troca de cargos.
Em outras palavras, não temos “Nova Câmara”. Com as honrosas exceções, como Bonduki, teremos, sim, uma Câmara carcomida, viciada, despida de maiores perspectivas de algo “novo” em relação aos seus vícios históricos: clientelismo, ignorância e indiferença profundas em relação aos temas da cidade, distância espalhafatosa do conceito de coisa pública.
Isto na cidade dos incêndios em favelas, da falta de vagas em creches e do caos no transporte público. José Serra ou Fernando Haddad terão vida mais do que dura. Mesmo que admitamos as melhores das intenções em cada um deles, terão esses senhores pela frente.
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