domingo, 9 de dezembro de 2012

Fogo no ônibus. Duas pessoas morrem. Mas leitores indiferentes só falam em PT e PSDB


por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

Criminosos ateiam fogo em um ônibus, em São Paulo, e
matam duas pessoas. Elas não conseguiram sair a tempo. Mas nos comentários dos leitores só se fala em PT e PSDB. Culpa de um, culpa de outro - até os piores limites da falta de bom senso.

Diz um leitor que é uma piada “esse governador e seu partido que quer governar o Brasil”. “Diga não aos tucanos”, defende. Outro responde: “Graças ao PT, hoje o Brasil é o 20º país mais violento do mundo”.

Um terceiro leitor faz um comentário um pouco mais extenso. Mas igualmente reducionista: “Que PSDB e PCC andam juntos, todo mundo sabe. Uma mão lava a outra. O problema é que houve uma dissidência aí que provocou a guerra. Enquanto não resolver o problema, que certamente é a distribuição de renda, a matança não terá fim”. Esse leitor ganha uma resposta: “Não adianta tentar cobrir o sol com uma peneira. Todo mundo sabe que o PCC é o braço armado do PT”.

Fico pensando nos familiares das pessoas assassinadas. Na dor adicional de ver seus parentes sendo utilizados por oportunistas, incapazes de discutir mais amplamente um problema que não começou nem com o PT, nem com o PSDB. Que vem de bem mais longe, de tempos em que esses partidos nem existiam.

A capacidade de análise desse pessoal chafurda no binarismo. E na falta de perspectiva histórica. O ônibus queimado não é apenas um ônibus queimado. São séculos de história (do Brasil e da humanidade) que desembocam em uma tragédia como essa. Centenas de pesquisadores analisam em detalhes a segurança pública, o crime organizado, o papel do Estado. Sociólogos, historiadores, psicólogos – e muito mais gente.

Os supostos politizados da internet, porém, apressam-se em decidir o que aconteceu a partir de uma fotografia político-partidária atual, na qual só aparecem as cabecinhas do PT e do PSDB. Sem nuances, sem mais personagens, sem ao menos se colocar a perspectiva de algumas décadas (de urbanismo caótico, de uma democracia ainda incipiente) para se pensar melhor o problema. Com mais fôlego.

À tragédia que resultou em dois brasileiros mortos em São Paulo soma-se, portanto, o drama do analfabetismo político. Com um detalhe terrível: esses analfabetos são comentadores compulsivos, espaçosos, incansáveis. Estão pouco se lixando para a precariedade de seus argumentos. Mas nem ficam ruborizados. Todos são autoritários – mas também insensíveis e desumanos.

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