domingo, 27 de novembro de 2011

Sem teto e "com vida": um manifesto

Acabei de retweetar um manifesto do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) chamado “Manifesto Sem Teto Com Vida”:

A sacada é da maior importância. Por questionar conjuntamente duas grandes indiferenças: aquela em relação ao direito à moradia e aquela em relação ao direito à vida.

“É hora de acabar com a especulação imobiliária desapropriando terrenos para construção das moradias para as famílias”, diz o texto. Sim, é hora. E, no nosso cotidiano, estamos (nós e os governos) mais perto do quê? De patrocinar a especulação imobiliária ou de reivindicar moradia digna para cada brasileiro?

O movimento será lançado durante um ato no Masp, no dia 8. Sugiro aos colegas jornalistas que coloquemos esse fato em nossas pautas. Que tal oferecer o mesmo destaque dado ao ato dos estudantes contra a PM, realizado na quinta-feira? Mas sem dar destaque aos supostos prejuízos ao trânsito! (Esse mesmo trânsito congestionado também por conta da especulação imobiliária.)

Outro texto do MTST critica o processo de criminalização dos movimentos sociais. E denuncia:


"Durante a noite do dia 6 de setembro, dois homens armados invadiram a casa de Edson Francisco, membro da coordenação nacional do MTST em Brasilândia (DF).

Os homens arrombaram o portão, entraram na casa e dispararam vários tiros contra Edson que conseguiu fugir sem ferimentos graves".


Não ouvimos falar de Edson Francisco, certo? A imprensa tem outra agenda - onde os Edsons têm pouca importância diante dos Calheiros e Vacarezzas. Mas não precisa ser assim. Que tal recolocarmos os crimes políticos na agenda do dia? Crimes contra camponeses, indígenas, quilombolas, sem teto?

Vários colegas que estão lendo devem pensar: mas como vou fazer isso no meu jornal? “A pauta não encaixa”, “com meu editor não dá jogo” etc. Então tá: utilizemos outros recursos: o Facebook, o Twitter, os blogs.

É de democracia real que se trata. Ela presume a livre manifestação. Falei logo acima dos atos no Masp – dos estudantes aos sem teto. Todos precisamos garantir respeito à livre expressão - e pressão - dos movimentos sociais. E o histórico recente da polícia paulista é o da mais abjeta repressão.

E quem justifica culturalmente essa repressão? Senhoras como aquelas que comentaram os episódios da USP (naquele vídeo bizarro das socialites, fartamente divulgado na internet) da seguinte forma: “Ah, com certeza tem sem terra no meio. Sem teto..."

Elas pronunciam as palavras "sem terra" e "sem teto" entre o medo e o asco. Como se falassem de uma legião de bandidos – e não de excluídos, espoliados. O que gera esse medo, esse asco e essa indiferença e essa ignorância?

Vamos falar seriamente de legalidade, caras quatrocentonas? O próprio manifesto dos sem teto invoca dois singelos documentos. Um deles é o Estatuto da Cidade. O outro,a Constituição. Seria lindo ver cada sem teto no ato com uma Constituição na mão. Contra as armas e os carros na Paulista.
A capa da Folha de sexta-feira trazia uma foto enorme - e ótima - de senhoras indignadas com o ato dos estudantes na avenida. Uma delas mostrava o dedo do meio aos manifestantes. Quero vê-las mostrando o dedo do meio para os sem teto...

por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)


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2 comentários:

Lucynda disse...

Eu só não entendo porque na matéria da Carta Maior ela tá como professora e aí ela aparece como aluna e moradadora da Crusp.

Alceu Castilho, jornalista. disse...

olá, Lucynda. Ela é estudante de Filosofia da USP e dá aula em uma escola - para crianças. E mora no Crusp. Todas as informações estão corretas! abraço

PS: estes dois posts se referem à matéria seguinte, sobre a aluna torturada na USP.