quarta-feira, 28 de março de 2012

PCC paga PMs que atuam na USP, diz relatório da Polícia Civil
 
O Jornal da Band revelou nesta terça-feira o conteúdo de relatórios secretos da Polícia Civil, elaborados pela Divisão de Inteligência de sua divisão especializada em homicídios. Eles apontam a relação de policiais do 16º Batalhão da PM, na zona oeste, com o crime organizado. Segundo o relatório 08/2011, policiais da “banda podre da PM” recebem toda semana “elevados valores” do PCC – o Primeiro Comando da Capital.
 
- Organizações criminosas que atuam dentro e fora dos presídios estariam cooptando PMs para que eles não interfiram nos pontos-de-venda de drogas e ajudem nos furtos de caixas eletrônicos – informa o repórter Sandro Barboza.
 
A fonte ouvida por Barboza é um ex-investigador do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Sem mostrar o rosto, ele destaca um caso ocorrido em maio, na Cidade Universitária, como ponto de partida para as investigações: o assassinato do estudante Felipe Ramos Paiva, no estacionamento da Faculdade de Economia da USP.
 
A Divisão de Inteligência do DHPP foi à Favela São Remo, que faz divisa com a Cidade Universitária. E lá prendeu os dois assassinos confessos. Mas descobriu a suposta conexão de PMs com o PCC e o tráfico de drogas.

Após a morte do estudante, a reitoria da USP fez um convênio com a SSP para que a PM fizesse rondas ostensivas na Cidade Universitária. Mesmo de posse do relatório do DHPP, a cúpula da Secretaria de Segurança Pública mandou os policiais do 16º Batalhão para fazer as patrulhas no campus.
 
Desde então, estudantes da USP têm protestado contra a ação da PM. Eles fizeram duas ocupações de prédios (um da Faculdade de Filosofia e o da reitoria), em outubro e novembro. Após a reintegração violenta do prédio da reitoria, que incluiu relato de tortura por uma aluna da Filosofia, os alunos entraram em greve, no início de novembro.
 
Vale ressaltar que o episódio extrapola os muros da USP – como mostra as denúncias sobre furtos de caixas eletrônicos. A reportagem desta quarta-feira será sobre a terceirização de assassinatos pelo crime organizado. “Agora quem aperta o gatilho são policiais”, diz a chamada da Band.
 
Segundo o Jornal da Band, os relatórios que acusam PMs têm sido sistematicamente “engavetados” pela Secretaria de Segurança – quando, por lei, cada um deles deveria motivar uma investigação.
 
O repórter Sandro Barboza tentou durante um mês entrevistar o secretário de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto. Sem sucesso.
 
Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
 
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sábado, 17 de março de 2012

O Aziz geógrafo e o Aziz professor: histórias de um apaixonado pela USP
 
A semana da calourada na Geografia da USP, em 2011, teve seu desfecho numa noite de sexta-feira, no vão livre do prédio que abriga a História e a Geografia – um dos mais conhecidos e mais frequentados da Cidade Universitária. A certa altura da noite um carro para no estacionamento. Dele desce Aziz Ab'Saber. Sai com dificuldade do carro e não fala nada. Aguarda a abordagem dos estudantes, que mal acreditam no que veem. Tiram fotos com o professor – com o ídolo. Aziz fica alguns minutos e sai. Estivera ali apenas para isso.
 
Essa cena se repetia nos anos anteriores. Em 2012, Aziz não cumpriu o ritual. Sua relação com a Cidade Universitária era muito próxima. Caminhava pelo campus e estava sempre na biblioteca da FFLCH. Um relato da estudante Maria Carlotto, publicado ontem no Facebook, é fundamental para se entender essa relação:
 
"Ontem, por volta das 22h, um funcionário da Faculdade de Filosofia passou avisando aos poucos que restavam que a biblioteca estava fechando. Desci as escadas e, como sempre, vi o professor Aziz Ab´Saber sentado em uma mesa de canto lendo, com a ajuda de uma lupa, um livro de quase mil páginas. As luzes da biblioteca estavam se apagando, mas ele insistia em continuar, resistindo no limite da desobediência.
 
Nos últimos anos, vi essa cena muitas vezes e ontem, por um segundo, sorri por simpatia daquele professor que não precisava estar ali, numa quinta-feira de chuva, enfrentando uma tarefa que parecia superar as suas forças. Hoje à noite cheguei nessa mesma biblioteca e a mesa estava vazia. Nenhuma nota de falecimento. Tudo funcionava normalmente, impelido por uma corrente de normalidade que nos oprime e contra a qual ele dedicou a sua vida, com grandes obras e pequenos gestos como esse, de resistir diante de um livro, sob uma mesa no escuro.

Talvez seja o prenúncio dos tempos que se iniciam numa USP que certamente não foi a que ele conheceu."

 
UM GEÓGRAFO CLÁSSICO
 
O professor André Martin, chefe do Departamento de Geografia, falou sobre Aziz durante o velório do geógrafo, no Salão Nobre da FFLCH. Ele conta que Aziz tinha sido um dos dois escolhidos (ao lado do professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira) para ser entrevistado pelos docentes, para tomar uma posição – contrária – ao novo projeto de pós-graduação, imposto pelo reitor João Rodas. Não deu tempo.
 
“Dificilmente vai se reproduzir um intelectual dessa envergadura”, afirma Martin, especialista em geopolítica. “E isso no mundo inteiro. Os métodos de avaliação do desempenho estão destruindo esses docentes de formação clássica, capazes de percorrer tanto as ciências naturais como as ciências sociais”.
 
Martin considera que a USP virou o que virou a partir da relação de amizade entre professores e alunos. “Isso ia além da sala de aula. E também está se perdendo com esse estilo de avaliação de desempenho. O projeto da reitoria prevê que o orientador não possa votar na defesa do orientando”.
 
Pouco mais novo que Aziz, o professor aposentado José Pereira de Queiroz Neto conhecia o colega há mais de 50 anos. Não se lembra se era 1959 ou 1960, em Campinas. Aziz dava aula na PUC-Campinas. Conheceram-se a partir do geógrafo Antonio Christofoletti, que viria a ser referência na Unesp de Rio Claro. Depois, encontraram-se na USP. Ambos como professores. Aziz fez parte de sua banca de doutorado; presidiu a banca de examinadores sua tese de livre-docência; presidiu a banca para o cargo de professor-adjunto; e, finalmente, a banca para se tornar professor-titular – o ápice da carreira.
 
“Ele tinha uma capacidade intelectual imensa”, atesta Queiroz. “Lia muito, estava sempre a par do que se fazia por aí afora. E tinha um raciocínio rápido. Acabava muitas vezes levando vantagem. Tinha mais cabeça e conhecimento. E isso até agora. Uma cabeça invejável”.
 
Queiroz aponta como momento-chave aquele em que Aziz, de referência nacional na geomorfologia, torna-se especialista em questões ambientais. “Nesse momento ele vira uma espécie de grande farol, apontando caminhos que os geógrafos podem seguir, no sentido de resolver os problemas da sociedade. Ele era o que, nos Estados Unidos, se chamaria de radical.”
 
André Martin considera que dificilmente se repetirá a trajetória de alguém que, como Aziz, fazia um “desvendamento”, um “palmilhar do território”. “Difícil pensar numa pessoa que tenha acumulado tanto conhecimento empírico, com tantas viagens e anotações de campo”.
 
PROFESSOR AZIZ
 
José Queiroz não teve aula com Aziz. Ao lado dele, vários ex-alunos – todos fizeram questão de prestar homenagem ao mestre, no dia de sua morte – rasgavam elogios ao professor de geomorfologia.

Archimedes Perez Filho, professor da Unicamp e coordenador da área de Geociências da Fapesp, teve aula com Aziz nos anos 70. Lembra-se que ele tinha uma lucidez muito grande na explicação dos fenômenos.

 
- Ele fechava o olho e, com as mãos, ia falando, descrevendo as paisagens. Sem conhecer as paisagens a gente ia vivenciando.
 
Aziz também desenhava no quadro-negro. Antonio Carlos Robert Moraes conta que ele utilizava giz de várias cores. Um para os sedimentos, outro para as rochas, e assim por diante. Ao falar das erosões, utilizava o apagador. “Era como um desenho animado”, diz Moraes.
 
Visivelmente incomodado com as transformações da USP, que impedem a formação de intelectuais como Aziz, o professor André Martin identifica algo que pode ser replicado: a combinação entre saber científico e postura ética.
 
Para ele esse será o principal legado de Aziz Ab'Saber. “Fazer outro Aziz é difícil. É que nem Pelé e Garrincha. Mas esse engajamento com a causa da humanidade é um exemplo que permanece. Isso fica”.
 
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Adeus a Aziz Ab'Saber afirma seu papel na história política do Brasil
 

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
O velório de Aziz Nacib Ab'Saber na Cidade Universitária, na noite de sexta-feira, teve centenas de pessoas. A maioria delas, estudantes de Geografia. Em segundo lugar estavam os geógrafos – professores da USP, ex-alunos de Aziz. Em meio aos demais, um grupo chamava atenção: o dos políticos. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) e o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) compareceram para homenagear o geógrafo. Suplicy fez um discurso emocionado, assim que chegou o caixão. E falou de política.
 
Ele ressaltou a participação de Aziz nas Caravanas da Cidadania. Elas foram um capítulo importante da história do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante o governo Collor, o Instituto Cidadania organizou o Governo Paralelo, onde expoentes da academia somavam-se aos políticos na fiscalização do poder. Entre eles estavam Aziz Ab'Saber, Antônio Cândido e José Gomes da Silva. Essa experiência desembocou nas Caravanas da Cidadania.
 
Entre 1993 e 1996 foram realizadas cinco caravanas. Elas percorreram 359 municípios e 26 estados brasileiros. Em 2001 seria realizada uma caravana temporã – em 47 cidades de sete Unidades da Federação. Lula e Aziz conviveram diretamente na primeira rodada dessa experiência, ao mesmo tempo geográfica e política. Suplicy participou de três delas. Erundina, de uma. Eles contam qual era o papel de Aziz Ab'Saber nessa história: o de professor.
 
- Aziz foi professor do Lula – disse Suplicy ao blog Outro Brasil, enquanto aguardava a chegada do corpo do geógrafo. - Sou testemunha disso. Eu assisti a essas aulas, que se davam na caatinga, ao longo do Rio Negro, na Amazônia. O professor Aziz nos ensinava sobre a geografia brasileira, explicando o que acontecia com a floresta amazônica, com o cerrado, quais os cuidados que deviam ser tomados.
 
O senador repetiu essa e outras histórias de Aziz ao tomar a palavra, emocionado, diante do corpo do amigo. E fez muita gente chorar. Luiza Erundina tinha ido embora pouco antes. Ela confirmou a participação decisiva de Aziz nas caravanas. “Era incrível a sensibilidade dele com a natureza”, conta. “Cada elemento da natureza era um pretexto para ele dar uma aula. Sempre com simplicidade e com fidelidade aos seus ideais. Não era um cientista descolado da realidade. Ele era um ativista, um homem que sonhava”.
 
O velório de Aziz Ab'Saber - morto aos 87 anos, de ataque cardíaco - foi realizado no Salão Nobre da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) – onde era professor emérito. Uma entre as dezenas de coroas de flores levava os nomes de Lula e Marisa. João e Janete Capiberibe, políticos do Amapá, também enviaram flores.
 
Lula esteve presente na cerimônia em que Aziz foi nomeado professor emérito da FFLCH, em 2000. Na época Aziz entrou ao som da música “Levantados ao Chão”, de Chico Buarque e Milton Nascimento:
 
Como então? Desgarrados da terra?
Como assim? Levantados do chão?
Como embaixo dos pés uma terra
Como água escorrendo da mão?
Como em sonho correr numa estrada?
Deslizando no mesmo lugar?
Como em sonho perder a passada
E no oco da Terra tombar?

 

O geógrafo criticou naquele dia as privatizações, a globalização e as elites do Terceiro Mundo. Mas não se definiu como político – ao menos no sentido partidário. “O cientista tem de estar longe dos problemas partidários, étnicos e religiosos”, disse, à Folha.

UMA VISÃO ESTRATÉGICA
 

Dos problemas políticos, porém, ele não ficou distante. “Ele ficou conhecido na Geografia pelos estudos em geomorfologia, mas sempre teve uma visão estratégica do território”, informa o professor Antonio Carlos Robert Moraes, especialista em formação territorial no próprio Departamento de Geografia da USP.
 

Moraes enfatiza isso para ampliar a imagem mais conhecida, a do pesquisador expoente em Geografia Física. “Ele fez diálogo com gente de fora da Geografia. Com economistas, arquitetos. Convidou muita gente no então Instituto de Geografia para falar de divisão logística do Brasil. Não falava só sobre os quadros naturais. Tinha uma publicação só sobre planejamento”.

Em entrevista ao Roda-Vida, em 1992, Aziz afirmava: "A‎o aplicar ciência ele (o cientista) já é um político, mesmo que não esteja em partidos".


O próprio Lula emitiu nota, nesta sexta-feira, exaltando a influência de Aziz Ab'Saber em sua formação. “Seu profundo conhecimento da geografia e seu compromisso inabalável com o povo brasileiro foram fonte de inspiração para todos nós", afirmou o ex-presidente. “Juntos, percorremos todos os cantos do Brasil, conhecendo a diversidade do nosso país e do nosso povo. A presença do professor Aziz, com sua inteligência e sabedoria, transformou essa experiência em algo extraordinário."
 

A nota assinada por Lula e Marisa – veja aqui a notícia no portal G1 - diz que a presença de Aziz, “sempre ativa, crítica e opinativa foi fundamental e ajudou a construir muitas das políticas públicas brasileiras”.

Essa trajetória não ocorreu sem atritos. Durante a formação do governo Lula, Aziz percebeu que os intelectuais tinham ficado de fora. A justificativa de Lula a ele foi a seguinte: “Intelectual não dá voto”. Aziz não gostou nada. E manteve a sua independência em relação ao governo. Não gostava da ministra Marina Silva, por exemplo.
 

Suplicy conta que tentou aparar essas arestas. Mas Aziz não a aceitava como ambientalista. “Ela não conhece o Brasil”, disse, ao comentar, no Estadão, em 2010, a candidatura dela à Presidência. “É uma mulher do Acre, uma pessoa que acredita no criacionismo. Ela é ela, e acabou”.
 

Por outro lado, a influência de Aziz sobre Lula provocava ciúmes entre sindicalistas. Estes o chamavam de “professor sabe-tudo” - fazendo trocadilho com o sobrenome Ab'Saber. Nada que fosse muito distante de mesquinharias embutidas no processo de formação do PT, que teve essa bifurcação entre acadêmicos e sindicalistas – estes, hoje, encastelados no poder.
 

O CIENTISTA E O CÓDIGO FLORESTAL
 

Nos últimos anos, Aziz Ab'Saber foi uma das vozes críticas ao Código Florestal. “O Código Florestal está errado no nome”, afirmou, em 2011, conforme o Jornal da Ciência, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “Em vez de Código Florestal, precisamos é de um Código da Biodiversidade. Pois o Brasil tem caatinga, tem cerrado, tem mata atlântica e outros.” Ele disse que a nova lei beneficia as classes sociais privilegiadas.
 

- É preciso explicar isso para os jovens que estão começando, a estudantes dos ensinos secundário e fundamental, o que isso significa para o País. Como uma pessoa que tem 500 mil hectares de área da Amazônia pode cortar 80% disso?
 

A própria participação de Aziz Ab'Saber na SBPC – da qual era presidente de honra - é ressaltada por Antonio Carlos Robert Moraes como exemplo de sua participação política. A SBPC era um bastião de resistência à ditadura. “Ele teve uma participação cada vez mais à esquerda ao longo de sua vida”, analisa. “Não que ele fosse de direita no início. Mas foi adquirindo consciência social com o tempo. Ao contrário de muita gente que fez o caminho contrário”.
 

LEIA MAIS: O Aziz geógrafo e o Aziz professor: histórias de um apaixonado pela USP

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quinta-feira, 15 de março de 2012

Vocês estão rindo de quê, seus racistas? Da morte sistemática de negros e gays?
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

A sociedade brasileira precisa tomar um lado. Ou é o lado do músico negro Raphael Lopes, que chamou a polícia após ter sido comparado a um macaco por um “humorista”, ou o dos jovens brancos que decidiram assumir racismo e homofobia como instrumentos de humor. Entre eles estão Felipe Hamachi, Fábio Rabin e Danilo Gentili. Hamachi foi o ser “engraçado” que fez a tal comparação com macacos. Ele, Rabin e Gentili fazem um show – a R$ 60 por cabeça – que ofende, assumidamente, negros, gays, portadores de deficiência e mulheres.
 
Dirijo-me, portanto, aos colegas (“amigos”, parentes) que acham tudo isso normal. Não há meio-termo. O apoio - mais ou menos estridente - a esses jovens implica perfilar-se do lado da Casa Grande. Do lado de séculos de assassinatos de negros. Em 2010, morreram assassinados 33.264 negros. Brancos? 13.668. A morte de negros por homicídio subiu 23,4% em oito anos. Estão rindo de quê, defensores de Hamachi, Rabin e Gentili?
 
A Senzala é também o espaço do achincalhamento de gays, mulheres e portadores de deficiência – para citar apenas os grupos mencionados no último “show” em São Paulo. No caso dos gays temos mais uma matança de escala nacional. Entre 2007 e 2010 o número de gays assassinados saltou de 142 para 260. Em pelo menos 76 países, ser gay é considerado crime. No Brasil, mata-se. Estão rindo de quê, homofóbicos? Do extermínio e da humilhação de seres humanos por sua orientação sexual e identidade de gênero?
 
E, por falar em gênero, vivemos hoje em um país que tem uma lei chamada Maria da Penha. Diariamente mulheres são vítimas de estupros, constrangimentos (como homens que se masturbam perto delas), entre outras violências. Danilo Gentili, Fábio Rabin, Felipe Hamachi e outros desqualificados (como Rafinha Bastos) insistem em promover o machismo e o sexismo. Não estão sozinhos, como se vê nas propagandas de cerveja. Mas... eles estão rindo de quê?
 
Cada piadinha contra negros é uma chibatada. As pessoas no teatro ou no sofá contribuem diretamente para a afirmação de uma cultura que exclui essas pessoas (negros, gays, mulheres) do campo da normalidade. E, portanto, a uma distância muito mais próxima do que imaginam, apertam o gatilho de policiais que matam negros nas periferias, chutam a cabeça de homossexuais (apenas por serem afeminados) em todo o país, incendeiam o combustível de quem vê mulheres apenas como objetos – estupráveis. E, sim, fazem tudo isso com suas risadinhas. Com seu aval a essa cultura da morte e da exclusão dos diferentes.

Para assistirem ao show de humor chamado Proibidão, cada engraçadinho assina um termo no qual se compromete a “não ficar ofendido”. É incrível pensar como pessoas com alguma formação possam participar de tamanha aberração. Seja promovendo esses documentos estapafúrdios, seja assinando-os. Esses brasileiros estão imaginando uma espécie de território “livre” nesses momentos: um país e um mundo sem racismo, sem violências, sem leis. Sem respeito por seres humanos que portam deficiências físicas ou mentais, por seus parentes. Sem respeito por seres humanos.
 
Chegamos assim ao sonho de todo racista ou homofóbico (e são apenas alguns exemplos) enrustido: achar uns patifezinhos – de precária formação intelectual - que disfarcem seu cinismo sob o rótulo de “humor”. E tomar – mais ou menos ingenuamente - partido do lado dos ratos. Aumentei a temperatura das palavras ao longo do texto exatamente porque cansei de meias palavras. Em relação a esses temas (bastante elementares para definirmos qualquer Cidadania Mínima), cada um desses brasileiros é cúmplice.
 
Que cada um deles rasgue suas máscaras.
 
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terça-feira, 13 de março de 2012

Texto de reitoria da USP desrespeita perseguidos pela ditadura
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
A assessoria de imprensa da reitoria da USP divulgou nesta terça-feira um texto que desrespeita perseguidos pela ditadura de 1964. Logo no início é feita uma referência a um manifesto, feito em novembro e renovado em março, dos “perseguidos pelo regime militar, parentes dos companheiros assassinados durante esses anos sombrios e defensores dos princípios por eles almejados”. Esse manifesto recusa qualquer homenagem feita pela atual reitoria.
 
Em resposta aos signatários do manifesto, o texto da reitoria - leia aqui - refere-se a eles como “autointitulados”. Ou seja: “autointitulados” perseguidos, “autointitulados” parentes de pessoas assassinadas, “autointitulados” defensores de princípios defendidos por aqueles que foram assassinados pelo regime.
 
Um texto oficial da assessoria de imprensa da reitoria da Universidade de São Paulo não é um texto impessoal. O texto intitulado "Democracia na USP" tem nome e sobrenome: e atende pelo nome do reitor João Grandino Rodas.
 
Cabe a pergunta de um jornalista (e estudante da USP) que respeita os assassinados pela ditadura: qual era a sua posição durante o regime militar, João Rodas? Esta pergunta foi feita ao senhor, por meio de sua assessoria de imprensa, mas o reitor não quis falar sobre o assunto.
 
Agora, chama os perseguidos e parentes de “autointitulados”. Ora, alguém se “autointitula” parente de uma pessoa torturada e morta pela ditadura? Alguém se “autointitula” perseguido pelo regime militar quando, entre os signatários, estão pessoas notoriamente conhecidas por terem sido perseguidas por esse regime de exceção? Enxergaste ali, Magnífico Reitor, nomes de brasileiros mortos e desaparecidos?
 
De que lado o senhor estava durante a ditadura, João Rodas? O senhor não conhecia essas pessoas? Não participou das mesmas batalhas?
 
O texto da reitoria ainda ironiza a ampliação das reivindicações dos signatários. Coloca entre aspas a realização de “outros atos de lançamento” e completa, com ironia: “Esse manifesto, com propósitos múltiplos e cujo texto aumenta a cada relançamento, mantém as assinaturas coletadas anteriormente!”
 
Assim, com exclamação. A ela adicionamos uma interrogação: caro reitor, o senhor está duvidando da legitimidade das assinaturas coletadas pelos perseguidos políticos (muitos deles, professores da mesma Universidade de São Paulo) e parentes dos assassinados?
 
Poderia, então, reitor Rodas, dizer isso com todas as letras? Está em jogo a reputação das pessoas que assinaram o documento? (Leia aqui a lista completa.)
 
A das famílias de Caio Prado Jr, de Bento Prado Jr? Dos professores Chico de Oliveira, Emília Viotti da Costa, Emir Sader, Flávio Wolf de Aguiar, Helenira Resende (irmã de uma desaparecida do Araguaia), Luiz Roncari, Maria Amélia Azevedo, Osvaldo Coggiola?
 
Estariam utilizando indevidamente, João Rodas, as assinaturas do vereador Carlos Neder e dos deputados estaduais Adriano Diogo e Rui Falcão? Do preso e torturado Celso Lungaretti? De Carlos Eugênio Paz, da família de Luis Carlos Prestes e de... Zuzu Angel?
 
Por Zuzu Angel e Stuart Angel Jones assinam os manifestos Hildegard Angel Bogossian e Ana Cristina Angel Dronne, filhas de Zuzu, irmãs de Stuart. A reitoria está insinuando que foram adicionadas reivindicações que essas pessoas não quiseram assinar?
 
A sociedade paulista quer saber sua resposta.
 
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segunda-feira, 12 de março de 2012

O abandono de crianças em SP e a fábula do Pequeno Polegar

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

Em São Pulo, na noite deste domingo, seis crianças foram libertadas pela polícia de uma situação de risco. As mais velhas (3, 5 e 6 anos) estavam revirando o lixo do apartamento, em busca de comida. Outras três nem isso podiam fazer: elas têm apenas 7 meses (um casal de gêmeos) e 8 meses. As mães estavam num bar, vendendo e tomando cerveja, na região da Bela Vista.
 
Pensei na fábula do Pequeno Polegar ao ver essa notícia no Bom Dia, Brasil, da Rede Globo. Nem todo mundo se lembra da fábula – candidata à mais horrível de todas. Vejamos.
 
Pai, mãe e sete filhos moram no campo e estão passando fome. A decisão dos pais é a seguinte: deixaremos as sete crianças no bosque. Deus decidirá o que fazer com elas. E nós nos salvaremos. Pequeno Polegar consegue voltar uma vez, mas não a segunda. Depois ele e os irmãos vão parar na casa do ogro, que come criancinhas, mas consegue enganá-lo – o ogro acaba confundindo-os com as próprias filhas.
 
Inicialmente pensei em dizer que a vida se repete como fábula. Mas não: ela consegue piorá-la. Na visão de mundo da época, a história de Pequeno Polegar é menos horrível do que parece. A certa altura (leio aqui o relato de Charles Perrault), a mãe se pergunta, após abandonar os filhos: “Onde estarão os meus pobres meninos?”

Nesse momento eles chegam e são recebidos com grande alegria pelos pais. Depois seriam mandados de novo para o bosque. Mas a reação dos genitores mostra que a solução encontrada – deixar a Deus a solução para o caso – era algo plausível para a época. Não se tratava exatamente de uma negligência, conforme a mentalidade reinante. (Embora, claro, sigamos achando horrível.)
 
Voltando para o século 21 e para São Paulo, temos outra mentalidade. Valores muito diversos, um sistema de seguridade social e de segurança alimentar muito distintos. Temos um sistema que permite 1 bilhão de pessoas passando fome. E temos a implosão da seguridade social, diante da crise econômica mundial, nos poucos países em que ela efetivamente deu certo, durante algumas décadas.

Ora, direis: as duas mães que abandonaram as crianças na Bela Vista estão alguns degraus abaixo na escala de descaso. Sim, admito. Mas as duas mães que estavam no bar atendiam também aos apelos da indústria de bebidas e do prazer a qualquer custo. Não se tratam de casos absolutamente isolados. Já soube de mulheres em melhores condições financeiras que deixaram filhos sozinhos em casa para irem até a balada.
 
Não estou querendo dizer que apenas o capitalismo (e sua fábrica de desejos nem sempre legítimos) é o culpado por tudo. Mas que se trata de um sistema insano, isso sim. Se alguém contar a história desse abandono daqui a alguns séculos ela talvez soe mais absurda que o relato do Pequeno Polegar contado por Perrault. Ou alguém imagina os pais do Pequeno Polegar abandonando os sete filhos para irem a um baile?
 
Ocorre-me também um relato feito no sábado por um estudante de Medicina. Em Santa Rosa, no Acre, 20 crianças morreram de diarreia. Diante das condições nas aldeias chegaram a distribuir 160 filtros de água. Pouco adiantou, pois os índios não sabiam ler as instruções. Apenas 20 entre os 160 foram instalados. Numa aldeia Madjá os filtros estavam instalados com a vela ao contrário.
 
Conto também esse caso para perguntar: quem são os ogros dessa história? O papel dos pais ganha nuances em cada caso: mais culpa, menos culpa. E o papel do poder público? Ou o do sistema econômico que ainda permite a morte em escala de milhões de crianças pelo mundo, em nome do eterno pagamento de juros? Isso é uma "civilização"? Quem é mesmo o ogro que mata criancinhas?
 
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terça-feira, 6 de março de 2012

Indígena Maria Sara, de 13 anos, grávida, é assassinada no Maranhão
 
Estamos a dois dias do Dia Internacional da Mulher. E a um mês do Dia do Índio. Leio no jornal Vias de Fato que Maria Sara Gregório Guajajara foi assassinada na sexta-feira na periferia de Grajaú, no Maranhão. Ela tinha 13 anos e estava grávida.
 
Os pais chamam-se Salomão Gregório Guajajara e Maria Aurora Guajajara. Eles moram em um barraco na Aldeia Chapadinha, na região do Bananal. Perto do local do crime. O suspeito é o próprio companheiro.
 
A fonte do jornal Vias de Fato é o Conselho Indigenista Missionário, via Pastoral Indigenista de Grajaú. Trata-se de um jornal ligado a movimentos populares, contra as oligarquias maranhenses.
 
Maria Sara pode ser um símbolo de várias lutas. Caso sua breve existência seja valorizada pelos meios de comunicação. Pauteiros e blogueiros, interessam-se pelo tema?
 
A morte da adolescente do povo Guajajara expõe a violência contra as mulheres, por um lado. A violência contra os povos indígenas, por outro. E a miséria em que vive boa parte do povo maranhense. (Ironicamente, Grajaú já se chamou São Paulo do Norte.)
 
Maria Sara foi sepultada no domingo. Caso ninguém ligue para sua morte, pode também ser apenas mais um capítulo de um livro diariamente reescrito: o da Grande Indiferença Nacional.
 
Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
 
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segunda-feira, 5 de março de 2012

Os “novos Pinheirinhos” em São Paulo e os velhos esquecimentos
 
por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)
 
Na sexta-feira duas novas ocupações de sem-teto em São Paulo, em Embu das Artes e Santo André, levaram o nome de “Novo Pinheirinho”. O fato merece uma análise do ponto de vista político e do ponto de vista da comunicação. Ao reviver o nome Pinheirinho o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) faz um movimento duplo: de valorização política das novas ocupações e de luta contra o esquecimento de uma violência.
 
Comecemos com o esquecimento. Neste início de março, quantas barbaridades recentes contra brasileiros pobres já foram esquecidas? Os abusos na Cracolândia praticamente já saíram do noticiário. A Favela Moinho Vivo, que pegou fogo em São Paulo antes do Natal, também não alcança mais a nossa imprensa desmemoriada. Violências contra indígenas nem se fala: antes de serem esquecidas, muitas nem foram noticiadas.
 
É nesse sentido que o nome “Novo Pinheirinho” tem um primeiro mérito. A desocupação em São José dos Campos será sempre uma realidade para cada família desabrigada - e brutalmente expulsa naquele domingo de janeiro em São José dos Campos. Tornou-se um símbolo do abuso estatal, da violência institucional. Para o procurador Marcio Sotelo Felippe, o governador Geraldo Alckmin, Naji Nahas e o presidente do Tribunal de Justiça, Ivan Sartori, devem ser presos por crimes contra a humanidade.


Temos aí, portanto, no marketing do MTST, o mérito de manter a história viva. A acampamentos e assentamentos com nomes como Chico Mendes e Zumbi dos Palmares soma-se agora o nome de uma ocupação emblemática: Pinheirinho.
 
O segundo mérito é o de unificar lutas – dispersas – por moradia. Claro que elas sempre tiveram como matriz os mesmos problemas (a brutal desigualdade de renda no Brasil, a segunda estrutura fundiária mais concentrada do planeta etc). Mas a falta de unificação dos movimentos faz cada reivindicação soar como isolada.
 
Talvez a sociedade brasileira já tenha – sordidamente – assimilado sem-terra e sem-teto apenas como tais. Suas causas (moradia, terra) são justas e emergenciais, mas a classe média e as elites naturalizaram a ausência de terra e de teto. Como se isso fosse uma condição eterna, e não historicamente construída – a partir de políticas excludentes diárias.
 
Ao multiplicar os Pinheirinhos, portanto, o MTST (ainda que seja só o MTST, e não um conjunto de movimentos de sem-teto), expande geograficamente uma tragédia que não é só localizada em São José dos Campos.
 
O quanto os meios de comunicação vão perceber disso tudo, não se sabe. A tendência da mídia hegemônica é a de dispersar – despolitizar – as causas. Tratar tudo como ato isolado, pontual, não como parte de uma grande tragédia nacional.
 
O mesmo vale para outras expressões da violência brasileira do dia a dia: contra indígenas, quilombolas, homossexuais, negros etc. Casos individuais são eventualmente amplificados. O conjunto da violência contra minorias ou contra excluídos, porém, quase não é exposto.
 
Para discutir esse conjunto não dá para ser superficial: é preciso aprofundar o debate político e econômico. E, por que não dizer, o debate constitucional. O embate entre o “sagrado” direito à propriedade e os direitos elementares consagrados na Constituição: direito à vida, à moradia, à saúde, educação...
 
A violência contra sem-teto não começou no Pinheirinho. Mas que ele ao menos sirva de referência. Contra novas desocupações, novos incêndios, novos higienismos, velhas agressões diárias de uma sociedade intrinsecamente excludente.

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sexta-feira, 2 de março de 2012

Domingo haverá comício do Serra no Largo dos Curros

por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

Macunaíma sobrevive em José Serra. “É por isso que eu digo a vocês: vou ser candidato a presidente. Que é parecido com ser candidato a governador. Ah, mas que preguiça. Pode ser alcaide mesmo. O quê, prefeito? Mudou?”



Que se reconheça, antes de mais nada, o mérito do candidato. Criar dois bordões tão pegajosos quanto esses numa mesma sequência não é para qualquer um. Um deles é imbatível, melhor do que “Lucia, aquela que está no Canadá”. O quê? Não é Lucia o nome dela? “Mudou?”

O outro bordão também é muito bom. A cada gafe, primeiro faremos a tal pergunta: "Mudou?" Em apenas uma tarde de sexta-feira ela já se tornou um clássico. Mas em seguida completaremos com o bordão seguinte. “Que é parecido com...”

Imaginemos um reitor muito distante, por exemplo, falando do regime militar (1964-1985). Algum reitor de alguma suposta universidade muito longínqua: “E todos sabemos que a revolução de 64 foi um período em que...”

“Mas, reitor... não era revolução de 64. Foi um golpe”. Agora ninguém precisa mais perder as estribeiras: “Golpe? Mudou? Então tá, golpe, que é parecido com revolução, tá certo?”

Não estou apenas contando piadas – ou seja, o blog não mudou de perfil. Estou falando de nossa política à Macunaíma, da velocidade incrível com que os nossos políticos mudam seus discursos de acordo com as conveniências – pequenas ou grandes correções de rota, de acordo com a reação imediata da imprensa. Ou do eleitorado.

A fantástica graça de José Serra durante a entrevista com Boris Casoy pode ser vista apenas como tal, claro. E terá nos divertido à beça numa tarde chuvosa de uma sexta-feira de verão.

Mas não é isso mesmo que eles fazem diariamente? Desdizer as promessas, recuar das convicções, abandonar os discursos anteriores da forma mais macunaímica possível? Imaginem Grande Otelo interpretando um político e perguntando: “Mudou?”

Esse personagem, devemos reconhecer, não cabe apenas em Serra. Quanta gente esqueceu o que escreveu, o que estudou, o que prometeu, e fica por isso mesmo. Mas sem o Boris Casoy para corrigir.

(É claro que falou mais alto a Casoy o instinto jornalístico de correção, mais até do que o tradicional servilismo ao grupo político de José Serra.)

A correção às barbaridades de nossos políticos não costuma ser feita. Editores e diretores de redação costumam abafar os instintos dos jornalistas que, eventualmente, corrijam os poderosos de plantão. Fica quase “feio” fazer uma intervenção à Casoy: “Candidato, mas isso que o senhor está dizendo é uma inverdade”, ou “uma monumental bobagem”, ou “não foi isso o que o senhor disse em 2002, quando...”

Está todo mundo muito adestrado. O próximo comício de Serra na Avenida Águas Espraiadas (“o quê, Roberto Marinho? Mudou?”), no sábado, e o comício do candidato no Largo dos Curros (“que é parecido com Praça da República, tá certo?”) estarão repletos de palavras vaporosas, promessas imprecisas, discursos distraídos. Mas quem liga?

Afinal, ele é apenas o candidato do PSD à presidência dos Estados Unidos do Brasil. Ou não é isso? Mudou? PSDB? Brasil? Prefeitura?

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